O pensamento criativo é uma habilidade que ajuda a desenvolver ideias interessantes e valiosas. O Oxford Dictionary define o pensamento criativo como "o uso da imaginação ou de ideias originais para criar algo". Ser imaginativo e pensar fora da caixa é fundamental para o sucesso em todos os setores. Um dos pensadores mais proeminentes do mundo sobre criatividade, Edward de Bono, acrescenta que esta consiste em quebrar velhos hábitos e ver as coisas de novas formas, seja com uma nova abordagem a um desafio ou uma solução para uma disputa em curso.
Vantagens do Pensamento Criativo
O Pensamento Criativo permite uma abordagem inovadora das questões e cultivar a abertura de espírito. Utilizando-o podem-se produzir novas ideias, analisar eventos, encontrar temas e desenhar alternativas aos sistemas operacionais estabelecidos.
- Proporciona confiança: Quando se emprega a criatividade para explorar ideias e conceitos diversos, fortalece-se a confiança e potencia-se o melhor de cada um.
- Autoconfiança: A criatividade permite-lhe trabalhar nos seus objetivos e atingi-los com total realização.
- Enfrentar situações: À medida que o pensamento criativo leva a experimentar e a inovar, expande-se o conhecimento coletivo relativamente a vários métodos para lidar sem esforço com todas as situações.
- Liberta o stress: O pensamento criativo pode combater o stress, uma vez que permite a inovação para além de quaisquer limites.
- Exprime talentos ocultos: O pensamento criativo permite alimentar a curiosidade e desbloquear talentos ocultos.
- Desenvolve a inteligência emocional: O pensamento criativo promove a consideração das circunstâncias a partir de múltiplas perspetivas, o que o pode ajudar a construir empatia e inteligência emocional.
Desenvolver o Pensamento Criativo
Ser um pensador criativo permite encontrar novas formas de abordar as situações existentes, reconhecer a importância de vários pontos de vista, metodologias e teorias, ligar pensamentos e ver paralelos entre situações totalmente diferentes.
Eis algumas formas de construir o pensamento criativo:
- Estabelecer o propósito e a intenção: Concentrar-se nos objetivos e misturar novas ideias para resultados desejáveis.
- Construir competências de comunicação: Boas capacidades de comunicação ajudam a expressar ideias e a partilhar a criatividade com confiança.
- Encorajar a autonomia: as realizações mais significativas provêm da criatividade decorrente da liberdade para pensar.
- Criar equipas diversificadas: A diversidade aumenta a criatividade. Equipas com elementos de diversas origens e áreas de especialização que partilham os seus pensamentos tornam-se mais inovadoras.
- Construir a motivação: Promover e apoiar crenças inovadoras dos membros de uma equipa motiva-os, sendo muito relevante recompensar a criatividade.
- Proporcionar oportunidades para explorar: Incentivar os membros de uma equipa a colaborar e a partilhar os seus pensamentos, a explorar, testar e refinar novas ideias ajuda a progredir.
Competências de Pensamento Criativo
O pensamento criativo envolve o aperfeiçoamento de talentos inovadores e competências brandas para desenvolver novas ideias. Competências de pensamento criativo são técnicas para lidar com uma situação através de perspetivas criativas, utilizando ao mesmo tempo as ferramentas apropriadas para analisar e conceber uma solução:
- Pensamento analítico: Permite investigar desafios complicados e ajuda a reconhecer e desenvolver soluções e a formular as melhores decisões. Compreender os desafios e analisar a situação para encontrar soluções viáveis é uma competência importante que pode contribuir para melhorar o trabalho e cumprir objetivos.
- Resolução de problemas: Após pesquisa e análise exaustiva de um problema, é necessário procurar uma solução adequada. A capacidade de resolução de problemas pode organizar os dados encontrados durante o processo de pesquisa para desenvolver uma resposta lógica e prática.
- Abertura de espírito: Uma mente criativa é flexível, e a criatividade requer um pensamento fluido. Ter uma mente mais aberta implica estar mais recetivo a novas ideias, pontos de vista, culturas, formas de expressão e estilos e reconhecer que o ponto de vista próprio pode nem sempre ser correto.
- Comunicação: A capacidade de articular e comunicar pensamentos pode conduzir as capacidades de pensamento criativo. É importante incluir, ouvir e processar as ideias dos outros antes de fornecer contributos e trocar ideias através da escrita e da fala para uma comunicação eficaz.
- Organização: Estar organizado permite ser mais criativo e dá à imaginação mais estrutura. As capacidades organizacionais podem transformar ideias em estratégias concretas potenciadoras da mudança à medida que se exploram novas ideias.
Técnicas de Pensamento Criativo
As capacidades criativas podem ser aumentadas através da implementação de várias estratégias e técnicas:
Mapa mental
O mapa mental permite ligar conceitos aparentemente desconexos. Como resultado, pode ajudar a apresentar ideias apropriadas enquanto se aplicam capacidades de pensamento criativo. É um processo para anotar tudo o que vem à mente. Cria-se o máximo de ideias que se possa; quanto mais se escrever, mais provável será que surja a melhor ideia. Depois usa-se o mapa mental para organizar os pensamentos e chegar a conclusões lógicas.
Brainstorming
A noção central por detrás do brainstorming é que ter muitas ideias criativas possíveis torna mais simples a escolha da melhor. Esta técnica de pensamento inovador pode resolver eficazmente problemas de pequena ou grande escala que exigem criatividade. O objetivo principal é construir um grupo de pessoas com as quais se pode trocar livremente pensamentos.
Pensamento lateral
Enfatiza-se a criação de novas ideias, minimizando-se ao mesmo tempo os detalhes de como se podem implementar essas ideias. O pensamento lateral ajuda os pensamentos a vaguear livremente e a examinar opções que de outra forma podem passar despercebidas. Implica olhar para um problema a partir de perspetivas não convencionais e, como resultado, encontrar soluções inovadoras.
Reenquadramento
Para elaborar uma estratégia nova e inventiva, será necessário analisar uma questão ou um cenário de uma forma diferente, o que requer um reenquadramento. É preciso explorar interpretações alternativas das palavras, analisar o contexto e ampliar perspetivas para detetar algo novo e antecipar futuros obstáculos.
Quadros de humor
Um quadro de humor é um gráfico visual ou uma representação de ideias reunidas num só lugar. Permite uma visão clara de como seria uma ideia após a sua execução.
Como pensar de forma crítica e criativa?
A criatividade tem tudo a ver com explorar e procurar novas ideias. Quando se pensa fora da caixa e se sai do que já se sabe, tende-se a desenhar novas ligações. Isso geralmente resulta em novas perspetivas, novas ideias e soluções inovadoras para problemas que não se poderiam ter imaginado anteriormente.
O pensamento crítico enfatiza a análise e a decomposição do problema e o pensamento criativo pode trazer uma solução apropriada para os dados analisados. Esta é a pedra angular da resolução de problemas com o pensamento criativo.
Quando um problema é apresentado, é analisado e é feita uma pesquisa exaustiva. Depois, partilha-se (comunica-se) o problema com os colegas de equipa que apresentam ideias que seguem uma progressão (através de brainstorming e reenquadramento) até se atingir uma solução.
Qualquer que seja o campo da atividade humana, o pensamento criativo pode ajudar a alcançar os objetivos traçados. A criatividade é definida pela capacidade de pensar de formas não convencionais e todos têm a capacidade de serem criativos. Ao mesmo tempo, essa é uma competência que pode e deve ser fortalecida para se atingirem soluções inovadoras que possam dar respostas a novos problemas. Esta é uma habilidade indispensável nos nossos tempos que importa que os nossos alunos saibam utilizar.
Na Escola Básica de Piscinas, em Lisboa, Literacias da Informação é uma disciplina de oferta de escola. Tirando partido da possibilidade que a flexibilização do currículo permite, esta foi a forma encontrada para responder a duas questões prementes: encontrar um espaço formal para desenvolver as competências dos alunos neste âmbito e complementar os vinte e cinco minutos semanais da disciplina curricular Cidadania e Desenvolvimento.
A disciplina Literacias da informação foi criada no ano letivo 2018-2019, para ser lecionada a todas as turmas dos 2.º e 3.º ciclos, à medida que entrasse em vigor o novo currículo. Foi desenhado um programa e foram implementadas diversas experiências de aprendizagem asseguradas pela professora bibliotecária e pelo professor da disciplina, num trabalho articulado e sistemático. A pandemia trouxe vários constrangimentos à vida na escola pelo que, atualmente, a oferta desta disciplina está restringida às turmas do 6.º ano.
Como funciona na prática? Alunos e professores têm à sua disposição diversos instrumentos, como guiões de pesquisa e de avaliação de diversas fontes de informação, em especial de páginas de internet. Em cada aula, preparada colaborativamente com os docentes que lecionam Cidadania e Desenvolvimento, a turma é dividida em dois grupos, ficando um deles na sala, com o professor, e o outro, na biblioteca. Qualquer que seja o espaço das aulas, estas têm um desenho misto, iniciando-se com uma curta explicação das aprendizagens previstas e dos instrumentos a utilizar pelos alunos que, de forma autónoma e em pares, cumprem as tarefas propostas com o apoio e a orientação da professora bibliotecária.
Através da realização de trabalhos práticos, tendo como enquadramento os domínios tratados em Cidadania e Desenvolvimento, os alunos aprendem a aceder, selecionar, avaliar, produzir e utilizar, de forma crítica e ética, a informação que têm ao seu dispor. Considera-se fundamental que os alunos aprendam diversas formas de atribuição de autoria e de citação, reflitam sobre o poder da desinformação e consigam identificar a informação credível e verdadeira.
A avaliação da disciplina é positiva. Destaca-se, por um lado, o facto de os alunos serem parte ativa na construção do seu próprio conhecimento e, por outro, o valor do trabalho colaborativo entre professores. Os alunos, organizados em pequenos grupos, usufruem de um acompanhamento de maior proximidade por parte dos docentes, com impacto significativo na resposta às suas dificuldades específicas e no desenvolvimento de competências.
Consideramos que seria importante voltar ao modelo inicial, abrangendo todos os alunos dos 2.º e 3.º ciclos, garantindo uma maior interiorização das aprendizagens.
No âmbito do Pacto Ecológico Europeu [1] que visa tornar o espaço europeu neutro em emissões de CO2 até 2050, a Comissão Europeia desafia os Estados-Membros a colocarem a educação climática, biodiversidade e sustentabilidade [2] no centro da sua ação.
Adota, a 14 de janeiro de 2022, duas medidas - Recomendação do Conselho sobre Aprendizagem para a Sustentabilidade Ambiental e Quadro Europeu de Competências em Sustentabilidade (GreenComp) [3] (próxima publicação do blogue RBE) - baseadas num estudo sobre educação para a sustentabilidade nos Estados-Membros [4].
O quadro de competências para a sustentabilidade europeia (GreenComp) estabelece um conjunto de conhecimentos, “habilidades e atitudes que promovem formas de pensar, planear e agir com empatia, responsabilidade e cuidado com o Planeta e saúde pública” que podem ser aplicadas a qualquer contexto de aprendizagem.
Integra quatro áreas de competência-chave interligadas, cada uma abarcando três competências:
- Incorporar valores de sustentabilidade: Valorizando a sustentabilidade, Apoiando a equidade, Promovendo a natureza;
- Abraçando a complexidade na sustentabilidade: Pensamento sistémico, Pensamento crítico, Enquadramento de problemas;
- Visando futuros sustentáveis: Literacia de futuros, Adaptabilidade, Pensamento exploratório;
- Agindo pela sustentabilidade: Agenciamento político, Ação coletiva, Iniciativa individual.
Representação visual do GreenComp
Trata-se de um modelo de referência geral, não prescritivo e flexível, que pretende "Trazer a natureza de volta às nossas vidas" (Biodiversity Strategy for 2030, EU 2020) e formar cidadãos capazes de serem pensadores sistémicos/ holísticos, críticos (por exemplo, do atual sistema económico) e ativos e que saibam e sejam responsáveis por cuidar do planeta no presente e futuro.
Pode ser usado como base comum para aprendizagem formal e informal e ao longo da vida, para revisão curricular, programas de educação e formação de professores, desenvolvimento de políticas, certificação, levantamento de dados e estatísticas, investigação empírica, reflexão e avaliação.
De acordo com esta ferramenta, “Sustentabilidade significa dar prioridade às necessidades de todas as formas de vida e do planeta, assegurando que a atividade humana não excede os limites planetários”.
Da consulta de peritos e cientistas, GreenComp estabelece nove processos que carecem de estudo, monitorização e ação por parte dos cidadãos: integridade da biosfera; alteração do uso do solo; mudança climática; utilização de água doce; acidificação oceânica; fluxos biogeoquímicos; poluição atmosférica por aerossóis; destruição da camada de ozono; libertação de novos produtos químicos.
Processos críticos do sistema da Terra e dos seus limites
GreenComp promove uma abordagem ativa, centrada nas crianças e jovens e nos cidadãos, baseada em projetos ligados a contextos específicos, à gamificação e jogos (de papel, experimentais, simulações), análise de casos reais locais, mista e em linha, ao ar livre, colaborativa.
Integra-se no Quadro Europeu de Competências de Sustentabilidade:
- European Skills Agenda for Sustainable Competitiveness, Social Fairness and Resilience 2025 [Agenda Europeia de Competências para a Competitividade Sustentável, Justiça Social e Resiliência] (2020) que visa desenvolver competências para a transição verde e digital e recuperação da pandemia Covid-19;
- European Education Area 2025 [Espaço Europeu da Educação até 2025] (2020) pois “É a educação que nos ajuda a adaptar a um mundo em rápida mudança, a desenvolver uma identidade europeia, a compreender outras culturas e a obter as novas competências necessárias numa sociedade móvel, multicultural e cada vez mais digitalizada” (Tibor Navracsics, Comissário da Educação, a Cultura, a Juventude e o Desporto da Comissão).
GreenComp segue a metodologia dos Quadros de Competências publicados pelo Joint Research Centre: Quadro de Competência Digital para os Cidadãos (DigComp), Quadro de Competência Empresarial (EntreComp), Quadro Europeu de Competência Pessoal, Social e de Aprendizagem para a Aprendizagem (LifeComp).
“Matching” perfeito entre a Biblioteca e o Plano de Desenvolvimento Pessoal, Social e Comunitário
Leitura: 5 min |
A Resolução do Conselho de Ministros n.º 53-D/2020, 20 de julho no âmbito do Plano de Desenvolvimento Pessoal, Social e Comunitário (PDPSC) estimulou o AE de Santa Comba Dão a criar o Programa Mentoria A++, robustecendo as medidas para que apontava o Plano Nacional de Promoção do Sucesso Escolar (PNPSE), promovendo-se ao longo do presente ano letivo o estímulo e reforço do Relacionamento Interpessoal e a Cooperação entre Alunos.
Deste programa de Mentoria A++, que conta com o envolvimento das Bibliotecas do Agrupamento, destacam-se duas das medidas: Medida 1 “Apoiar a Aprender” (alunos do 3º Ciclo e Ensino Secundário) e Medida 2 “Aprender a Aprender” (alunos do 2º Ciclo).
Apoiar e Aprender
De alunos para alunos, esta medida pressupõe diversas etapas, desde a formação dos mentores (cf com planos de atividades), até à criação de recursos de apoio, pela biblioteca, para serem usados em contexto das sessões de encontro/ trabalho dos pares. Esta ação decorre da articulação entre a Técnica de Educação Especial e Reabilitação e a Professora Bibliotecária e implica, para além do processo de planificação, todo o acompanhamento aos mentorandos.
Todas as semanas, preferencialmente no espaço da biblioteca escolar, os alunos mentores apoiam os seus pares, designadamente no desenvolvimento das aprendizagens, esclarecimento de dúvidas, integração escolar, preparação para os momentos de avaliação e em outras atividades conducentes à melhoria dos resultados escolares.
Assume-se esta medida como uma iniciativa articulada de promoção do sucesso académico, prevenção do abandono escolar e desenvolvimento de competências socioemocionais, complementando, neste domínio, todas as restantes medidas do Agrupamento.
Como referido, as sessões decorrem frequentemente na biblioteca escolar, privilegiando a envolvência, os estímulos e recursos existentes e/ou disponibilizados (devidamente validados), impulsionadores da criação de ambientes de aprendizagem favoráveis ao desenvolvimento da criatividade e à promoção da liberdade de expressão. O processo de monitorização é feito pela equipa.
Aprender a Aprender
Dirigida ao 2º CEB, esta medida depende exclusivamente da equipa do Programa, que assume o papel de “Mentor”. Esta equipa é constituída pela Técnica de Educação Especial e Reabilitação e pela Professora Bibliotecária. Semanalmente, em horário estabelecido e num processo pedagógico sequencial, são implementadas com os alunos dinâmicas que implicam o treino da leitura e de competências de acesso, interpretação, síntese e uso da informação em momentos de produção escrita em suporte físico ou digital.
Paralelamente às ações supramencionadas, desenvolve-se um programa formativo para docentes, não docentes e pais e encarregados de educação. Articulando planos e integradas no plano de atividades da biblioteca, realizam-se ações que procuram dotar os docentes de ferramentas que contribuam para a criação de situações de aprendizagem promotoras do sucesso educativo e simultaneamente enriqueçam o portfólio das competências de leitura e escrita dos alunos. Com o propósito de fornecer estratégias e medidas que possam implementar junto dos alunos e dos educandos, também se privilegiam ações de sensibilização a pais e encarregados de educação e pessoal não docente. Estas ações de formação fomentam ainda a partilha de conhecimento e de experiências, tendo ainda como propósito o enriquecimento das áreas curriculares e do desenvolvimento pessoal, social e comunitário (ver sítio deste programa).
Mais informação nos canais da Escola / Biblioteca Escolar:
O movimento The Library of Things é uma tendência crescente em bibliotecas públicas, académicas e especializadas e está a espalhar-se rapidamente em várias comunidades em todo o mundo. Cada vez mais pessoas acreditam num futuro construído sobre os princípios da cooperação e do empréstimo, criando espaços para promover a eficiência e a solidariedade nas comunidades, que se unem, partilhando objetos de que precisam, sem terem de se preocupar em comprar, manter e armazenar coisas de que talvez não precisem com frequência ou a longo prazo.
As bibliotecas há muito afirmam que não são apenas depósitos de livros e muitas têm diversificado as suas coleções nos últimos anos. Estes novos tipos de coleções variam muito, mas vão grandemente para além dos livros, revistas e meios de comunicação, que são o principal foco das coleções físicas das bibliotecas. Afinal, equipamentos e ferramentas são igualmente essenciais para aumentar as habilidades das pessoas e proporcionar entretenimento e participação em determinadas atividades.
Uma Biblioteca das Coisas consiste, pois, na disponibilização de coleções não-tradicionais por bibliotecas, podendo incluir utensílios de cozinha, ferramentas, equipamentos de jardinagem e sementes, eletrónica, brinquedos e jogos, arte, kits de ciência, materiais para artesanato, instrumentos musicais, equipamentos de lazer e muito mais.
Esta ideia está intimamente relacionada com o conceito de biblioteca como makerspacede que temos já falado neste espaço e apresentam-se abaixo dez sugestões, algumas das quais já se podem encontrar nas bibliotecas escolares. Outras, eventualmente, também poderão fazer sentido nas bibliotecas escolares. Já imaginou? Atreve-se a sair da caixa?
Jogos e quebra-cabeças
Os quebra-cabeças são óbvios produtos de uso único que a maioria das pessoas monta uma vez e depois enfia num armário para nunca mais ser aberto. Alguns jogos de tabuleiro têm destinos semelhantes, por isso faz sentido que as bibliotecas forneçam essas formas de entretenimento para as pessoas desfrutarem uma vez e depois devolverem para que outras também possam apreciá-las. As coleções de jogos de tabuleiro também podem ser uma ótima oportunidade para as pessoas testarem os jogos nos quais estão interessadas antes de se comprometerem a comprar um para si mesmas. Além disso, muitas pessoas têm provavelmente jogos e quebra-cabeças de boa qualidade que podem estar dispostas a doar à biblioteca.
Brinquedos e kits STEM
Kits de ciência e codificação são cada vez mais comuns para as crianças aprenderem e se empolgarem com o STEM, mas muitas vezes podem custar caro, especialmente se as crianças os usarem apenas para concluir um projeto e nunca mais lhes pegarem. Da mesma forma, os brinquedos em geral são ótimas opções para partilhar entre as comunidades, tanto para que os pais economizem dinheiro e espaço como para que as crianças fiquem menos propensas ao tédio. A primeira brinquedoteca foi realmente criada em Los Angeles em 1935, e tornou-se ainda mais popular nos anos 60 e 70 e, desde então, muitos se concentraram em fornecer brinquedos e jogos para crianças com deficiência. Além disso, a doação de brinquedos à biblioteca é uma excelente forma de reutilização e de prolongamento da vida útil dos objetos.
Sementes e suprimentos de jardinagem
Tecnicamente, não, não é possível alguém devolver uma semente que plantou no seu jardim, mas pode pedir aos utilizadores que doem sementes de volta à biblioteca após a colheita! As sementes são ótimas oportunidades de partilha porque a maioria dos pacotes vêm com mais sementes do que um jardineiro precisa, o que faz com que possam ser divididos para partilhar entre mais pessoas. No entanto, as sementes não são os únicos produtos de que as pessoas precisam para a jardinagem. Ferramentas como pás, espátulas, enxadas, luvas e muito mais podem ser adicionadas a uma biblioteca de empréstimo para aqueles que desejam participar da jardinagem, mas precisam utilizar esses equipamentos apenas algumas vezes por ano.
Ferramentas
Existem muitas outras ferramentas domésticas que as pessoas podem precisar com pouca frequência, mas não têm orçamento ou espaço de armazenamento para comprar para si próprias. Coisas como furadeiras, martelos, chaves inglesas, até cortadores de relva e sopradores de folhas podem ser partilhados entre a comunidade. Além disso, essas bibliotecas de ferramentas podem ser anunciadas e usadas em conjunto com programas que ensinam às pessoas habilidades básicas em coisas como marcenaria, manutenção de automóveis e outros projetos de bricolage.
Instrumentos para costura e artesanato
Tal como outras ferramentas, máquinas de costura e instrumentos para tricot, crochet e outros artesanatos podem ser investimentos caros, especialmente se se tratar de uma atividade pela qual existe um interesse recente. A Biblioteca Pública Yorba Linda inclui livros de instruções, DVDs instrucionais e outras ferramentas num kit de costura juntamente com a máquina de costura para ajudar as pessoas a começar - e oferecem kits semelhantes para tricot, crochet e caligrafia.
Instrumentos de panificação e cozinha
Se já comprou uma forma de bolo com uma forma estranha para uma festa de aniversário ou outro evento festivo e a usou apenas uma vez, provavelmente pode imaginar os benefícios de pedir emprestados utensílios de cozinha. A Universidade de Illinois Springfield tem um ótimo exemplo de uma biblioteca de empréstimo de assadeiras e pequenos utensílios de cozinha, como liquidificadores, sorveteiras e muito mais, que podem ser usados por uma semana.
Instrumentos musicais
Aprender um instrumento é outro passatempo com uma barreira de alto custo à entrada, então aspirantes a músicos podem beneficiar do empréstimo temporário de instrumentos antes de se comprometerem. Mesmo músicos efetivos podem tomar emprestado um instrumento para praticar se o deles tiver de ser consertado. A Biblioteca Pública de Framingham atualmente oferece guitarras, ukeleles, amplificadores e bandolins, por exemplo, mas muitos outros equipamentos musicais além de instrumentos também podem ser bons acréscimos a uma Biblioteca das Coisas musical, como metrónomos, estantes de partitura, afinadores, etc.
Equipamentos desportivos
De bolas de futebol a canas de pesca e a jogos de piquenique ao ar, há muitas oportunidades para partilhar equipamentos desportivos numa biblioteca. Muitas começaram até a lançar programas de partilha de bicicletas para que as pessoas possam ter acesso a meios de transporte e fitness sem precisarem de pagar para alugarem ou comprarem uma bicicleta.
Campismo e equipamentos de ar livre
Assim como os desportos, os equipamentos para atividades ao ar livre e para campismo podem ser bastante caros, especialmente para comprar para apenas para uma viagem. As bibliotecas do condado de Jackson, na Florida, têm ótimos exemplos de equipamentos para atividades ao ar livre para emprestar, como binóculos e kits de observação de pássaros, lanternas, cadeiras de acampamento, barracas, mesas de piquenique e muito mais.
Eletrónica/ Tecnologia
Obviamente, muitas pessoas vêm à biblioteca pública para usar o Wi-Fi e seus computadores, mas emprestar equipamentos eletrónicos também pode permitir que os utilizadores da biblioteca também acedam a essa tecnologia fora da biblioteca física. Está a tornar-se bastante comum as bibliotecas emprestarem hotspots, tablets, computadores e outros eletrónicos, o que pode ajudar a diminuir a exclusão digital.
E então? Surgiu-lhe alguma boa ideia para a sua biblioteca escolar?
Este projeto, desenvolvido em parceria entre as quatro salas do Jardim de Infância (JI) e a biblioteca escolar (BE), vai ao encontro do tema atual do JI da Venda do Pinheiro, VivenciArte, iniciado já no passado ano letivo.
As leituras e atividades dinamizadas semanalmente pela BE, feitas a partir de livros relacionados com o domínio da arte, são o mote para desafios lançados às educadoras e crianças. Como repositório de atividades e materiais usados, a BE criou uma apresentação digital interativa, na qual vão sendo registados alguns dos momentos de exploração artística em várias modalidades. A par das técnicas de expressão plástica experimentadas, aí se encontram também recursos como curtas de animação, música e divulgação de pintores e museus.
Entendendo que a arte não é um complemento educativo, mas antes faz parte de uma educação integral do ser humano, a exploração deste domínio, no ensino pré-escolar, constitui uma forma de promover o sentido estético e crítico, a curiosidade, a expressão individual da criança na descoberta de si mesma, do(s) outro(s) e do mundo, potenciando o seu desenvolvimento em várias áreas do saber.
VivenciArte espelha, assim, o processo colaborativo deste ano, com destaque para as criações das crianças, orientadas pelas educadoras Eugénia Assunção, Mariana Ferreira, Sara Janeiro e Susana Rocha (também coordenadora do estabelecimento). Além dos trabalhos realizados em sala, esta ferramenta digital dá ainda conta dos que foram feitos com a participação das famílias.
O site está em construção até ao final do ano letivo, e este será o nosso museu virtual, para podermos mostrar e recordar o que fomos fazendo em conjunto sob a influência inspiradora da(s) arte(s).
Susana Rocha (coordenadora do JI da Venda do Pinheiro)
Referências
Fonte da imagem: Biblioteca Escolar e Jardim de Infância da EB1/ JI da Venda do Pinheiro. (2020). Vivenciarte: um projeto com artes. Venda do Pinheiro: Biblioteca Escolar e Jardim de Infância da EB1/ JI do Agrupamento de Escolas Venda do Pinheiro. https://view.genial.ly/61a555d6b2876c0e0a0712cb/presentation-vivenciarte
Neste excerto do livro 4 Essential Studies, Penny Kittle e Kelly Gallagher explicam porque é que têm alunos espalhados por todo o país a escrever em conjunto.
Embora saibamos que o acompanhamento que se faz a cada aluno durante o processo é o meio mais eficaz de promover a escrita, deparamo-nos com uma realidade implacável: não conseguimos chegar a todos os alunos quando eles precisam de nós. Há demasiados alunos e pouco tempo (as turmas de Kelly têm em média 38 alunos). Por este motivo, temos de os ajudar a darem feedback construtivo uns aos outros. Descobrimos que a forma mais eficaz de o fazer é colocar os alunos a escreverem em pequenos grupos.
A escrita em grupo, contudo, não deve ser confundida com grupos que editam os trabalhos dos pares. Não colocamos os alunos em grupos para editarem os esboços uns dos outros. Temos dois problemas com essa prática. Em primeiro lugar, o conhecimento que os nossos alunos têm da gramática e da estrutura frásica, muitas vezes, não é sólido. Fazem correções indevidas ao editarem os trabalhos dos colegas, ou afirmam simplesmente: «Parece-me bem» e nenhum aluno ganha nada com isso. Em segundo lugar, quando os alunos acreditam que o objetivo de lerem o trabalho de um colega se limita a encontrar erros, ficam com uma visão muito restrita que não corresponde ao que se pretende. Demasiados alunos terminam os seus próprios esboços rapidamente sem mergulharem no conteúdo dos mesmos. «A minha vírgula está no sítio certo?» não é o mesmo tipo de conversa que «O que sabes sobre o meu irmão depois de leres este episódio?» Queremos que os alunos desejem comunicar bem, não apenas que façam a edição dos trabalhos. Procuramos construir uma comunidade onde os alunos trabalham determinadas questões e hesitações à medida que escrevem juntos. Que interesse tem o texto não ter falhas na edição se estiver pouco desenvolvido e for insípido?
Embora ambas tenhamos criado grupos que escrevem em conjunto nas nossas salas de aula durante anos, descobrimos que o envolvimento aumentou quando também conectámos os nossos alunos por todo o país. Estes foram estimulados quando lhes foi dada a oportunidade de interagirem de forma significativa com alunos de outras culturas e origens. Colocámo-los em grupos de seis ̶ três alunos das turmas da Kelly agrupados com três alunos das turmas da Penny. Não lhes solicitámos apenas que partilhassem os seus esboços dentro destes pequenos grupos, mas também que pedissem reações específicas aos membros do grupo no Flipgrid.
O que entendemos por reações específicas? Todos nós já tivemos alunos que chegam ao pé de nós e, pousando o esboço do trabalho, dizem: «Pode ajudar-me?» Trata-se do ato “incapacidade de tomar decisões”, aprendido pelos alunos - um exemplo de jovens escritores que atribuem o processo de tomada de decisão ao professor. Os alunos devem ir mais além. Exigimos que peçam aos colegas de grupo feedback específico sobre os seus esboços. Para exemplificar o que pretendemos, fazemos nós a primeira vez. Por exemplo, os pedidos no Flipgrid foram os seguintes:
Kelly: «Obrigada por aceitares dar uma vista de olhos ao meu trabalho. Há duas coisas que gostava que visses com atenção. A primeira é a parte em que eu grito “Pára!” e ao mesmo tempo a minha mãe grita “Pára!”. Não sei, parece-me um pouco pesadão e estranho. Por isso, pergunto-me se, como leitora, concordas com essa parte. A outra questão é que há três momentos diferentes no texto em que eu digo que o meu pai e eu fechámos os olhos um ao outro. Foi uma repetição intencional. Pergunto-me se funcionou contigo. Parece-te que foi forçada? Foi lamechas? Ou funcionou? Será que reparaste nisso? Por favor, podes dar uma vista de olhos?»
Penny: "Espero que possas responder a uma pergunta. Este texto é sobretudo sobre o quanto gostei de estar com o meu pai e, no entanto, sinto que toda a primeira parte é tão obscura que não fica suficientemente clara depois disso ̶ quer dizer, realmente, o ele ter vindo ao meu jogo de ténis não mostra que esteja muito envolvido…e continua a não estar até ao final da página 2 e ao início da página 3 onde começo a entrar no que, para mim, realmente importa. Por isso, sinto que há aqui um certo desequilíbrio. Podes comentar o que pensas sobre isto? Obrigada.»
Criámos dois modelos diferentes de pedir uma reação. A Kelly pediu ajuda para dois momentos específicos do seu texto, enquanto a Penny quis saber se as cenas que tinha escolhido contribuíram para a compreensão da sua relação com o pai ao longo do tempo. A Kelly e a Penny responderam aos pedidos uma da outra, e os alunos também reagiram aos esboços das autoras. Depois foi a vez deles.
Aqui está Alyssa a pedir feedback ao seu grupo: «Preciso de alguns conselhos sobre o final. Sinto-me como se o tivesse precipitado um pouco. Passei muito tempo a explicar a primeira parte e o final é como se ̶ Pum! ̶ isto aconteceu e adeus. Por isso, digam-me o que pensam.»
A nível nacional, Noelia respondeu: «A conclusão - acho que adoraria a tua conclusão se pelo menos terminasse quando disseste que estavas inconsciente. Porque quando disseste que estavas “sem apêndice”, parece que já sabemos que vais ser operada, mas quando terminas com “estava inconsciente” cria algum suspense. Por isso penso que seria melhor se acabasse assim... pode levar o leitor a dizer, “Uau, ela vai ser operada”. E deixa-nos em suspense para perguntar o que aconteceu a seguir.»
Esta é apenas uma das reações que Alyssa recebeu. Agora imagine os contributos que recebeu de outros escritores do seu grupo. O valor que estes contributos representam foi rapidamente multiplicado, uma vez que Alyssa leu, de seguida, cinco ensaios dos alunos do seu grupo e respondeu a cada uma das suas perguntas. Teve de imergir na escrita de outros alunos, o que a expôs a todo o tipo de tentativas de escrita que podem ter acabado por influenciar o seu próprio esboço. E todas estas leituras e reações são acompanhadas de uma gratificação: os alunos aprendem que o escritor deve especificar o foco do seu pedido de ajuda.
Fora dos grupos de escrita, reforçamos isto. Nenhum esboço é aceite pelo professor, a menos que o aluno escritor tenha feito uma pergunta que conduza o olhar do professor para a leitura do rascunho. Um aluno pode perguntar: "As minhas transições funcionam?" ou "Tenho provas suficientes para defender esta posição?”
Também gostaríamos de registar que a importância da reação dos colegas se estende para além da resposta durante o processo de escrita. Houve alunos a responder uns aos outros na fase de pré-escrita. Christian estava a ter dificuldade em definir o foco da sua pesquisa, por isso pediu ajuda no Flipgrid da turma.
«A minha investigação debruça-se sobre o Queen Mary - o navio na Califórnia. A questão principal é se as histórias de fantasmas são reais. Depois tenho subtópicos. Tenho alguns que apenas dão o pontapé de saída para o principal. Aqui estão: Quando e de onde veio o navio? Relativamente à história de o navio ser assombrado, qual foi o principal objetivo e utilização quando foi originalmente construído? Porque é que foi transformado num hotel? E depois tenho mais uns subtópicos - quero fazer pesquisas sobre os tabuleiros ouija. De facto, quero saber tudo sobre eles... tudo o que pudermos saber. Quero pesquisar sobre quem fez a lista dos Dez Lugares Mais Assombrados de sempre. Quero saber como é que eles decidem isso. Porque apenas o dizem, mas não explicam, só fazem uma descrição de todas as coisas que foram assombradas. Não explicam porque é que este é mais assombrado que os outros. Quero perceber porque é que é assim. E por agora é só isto. Espero que me possam dar algumas ideias que sejam melhores do que as que tenho. Obrigado.»
O pensamento de Christian, tal como o de muitos alunos no início do processo de escrita, está disperso. Deveria escrever sobre o Queen Mary? Sobre os dez lugares mais assombrados de sempre? Sobre os tabuleiros ouija? Queremos ajudar cada um destes alunos, mas o tempo do professor é limitado. Quando os alunos pedem ideias a outros alunos, isso pode ajudá-los a começar. Joseph publicou uma resposta.
«Em relação à tua pesquisa sobre o Queen Mary, e se está ou não assombrado… de facto, tenho uma amiga que foi lá no fim-de-semana passado e me contou como ouviu os canos a retinir à distância. Poderia tratar-se apenas de efeitos sonoros. Também viu que quando tirou uma fotografia, o rosto de um fantasma apareceu. Assim, hoje em dia com a tecnologia, levanta-se a questão de saber se o Queen Mary faz ou não isto por causa dos turistas e do dinheiro, ou se é realmente real. Portanto, podes pesquisar mais e tentar descobrir se é realmente autêntico ou não.»
A resposta de Joseph ignorou grande parte das reflexões de Christian e concentrou-se numa questão: será que os fantasmas existem mesmo? O Christian começou a investigar isso e veio ao escritório de Penny depois de estar acordado toda a noite a seguir este fio condutor. Ficou intrigado e fascinado. Redirecionou toda a pesquisa para esta perspetiva.
Os grupos de escrita fazem mais do que dar feedback aos alunos sobre o seu trabalho. Eles criam comunidades. Excerto do livro 4 Essential Studies: Beliefs and Practices to Reclaim Student Agency, de Penny Kittle e Kelly Gallagher. Publicado por Heinemann, Portsmouth, NH. Reimpresso com a permissão da Editora. Todos os direitos reservados.
Com o propósito de sensibilizar a comunidade educativa para a importância de capacitar os alunos para serem leitores e agentes críticos de informação e comunicação, a biblioteca da Escola Básica de Odiáxere (AE Gil Eanes, Lagos), em articulação com todos os docentes do 1º ciclo, promove, desde 2015, um jornal digital intitulado “As gralhas”.
Este projeto coletivo destina-se a estimular o gosto pela escrita, a ativar o olhar analítico e o espírito crítico dos alunos mais jovens, a valorizar a sua criatividade e a motivá-los para a expressão dos seus pensamentos e sentimentos.
Virtudes d’ As gralhas
Desde o seu início que o jornal tem vindo a cumprir um papel educativo absolutamente insubstituível na escola. O rol de virtualidades é extenso, já que ele:
- responde ao desejo de empoderar os alunos mais jovens para a ação, incentivando-os a “exprimir livremente a sua opinião” e a relatar o seu dia-a-dia;
- é aproveitado para melhorar a aprendizagem de determinadas matérias disciplinares e para promover valores como a cooperação ou a solidariedade;
- incentiva a articulação curricular, entre a BE e todos os docentes;
- fomenta o intercâmbio de informação com pais e com a comunidade envolvente;
- estimula um olhar mais atento e mais crítico dos alunos, colocando à sua reflexão múltiplas questões associadas aos media (que informação vai ser selecionada para incluir no jornal? como é que o autor vai apresentar a informação? como se distingue a boa da má informação? ; etc.)
Um jornal com personalidade
Esta aventura, ao fornecer uma oportunidade de participação a todos os alunos (do 1º ao 4º ano), confere ao jornal uma certa singularidade. O seu formato, o seu estilo, os seus títulos ou as suas fotos e ilustrações: tudo é diferente. Um jornal que não faz malabarismos com fontes (monotonia ou muita diversidade) e não opta por usar o mesmo "tom", o mesmo estilo, na apresentação, no título, no conteúdo. Cada título, cada página tem a sua própria personalidade, unidade de tom e coerência, de acordo com a importância que lhe é atribuída pelo autor.
Se existir uma letra invertida, uma palavra trocada ou uma ilustração, que, por lapso, ficou assimétrica na página, isso não impede o aluno de “tagarelar” sobre o que lhe interessa, sobre os livros que lê, sobre as coisas que faz no dia-a-dia. É assim que ele ocupa o lugar de produtor de informação na escola, reivindicando o direito de fazer perguntas, de procurar respostas e de divulgar o que realmente pensa sobre o que faz, o que realmente sente sobre o que lhe interessa, o que gosta, desafia ou intriga.
Em síntese, trata-se de um projeto que fomenta a livre aprendizagem e potencia nos alunos competências relacionadas, genericamente, com a cognição, a formação de atitudes, a defesa de valores, a cooperação e a cidadania crítica.
Desta forma, tem sido possível à biblioteca conciliar o desenvolvimento da escrita, da leitura, da literacia dos media; assim como o respeito pela diferença, pela tolerância; o interesse pelos assuntos da escola e da comunidade; o trabalho em equipa; a responsabilidade, a autonomia e o reforço da autoestima.
É assim, de gralha em gralha, que os alunos vão conhecendo melhor a engrenagem mediática, aprofundando a composição escrita e adquirindo o gosto por palavras, sinais, imagens e informação.
Vivemos uma democracia e paz formal ou técnica (eleições, acordos de cessar-fogo…), simples “ritual”, diz José Saramago, que se traduz na desvalorização e desrespeito disseminado pelas instituições, em focos de violência, discriminação e atitudes de egoísmo, indiferença e apatia perante pessoas e mundo.
Nas palavras do cidadão, escritor e Nobel da Literatura português, “Interrogo-me como é que é possível assistir à injustiça, à miséria, à dor, sem sentir a obrigação moral de transformar aquilo a que estamos a assistir. Quando observamos à nossa volta vemos que as coisas não funcionam bem: gastam-se quantias exorbitantes para mandar um aparelho explorar Marte enquanto centenas de milhares de pessoas não têm nada para se alimentar. Por um certo automatismo verbal e mental, falamos de democracia quando da realidade dela não nos resta mais que um conjunto de ritos, de gestos repetidos mecanicamente. Os homens e os intelectuais, enquanto cidadãos, têm a obrigação de abrir os olhos” [1].
Para que se possa construir uma democracia e paz positivas, estruturais e mais completas, é necessário que, em todas as áreas de desenvolvimento se trabalhe de acordo com uma lógica de prevenção, inclusão e emancipação, desenvolvendo um modelo circular/ integrado/ sustentável.
Este modelo coloca no centro o cidadão e a população local que, através da sua participação - dar voz, respeitando e valorizando o lugar de fala de cada um - mediante processos de baixo para cima (bottom-up civic participation) informais, contribuem para a transformação dos contextos, de acordo com as necessidades de quem neles habita.
Esta construção aberta/ coletiva e ativa/ transformadora da democracia e paz tem lugar no contexto da Quarta Revolução Industrial em curso, ancorada na CTEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática).
Tecnologia digital, uma das principais vertentes desta Revolução, é relevante no trabalho (todos os setores e carreiras) e forma como interagimos, nos divertimos e realizamos tarefas no dia-a-dia. Gera oportunidades para as pessoas aprenderem, por si próprias e umas com as outras, ao longo da vida e cria comunidades que aprendem juntas o que necessitam.
A biblioteca escolar incentiva a tendência de as pessoas trabalharem em grupos/ círculos, presenciais e na internet, nos quais partilham histórias, experiências, ideias e emoções, tendo por base leitura e currículo nas suas múltiplas ligações literárias/ científicas e à experiência de cada um.
Através do diálogo/ conversação, constroem um saber significativo e útil que envolve diversas componentes - cognitiva/ científica, emocional/ social, cultural/ artística - e confere sentido de pertença e bem-estar.
A complexidade dos problemas acentua a capacidade, vontade e necessidade interior dos cidadãos participarem nas decisões de governação que os afetam.
A utilização em massa de tecnologias digitais, designadamente redes sociais, ajuda a chamar, reunir e a trabalhar/ agir em conjunto, dando voz à participação informal de diversos atores - cidadãos, associações e organizações internacionais, movimentos inorgânicos - mediadores fundamentais da governação na era da globalização e do digital.
A participação aberta aos cidadãos exerce-se de muitas formas, inclusive através de desobediência civil: manifestações e contra manifestações de rua, abaixo-assinados, petições, cartas abertas na imprensa, greves. O livro do venezuelano Moisés Naím, O Fim do Poder [2] reconhece, com base em evidências, que celebramos a decadência do poder. É fácil adquiri-lo e perdê-lo, mas é difícil exercê-lo, pelo que é necessário e urgente proceder à inovação política que passa pela incorporação da participação dos cidadãos nas decisões de governação.
Em Portugal a orientação do governo de modernização da administração pública, levou-o a aderir ao Open Government Paternership [3], organização que visa o desenvolvimento de um governo aberto e a participação cívica dos cidadãos no Estado para melhorar os serviços públicos.
Neste contexto enquadra-se o Orçamento Participativo das Escolas em que as crianças e jovens criam um projeto local que o governo ajuda a financiar.
Este modelo de governação é particularmente importante em situações de crise como a pandemia, em que Estado, empresas privadas e cidadãos se unem e trabalham em conjunto para um mesmo propósito.
Neste contexto de crescente complexidade, em que ações dos cidadãos podem ter impacto e alcance indeterminado/ exponencial, a formação de cidadãos competentes, críticos e solidários é uma prioridade para a Rede de Bibliotecas Escolares.
Sabendo que os problemas da sociedade dizem respeito a todos e à biblioteca escolar, a RBE foca o seu Quadro Estratégico [4]: - Nas Pessoas, incentivando a capacidade, vontade e necessidade interior das crianças e jovens participarem nas decisões de governação que os afetam, em ligação aos diversos parceiros da biblioteca, pois o impacto é reduzido trabalhando-se circunscrito à sala de aula. - Na atenção à Realidade VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity - Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade); - Em Valores fundamentais, como liberdade, equidade e participação. Visa inverter as perceções dos jovens de que a sua voz e ação não são tidas em conta na sociedade, conforme destacou o último PISA (Programme for International Students Assessment) de 2018 que mostra que as perceções dos jovens sobre a possibilidade da sua ação fazer diferença na resolução de problemas globais, como mudanças climáticas, é reduzida [5]. Trabalha para que cada um encontre o seu lugar na escola e sociedade e tenha oportunidades para desenvolver as suas potencialidades, de acordo com as próprias características e condições.
Referências 1. Costa, F. (2004, 12 de abril). “José Saramago, crítica da razão impura” [Entrevista], in: Aguilera, F. (2010). José Saramago nas suas palavras. S.l.: Editorial Caminho. https://www.fnac.pt/Jose-Saramago-Nas-Suas-Palavras-Fernando-GomezAguilera/a330039 2. Naím, M. (2014, jan.). O Fim do Poder: Dos Conselhos de Administração aos Campos de Batalha, às Igrejas e aos Estados. Porque ter poder já não é o que era. S.l.: Gradiva. https://www.gradiva.pt/catalogo/14926/o-fim-do-poder- 3. Agência para a Modernização Administrativa, IP (2018). Open Government Partnership Portugal. Portugal: AMA. https://ogp.eportugal.gov.pt/inicio 4. Portugal. Rede de Bibliotecas Escolares (2021). Bibliotecas Escolares: presentes para o futuro. Programa Rede de Bibliotecas Escolares: Quadro estratégico: 2021-2027. https://rbe.mec.pt/np4/file/890/qe__21.27.pdf 5. Neste estudo participaram 79 países e mais de 600 000 alunos (5932 alunos em Portugal). Organisation for Economic Co-operation and Development. (2021, 25 Jan.). Green at fifteen – what schools can do to support the climate. France: OECD. https://oecdedutoday.com/green-at-fifteen-schools-support-climate/ 6. Fonte da imagem: Organisation for Economic Co-operation and Development. (2021, 25 Jan.). Green at fifteen – what schools can do to support the climate. France: OECD. https://oecdedutoday.com/green-at-fifteen-schools-support-climate/
Na semana proclamada pela UNESCO como a Semana Internacional de Educação Artística (4.ª semana de maio), apresentamos ArtEscrit@, um projeto das Bibliotecas do 1.º ciclo do Agrupamento de Escolas André Soares, apoiado pela Rede de Bibliotecas Escolares no âmbito da candidatura “Ideias com Mérito” que articula a sua ação com o Plano Nacional das Artes do Agrupamento.
O projeto ArtEscrit@ desenvolveu-se, em 2020/ 2021 em todas as turmas de 3º ano e em 2021/ 2022 desenvolve-se nas mesmas turmas, agora no 4.º ano. Pretende-se envolver os alunos no conhecimento do património artístico, no sentido estético, por via da produção e comunicação escrita.
O projeto contempla as vertentes artísticas - arquitetura, pintura, dança, música, teatro e literatura, em articulação com o Plano das Artes e com as disciplinas de Português, Cidadania e Expressões.
Em cada período escolar é trabalhada uma forma de arte, na hora semanal da turma, na biblioteca com o professor bibliotecário, mas também em sala de aula com o professor titular de turma para a produção escrita.
A estratégia de ação do projeto é sustentada na vivência artística, como tema gerenciador e motivador para, conhecendo e trabalhando o sentido estético, culminar no desenvolvimento de atividades diversificadas relacionadas com a escrita de textos. Nesta ação de escrita, os alunos realizam pesquisas orientadas para recolher informação relacionada com a vivência artística realizada, transformam esse produto em texto informativo/ narrativo e, numa fase posterior, usando ferramentas digitais, rescrevem o texto, que é publicado/divulgado no site do projeto. Este ato de escrita apela também à criatividade e recurso à intertextualidade. São usadas metodologias em que os alunos assumem uma participação ativa, sendo construtores de conhecimento, usando como estratégia o trabalho individual, mas também o trabalho a pares e de grupo, numa lógica de trabalho colaborativo.
Estas ações, desenvolvidas no âmbito do projeto, têm proporcionado aos alunos envolvidos a estimulação da curiosidade em conhecer e valorizar a arte em geral e a arte local, ao mesmo tempo que desenvolvem competências ao nível do gosto e da estética e a adoção de comportamentos e atitudes de valorização e preservação em relação à arte. As artes foram o fio condutor do objetivo principal que é o desenvolvimento de competências de escrita ao nível de diferentes tipos de texto e secundariamente o desenvolvimento de competências digitais.