Os alunos têm uma inclinação natural para contar histórias, mas podem ficar bloqueados quando lhes pedimos para escrever. As dicas que se seguem ajudam-nos a transpor as suas ideias para o papel.
Os alunos contam histórias naturalmente: sabemos disso quando chegam de manhã e nos contam o que lhes aconteceu ou quando levantam a mão no meio da aula de matemática para relatar o episódio do cão que fugiu na noite anterior. Então, porque é que alguns alunos ficam bloqueados ou sentem que não têm nada para dizer quando lhes pedimos para escrever? Existe, muitas vezes, um desfasamento entre a capacidade natural que as crianças têm para contarem histórias e as competências necessárias para escreverem as histórias. Ao longo dos anos, estas estratégias têm ajudado os meus alunos que não gostam de escrever a sentirem-se mais confiantes.
Dicas para começar o processo da escrita
1. Os alunos precisam de tempo para escrever todos os dias.
Qualquer competência nova precisa de ser praticada e a escrita não é exceção. Esta escrita diária deve ser encarada como prática e não deve ser avaliada. É importante permitir que os alunos façam as suas escolhas neste tempo para a «escrita livre». Pode optar-se por lhes mostrar uma apresentação de diapositivos com diferentes imagens que utilizam como trampolim para a escrita ou com uma série de sugestões/ ideias para poderem escolher. Neste tempo dedicado à escrita pode alternar-se entre um tópico pré-definido ou um tema livre.
2. Proporcione-lhes projetos de escrita com um objetivo e um público autêntico.
Um projeto de escrita ganha mais significado quando se dirige a um determinado público para além do professor. Quando os alunos sabem que os seus textos têm um sentido e que alguém fora da sala de aula os vai ler, sentem-se motivados para escrever com mais clareza e criatividade de modo a transmitirem as suas ideias ao leitor. Isto pode adquirir ainda mais significado e ser mais eficaz se o leitor der uma resposta ou feedback.
3. Dê-lhes tempo para pensarem e conseguirem ter ideias.
Alguns alunos investem muito tempo a organizar ideias, a planificar, a conceber imagens e a prepararem-se para escrever. Contudo, para aqueles a quem as ideias para escrever não surgem com facilidade, este passo pode ser um problema. Durante o tempo que dedico ao brainstorming gosto de apresentar categorias para os alunos inserirem as suas ideias e exemplificar com as minhas próprias. Por exemplo, se estamos a tentar recolher ideias para narrativas pessoais, posso organizá-las por categorias, como momentos embaraçosos ou histórias sobre mim e o meu cão. Listo as ideias, para serem usadas na história que vou escrever, debaixo de cada categoria. Por fim, dou um exemplo de como transformaria uma dessas ideias numa história. As categorias podem ajudar os alunos a estruturar o texto e os meus exemplos servem-lhes de inspiração. No fim do tempo dedicado ao brainstorming peço aos alunos para deixarem os cadernos em cima das mesas (se se sentirem confortáveis para fazerem isso) e os colegas podem dar uma volta pela sala para verem as ideias uns dos outros. Isto também pode suscitar novas ideias.
4. Os alunos precisam de ver exemplos de boa escrita.
Os alunos precisam de ver exemplos que mostrem a beleza da palavra escrita e o modo cuidadoso como os escritores escolhem as palavras para ajudar os leitores a criarem uma imagem nas suas mentes. Gosto de selecionar secções ou passagens de livros ilustrados, romances, leituras em voz alta, canções, poemas e revistas para partilhar com os alunos. Pode ser uma passagem que descreve algo ou uma metáfora utilizada para descrever duas coisas. Chamo a atenção para o que se destaca nestas passagens e dou oportunidade aos alunos de analisarem e partilharem as suas reflexões. À medida que o ano decorre, os alunos começam a partilhar as suas próprias seleções de boa escrita comigo e com a turma.
5. Ensine os alunos a utilizar ferramentas digitais.
Existem muitas ferramentas disponíveis para os alunos: a extensão do Google Chrome Read&Write permite transformar o texto oral em texto escrito e ajuda os alunos a melhorarem os trabalhos escritos. Sítios para escrever histórias, como o Storybird, ajudam os alunos a criarem as suas próprias histórias e a partilharem-nas com os outros. E há também muitos sítios, como o MindMup, que ajudam os alunos a planificar a história. Também uso o Flip para permitir aos alunos que partilhem as suas histórias.
Dicas para editar e rever o texto
6. Priorize o conteúdo e a clareza; deixe as normas e a pontuação para mais tarde.
A escrita é uma ferramenta que usamos para nos expressarmos, mas que pode ser assustadora para os alunos. Quando estes começam a escrever, é importante valorizar as suas ideias em vez de passarmos demasiado tempo focados nas normas e na pontuação. Nas fases iniciais, em vez de me focar em questões mais específicas, explico aos alunos que a escrita pode ser confusa e que pode ser difícil comunicar as nossas ideias com clareza de modo a que o leitor as compreenda; portanto, o objetivo é escrever de forma clara e concisa. Depois de os primeiros esboços estarem completos, peço aos alunos para trabalharem de forma autónoma, com um colega ou com um professor, editando o texto de modo a torná-lo claro para o leitor. Este processo implica que, à medida que trabalham juntos, o aluno/ professor leitor faça perguntas para se sentir esclarecido e o aluno que escreve edite o seu texto. Isto pode ocupar várias sessões. Quando o trabalho estiver claro, então está na altura de nos focarmos na pontuação, na gramática e na ortografia.
7. Os alunos precisam de conversar uns com os outros sobre o que escrevem.
Falar sobre a escrita ajuda os alunos a exprimir opiniões e a desenvolver ideias. É importante dar tempo aos alunos para conversarem sobre o que escrevem ao longo do processo de escrita. Na turma, ou em pequenos grupos, os alunos podem partilhar ideias, esboços, aspetos que estão a correr bem ou problemas que estejam a enfrentar.
8. Utilize os «consultórios de escrita» para orientar os alunos. Os «consultórios de escrita» são momentos em que é oferecida orientação individual aos alunos. Durante o tempo de funcionamento do «consultório», escolha um aspeto específico para ensinar, foque-se nele e faça perguntas aos alunos que sirvam para os orientar ou apresente-lhes um modelo que possam seguir enquanto trabalham de forma independente. Alguns alunos precisam de mais apoio, por isso um «consultório de escrita» pode ser o momento ideal para dar esse apoio diferenciado.
9. Enfatize que a escrita não é um trabalho fácil. Alguns alunos redigem um esboço e ficam felizes a dizer «Já acabei». É importante que os alunos saibam que escrever bem implica fazer vários esboços e requer muito tempo e esforço. De acordo com a minha experiência, a melhor forma de ensinar isto é mostrar-lhes como escrevemos os nossos próprios textos. Tenho sempre um rascunho quando acompanho os meus alunos, normalmente relacionado com a unidade que estamos a trabalhar. Ao terem a oportunidade de ver os rascunhos e revisões que são necessários até se chegar a uma versão final, a probabilidade de fazerem o mesmo sozinhos é maior.
10. Celebre! O mais importante de tudo é tirar algum tempo todos os dias e no final de cada unidade para celebrar de alguma forma. Pode destacar algo de que se tenha apercebido ou fazer uma festa no final de uma unidade. Escrever é uma tarefa pessoal e difícil, por isso merece ser celebrada! A minha forma preferida de celebrar é pedir aos alunos para se organizarem em grupos e deixar que cada um leia os seus textos aos restantes elementos. É sempre divertido ter umas guloseimas para acrescentar algo de especial ao momento.
- Partindo do filme e da experiência de cada um, qual é a ligação entre, por um lado, o acesso universal à informação e, por outro lado, a proteção e realização dos direitos humanos, do desenvolvimento sustentável e de uma governação democrática?
- Qual tem sido o compromisso de cada um dos círculos de poder - comunidade local/ escola/ biblioteca e de cada participante - para garantir o acesso universal à informação?
- O que pode ser feito para reforçar e alargar no futuro este compromisso?
Enquadramento
O Dia Internacional do Acesso Universal à Informação (DIAUI/ IDUAI - International Day for Universal Access to Information), 28 de setembro, foi proclamado pela Conferência Geral da UNESCO em 2015, através da 38 C/Resolution 57 e reconhecido pela Assembleia Geral da ONU em 2019.
Desde 2016 que, todos os anos nesta data, a UNESCO, através dos seus programas intergovernamentais, Programa Internacional para o Desenvolvimento da Comunicação (International Programme for the Development of Communication – IPDC) e o Programa Informação para Todos (Information for All Programme - IFAP), celebra a data, promovendo atividades de sensibilização e mobilização na área do acesso à informação [1].
Em 2022 e, no contexto da crescente digitalização e desinformação, o tema selecionado para a comemoração da efeméride é Inteligência Artificial, e-Governança e Acesso à Informação e a sua conferência global, a realizar em Tashkent, Uzbequistão, a 28 e 29 de setembro, “Recordará a importância crucial de implementar quadros jurídicos de acesso à informação, salientando a necessidade de continuar a agir em conjunto para o estabelecimento de sociedades do conhecimento resilientes e inclusivas” [2]. Lançará ainda orientações sobre “Implementação das diretrizes de dados abertos em apoio à transparência, inovação e governança eletrônica” [3] e “Apresentação das Diretrizes Políticas atualizadas para o Desenvolvimento e Promoção da Informação Governamental de Domínio Público” [4]. Todos podem participar na conferência global e a ligação para participar na sessão à distância pode ser consultada na fonte.
Adoção da Declaração de Tashkent
Durante o 3.º Painel da Conferência os participantes vão adotar a Declaração de Tashkent que “reafirmará o compromisso dos Estados Membros em reconhecer e respeitar o direito fundamental de acesso à informação”, estabelecerá os princípios de boa governação, abordará desenvolvimentos recentes no setor, bem como a importância de garantir o acesso à informação inclusivo [5].
O draft do documento para discussão está disponível [6] e com base nele, destacamos os aspetos infra.
A Declaração de Tashkent sobre o Acesso Universal à Informação baseia-se na Declaração Universal dos Direitos do Homem e no Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Direitos Políticos que, no seu artigo 19.º estabelece:
“Toda e qualquer pessoa tem direito à liberdade de expressão; este direito compreende a liberdade de procurar, receber e expandir informação e ideias de todo o tipo, sem consideração de fronteiras, sob forma oral ou escrita, impressa ou artística, ou por outro qualquer meio à sua escolha [sublinhado nosso]”.
O direito universal à liberdade de expressão inclui o direito de acesso à informação, o qual só pode ser restringido mediante legislação específica que proteja “os direitos ou reputação de outrem” ou “segurança nacional, ordem pública, saúde e moralidade pública”, conforme o artigo 19.º.
A Declaração destaca que um número crescente de países “adotaram e estão a implementar garantias constitucionais, estatutárias e/ou políticas para o direito de acesso à informação” e realça os benefícios deste setor para:
- Um “ambiente livre, independente e pluralista na paisagem mediática”;
- Combater “o discurso do ódio, promover a compreensão intercultural”;
- “Servir de base crítica para os direitos humanos e os processos democráticos”, para que os cidadãos possam tomar decisões por si próprios com base em informação;
- “Desmascarar rumores e combater a desinformação”;
- “Limitar o risco de os governos utilizarem situações de emergência para monopolizar o fluxo de informação ao público” como ocorreu durante a pandemia Covid-19.
Salienta a importância do acesso livre à informação em todos os setores (educação, saúde, segurança, ambiente…), destacando a sua relevância para a efetivação da agenda de direitos humanos, de desenvolvimento sustentável e de governação democrática da comunidade internacional. Destaca em particular a sua ligação ao Objetivo para o Desenvolvimento Sustentável 16, "sociedades justas, pacíficas e inclusivas" e 16.10, “garantir o acesso público à informação e à proteção de direitos e liberdades fundamentais”, salientando o direito de os cidadãos conhecerem as violações praticadas.
Sensibiliza os Estados membros da UNESCO a “criar um ambiente jurídico, político e institucional, que garanta o direito de todos a aceder à informação”, com recursos e entidades de supervisão. A existência de legislação alargada permite aos países fazer progressos e ultrapassar com transparência o plano das meras intenções.
Manifesta a sua preocupação relativamente às desigualdades no acesso e nas literacias, sobretudo em “mulheres, pessoas com deficiência e outros grupos marginalizados” e sensibiliza os Estados membros a formar cidadãos, através dos meios de comunicação social e de programas de literacia de dados e informação e a tirar partido das tecnologias digitais que são essenciais para efetivar o direito ao acesso a informação.
A Declaração estabelece a necessidade de “Manter o direito de acesso à informação durante os estados de emergência, incluindo para permitir o debate público sobre medidas de emergência e o respeito dos direitos humanos e liberdades fundamentais”.
A propósito, Repórteres Sem Fronteiras registou durante a crise pandémica uma diminuição global da liberdade de imprensa - quase 75% dos países do mundo bloquearam os media em algum grau – e um aumento global da desinformação, inclusive por governos que minimizavam os efeitos do vírus [7].
Entre outros aspetos, a Declaração lança à UNESCO e organizações intergovernamentais o apelo para:
- “Proteger e expandir o direito de acesso à informação como um direito humano essencial necessário para o pleno gozo da liberdade de expressão e de outros direitos humanos, para governação transparente e responsável e desenvolvimento sustentável, bem como para o acesso ao conhecimento universal, aberto e acessível”;
- “Defender políticas digitais orientadas para a abertura, acesso universal, transparência, responsabilização, multilinguismo, inclusão e igualdade de género da Internet com base no conceito de Universalidade da Internet delineado nos princípios ROAM [Rights, Openess, Access to All, Multistakeholder Participation/ Direitos Humanos, Abertura, Acessibilidade para Todos, Participação Multissetorial] da UNESCO”;
- “Promover a participação civil, incluindo de mulheres, jovens, pessoas com deficiência e outros grupos vulneráveis”.
Para as bibliotecas escolares o acesso universal à informação em diversos formatos/ idiomas/ expressões é uma prioridade, da qual depende a tomada de decisões livres e responsáveis, a criação de conhecimento de qualidade e a participação de cada um no espaço público. A Declaração de Tashkent, uma vez aprovada pelos Estados membros da UNESCO, reforça e alarga as responsabilidades dos bibliotecários nesta área.
4. UNESCO. (2022, Sep.). Presentation of the updated Policy Guidelines for the Development and Promotion of Governmental Public Domain Information. France, Paris: UNESCO. https://events.unesco.org/event?id=4220128908&lang=1033
Esta estratégia vem complementar a sua primeira edição (de 2012 - Estratégia BIK - better internet for kids) e reflete os contributos de uma grande diversidade de visões, destacando-se a opinião das crianças e dos jovens. Este documento visa complementar e apoiar a aplicação prática das medidas existentes para proteger as crianças em linha, desenvolver as suas competências e capacitá-las para desfrutar e decidir em segurança a sua vida em linha.
A BIK+ apresenta a visão de uma década digital para as crianças e os jovens: Serviços digitais adequados à idade, sem deixar ninguém para trás e com todas as crianças da Europa protegidas, capacitadas e respeitadas em linha.
Nesse sentido, o principal objetivo desta atualização, definida em consonância com os Direitos Humanos e os Direitos da Criança, é garantir que as crianças sejam protegidas, respeitadas e capacitadas para o mundo digital, de acordo com os Princípios Digitais Europeus.
A BIK+, que assinala também o Ano Europeu da Juventude 2022, propõe ações em torno de três pilares:
1. Experiências digitais seguras para proteger as crianças de conteúdos, condutas, contactos e riscos online prejudiciais e ilegais enquanto jovens consumidores e para melhorar o seu bem-estar online, através de um ambiente digital seguro e adequado à idade, criado de forma a respeitar o melhor interesse das crianças;
2. Capacitação digital para que todas as crianças, em particular as que se encontram em situação de vulnerabilidade, adquiram as aptidões e as competências necessárias para fazer escolhas acertadas e expressar-se no ambiente online, de forma segura e responsável;
3. Participação ativa, respeitando as crianças, dando-lhes a palavra no ambiente digital, com mais atividades lideradas por crianças para promover experiências digitais seguras inovadoras e criativas.
No âmbito desta estratégia, o portal Better Internet for Kids continuará a disponibilizar recursos de sensibilização e práticas de referência, em cooperação com a rede europeia dos cerca de 30 Centros Internet Segura, da qual o Centro Internet Segura faz parte integrante.
Sendo a literacia dos media uma área fulcral do trabalho das bibliotecas escolares, cumpre-lhes, também a elas, desempenhar o seu papel, contribuindo para a consecução desta estratégia e proporcionar aos alunos oportunidades para viverem experiências digitais seguras, adquirirem as aptidões e competências para uma vida plena em-linha e para participarem e liderarem em ambientes digitais. Afinal, implementarem um conjunto de ações que se enquadram no Quadro Estratégico da RBE - Bibliotecas escolares; presentes para o futuro.
Referências
1. Comissão Europeia (2022).Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões: Uma Década Digital para as crianças e os jovens: a nova Estratégia europeia para uma Internet melhor para as crianças (BIK+). https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52022DC0212&from=EN
Uma das principais finalidades da Cimeira Transformar a Educação das Nações Unidas [1] é contribuir para pôr em prática a Declaração do Rio sobre Educação Não-Formal (ENF) [2].
Porque é que a Declaração do Rio sobre ENF é importante para transformar a educação?
- Reconhece que os sistemas educativos formais, isoladamente, não respondem às constantes mudanças tecnológicas, sociais e económicas, devendo associar-se a práticas da ENF que melhoram a qualidade da educação formal (EF);
- Defende que para implementar uma educação holística, inclusiva e ao longo da vida, a ENF é uma alternativa de qualidade e relevante, seja como complemento à EF, seja como alternativa aos que estão fora da escola, como é o caso de muitas meninas e mulheres.
A ENF “é centrada no aluno, baseada nos direitos e caracterizada pela participação voluntária, aprendizagem experiencial, aprendizagem progressiva, aprendizagem experimental, aprendizagem interpares, tutoria, desenvolvimento de liderança e mentoria e de um sistema de valores pessoais”.
Constitui ainda uma oportunidade para promover competências digitais, da informação e media.
- Considera que a ENF é parte essencial da educação porque desenvolve competências, valores e atitudes cruciais para o século XXI e possibilita o crescimento pessoal dos jovens. A ENF é adquirida por iniciativa pessoal, geralmente na vida comunitária e proporcionada por organizações não governamentais e juvenis.
- Destaca que a ENF é uma componente do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 – Educação que contribui, de forma decisiva, para a realização dos 17 ODS e dos direitos humanos.
- Apela aos governos, escolas e universidades e organizações da área da educação, públicas e privadas, para porem em prática as seguintes ações:
“Direito à ENF
A. A ENF deve ser reconhecida como parte integral do direito à educação e uma abordagem-chave para promover o desenvolvimento dos valores pessoais e coletivos e o envolvimento cívico dos jovens [sublinhado nosso];
B. A ENF deve basear-se em legislação com políticas, estratégias e financiamento adequados;
Reconhecimento
A. Promover um sistema de reconhecimento, validação e acreditação [da ENF] (…);
Aprendizagem inovadora
A. Investir em tecnologia e soluções digitais para expandir a ENF [sublinhado nosso] (…);
B. Promover percursos de aprendizagem alternativos e flexíveis em todos os níveis de educação;
C. Promover abordagens baseadas em evidências;
D. Fortalecer a avaliação dos resultados (…);
Investimento
A. Aumentar o financiamento de programas e organizações de ENF a nível global, regional, nacional e local (…);
B. Investir mais na investigação sobre o processo de aprendizagem e impacto da ENF (…);
Alianças mais fortes
A. Melhorar a coordenação entre os atores da ENF;
B. Reforçar as ligações entre a EF e a ENF para criar políticas que satisfaçam de forma abrangente as necessidades educativas dos jovens;
C. Reforçar as organizações juvenis e de voluntariado comprometidas com a ENF e a aprendizagem, inclusive em contextos de emergência e humanitários”.
A Declaração do Rio sobre Educação Não-Formal foi elaborada em 2019, no Rio de Janeiro, no âmbito do Fórum Mundial da Educação Não Formal e contou com a participação de mais 70 organizações e 400 participantes de todo o mundo.
O Fórum Mundial da Educação Não Formal é uma plataforma global criada para liderar a ENF e que é dirigida pela Organização Mundial do Movimento Escoteiro (WOSM - World Organization of the Scout Movement), UNICEF, UNFPA e Gabinete do Enviado do Secretário-Geral para a Juventude (OSGEY - Office of the Secretary-General's Envoy on Youth).
Segundo o Conselho da Europa e, com base em Compass: Manual de Educação em Direitos Humanos com Jovens [3], ENF é o conjunto de “programas e processos planeados e estruturados de educação pessoal e social para jovens destinados a melhorar uma série de habilidades e competências, que acontecem fora do currículo educacional formal, inclusive em organizações juvenis. A ENF é complementar à aprendizagem formal e informal” [4].
O Conselho da União Europeia publicou em 2012 uma Recomendação sobre a validação da aprendizagem não formal e informal que descreve o caminho que está na origem da Declaração do Rio [5].
Na Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia para a Juventude (2021), o Conselho da Juventude adotou Conclusões que destacam a necessidade de alargar o currículo e diversificar as parcerias da educação, “através da inclusão de organizações não governamentais”, bem como de fomentar a aprendizagem não formal e informal, de âmbito local e regional, que tem um papel fundamental nas questões cívicas e de participação.
As bibliotecas escolares são estruturas que promovem intencionalmente a ENF e essa condição liga-as a todas as formas de arte e cultura, à oralidade e às diversas expressões e, por isso, a todas as pessoas.
Para cumprir o desígnio da Cimeira de expandir a educação na sua abordagem/ forma, conteúdos e público-alvo, as bibliotecas podem constituir, na escola, uma referência.
2. World Non-formal Education Forum. (2019, Dec.). Rio Declaration on Non-formal Education. Rio de Janeiro: WNFEF. https://worldnfeforum.com/declaration/
A Declaração da Juventude [1] apresentada na Cimeira Transformando a Educação das Nações Unidas resultou de um inquérito global, consultas e encontros entre mais de meio milhão de jovens, de mais de 170 países do mundo e criou uma visão comum que deverá ser divulgada e posta em prática com caráter de urgência.
Baseia-se na Agenda 2030 que sublinha que a educação é um direito humano fundamental que está na origem da efetivação de todos os direitos e ODS é um bem comum de responsabilidade pública.
O texto da Declaração principia por “Nós, os jovens do mundo” e apresenta, aos decisores e governantes de todo o mundo, 25 exigências para mudar a educação, das quais sintetizamos as 10 primeiras (os sublinhados são nossos).
1. Participação e envolvimento de todos os jovens em todo o processo de transformação da educação: “conceção, implementação, execução, monitorização e avaliação”;
2. Investimento dos decisores na representatividade e visibilidade dos jovens no espaço público, especialmente no que diz respeito a jovens vulneráveis e de comunidades marginalizadas;
3. Descolonização e democratização da produção e transmissão de conhecimento, para que não continue a transmitir acriticamente uma perspetiva “colonial, racista, misógina e outras atitudes discriminatórias”;
4. Investimento “na educação transformadora de género para criar um presente e futuro feminista, equitativo e livre de estereótipos”;
5. Garantia de uma educação sexual abrangente “para todos os alunos dentro e fora das escolas”;
6. Investimento numa educação inclusiva que assegure “a plena participação de todos os estudantes no mesmo ambiente de aprendizagem, independentemente da sua capacidade, etnia, religião, estatuto legal, sexo, necessidades psicossociais, estatuto de casamento, orientação sexual, papel de cuidador ou qualquer outro fator discriminatório”;
7. Investimento em “currículos para o desenvolvimento sustentável, particularmente educação climática” para garantir segurança e justiça climática;
8. Promoção de “uma visão mais ampla e holística” da educação “baseada nos princípios da paz e dos direitos humanos”;
9. Incentivo da liberdade académica, “pensamento crítico, imaginação, comunicação, inovação, competências socioemocionais e interpessoais e investir no combate eficaz à desinformação”;
10. Erradicação de “barreiras legais, financeiras e sistémicas” que impedem os jovens de prosseguir os seus estudos na sua plenitude - por exemplo, não reconhecimento de equivalências e certificados escolares, situação difícil sobretudo para refugiados.
No âmbito da educação digital, da informação e media que é uma prioridade para a Rede de Bibliotecas Escolares, os jovens também apelam aos decisores para “investir na infraestrutura digital”, de modo a garantir conectividade digital para todos “acessível, digna, segura e estável” que responda à desigualdade da educação exacerbada pela pandemia Covid-19.
A Declaração apela ainda à proteção e aumento do investimento financeiro público na educação nacional e internacional, tendo por referência 20% do orçamento total, de modo a garantir educação universal e gratuita de qualidade para todas as crianças e jovens de todo o mundo. Este financiamento deve discriminar positivamente territórios de emergências sanitárias, climáticas, de guerra, ou outras.
A apresentação da Declaração da Juventude para Transformar a Educação assenta ainda em cinco princípios, dos quais o primeiro consiste em “Continuar a ser solidário com todos os jovens em todo o mundo e em toda a nossa diversidade”.
A transformação da educação deve ser sistémica, a longo prazo e os jovens são elementos-chave porque são quem dela beneficia e são parceiros nas políticas e decisões em todos os círculos de poder: local, nacional e internacional; público e privado; instituições governativas, professores e sociedade civil.
A Declaração deverá ser posta em prática através de um plano de ação coordenado pela SDG4 Youth Network/ Rede Juvenil ODS4 que mobilizará as partes interessadas, garantirá o crescimento do movimento global para transformar a educação e contribuirá para reforçar as competências dos jovens para que possam defender localmente uma educação de qualidade.
A Rede de Bibliotecas Escolares colabora nesta missão, tendo criado um conjunto de atividades centradas nas crianças e jovens, que visam aprofundar a consciencialização e mobilização.
Intitula-se Transformar a Educação: Dá voz às tuas ideias! e visa reunir soluções, de todos e em larga escala, para transformar a educação, de modo a fazê-las chegar ao Ministro da Educação.
1. Escolas inclusivas, equitativas, seguras e saudáveis
2. Aprendizagens e competências para a vida, o trabalho e o desenvolvimento sustentável
4. Aprendizagem e transformação digital
Veja também
As exigências estabelecidas pelos jovens na Declaração da Juventude têm ligação ao relatório global da educação da UNESCO de 2021, Reimaginar os nossos futuros juntos que resultou da consulta de mais de um milhão de pessoas no mundo. Sobre este relatório a RBE publicou os seguintes artigos:
O PNA e a Biblioteca Escolar na transformação da escola num polo cultural.
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O Projeto Cultural de Escola do Agrupamento de Escolas Sá de Miranda, Braga, com o tema “Tradições e lendas em memória”, consiste num programa de ação interdisciplinar que pretende articular as diferentes áreas curriculares com as várias áreas artísticas, como a música, a literatura e a ilustração e, ainda, o património da região.
A escola agrega um conjunto de pessoas que fazem parte de uma sociedade e que partilham uma língua, uma história e um local. Todas as localidades têm costumes, tradições, monumentos que as identificam e que imprimem um sentimento de identidade e pertença a quem nela habita. Com o objetivo de promover a identidade cultural da região e contribuir para a preservação das suas tradições o AESM transformou a escola num polo cultural, que contou com a parceria dos departamentos curriculares, da biblioteca escolar, das autarquias locais, de parceiros externos e da comunidade educativa em geral.
Antecipando que a cultura e o património são importantes em todo o processo educativo, a biblioteca escolar associou-se à equipa do Plano Nacional das Artes (PNA) desenvolvendo ações conjuntas e muito enriquecedoras, contribuindo para manter vivas as memórias e as tradições locais e o desenvolvimento de múltiplas literacias.
Neste contexto, a biblioteca escolar desenvolveu o projeto de leitura “Lendas em memória”, que partiu do levantamento e pesquisa das lendas e tradições que fazem parte da identidade da região e, em articulação com as disciplinas de Português, de Cidadania e de Educação Visual, desenvolveu com os alunos diversas atividades de leitura das lendas e tradições previamente selecionadas, atividades de escrita diversas, ilustrações, etc…
Esta base de trabalho da biblioteca, posteriormente, e num trabalho transdisciplinar, envolvendo a comunidade educativa, as equipas do PNA, da Biblioteca Escolar e das AEC (Atividades Extracurriculares) do Agrupamento Sá de Miranda, resultou num Sarau onde foi apresentado um espetáculo verdadeiramente cultural, intitulado “O que me contas tu?”. Este espetáculo performativo interligou várias expressões artísticas (artes plásticas, teatro, dança e música) e foi apresentado no auditório do Espaço Vita de Braga, pelos alunos do 4.º ano do agrupamento, à comunidade educativa.
O sucesso desta ação resultou de um trabalho colaborativo e verdadeiramente transformador, que envolveu a biblioteca, diferentes docentes, técnicos especializados, alunos, famílias, entidades externas, autarquia, entre outros.
Apresentada em 29 línguas europeias, a School Education Gateway é uma plataforma online para professores, dirigentes escolares, investigadores, formadores de professores, decisores políticos e outros profissionais que trabalham na educação escolar – incluindo Educação e Cuidados na Primeira Infância e Educação e Formação Profissional.
Entre 01/09/2022 e 15/10/2022, esta plataforma promove uma sondagem sobreliteracia e bibliotecas escolares, junto de todos os seus utilizadores; europeus, falantes das 29 línguas em que se apresenta.
A propósito deste inquérito, pode ler-se como fundamentação que muitas bibliotecas escolares desempenham um papel importante na promoção da literacia e no apoio a novas práticas pedagógicas, surgindo a sondagem como antecipação à Semana do Livro Europeu, cuja 1.ª edição terá lugar de 28 de novembro a 6 de dezembro do corrente ano.
Para clarificar o âmbito do inquérito, a plataforma esclarece os seguintes conceitos:
Bibliotecas Escolares
As bibliotecas escolares podem apoiar a aprendizagem autónoma, longe do ensino formal em sala de aula. Elas oferecem um caminho alternativo para o conhecimento e para desenvolver competências, fornecendo recursos de aprendizagem e um espaço para estudo. As bibliotecas escolares também podem ser um local onde os alunos podem acompanhar as aulas, ler por prazer e realizar pesquisas, às vezes com a ajuda de pessoal qualificado.
Literacia
Literacia é a capacidade de entender, expressar e interpretar conceitos tanto na forma oral quanto escrita. Implica a capacidade de comunicar e estabelecer uma ligação eficaz com os outros de forma adequada e criativa (Recomendação do Conselho sobre as competências essenciais para a aprendizagem ao longo da vida, 2018 ).
Como é que sua biblioteca escolar desenvolve competências de leitura e gosto pelos livros? Como mudou a sua ação para refletir as necessidades de professores e alunos?
Os utilizadores da plataforma são convidados a partilhar suas opiniões nesta breve sondagem, até 15 de outubro de 2022. Os resultados serão publicados na plataforma School Education Gateway.
A Rede de Bibliotecas Escolares considera que será de toda a relevância que Portugal tenha uma representação significativa neste inquérito. Assim, sugere-se aos professores bibliotecários que respondam ao inquérito e que o partilhem dentro das suas comunidades, solicitando o seu preenchimento, designadamente, pelos docentes das escolas onde trabalham.
Juntos, vamos mostrar a força das bibliotecas escolares em Portugal!
Por toda a Europa, 700 milhões de Europeus dos 46 estados-membros do Conselho da Europa são encorajados a aprender mais línguas, em qualquer idade, dentro e fora da escola. O Conselho da Europa promove o plurilinguismo em todo o continente, com base na convicção de que a diversidade linguística é uma via para alcançar uma maior compreensão intercultural e um elemento-chave da riqueza do património cultural da Europa.
Conforme iniciativa conjunta do Conselho da Europa e da Comissão Europeia, o Dia Europeu das Línguas tem sido celebrado todos os anos desde 2001 no dia 26 de setembro e é uma forma de sensibilizar o público em geral para a importância da aprendizagem de línguas e da proteção do património linguístico.
Este Dia é parte integrante do Programa de Políticas Linguísticas, embora a maior parte do programa seja normalmente dirigida a autoridades nacionais de educação e profissionais neste domínio. A ideia de organizar uma campanha para convencer o público em geral da importância de aprender mais línguas nasceu na conferência de 1997 sobre Aprendizagem de línguas para uma nova Europa, que, entre outras coisas, lançou o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR) e o conceito de plurilinguismo.
O primeiro Dia Europeu das Línguas teve lugar a 26 de setembro de 2001 e foi um evento emblemático da campanha do Ano Europeu das Línguas 2001 organizada em conjunto com a União Europeia. Milhões de pessoas em 45 estados-membros participaram. Foi um sucesso tão grande que para satisfazer as expectativas de muitos parceiros, o Comité de Ministros do Conselho da Europa decidiu, em finais de 2001, fazer deste dia um evento anual a celebrar a 26 de setembro.
Todos merecem a oportunidade de beneficiarem das vantagens culturais e económicas que as competências linguísticas podem trazer. Aprender línguas também ajuda a desenvolver a tolerância e a compreensão entre pessoas de diferentes origens linguísticas e culturais(…)
Declaração do Secretário-Geral do Conselho da Europa e do Comissário Europeu para a Educação e Cultura numa declaração conjunta no lançamento do Ano Europeu das Línguas.
Os objetivos do Dia Europeu das Línguas continuam a ser semelhantes aos da campanha de 2001:
Celebrar a diversidade linguística na Europa, o plurilinguismo dos seus cidadãos e a aprendizagem de línguas ao longo da vida;
Melhorar o conhecimento do património linguístico da Europa e promover a sua rica diversidade, incentivando a abertura a diferentes línguas e culturas;
Motivar os cidadãos europeus a desenvolver o plurilinguismo (a capacidade de usar diferentes línguas, independentemente do padrão) para atingir um grau de proficiência em várias línguas, incluindo as menos utilizadas ou ensinadas;
Incentivar e apoiar a aprendizagem de línguas ao longo da vida para o desenvolvimento pessoal.
Coordenado no Conselho da Europa pelo Language Policy Programme e pelo European Centre for Modern Languages (ECML), o Dia Europeu das Línguas tem tido um impacto crescente ao longo dos anos, particularmente nas escolas.
O Centro Europeu para as Línguas Modernas criou o sítio Dia Europeu das Línguas, com múltiplos recursos (atividades, jogos, base de dados de eventos, etc.) disponíveis em 37 línguas, que poderão inspirar quem, em contexto educativo, pretende abordar a temática.
Este evento conduzirá a uma viagem da Suécia a Portugal e da Estónia à Espanha para discutir escolas com consciência linguística e o modo como as salas de aula multilingues e as atividades comunitárias promovem a inclusão.
Haverá igualmente ligação a alguns dos eventos do Dia Europeu das Línguas que acontecem nos Estados Membros da União Europeia (UE) e em que os jovens terão oportunidade para partilharem o modo como se sentem em relação às línguas e como elas influenciam as suas vidas.
Tendo em conta o grande número de crianças deslocadas ucranianas , o evento permitirá discussões sobre o apoio à inclusão de refugiados ucranianos nos sistemas educativos nacionais da UE, com especial enfoque na integração através da aprendizagem de línguas.
Transformar a educação significa repensar e reimaginar o propósito, o conteúdo e a efetivação da educação e pôr em prática ações a longo prazo, baseadas em evidências, que exigem parcerias fortes e que são ousadas, pois não são mais do mesmo, podem romper com aquilo a que as pessoas estão habituadas a fazer e gerar desconforto.
As linhas de ação temática decorrem da Agenda 2030 - ODS 4, “Garantir uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” e incluem as medidasda pandemia COVID-19 que há que manter.
Tratam áreas que carecem de atenção e intervenção política urgente e foram formuladas para esta Cimeira com base na consulta pública dos países e nas propostas dos parceiros da ONU.
A TES tem cinco linhas de ação interdependentes e a Rede de Bibliotecas Escolares propõe que se trabalhem com as crianças e jovens três, cujos subtemas, documentos para discussão e fórum para participar (URL) se indica:
1. Escolas inclusivas, equitativas, seguras e saudáveis
Segue-se a apresentação de algumas ideias transmitidas por embaixadores destes fóruns nos vídeos de abertura.
Sanet Steenkamp - Diretora Executiva do Ministério da Educação, Artes e Cultura da Namíbia
De acordo com a linha de ação 1. Escolas inclusivas, equitativas, seguras e saudáveis, é preciso trabalhar para a inclusão e a equidade e o acesso universal aos recursos, identificar e eliminar as diferentes formas de violência (psicológica, física, sexual), valorizar a curiosidade, a diversão, a criatividade e a participação, bem como programas integrados de saúde escolar que incluam uma refeição diária para quem necessite, de modo a que a escola constitua lugar seguro e de bem-estar, no qual cada um possa realizar o seu potencial.
Maria Victoria González – Ministra da Educação da Colômbia
Tomar em consideração a linha de ação 2. Aprendizagem e competências para a vida, o trabalho e o desenvolvimento sustentável, exige uma abordagem holística e intersectorial, contínua e que dê maior peso à aprendizagem informal, articulada e que ligue o ministério da educação aos outros ministérios e o setor público ao privado. Para formar cidadãos do futuro e garantir a convivência pacífica entre povos, devem incorporar-se nos sistemas educativos, da primeira infância até à idade adulta, as questões ambientais, as novas tecnologias e a componente de cidadania global e de desenvolvimento sustentável. Deve reforçar-se a formação de professores de qualidade e providenciar os recursos financeiros necessários.
Siew Hoong Wong - Conselheiro do Ministro da Educação de Singapura
As questões da linha de ação 4. Aprendizagem e transformação digital são transversais às dos outros fóruns, envolvem setor público e privado, aprendizagem formal e informal e prendem-se, por exemplo, com conectividade, hardware e software, plataformas digitais com recursos e crowdsourcing. Com a pandemia Covid-19 registaram-se progressos no reforço e multiplicação de bibliotecas e repositórios digitais de qualidade, abertos, de diferente âmbito, construídos debaixo para cima e que devem ser incentivados e para os quais todos devem contribuir. Apresentam-se duas ideias transformadoras: estabelecer uma aliança global que reúna todas as partes interessadas em fornecer recursos de aprendizagem digitais, de qualidade e acesso aberto para todos os alunos, professores e público; promover a inovação pedagógica, as competências dos professores para usar e maximizar a aprendizagem digital através de comunidades de práticas de professores que aprendam, uns com os outros, de forma colaborativa, nas áreas do design e da curadoria de conteúdos e da partilha de boas práticas, para ser possível construir uma rede de líderes de aprendizagem digital e usar a aprendizagem digital para ultrapassar desigualdades.
A educação encontra-se numa encruzilhada porque, a par dos progressos registados durante a pandemia Covid-19, exacerbam-se as desigualdades geradas por questões de pobreza, género, deficiência, etnia, língua, localização (litoral/ interior), deslocação forçada, orientação sexual, religião e que geralmente são cumulativas, exigindo uma abordagem holística, a nível local, nacional e global, que convoque todos a apresentar e pôr em prática soluções.
No âmbito da Pré-Cimeira das Nações Unidas, Transformando a Educação (29 - 30 de junho, Paris), o Secretário-Geral António Guterres disponibilizou o rascunho sobre a Declaração de Visão para pensar o futuro da educação até 2030 e mais além.
De acordo com o comunicado de imprensa relativo à Declaração [1]:
- A educação é a solução para “realizar e desenvolver o potencial humano” e resolver os problemas do mundo, servindo para “impulsionar o desenvolvimento sustentável e a construção da paz”;
- As múltiplas crises globais da pandemia Covid-19, do clima, dos conflitos, do acesso desigual aos recursos prejudicam o alcance da Agenda 2030;
- Muitos sistemas educativos de países em desenvolvimento e desenvolvidos “estão em profunda crise”.
Neste documento Guterres destaca que a crise da educação é uma crise da:
Equidade
“Mais de 258 milhões de crianças estão fora da escola, a maioria meninas. E as experiências e resultados da educação são profundamente afetados por deslocamentos forçados, deficiência, nível económico, geografia, raça e género”.
Qualidade
“Metade de todos os alunos de 10 anos, em países de baixa e média renda, são incapazes de ler um texto básico”.
Relevância
“Currículos desatualizados, formação de professores desatualizada e métodos de ensino desatualizados deixam os alunos sem as competências para: navegar no mundo atual em rápida mudança, lidar com a revolução digital, prosperar num mercado de trabalho em rápida mudança, responder à crise climática, viver em harmonia consigo e com o outro e contribuir para a construção da nação e o fortalecimento das sociedades democráticas. Hoje qualquer país que não esteja conduzindo ativamente uma revisão radical dos seus sistemas educativos corre o risco de ficar para trás amanhã”.
Transforming Education Summit (TES) é, para o Secretário Geral das Nações Unidas (SGNU), a oportunidade para colocar “a educação no centro” e “gerar impulso e compromisso” para alcançar o ODS 4. Deve marcar um ponto de viragem para a transformação da educação, identificando elementos-chave e soluções e estabelecendo laços de solidariedade que permitam que as boas práticas ganhem escala.
A 10 de setembro a União Europeia emitiu uma Declaração sobre a Cimeira na qual reconhece, tal como o SGNU, que “a educação está em crise profunda e os sistemas educativos já não são adequados ao seu propósito”. Lembra que o relatório 2021 da UNESCO, Reimaginar os nossos futuros juntos, lança o desafio para criar um novo contrato social para a educação e considera que a Declaração do SGNU é “uma base muito sólida e um excelente caminho para mobilizar vontade política e recursos”.
A Declaração da UE destaca que “A educação é um direito humano fundamental e um bem público comum” e condição para efetivação de todos os direitos humanos e de todos os ODS.
A UE prossegue os mesmos objetivos das NU, investindo na qualidade da educação baseada na inclusão, “em direitos, voltada para o futuro, holística e centrada no aluno” e destaca o seu compromisso com a igualdade de género, bem como as pessoas com deficiência e em situação de emergência e conflitos que tendem a ficar para trás e a abandonar a escola.
Na sequência do relatório da UNESCO, esta Declaração destaca a necessidade de valorizar a educação para a saúde materna e infantil e bem-estar e “reafirma o seu compromisso com a promoção, proteção e realização do direito de cada indivíduo a ter pleno controlo e decidir livre e responsavelmente sobre questões relacionadas com a sua sexualidade e saúde sexual e reprodutiva, livre de discriminação, coação e violência. A UE salienta ainda a necessidade de acesso universal a informações abrangentes sobre saúde sexual e reprodutiva, de qualidade e a preços acessíveis”.
São prioridade a educação pré-escolar e ao longo da vida e competências sociais, digitais e verdes que preparem para o futuro do trabalho, bem como a educação para a cidadania global e o “envolvimento significativo de jovens e estudantes na reimaginação e transformação da educação”.
A UE salienta que na futura Declaração da Visão para o futuro da educação:
Gostaríamos de ver uma referência explícita à promoção de competências de literacia da informação e media, que devem complementar a literacia digital, o pensamento crítico, o pensamento científico e outras competências. Para capacitar pessoas de todas as idades a entender melhor e a enfrentar os desafios atuais, é imperativo que as pessoas tenham as competências necessárias para distinguir factos de informação incorreta e desinformação [sublinhado nosso]”.
Sublinha que “Todos devem intensificar os esforços e fazer mais e melhor [sublinhado nosso]” e que é necessária maior coordenação entre instrumentos, programas educativos e Estados Membros.
A UE reafirma o seu compromisso com a educação e a Agenda 2030, sendo parceira no seu acompanhamento.
A Declaração da UE lança questões à visão do SGNU, por exemplo:
- Qual é o papel “dos jovens na implementação prática dos resultados do TES”?
- “O TES cria o impulso político para fazer mudanças reais” para alcançar o ODS 4. Porém, “como podemos tornar o acompanhamento mais concreto”, “Por exemplo, qual é o plano que deve ser feito com os resultados das linhas de ação temática e das consultas nacionais”? “Como preparar o caminho a seguir”?
1. United Nations (2022, 29 Jun.). Transforming Education Essential to Unlocking Safer, More Equal, Peaceful Future, Secretary-General Says in Message for Paris Summit. Paris: UN. https://press.un.org/en/2022/sgsm21357.doc.htm