Este texto apresenta os diversos artigos da edição de 28 de novembro de 2023 do The Journal of Media Literacy, uma publicação online de International Council for Media Literacy, evidenciando os principais aspetos abordados. A sua leitura aponta alguns aspetos a estudar por aqueles que se preocupam com a literacia dos media e da informação.
Literacia dos média + literacia da informação: convergindo espaços/ extravasando silos
Uma carta dos editores convidados, Neil Andersen, Spencer Brayton e Natasha Casey
À medida que os governos, as instituições educativas e as organizações sem fins lucrativos de todo o mundo continuam a debater-se com a evolução acelerada das tecnologias digitais omnipresentes, a literacia dos media e da informação nunca gozaram de um reconhecimento público tão generalizado como na última década. Mas para os educadores que tentam mergulhar nas águas da literacia dos media e da informação pela primeira vez, compreender os campos e os termos, bem como as formas como se cruzam e sobrepõem com a literacia digital, a literacia das notícias, a literacia visual, a literacia de dados, etc., pode ser esmagador.
Cooke apresenta aos leitores um outro desafio: um modelo de literacia cultural crítica, "um tipo de pedagogia antirracista, anti opressiva, baseada na comunidade e capacitadora. É também baseada na justiça social e na defesa dos direitos dos indígenas". Este modelo inclui uma grande variedade de literacias, incluindo a literacia emocional, a literacia política, a literacia histórica e a literacia racial. Não é de admirar, como observam Al-Musalli e Wight, que "estejamos perdidos nas literacias!" Tem sido comum os escritores e os profissionais de todas estas áreas de literacia situarem a "sua" como a mais significativa." Doug Belshaw sugeriu que os termos gerais são fúteis e observou que "as pessoas tendem a assumir que o seu termo preferido inclui todos os outros termos" (Panke, 2015). Muitos estudiosos da literacia mediática têm perceções bastante ultrapassadas sobre a literacia da informação e continuam a vê-la como um esforço puramente baseado em competências, revelando uma falta de consciência relativamente às transformações que ocorreram no campo da literacia da informação. Como observa Baer, "a versão da literacia da informação que Buckingham critica assenta numa definição restrita de informação". Por outro lado, alguns académicos[1] consideram a literacia mediática e a literacia da informação como duas faces da mesma moeda que podem ser compreendidas e ensinadas em conjunto (podem os media ser realmente separados da informação ou vice-versa?). Até há pouco tempo, e apesar das influências teóricas e dos objetivos comuns, era relativamente raro vê-los combinados. Essa escassez inspirou esta edição especial do The Journal of Media Literacy.
A literacia mediática e a literacia da informação têm sido definidas, compreendidas e ensinadas de inúmeras formas e têm um aspeto muito diferente consoante o contexto, resultando muitas vezes na insularidade de ambos os campos. Mas registaram-se mudanças nos últimos anos. Leaning observou que a partir de " em meados da década de 2000 e na década de 2010, a literacia da informação começou a sobrepor-se a aspetos da literacia dos media em termos de conteúdo, práticas e focos, existindo agora um forte movimento no sentido da integração das duas práticas"[2]. Na Enciclopédia Internacional da Literacia dos Media de 2019, a inclusão de entradas sobre literacia da informação crítica por parte de proeminentes bibliotecários académicos Drabinski e Tewell aponta para uma ligeira diminuição do fosso entre as duas áreas. [3] Nesta edição, O'Byrne, Hilliger e Belshaw assinalam a importância e os desafios de des-silenciar os debates, à medida que tentam " ultrapassar os modelos de literacia em silospara ajudar os diversos alunos a navegar de forma responsável na paisagem digital".
As bibliotecas são locais de luta estimulantes para esta síntese, onde pessoas e ideias colidem. No entanto, há quem pense que as bibliotecas são armazéns de informação e que os bibliotecários nem sempre são os principais educadores. Tal como já foi referido, abundam os estereótipos da velha guarda sobre o que são as bibliotecas e o que é a literacia da informação (catálogos de cartões, enfiar as microfichas, falta de pedagogia crítica, etc.). E por falar em pedagogia crítica, ainda nem sequer abrimos a lata de minhocas que é a abordagem neoliberal (ou "acrítica", como Higdon, Butler e Swerzenski lhe chamam) [4] versus abordagens críticas à literacia dos media e da informação, embora Harnell, Guldin e Morrison, e Gambino tenham muitas ideias sobre este importante tópico.
As bibliotecas são espaços ativos e centros comunitários de apoio, onde a aprendizagem tem lugar de inúmeras formas (formais e informais) e onde o acesso à informação numa variedade de formatos é abundante. O estudo de caso de Glotov sobre uma exposição permanente na Biblioteca Nacional da Letónia demonstra-o. E McDavitt e McDougall - utilizando o conceito teórico do "terceiro espaço" - sintetizam a intersecção das bibliotecas em geral e das bibliotecas escolares em particular com a literacia dos media. Esta mudança de ponto de vista, das bibliotecas como armazéns de informação para o conceito de "terceiro espaço", apoia ainda mais os espaços das bibliotecas e o seu pessoal como agentes de mudança com os olhos postos no futuro e no apoio às comunidades que servem, especialmente no que se refere à literacia dos media e da informação.
Temos de prestar atenção e apoiar as bibliotecas porque elas estão a ajudar a transportar-nos para o futuro de várias formas, nomeadamente através da sua capacidade de estabelecer ligações e parcerias entre disciplinas e ambientes de aprendizagem (ver contributos de Brennan, Cooke, Mallon e Mallon, McDavitt e McDougall, Friesem e Sims). Embora a interdisciplinaridade tenha sido uma palavra de ordem no meio académico durante anos, raramente as instituições académicas disponibilizam os recursos necessários para apoiar este tipo de projetos. E as colaborações entre a literacia dos media e da informação devem ser transdisciplinares. Citando Crenshaw e Hall, Belshaw, Hilliger e O'Byrne observam que "…a transdisciplinaridade dá prioridade à relevância social e ao bem comum, transcendendo as fronteiras disciplinares para procurar uma unidade de conhecimento que possa ser questionada e transformada". O artigo de Swanson aponta para as omissões gritantes que resultam quando os silos disciplinares permanecem firmemente enraizados. Ele observa que "um ponto comum significativo partilhado pela literacia da informação e pela literacia dos media é que estão claramente fora de contacto com as descobertas e as linhas de pensamento atuais da psicologia e da neurociência". O seu artigo deve ser motivo de reflexão para todos os que investigam e ensinam a literacia dos media ou da informação.
Esta edição começa com a republicação do provocador post do blogue de David Buckingham de janeiro de 2023, "The Trouble with Information Literacy", seguido das respostas de Andrea Baer, Andrea Gambino e Renee Hobbs. Podemos concetualizar as literacias dos media e da informação como diferentes sabores de gelado que partilham ingredientes-chave, como propõe Hobbs? Ou, uma vez que estão em jogo consequências políticas e pedagógicas significativas, a forma como definimos e enquadramos as definições implica que se façam perguntas incómodas, como defende Buckingham? Este diálogo ponderado entre quatro educadores, proveniente tanto da literacia dos media como da literacia da informação, prepara o terreno para o que se segue.
(...)
Neil, Spencer e Natasha
Referências
[1] Marcus Leaning, “Rumo à integração da alfabetização midiática e informacional: uma justificativa para uma abordagem do século 21”, em Educação para a alfabetização midiática em ação: perspectivas teóricas e pedagógicas , ed. Belinha S. DeAbreu e Paul Mihailidis (Nova York: Routledge, 2014). Sonia Livingstone, E. Van Couvering e Nancy Thumin, “Converging Traditions of Research on Media and Information Literacies”, em Handbook of Research on New Literacies , eds. Julie Coiro, Michele Knobel, Colin Lankshear e Donald J. Leu (Nova York: Lawrence Erlbaum Associate, 2008).
[2] Uma abordagem à alfabetização digital através da integração da alfabetização midiática e informacional. Marco Inclinado. Mídia e Comunicação, 2019, Volume 7, Edição 2, Páginas 4-13
[4] Higdon, Nolan; Mordomo, Allison; e Swerzenski, JD (2021) “Inspiração e motivação: As semelhanças e diferenças entre alfabetização midiática crítica e acrítica”, Comunicado Democrático: Volume 30: Edição 1, Artigo 1. https://scholarworks.umass.edu/democratic-communique/ vol30/iss1/1/
1. A necessidade de um novo Quadro Global da UNESCO
O Quadro para a Cultura e a Educação Artística/Framework for Culture and Arts Education atual da UNESCO baseia-se em 2 documentos: o Roteiro para a Educação Artística (Lisboa, 2006) e a Agenda de Seul: Objetivos para o Desenvolvimento da Educação Artística (Seul, 2010) [2].
O crescimento da mobilidade humana, das desigualdades, das alterações climáticas e da transformação digital transformou o contexto em que estes documentos foram aprovados. As recomendações da iniciativa Futuros da Educação 2021 [3] - e a Declaração MONDIACULT 2022 - reforçam a importância da ligação da cultura à educação e a necessidade desta revisão.
Considerando a importância da cultura e da educação para todos os setores e para o desenvolvimento sustentável, os Estados-Membros da UNESCO solicitaram, em 2021, a sua revisão, de forma a adaptá-los às exigências do mundo atual e futuro.
Em janeiro de 2024 a UNESCO publica o primeiro Rascunho/Draft do futuro Quadro [4].
2. Quais são as novidades do futuro Quadro?
A.
Mantém a definição alargada de cultura da Declaração Mondialcult 2022, que inclui processos, como o diálogo intercultural e valores, como a diversidade cultural e linguística:
Cultura é o “conjunto de características distintivas espirituais, materiais, intelectuais e emocionais que caracterizam uma sociedade ou um grupo social, inclui não só artes e letras, mas também modos de vida, direitos fundamentais do ser humano, sistemas de valores, tradições e crenças" e “pode ser transmitida, expressa e vivida” através de palavras, som, imagens, movimento, monumentos e objetos, meios digitais e conhecimentos tradicionais.
Reconhece que “A cultura está no centro do que nos torna humanos e constitui a base dos nossos valores, escolhas e das nossas relações uns com os outros e com a natureza, dotando-nos de pensamento crítico, de um sentido de identidade e da capacidade de respeitar e aceitar o outro”, desenvolvendo a imaginação, a autoexpressão e a curiosidade sobre todos os assuntos.
Nos termos deste Rascunho, a cultura é um ecossistema que reflete a transformação digital, devendo incluir património, indústrias culturais e criativas e que deve integrar-se, de forma significativa e prática, em todas as formas de educação, incluindo não formal, ao longo da vida, técnica e profissional.
B.
Reforça a ligação indissociável entre cultura e educação: a educação é um meio importante para a promoção da cultura, da criatividade e da inovação e a cultura melhora e alarga as competências e os resultados da aprendizagem. Esta interligação reforça/acelera:
- A “aprendizagem holística, incluindo a aprendizagem social e emocional, a sensibilidade ao ambiente natural, bem como promover o diálogo intercultural, a cooperação e a compreensão, fundamentais para enfrentar de forma sustentável os desafios globais e os processos de transformação” [4];
- A equidade e a relevância da educação, pois a diversidade das expressões culturais “enriquecem e revitalizam a educação, oferecendo a diversos aprendentes, em particular aos que pertencem a grupos vulneráveis e desfavorecidos, os meios para exprimirem a sua humanidade e acederem a uma diversidade de formas de expressão, formas de pensar, conhecer e ser, histórias e línguas de povos e comunidades, que dão sentido à sua leitura do mundo, aumentam a sua autoconfiança e motivação, e, consequentemente, o seu sucesso na aprendizagem” e sustentam e alargam comunidades de aprendizagem, criadas inclusive de forma espontânea/informal [4];
- O desenvolvimento sustentável, designadamente ao nível do ODS 4, educação de qualidade inclusiva e equitativa, promovendo oportunidades ao longo da vida para todos e do ODS 8, promoção de emprego e o trabalho digno para todos. O futuro Quadro afirma que a cultura e a educação artística “deve ser holística, transformadora e impactante”, ter efeitos concretos na realidade.
C.
Deve ser ancorada em 6 princípios, como:
- “Afirmar a cultura e a educação artística como um bem público global da humanidade” que promove o bem-estar e deve ser acessível a todos.
- Ser baseada nos direitos humanos e na diversidade, devendo abordar e combater estereótipos e preconceitos discriminatório.
- Facilitar a cocriação e a participação ativa e significativa de todos os intervenientes e beneficiários, designadamente dos jovens.
Refira-se que foi a Carta de Roma 2020, liderada pela United Cities and Local Governments (UCLG) [hiperligação ao artigo anterior], que estabelece o direito de todos participarem na cultura e de que este é “condição para uma sociedade melhor”. Este foi um compromisso assinado por 49 cidades europeias e Lisboa foi uma das cidades que o subscreveu. Considera que a “cultura é tudo o que fazemos além da mera sobrevivência, dá sentido às nossas perceções, une a humanidade através das emoções, imaginação, pensamentos”, é "um recurso comum e renovável no qual nos encontramos uns com os outros, aprendemos o que nos pode unir e como lidar com as diferenças num espaço partilhado".
- “Promover a aprendizagem ao longo da vida e em toda a vida numa diversidade de cenários e ambientes”.
D.
Apela ao reforço do papel da cultura nas 3 áreas que a implementam:
- Políticas e legislação dos governos;
- Educação - ambientes e experiências de aprendizagem, formação de professores e de educadores, diálogo e cooperação com agentes da cultura;
- Sociedade - tecnologias digitais e inteligência artificial, parcerias e coordenação interinstitucional, investigação, avaliação/monitorização e recolha de dados para fundamentar as políticas e advocacia no setor.
3. Qual é o papel das bibliotecas no futuro Quadro?
A IFLA (International Federation of Library Associations and Institutions) apela ao envolvimento das bibliotecas no apoio à implementação do Quadro da UNESCO [6], que atribui às artes e à cultura um papel fundamental no currículo e na sociedade.
Quais podem ser as modalidades deste apoio das bibliotecas?
- Recolha, análise e monitorização de dados concretos;
- Partilha de progressos/desafios, impactos e boas práticas;
- Identificação de parceiros, como a UNESCO;
- Realização de eventos ou recursos no âmbito do 70.º aniversário da Convenção de Haia de 1954 para a Proteção dos Bens Culturais em Caso de Conflito Armado, como o da Ucrânia ou israelo-palestiniano;
- Estabelecer uma parceria significativa com uma organização da sociedade civil para implementar a Convenção da UNESCO de 2005 sobre Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais [7] e, segundo a IFLA, “Considerar dar especial atenção a iniciativas que fortaleçam a diversidade de expressões culturais no ambiente digital” ou no desenvolvimento sustentável. Portugal, um dos 152 países que ratificou – ou aderiu - à Convenção, será um dos 132 países que apresentará, em 2024, o seu relatório periódico quadrienal [8].
Atenta à realidade das crianças e jovens e ao alargamento das formas, conteúdos e alcance da aprendizagem, a Rede de Bibliotecas Escolares disponibiliza Propostas de Trabalho dinamizadas no terreno que podem constituir boas práticas de aprendizagem com artes e património e através da iniciativa A de Acolher contribui com recursos e atividades que visam a defesa do património em caso de conflitos armados. Estas iniciativas utilizam ferramentas digitais e contribuem para uma cultura digital mais diversa e inclusiva.
A título conclusivo, refira-se que o Rascunho para o novo Quadro Global da UNESCO foi elaborado no contexto do Projeto Zero do Quadro para a Cultura e a Educação Artística, lançado pela UNESCO após a Cimeira Transformar a Educação e foi adotado pelos Ministros da Cultura e da Educação de todo o mundo na Conferência Mundial da UNESCO sobre Cultura e Educação Artística que se realizou de 13 a 15 de fevereiro de 2024 em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos. Em 2025 irá realizar-se a Conferência Mundial sobre Políticas Culturais e Desenvolvimento Sustentável.
Palestras curtas e gravadas que se concentram num conceito ou competência podem ser ferramentas de ensino poderosas.
A aprendizagem invertida vira o modelo tradicional de ensino de pernas para o ar. Robert Talbert, autor de Flipped Learning, explica que num ambiente invertido, o "primeiro contacto dos alunos com novos conceitos passa do espaço de aprendizagem em grupo para o espaço de aprendizagem individual". Por outras palavras, os alunos aprendem primeiro os novos conteúdos através de trabalho individual, para que o tempo que passam com o professor e os colegas possa ser dedicado a atividades mais complexas e interativas, nas quais podem beneficiar do apoio dos outros.
No seu livro In-Class Flip, Martha A. Ramírez e Carolina R. Buitrago referem que pode ser utilizada uma variedade de conteúdos para facilitar a aprendizagem no tempo individual, incluindo vídeos, leituras, rascunhos, infografias, podcasts e HyperDocs [nt1]. Talbert explica que as tarefas do tempo individual devem ser bem estruturadas, orientando os alunos no processamento e na compreensão dos novos conteúdos. Os três autores também discutem a importância de incorporar a responsabilidade nas tarefas de tempo individual, pedindo aos alunos que completem notas, questionários, exercícios práticos ou outras atividades.
Ao utilizar conteúdos de vídeo para a aprendizagem invertida, uma estrutura útil que os educadores podem utilizar são as microaulas, que são vídeos educativos que se centram num determinado conceito ou competência. (Para um exemplo concreto de uma microaula, veja este vídeo para professores em formação). O designer educativo Hua Zheng explica que as microaulas têm três características principais:
Duram menos de 10 minutos. (De facto, a investigação indica que seis minutos é o tempo ideal para manter o interesse dos alunos);
Promovem a ligação entre os alunos e o professor;
Levam os alunos a envolverem-se ativamente com o conteúdo em vez de o absorverem passivamente.
Os educadores podem utilizar a abordagem da microaula para criarem conteúdos enriquecedores e invertidos com os quais os alunos se possam envolver durante o seu tempo individual.
Princípios de conceção de vídeo e acessibilidade
Ao criar microaulas, é importante ter em conta os princípios de conceção de vídeo evidenciados pela investigação. A professora da Universidade de Vanderbilt, Cynthia J. Brame, destaca quatro princípios que podem ser particularmente úteis para gerir a carga cognitiva:
Destacar. Aponte as ideias-chave do vídeo. Isto pode ser feito através de ênfase verbal em certos conceitos ou através de pistas visuais (como setas ou destaques).
Segmentar. Divida o conteúdo em partes facilmente manuseáveis. Desta forma, é mais fácil para os alunos acompanharem e verem como os conceitos se estão a desenvolver uns sobre os outros.
Desbastar. Omita qualquer informação desnecessária que não se alinhe com o(s) objetivo(s) de aprendizagem e quaisquer elementos visuais que possam distrair os alunos. Isto inclui áudio (como música de fundo) e imagens (como gráficos desnecessários ou diapositivos muito movimentados).
Combinar. Forneça informações em vários formatos. Por exemplo, transmita informações tanto a nível auditivo como através de imagens no ecrã.
Para além disso, é importante garantir que as suas microaulas são legendadas com precisão para fins de acessibilidade e outros. A aplicação Clips para iPad e iPhone, por exemplo, facilita a gravação de vídeos com legendas precisas e incorporadas (através da funcionalidade Live Titles). Com o Flip, pode editar as legendas através da Web, e o Loom permite-lhe editar a transcrição do vídeo, que também atualiza automaticamente as legendas.
Mantê-lo ativo
Existem várias formas de criar interatividade, estrutura e compromisso nas suas microaulas. Por exemplo, plataformas como Edpuzzle e PlayPosit permitem-lhe incorporar perguntas interativas nos seus vídeos. Zheng observa que também pode simplesmente dizer aos alunos para pausarem o vídeo e realizarem uma atividade ou utilizar um temporizador. Por exemplo, pode incorporar facilmente um temporizador do YouTube no Google Slides, PowerPoint ou Keynote e reproduzi-lo sempre que quiser que os alunos concluam uma atividade.
Início da microaula: Ative os conhecimentos prévios dos alunos e desperte o seu interesse pelo novo conteúdo, pedindo-lhes que completem uma atividade de prática de recuperação [nt2], escrita rápida [nt3], bilhete de entrada [nt4], guião de antecipação [nt5], gráfico Sabe-Pergunta-Aprende [nt6], brainstorming, sondagem ou rotina de pensamento [nt7] (como Ver, Pensar, Perguntar ou Ponte 3-2-1) [nt8].
A meio da microaula: Faça com que os alunos preencham um organizador gráfico [nt9] ou uma folha de anotações guiadas [nt10] à medida que aprendem o conceito ou a competência e dê-lhes oportunidades para se envolverem com o conteúdo. Por exemplo, os alunos podem fazer uma pausa no vídeo para criar esboços, resolver problemas de exemplo [nt11], preencher um miniquadro de escolhas [nt12], praticar uma competência e muito mais!
Os alunos podem realizar estas ações em papel ou através de ferramentas tecnológicas como o Mentimeter, Poll Everywhere, Google Jamboard, Padlet, Flip, Google Docs, Google Slides, Google Drawings, Mote ou Google Forms. Uma vantagem da utilização de ferramentas digitais é o facto de permitirem que os alunos expressem o que aprenderam utilizando ferramentas multimodais (como vídeo, gravações áudio, etc.). Pode fornecer acesso rápido a quaisquer tarefas digitais, incluindo um código QR e uma hiperligação abreviada na sua microaula (semelhante ao vídeo de exemplo na introdução).
Em alternativa, pode adicionar a microaula (juntamente com hiperligações descritivas para quaisquer tarefas digitais) a um Google Slide ou Doc; a um documento do Apple Keynote, Numbers ou Pages; a uma coleção Wakelet; a um Padlet; ou a uma página Web, para que os alunos tenham um “balcão único” para tudo o que precisam. Pode até adicionar a microaula a um Formulário Google para que os alunos possam ver o vídeo e responder às perguntas no mesmo sítio!
Próximos passos
Pronto para começar a criar microaulas para os seus alunos? Consulte este artigo que inclui um modelo de planeamento útil, sugestão de ferramentas para a criação de microaulas e outras dicas úteis. Além disso, esta rubrica de revisão por pares de microaulas pode ajudá-lo a avaliar e rever as suas microaulas para garantir que utiliza as melhores práticas de conceção de vídeo.
O texto deste artigo foi traduzido e publicado com a autorização da Edutopia:
Ao longo do texto são referidas várias metodologias ativas que serão aprofundadas em artigos posteriores.
[Nt1]HyperDocs
É uma abreviatura de "Hyperlinked Documents", que se refere a documentos digitais interativos que são projetados para transformar a experiência de aprendizagem dos alunos, especialmente em ambientes de ensino remoto ou híbrido. Os HyperDocs são criados usando plataformas como Google Docs, Google Slides ou outras ferramentas de criação de documentos digitais e são estruturados para envolver os alunos numa variedade de atividades, recursos e interações.
[nt2] Prática de recuperação
A prática de recuperação, ou retrieval practice em inglês, é uma estratégia de aprendizagem em que o aluno procura ativamente lembrar-se de informações da sua memória em vez de apenas as rever repetidamente. Pode resultar de uma tarefa ou exercício projetado especificamente pelo professor para ajudar os alunos a treinarem ativamente a recuperação das informações que estão a aprender. Essas atividades podem assumir várias formas, dependendo do que está a ser estudado. São preparadas para desafiarem a memória e ajudarem a recordar as informações de forma eficaz. Para isso, ajudam a fortalecer as conexões neurais associadas às informações que os alunos estão a aprender.
Nt3 Escrita rápida
Uma escrita rápida (quick write) é uma atividade de escrita breve e não planeada, na qual os alunos são solicitados a escreverem rapidamente sobre um tópico específico durante um curto período de tempo. Os alunos podem ser convidados a responder a uma pergunta, refletir sobre uma ideia, partilhar uma experiência pessoal, discorrer sobre um tema discutido em aula ou simplesmente expressar seus pensamentos e sentimentos sobre um assunto. A ênfase está na escrita contínua e rápida, sem preocupações com a qualidade da redação.
[nt4] Bilhete de entrada
Um bilhete de entrada (entrance ticket) refere-se a uma estratégia pedagógica em que os alunos respondem a uma pergunta ou realizam uma tarefa no início da aula para demonstrar o que já sabem sobre o tema que será abordado naquele dia.
[nt5] Guia de antecipação
Um guia de antecipação (anticipation guide) é uma ferramenta educativa usada para ativar o conhecimento prévio dos alunos, despertar seu interesse e prepará-los para um novo tema de estudo. Consiste numa lista de afirmações ou perguntas relacionadas com o tópico que será abordado numa unidade de ensino, capítulo de livro ou atividade específica. Os alunos são convidados a responder a essas afirmações ou perguntas antes de começarem a aprender sobre o tema em questão.
[nt6] Gráfico Sabe-Pergunta-Aprende
Um gráfico Sabe-Pergunta-Aprende (Know-Wonder-Learn chart) é uma ferramenta de aprendizagem que ajuda os alunos a organizarem seus conhecimentos prévios, questões e descobertas sobre determinado tema. É frequentemente usado como uma atividade para orientar a aprendizagem e a reflexão dos alunos antes e depois de um estudo ou experiência de aprendizagem.
[nt7] Rotina de pensamento
Uma rotina de pensamento (thinking routine) é um conjunto de passos ou procedimentos estruturados projetados para orientar os alunos na realização de processos de pensamento crítico e reflexivo.
As rotinas de pensamento são flexíveis e podem ser adaptadas a diversos contextos e conteúdos curriculares. Fornecem um quadro claro para os alunos explorarem e analisarem ideias, fazerem conexões, formularem perguntas significativas e comunicarem seus pensamentos de maneira clara e eficaz. Promovem a metacognição e a compreensão dos alunos sobre um assunto e desenvolvem competências de pensamento crítico e criativo.
[nt8] Ponte 3-2-1
É um exemplo de rotina de pensamento.
[nt9] Organizador gráfico
Um organizador gráfico é uma ferramenta visual usada principalmente no contexto educativo para ajudar os alunos a organizarem e estruturarem informações de forma clara e compreensível. Geralmente inclui elementos como diagramas, mapas mentais, tabelas, gráficos ou diagramas de Venn e é usado para representar visualmente conceitos, ideias e relações entre informações. Os organizadores gráficos são frequentemente usados para atividades como planificação de escrita, análise de texto, resolução de problemas e síntese de informações.
[nt10] Folha de anotações guiadas
Uma folha de anotações guiadas (guided notes sheet) é uma ferramenta projetada para ajudar os alunos durante as aulas, fornecendo uma estrutura organizada para tomarem notas. Essas folhas são pré-formatadas com espaços em branco para que os alunos os preencham enquanto o professor apresenta o conteúdo; geralmente incluem espaços para preenchimento, perguntas-chave, espaços para esboçar diagramas ou gráficos relevantes e outras formas para orientar os alunos.
[nt11] Problemas de exemplo
Problemas de exemplo (sample problems) são problemas ou exercícios práticos que são fornecidos aos alunos como exemplos para os ajudar a compreender um conceito ou a aplicar uma técnica específica. Esses problemas são projetados para ilustrar o modo como os conceitos teóricos ou as fórmulas matemáticas são aplicados na prática.
[nt12] Quadro de escolhas
Um quadro de escolhas (choice board) é uma ferramenta que oferece aos alunos uma variedade de atividades ou tarefas para escolherem, com base nos seus interesses, estilos de aprendizagem ou níveis de competência. Geralmente, um quadro de escolhas é organizado numa tabela, em que cada célula contém uma opção de atividade.
Essas atividades podem ser diferentes em termos de formato, conteúdo e nível de dificuldade, permitindo que os alunos escolham aquelas que mais lhes interessam ou que melhor atendem às suas necessidades de aprendizagem. Os professores podem incluir uma variedade de recursos, como leituras, problemas de matemática, experimentos científicos, projetos de escrita, atividades artísticas, entre outros.
[nt13] Bilhete de saída
Um bilhete de saída (exit ticket) é uma ferramenta usada pelos professores para avaliarem rapidamente a compreensão dos alunos sobre um conceito ou tópico no final de uma aula. Geralmente, consiste numa ou duas perguntas curtas que os alunos respondem antes de deixar a sala de aula. Essas perguntas são pensadas para verificar se os alunos atingiram os objetivos da aula, sintetizaram as informações apresentadas e identificaram os pontos principais.
Tolulope (Tolu) Noah, Ed.D. é coordenadora de espaços de aprendizagem educativa na California State University, Long Beach, onde coordena o apoio ao desenvolvimento do corpo docente. Anteriormente, ela foi especialista sénior em aprendizagem profissional na Apple, professora associada no programa de formação de professores de graduação na Azusa Pacific University (APU) e professora do ensino fundamental e médio em Los Angeles. Tolu recebeu o Prémio de Excelência Docente de 2019 na APU e foi recentemente nomeada pela EdTech Magazine como um dos 30 Influenciadores de TI do Ensino Superior a seguir em 2023.
Tolu foi a palestrante principal e apresentadora em várias conferências sobre educação, como a Teaching Professor Conference e a Lilly Conference. Ela gosta de promover workshops e webinars interessantes e interativos para educadores do ensino fundamental e médio e do ensino superior. Pode contactar com Tolu no Twitter, LinkedIn ou através do seu sítio Web.
A leitura não é incentivada apenas pela leitura, mas também pelo desenvolvimento de atividades que transmitam mensagens relacionadas com a leitura, a sua importância e o enriquecimento do conhecimento pessoal.
Para o efeito, apresentamos algumas estratégias que podem estimular este tipo de iniciativa.
📍 Contar histórias oralmente: Utilize a sua imaginação e criatividade para contar contos ou histórias interessantes e cativantes. Utilize gestos, expressões faciais e mudanças de entoação para tornar a narração ainda mais cativante. Isto estimulará a imaginação dos alunos e despertará o seu interesse pelas histórias.
📍 Ouvir audiolivros: Este formato é uma excelente alternativa para incentivar a leitura sem a necessidade de ler fisicamente. Utilize recursos de audiolivros, quer em formato digital quer em gravações de voz, para permitir que os alunos desfrutem da experiência de ouvir histórias. Escolha audiolivros que correspondam aos seus interesses e níveis de leitura e incentive a audição ativa e a compreensão auditiva.
📍 Dramatizar: A dramatização é uma excelente ferramenta para incentivar a leitura de uma forma lúdica e criativa. Organize representações teatrais em que os alunos interpretam personagens, recriam cenas e transmitem a essência de uma história. Escolha peças adaptadas de livros ou incentive os alunos a criarem as suas próprias peças com base em textos literários. Esta é uma forma de estimular a imaginação e a compreensão das histórias, ao mesmo tempo que se desenvolvem as capacidades de comunicação e de trabalho em equipa.
📍 Utilizar recursos visuais: A leitura não se limita às palavras escritas. É possível incentivar a leitura recorrendo a recursos visuais, como ilustrações, gráficos, fotografias ou banda desenhada. Estes elementos visuais ajudam os alunos a estabelecer ligações entre a imagem e a narrativa, estimulando a sua compreensão e criatividade. Organize actividades em que os alunos explorem e analisem estes recursos visuais e os utilizem para expressar as suas ideias e emoções.
📍 Organizar visitas a bibliotecas e livrarias: Convide os alunos a visitarem bibliotecas e livrarias locais, mesmo que não estejam a ler livros nessa altura. Explique a importância destes espaços como centros de conhecimento e fonte de inspiração. Incentive-os a explorar as diferentes secções, a folhear livros e revistas e a interagir com o ambiente literário. Isso ajudá-los-á a familiarizarem-se com o ambiente de leitura e despertará a sua curiosidade para descobrir novas obras.
📍 Promover a escrita criativa: Embora o principal objetivo seja incentivar a leitura, a escrita criativa também desempenha um papel importante no desenvolvimento das competências literárias. Incentive os alunos a escreverem as suas próprias histórias, poemas ou contos. Estimule a sua imaginação e criatividade e dê-lhes a oportunidade de partilharem a sua escrita com outros. Isto permitir-lhes-á explorar a narração de histórias de uma perspetiva diferente e reforçar a sua compreensão da estrutura e do estilo dos textos literários.
📍 Convidar autores e artistas literários: Planear palestras e encontros com autores e artistas literários. Estas visitas proporcionam aos alunos uma perspetiva única sobre o processo criativo e a importância da leitura no desenvolvimento artístico. Os autores partilham os seus conhecimentos, inspiram os alunos e incentivam-nos a explorar diferentes géneros e estilos literários.
📍 Conceber atividades artísticas e artesanais: Promova a leitura através de atividades artísticas e artesanais relacionadas com livros. Por exemplo, convide os alunos a criar ilustrações baseadas em descrições de personagens ou cenas de um livro. Pode também sugerir que criem marcadores de livros personalizados ou que façam cartazes promocionais de obras literárias. Estas atividades permitirão aos alunos exprimir a sua criatividade e explorar a literatura de uma perspetiva visual.
📍 Estabelecer desafios e objetivos de leitura: Estabeleça um objetivo de leitura mensal ou trimestral e reconheça e recompense aqueles que conseguirem completar um determinado número de livros ou páginas. Isto irá gerar um sentimento de realização e motivação nos alunos e encorajar a criação de hábitos de leitura.
Lembre-se que estas estratégias devem ser adaptadas às necessidades e características dos seus alunos. O objetivo é despertar o seu interesse pela leitura e dar-lhes oportunidades de explorar e apreciar a literatura de várias formas, mesmo sem ler diretamente.
📍 Utilizar recursos audiovisuais: aproveite este tipo de recursos para incentivar a leitura sem necessidade de ler um texto completo. Organize atividades de projeção de filmes ou séries baseadas em livros populares e depois convide os alunos a participar em debates ou em atividades relacionadas com a história. Isto encorajará a exploração do conteúdo literário de uma forma visual e estimulante.
📍 Organizar debates e discussões: Estas atividades de grupo sobre questões éticas e dilemas levantados nos livros incentivam os alunos a analisar diferentes perspetivas, a expressar as suas opiniões e a defender os seus pontos de vista. É uma forma de incentivar a reflexão crítica e uma compreensão mais profunda dos temas literários, mesmo que o livro não tenha sido lido na sua totalidade.
📍 Criar um ambiente de leitura apelativo: Conceber um ambiente de leitura na sala de aula ou na biblioteca da escola. Crie cantos de leitura com almofadas, candeeiros de leitura e prateleiras com uma variedade de livros. Utilize cartazes e murais temáticos relacionados com a leitura para despertar o interesse dos alunos. Um ambiente agradável e estimulante motivará os alunos a explorar os livros e a descobrir novas histórias.
📍 Utilizar recursos digitais: Tire partido das tecnologias digitais para incentivar a leitura sem a leitura impressa. Utilize aplicações e plataformas em linha que ofereçam livros digitais interativos, audiolivros ou jogos educativos baseados na leitura. Esses recursos permitirão aos alunos explorar a literatura de uma forma mais acessível e cativante.
📍 Realizar projetos criativos: Proponha projetos imaginativos relacionados com a leitura, em que os alunos se possam exprimir através de diferentes formas de arte, como a escrita, o desenho, a música ou o design gráfico. Por exemplo, deixe-os criar as suas próprias histórias ilustradas, compor canções inspiradas em livros ou desenhar cartazes promocionais. Estes projetos permitir-lhes-ão aprofundar os temas literários e desenvolver a sua criatividade.
😉 Lembre-se de que estas estratégias complementam a leitura tradicional e procuram fomentar o interesse e a compreensão dos alunos de uma forma variada e motivadora. Cada estratégia pode ser adaptada de acordo com a idade, os interesses e as capacidades dos alunos, criando um ambiente enriquecedor que promove a leitura e a compreensão de textos literários.
A operação 7 Dias com os Media 2024 realizar-se-á, como sempre, entre os dias 3 e 9 de maio e este ano a temática proposta é Discursos de ódio paz em tempos de guerra. A iniciativa é da responsabilidade do GILM (Grupo Informal para a Literacia Mediática, que a Rede de Bibliotecas Escolares integra), e disponibilizamos já um conjunto propostas de atividades para trabalhar esta matéria nas bibiotecas.
No entanto, esta operação constitui-se também como uma oportunidade para os jovens leitores descobrirem livros que nos ofereçam palavras de paz e que nos obriguem a pensar qual o verdadeiro sentido do ódio.
O Duelo remete-nos para um cenário bélico, de zangas, raivas, ódios, desentendimentos, disputas, guerras, de combate, ou melhor, um duelo entre duas pessoas armadas, segundo regras estabelecidas e diante de testemunhas, mas verdadeiramente O Duelo é um livro delicioso que elogia a paz.
Abrimos o livro e nas guardas iniciais surge-nos um envelope. O leitor poderá ficar confuso, mas rapidamente entenderá que se trata de uma carta ilustrada, dirigida a Rodin Rostov, adversário do protagonista, que se sente ofendido. Mal-entendidos e quezílias que ferem as orelhas e o coração, não deverão ficar esquecidos. O duelo é marcado! De costas com costas… contam os passos que os separam, afinal, não é assim o procedimento num duelo? 1,2,3,4…. Lá vão eles, afastando-se; afastando-se… E, ao contrário do previsto, a separação diluía a dor, dando lugar ao sol, ao desabrochar das flores, ao perdão, à paz.
A ilustração, em plena harmonia com a narrativa poética, conduz-nos pelo mundo colorido, feito de muitas pessoas, todas diferentes, de animais, de flores, paisagens deslumbrantes unidas pela minúcia e curiosidade. O traço ténue, quase invisível, transforma o múltiplo no uno, o insignificante em eloquente. A paleta de cores oscila entre o tom branco e cinza, azul e verde, amarelo e laranja; entre a frieza e o calor da vida.
O Duelo, de Inês Viegas Oliveira, é um livro belo, belíssimo. Inspirador. Simples sem ser simplista. Moral sem ser moralizador. Um grito de alerta à diversidade, à tolerância e à paz.
Sugestão de outras leituras para o tema Discursos de ódio paz em tempos de guerra
“Nasce como uma doença sussurrada e cresce a partir do ódio, da ambição, da ganância e do medo. Não ouve, não vê, tão-pouco sente; mas esmaga e cala. A guerra é, porventura, o mais perene produto em série alguma vez inventado.
Num mundo armadilhado como nunca antes e conflituoso como sempre, este livro de José Jorge Letria (texto) e André Letria (ilustrações) funciona como um archote que se lança sobre a memória adormecida e nos alerta para os caminhos que queremos construir no futuro.”
“Como será deixar tudo para trás e percorrer quilómetros e quilómetros rumo a um destino longínquo e estranho?
Este livro conta, de forma cuidada e sensível, a história de uma mãe que parte numa viagem com os dois filhos para fugir à guerra. Uma viagem carregada de medo do desconhecido, mas também de muita esperança. Uma autora com uma escrita sensível e ilustrações bonitas e sofisticadas. Aborda com sensibilidade a questão da guerra.”
“Starr tem 16 anos e move-se entre dois mundos: o seu bairro periférico e problemático, habitado por negros como ela, e a escola que frequenta numa elegante zona residencial de brancos. O frágil equilíbrio entre estas duas realidades é quebrado quando Starr se torna a única testemunha do disparo fatal de um polícia contra Khalil, o seu melhor amigo. A partir daí, pairam sobre Starr ameaças de morte: tudo o que ela disser acerca do crime que presenciou pode ser usado a seu favor por uns, mas sobretudo como arma por outros. O Ódio que Semeias é um poderoso romance juvenil, inspirado pelo movimento Black Lives Matter e pela luta contra a discriminação e a violência. O livro está a ser adaptado ao cinema e conta com Amandla Stenberg no papel principal.”
“Um dia, uma coisa má aparece gravada na parede da casa de banho da escola e tudo muda: deixa de haver a paz e a alegria que se sentia antes.
Um livro belo e oportuno, que nos mostra como uma escola se une para combater o discurso de ódio. Como a união de toda a comunidade, os gestos de bondade e a beleza da arte servem de antídoto para a maldade.”
“Como nasceram o símbolo e a pomba da paz? Que músicas são hino de pacifismo? Conheces algum monumento para a paz? Já leste a declaração universal de direitos humanos?
Encontrarás a resposta para todas estas perguntas nas páginas deste livro emocionante. Descobre as curiosidades, momentos históricos e conceitos fundamentais sobre a paz, enquanto conheces os heróis de carne e osso mais fascinantes da história.
Aristides de Sousa Mendes, Eleanor Roosevelt, Malala Yousafzai, John Lennon, Martin Luther King, Dalai Lama, Maria Montessori, Iqbal Masih, Henry David Thoreau, Oskar Schindler… e muitos mais!”
1. A importância da cultura e o papel das bibliotecas
Na 4.ª Cimeira Mundial da Cultura da UCLG (United Cities and Local Governments) introduziu-se o conceito de cultura circular, que reconhece que a cultura estabelece a “harmonia com a natureza, com o passado, harmonia uns com os outros e harmonia com a mudança” e no seu relatório afirma: “A cultura é a argamassa que mantém tudo unido, a seiva da vida. Por isso, não só a arte, mas também a ciência, a política, o desporto e todos os aspetos da vida assentam nos ombros da cultura. (…) O progresso desprovido de cultura dá poder e glorifica a mente egoísta-patriarcal” [2] – a cultura tem a capacidade de expressar as diferenças de cada um e se dirigir a todos e é campo de encontro e de diálogo democrático de todas as pessoas e lugares.
A cultura e a criatividade têm o poder de transmitir valores, transformar mentalidades e mobilizar, tendo um papel essencial na efetivação dos direitos humanos e dos objetivos de desenvolvimento sustentável.
Durante a crise Covid-19 experienciou-se a importância da cultura e reforçou-se a consciência da necessidade de transformação de todos os setores e nos últimos anos registou-se um crescente reconhecimento dos governos sobre o papel da cultura no desenvolvimento sustentável [3].
Na conferência mundial sobre políticas culturais, Mondiacult 2022 a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) reconhece a cultura um “bem público mundial” e afirma a necessidade de expandir os direitos culturais (Artigo 27.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos), que estão na base das políticas culturais. Apoia a defesa de um objetivo global específico/ODS da cultura para a Agenda pós-2030 da ONU.
As bibliotecas escolares são parceiras na promoção da capacitação e na oferta de atividades nas áreas da cultura e do desenvolvimento sustentável, pois seguindo o Quadro estratégico da Rede de Bbiliotecas Escolares (p.47), implementam "práticas que impulsionem o desenvolvimento da sensibilidade e da criação estética e cultural, alicerçada na apreensão e valorização do património comum da humanidade". A ligação das bibliotecas à cultura permite que a sua abordagem do currículo tenha um caráter livre, interdisciplinar e inclusivo.
Como é que a biblioteca escolar desenvolve, de forma significativa, sustentável e eficaz, a cultura local?
Qual é o papel dos jovens na cultura local?
Quais são os seus parceiros, atividades e indicadores com que avalia/monitoriza e faz advocacia dos progressos no setor?
Dando continuidade aos objetivos da Mondialcult 2022, a 5.ª Cimeira da Cultura da CGLU (United Cities and Local Governments), realizada entre 28 de novembro e 1 de dezembro de 2023, em Dublin, Irlanda, designa-se Cultura. Futuro. Objetivo. Atuamos trazendo as visões locais para as mesas globais/Culture, Future, Goal. We Act by Bringing the Local Visions to the Global Tables.
De acordo com o seu documento de referência [4], a Cimeira promove:
- A capacitação, a partilha e o debate sobre o papel da cultura no desenvolvimento sustentável e sobre políticas e ações culturais locais, inovadoras e eficazes, reforçando redes entre cidades e governos locais;
- A criação de um objetivo específico para a cultura na agenda pós-2030 das Nações Unidas, tendo debatido o seu conteúdo e as medidas necessárias para persuadir as partes interessadas e influenciar as decisões para o futuro da cultura, que serão adotadas na Cimeira do Futuro.
Abordou os seguintes temas:
- Um ODS para a cultura;
- Cultura em ligação às pessoas e às comunidades - direitos culturais;
- Cultura em ligação ao desenvolvimento sustentável, designadamente, igualdade de género e desigualdades sociais, alterações climáticas, bem-estar e saúde, acessibilidade, turismo sustentável e informação e media (UCLG, 2023, p. 5).
Estes temas estabelecem a estrutura comum da cultura na perspetiva das cidades sustentáveis e inscrevem-se na campanha #Culture2030goal [5].
A IFLA é membro fundador da campanha Culture2030Goal, apelando à ONU que corrija o erro da Agenda 2030 que não contempla um ODS e um pilar para a cultura. Participou na Cimeira defendendo “que os governos locais encarassem as bibliotecas como parceiros na promoção do desenvolvimento em todos os domínios” e sublinhando “a importância de construir competências e curiosidade” junto das pessoas e comunidades [6]. Assinou um Memorando de Entendimento que afirma o compromisso das bibliotecas para o desenvolvimento local inclusivo e sustentável.
Há evidências sobre a importância da cultura para a governação local e as cidades. No webinar organizado pela IFLA, Culture2030Goal (23 de janeiro de 2024) apresentam-se estatísticas que mostram que a cultura é muito mais referida nos relatórios locais voluntários dos ODS do que nos nacionais [7]. As cidades lideram o reconhecimento da necessidade absoluta da cultura para o desenvolvimento sustentável, promovendo políticas públicas, práticas e experiências locais sólidas.
3. A CGLU, documentos e exemplos de atividades
A CGLU é uma voz internacional defensora da ligação indissociável entre cidadania, cultura e desenvolvimento sustentável e da cooperação entre governos locais e a Cimeira é o “principal ponto de encontro a nível mundial de cidades, governos locais e organizações que estão empenhadas na implementação efetiva de políticas e de programas sobre cultura e sustentabilidade”.
O documento de referência da 5.ª Cimeira [4] apresenta o percurso da CGLU, referindo publicações que disponibilizam versão em português e em muitos outros idiomas:
- Em 2004 adota a Agenda 21 para a cultura, declaração sobre “a relação entre as políticas culturais locais e os direitos humanos, a governação, o desenvolvimento sustentável, a democracia participativa e a paz”;
- Em 2010 aprova Cultura: Quarto Pilar do Desenvolvimento Sustentável que “apela às cidades e aos governos locais e regionais de todo o mundo para
(a) desenvolverem uma política cultural sólida e
(b) incluírem uma dimensão cultural em todas as políticas públicas”.
- Em 2015 lança Ações Culturais 21, que propõe 100 ações/compromissos, realizáveis e mensuráveis, no âmbito da cultura e do desenvolvimento sustentável das cidades.
Exemplo de ações: estabelecer “um número mínimo de bibliotecas/livros por habitante” (p. 18), bibliotecas disponibilizarem informação sobre direitos culturais e serviços [e atividades] públicos no setor e adotar uma estratégia local que associe a política educativa à política cultural, valorizando os recursos culturais locais e criando uma plataforma em linha que associa os agentes públicos e privados destes setores [8].
- Em 2018 publica A Cultura nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Um Guia para a Ação Local no qual indica porque é que a cultura é importante para cada um dos ODS, apresentando exemplos.
- Posteriormente, lança uma base de dados com quase 300 boas práticas de todo o mundo pesquisáveis por palavras-chave, ODS e os 9 Compromissos da Cultura 21. Portugal está representado com iniciativas como a Galeria de Arte Urbana da Quinta do Mocho, em Loures, visitas guiadas por ferroviários ao museu A Estação de Pinhal Novo, em Palmela e o Concurso da Sardinha, em Lisboa [9].
Esta base de dados destaca o papel das bibliotecas no desenvolvimento sustentável inclusivo local. Por exemplo, as boas práticas de Monterreal desenvolvem-se com as bibliotecas e uma delas refere: “uma biblioteca do século XXI é mais do que um mero local de acesso à informação. É um projeto social e um ‘terceiro lugar’ para as pessoas viverem na sociedade, onde o primeiro e o segundo são a casa e o trabalho ou a escola” [10].
- Em 2023 na sua contribuição para o Pacto do Futuro das Nações Unidas diz que é preciso reforçar o papel dos jovens no setor e que a cultura é “um meio de ajudar o mundo a imaginar futuros diferentes [e necessários] de forma mais eficaz e a dar um verdadeiro valor aos interesses das gerações futuras” [11].
Desde 2005, a 27 de janeiro assinala-se o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, cujo principal objetivo é não deixar cair em esquecimento o genocídio perpetrado pelos Nazis e colaboracionistas durante a Segunda Guerra Mundial, pois
“Não podemos mudar a história, mas as lições da história podem mudar-nos a nós” [1]
e podemos moldar o futuro no presente, educando para combater todo e qualquer tipo de intolerância e para promover a paz.
Foi com essa certeza que, partindo do Projeto Cultural de Escola - “Rasgos de Emoção”-, foi desenvolvido um projeto multidisciplinar na Escola Básica de Santa Catarina, Caldas da Rainha, que procurou sensibilizar os alunos para a importância do respeito pelo Outro, da preservação da memória e da prevenção do antissemitismo, do racismo e de qualquer outra forma de discriminação, projeto esse de que resultou a exposição multissensorial “HOLOCAUSTO, através do olhar sensível da criança”.
A exposição, pensada e emocionalmente sentida por crianças e jovens dos 2.º e 3.º ciclos, agrega trabalhos multimodais realizados nas disciplinas de História, Cidadania e Desenvolvimento, Educação Visual e Educação Tecnológica, com a colaboração da equipa da biblioteca escolar e da artista residente, Amábile Bezinelli. Constituiu um ato de reflexão, consciencialização e valorização dos direitos humanos, numa perspetiva transformadora de mentalidades, contribuindo para a formação dos alunos enquanto cidadãos dignos, críticos e interventivos, capazes de agir ativa e conscientemente contra a agressão, o silêncio e a indiferença.
Inicialmente, começou somente como um trabalho isolado, realizado com um grupo de alunos do 3.º ciclo, no âmbito de um projeto Erasmus, cujo tema era "Não ao extremismo", de que resultou a criação de um túnel representando a fuga das vítimas de perseguição pelo regime nazi e uma homenagem a Aristides de Sousa Mendes. Este trabalho suscitou a curiosidade nos alunos do 2.º ciclo e seguiu-se um conjunto de ações e iniciativas que originou uma exposição intensa e envolvente, que não deixa indiferente quem a visita. O desenvolvimento do projeto pode ser acompanhado por meio dos vídeos disponíveis em HOLOCAUSTO através do olhar sensível da criança o processo e VOZES DO HOLOCAUSTO.
A primeira inauguração da exposição fora de portas decorreu no contexto da Bienal Cultura e Educação #1 - Retrovisor: uma história de futuro, no âmbito do Plano Nacional das Artes e de todo o trabalho desenvolvido em articulação com a Biblioteca Escolar, tendo estado patente na Ermida do Espírito Santo, em Caldas da Rainha, entre 7 e 15 de maio de 2023.
Nos dias 12 e 13 de outubro de 2023, a exposição representou mais uma vez a EB de Santa Catarina numa mostra de trabalhos, que se realizou no Parque D. Carlos I, no âmbito do PNA-TE | Mostra Territorial do Plano Nacional das Artes. (Mostra Coletiva dos Projetos Artísticos) As reações que alguns dos visitantes deixaram registadas no livro de visitas são assaz esclarecedoras do poder e impacto desta exposição, conforme podemos comprovar no vídeo da primeira exposição itinerante.
Neste ano letivo, a pedido da Comissão de Pais de Santa Catarina, a exposição retomou a sua itinerância, tendo estado patente no Solar de Santa Catarina nos dias 27 e 28 de janeiro de 2024. (Aconteceu em Sta Catarina)Foi também requisitada para o Espaço AbraçAr-Te, na Mata do Porto Mouro, em data a definir.
A exposição reúne trabalhos em vários formatos, oferecendo uma experiência multissensorial que contribuiu para a formação de todos os envolvidos na sua consecução e, ainda, para a de todos os que têm tido a oportunidade de visitar as sucessivas exposições em locais distintos, estrategicamente selecionados, guiados por alguns dos alunos e professores envolvidos na sua criação.
O sucesso da exposição deve-se, em grande parte, ao facto de proporcionar aos alunos e visitantes uma experiência imersiva e interativa, que estimula os seus sentidos, as suas emoções e o seu pensamento crítico face a um acontecimento histórico que marcou a história da humanidade.
Sai-se, porém, desta exposição com a certeza de que o que originou o holocausto não está erradicado na sociedade atual, sendo fundamental a ação da Escola e a união de todos os setores da sociedade civil para defender os valores democráticos nos tempos conturbados que hoje vivemos.
por Carla Relva, Coordenadora da Biblioteca Municipal Renato Araújo
A Rede de Bibliotecas Escolares de S. João da Madeira foi criada em 2007, na sequência de uma Candidatura de Mérito. Este processo teve a coordenação do Serviço de Apoio às Bibliotecas Escolares (SABE) criado na Biblioteca Municipal Renato Araújo (BMRA).
O grande objetivo desta rede foi reunir recursos para a criação do catálogo on-line das bibliotecas escolares e que foi possível graças à oferta por parte do Município de licenças do software de gestão documental existente na Biblioteca Municipal, permitindo assim uma racionalização de recursos humanos, técnicos e financeiros, mercê de uma aposta forte no empréstimo interbibliotecário. Foi elaborado um Regulamento comum às Bibliotecas Escolares de S. João da Madeira e um manual de procedimentos, documentos fundamentais para o funcionamento uniformizado da rede que integra todas as escolas do concelho de ensino público.
Mensalmente, são realizadas reuniões de trabalho onde são abordadas e discutidas questões de interesse comum sobre a política documental, oferta formativa, atividades de promoção da leitura, projetos e candidaturas.
Ao longo destes anos, têm sido desenvolvidos diversos projetos conjuntos, estabelecidos através de um Plano Anual de Atividades, no qual se destaca o trabalho colaborativo em iniciativas de âmbito cultural, tendo como exemplo a “Poesia à Mesa” - uma marca cultural da cidade – que ao longo das suas 22 edições tem vindo a apostar numa participação ativa da comunidade educativa, promovendo e divulgando a poesia, os poetas e as suas obras junto do público escolar, seja através de oficinas de expressão poética, de escrita criativa, como também da realização de um certame que premeia os melhores poemas originais.
Conta-se, igualmente, o desenvolvimento de várias iniciativas no âmbito da Semana da Leitura e do Plano Educativo Municipal:
Narrativas Gráficas e Marcar a Leitura – promovem a leitura e a criação de Banda Desenhada, nos vários níveis de ensino;
Desenvolvimento e divulgação do Fundo documental de Mandarim comum às várias bibliotecas;
Hora do Conto em Mandarim e Português - complementar à oferta do município em matéria de ensino de mandarim, permitindo uma dinâmica colaborativa com uma instituição de Ensino Superior, como o caso do Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro;
Leitura com Sentidos – iniciativa que procura sensibilizar e consciencializar a comunidade educativa para as questões da inclusão de pessoas com deficiência visual e o contacto com recursos dedicados à cegueira ou baixa visão do centro de Leitura Especial;
A celebração do MIBE que tem vindo a proporcionar um intenso programa de atividades, integrando uma Feira do Livro Usado na Biblioteca Municipal, a realização de visitas, sessões do conto, oficinas e espetáculos.
Regularmente, são também propostos novos projetos e parcerias.
O caso da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa que desafiou a rede e as escolas secundárias a trabalharem o conceito de Antologia, partindo da obra “Biblioteca Internacional de Obras Célebres”, que integra o espólio da Biblioteca Municipal e que foi objeto de estudo pela faculdade.
O Concurso Interconcelhio de Leitura, que, conjuntamente com as redes dos concelhos de Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira, Vale de Cambra e Arouca, dará continuidade ao projeto de promoção da leitura, que, até ao ano letivo de 2022/23, era realizado a nível nacional com o Plano Nacional de Leitura.
O trabalho desenvolvido pela rede tem vindo a potenciar o grande objetivo de reunir recursos, criar oportunidades e impulsionar o concelho em matéria de educação, acesso à informação e promoção da leitura.
Carla Relva Coordenadora da Biblioteca Municipal Renato Araújo, São João da Madeira
Quando o Programa Rede de Bibliotecas Escolares foi lançado, tinha como objetivo principal “instalar e desenvolver bibliotecas em escolas públicas de todos os níveis de ensino, disponibilizando aos utilizadores os recursos necessários à leitura, ao acesso, utilização e produção da informação em diferentes suportes.” [1] Volvidos mais de vinte e cinco anos, essa vocação mantém-se (entre outras que foram surgindo), mas é natural que alguns dos princípios orientadores relacionados com a organização e funcionamento das bibliotecas escolares necessitem de alguma atualização, de modo a corresponderem às necessidades e expectativas dos seus utilizadores.
Para que as bibliotecas escolares continuem a ser procuradas por alunos e professores, consolidando a sua importância na escola, é fundamental que se continue a investir, equilibrando o espaço físico, flexível e multifacetado, com ambientes de aprendizagem mais virtuais, mas mantendo o foco na promoção da leitura e das literacias dos media e da informação, na formação de alunos e no apoio à atividade pedagógica dos professores.
A alteração dos modos de estar e trabalhar ocorrida nas últimas décadas exige que se repense a biblioteca e o seu espaço, sem que isto implique uma transformação radical do mesmo, mas antes uma readaptação a novos modelos e formas colaborativas de aprendizagem e produção, levando a uma maior fruição da biblioteca e à potencialização dos seus recursos.
Assim, a biblioteca deverá ser repensada em termos de organização, equipamento e mobiliário, procedendo-se à revisão daquele primeiro modelo, de planta mais rígida, com zonas estanques e delimitadas de que todos nos lembramos. A criação de áreas distintas, de acordo com diferentes suportes e formatos de leitura (impressa, audiovisual e multimédia), deixou de fazer sentido; por essa razão:
a zona de receção/ acolhimento deve manter-se junto à entrada, mas prevendo-se a diminuição do espaço do balcão de atendimento, para que se priorize o acompanhamento e o apoio mais direto aos utilizadores;
a leitura informal não deve acontecer numa única zona, devendo a biblioteca criar vários espaços passíveis de uma utilização acolhedora e descontraída, para uso informal, leitura recreativa e convívio;
as áreas de leitura/ consulta de documentação/ produção devem manter-se, mas reinterpretadas, tendo em consideração a portabilidade dos equipamentos, a força do digital e a aposta no trabalho colaborativo e produtivo.
…
As escolhas feitas ao nível da organização da biblioteca deverão resultar, então, num espaço facilmente reconfigurável, de acordo com as diferentes necessidades ou as atividades a desenvolver: trabalho em grande grupo com alunos a refletir e dialogar; trabalho a par em dispositivos diversificados; trabalho em grupos com ou sem dispositivos; momento de criação ou relaxamento; hora de almoço e cada um na sua vida… Tudo ao mesmo tempo, numa azáfama organizada!
Para que isto possa acontecer, a biblioteca deverá ser um espaço o mais aberto possível, com o mobiliário organizado de modo a não obstruir a abrangência visual do utilizador, deixando nele uma impressão de leveza, abertura e adaptabilidade, contribuindo assim para uma sensação de bem-estar que levará, seguramente, que tanto alunos como professores continuem a escolher a biblioteca como o seu espaço de eleição.
A rápida evolução da inteligência artificial tem desencadeado transformações profundas no cenário educativo, moldando a experiência dos alunos. Este artigo reflete sobre a necessidade de estabelecer diretrizes claras, éticas e transparentes para a utilização da IA em contexto educativo e apresenta propostas de utilização com os alunos.
A biblioteca escolar desempenha um papel fulcral neste novo paradigma, não apenas disponibilizando recursos e ferramentas que auxiliam os alunos, mas também impulsionando a experimentação e a disseminação de práticas inovadoras que promovem um ambiente educativo estimulante e inclusivo.
Criação de uma Política de Escola para a utilização responsável da inteligência artificial
A definição de uma política de utilização da inteligência artificial em contexto educativo é fundamental para orientar a sua integração eficiente e ética e estabelecer os princípios fundamentais para a segurança, privacidade e equidade no uso da IA.
Este assunto foi abordado no artigo A Inteligência Artificial nas Bibliotecas Escolares: Um Contributo para o Desenvolvimento Digital das Escolas e articula-se com os Planos de Ação de Desenvolvimento Digital dos Agrupamentos. Ao abordar questões éticas, definir responsabilidades e estabelecer diretrizes claras para a implementação da IA em contexto educativo, as escolas asseguram que esta tecnologia seja uma ferramenta eficaz para melhorar o ensino e a aprendizagem, mantendo um compromisso sólido com o bem-estar dos estudantes e a integridade educativa. Uma política de utilização da IA não só promove a transparência e a responsabilidade, mas também fomenta a confiança da comunidade educativa na adoção desta inovação, contribuindo assim para o desenvolvimento de um ambiente educativo tecnologicamente avançado e ético.
A biblioteca escolar, enquanto espaço de informação, partilha e promoção das diferentes literacias, desempenha um papel crucial no apoio à definição desta política de utilização da IA nas escolas, contribuindo para uma implementação consciente e ética.
A transformação da experiência de aprendizagem com a inteligência artificial
A integração da IA em educação tem tido um impacto significativo nas experiências de aprendizagem, um pouco por todo o mundo. A IA pode desempenhar um papel importante no apoio aos alunos, através da criação de experiências práticas e interativas, adequadas ao perfil e necessidades de cada estudante.
De facto, a IA, pode ser uma verdadeira ferramenta de aprendizagem, pois permite a personalização e adaptação ao ritmo individual de cada aluno. As plataformas de gestão de aprendizagem (LMS - Learning Management System), amplamente adotadas em escolas, como Google Classroom, Teams ou Moodle, utilizam algoritmos de IA para fornecer sugestões personalizadas de conteúdos, atividades e avaliações, tendo em conta o desempenho e as preferências de aprendizagem de cada aluno.
Para além disso, há inúmeros sistemas de tutoria baseados em IA que oferecem apoio individualizado, identificando lacunas no conhecimento e adaptando os materiais de ensino às necessidades específicas de cada estudante [1]. A evolução deste tipo de tecnologia é tão rápida que diariamente surgem novas ferramentas e plataformas. As escolas devem, por isso, fazer uma análise cuidadosa das opções disponíveis no mercado, tendo em conta os objetivos que querem alcançar.
Para apoiar esta análise, apresentamos abaixo algumas das funcionalidades que devem estar disponíveis neste tipo de plataformas.
Aprendizagem personalizada: ferramentas que utilizam algoritmos para ajustar os conteúdos com base no desempenho individual dos alunos. Esta funcionalidade permite personalizar o plano de estudos, reforçando conceitos mais desafiadores e adaptando-se ao ritmo de aprendizagem de cada aluno.
Feedback imediato: ferramentas que disponibilizam feedback instantâneo sobre o desempenho dos alunos. Este recurso permite a correção imediata de erros e a avaliação do progresso pelos alunos, durante o processo de aprendizagem.
Personalização do plano de estudos: ferramentas que adaptam os planos de estudos com base nas metas e preferências de aprendizagem dos alunos, sugerindo atividades específicas e adaptando-se às necessidades individuais de cada um.
Exercícios interativos: disponibilização de uma variedade de exercícios, como por exemplo questionários, simulações, jogos educativos, laboratórios virtuais, mapas conceptuais, puzzles, quebra-cabeças interativos, simulações de cenários.
Recompensas e gamificação: ferramentas que integram elementos de gamificação, como recompensas virtuais, conquistas e níveis. Estes incentivos tornam o processo de aprendizagem mais envolvente, encorajando os alunos a alcançarem metas e a superarem desafios.
Funcionalidades de interação social: ferramentas que oferecem funcionalidades como fóruns de discussão e grupos de estudo. Essa abordagem cria uma comunidade de aprendizagem, permitindo a troca de conhecimentos e experiências entre os participantes.
Acesso multiplataforma: ferramentas que estão disponíveis em diversas plataformas, incluindo dispositivos móveis. Essa flexibilidade de acesso permite que os alunos aprendam ao seu próprio ritmo.
Ao incorporar estas funcionalidades, as ferramentas de tutoria proporcionam aos alunos uma experiência de aprendizagem eficaz, personalizada e envolvente, adaptando-se às diferentes disciplinas e contextos educativos.
No próximo artigo, ainda dedicado aos desafios que a IA coloca à aprendizagem, serão apresentados exemplos de assistentes virtuais gratuitos que podem apoiar o processo de aprendizagem e ser utilizados em contexto de sala de aula pelos alunos. Estes assistentes, para além do apoio individualizado, permitem a personalização da aprendizagem e oferecem acesso a recursos interativos.
Nota
[1] Todos os dias surgem novas plataformas e ferramentas. As plataformas Khan Academy e Duolingo são das mais conhecidas. A Khan Academy desenvolveu um assistente virtual impulsionado por IA - Khanmigo - que funciona como um tutor personalizado, apoiando os alunos no processo de aprendizagem. O Duolingo é uma plataforma de aprendizagem de idiomas online que utiliza métodos interativos e gamificação para envolver os alunos, funcionando como um tutor virtual.