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Blogue RBE

Sex | 28.02.25

5 ideias criativas para modernizar a comunicação

2025-02-28.pngPara cumprirem a sua missão, é essencial que as bibliotecas escolares consigam comunicar informações importantes de forma eficaz. No entanto, muitas ainda utilizam exclusivamente cartazes em papel para transmitir estas informações, o que pode gerar algumas limitações significativas.

Embora práticos e acessíveis, os cartazes em papel frequentemente criam barreiras visuais (designadamente quando colocados nos vidros) e sobrecarregam o ambiente com excesso de informação. A acumulação de cartazes sobrepostos resulta numa poluição visual e numa sensação de desorganização, o que dificulta a leitura e diminui a eficácia da comunicação. Outra desvantagem significativa é a necessidade constante de atualização, gerando um ciclo de produção e descarte que impacta o meio ambiente e aumenta os custos operacionais da biblioteca.

Num mundo digital e interativo, os cartazes em papel também perdem em atratividade. Habituados a telas dinâmicas e interativas, os alunos tendem a ignorar conteúdos estáticos. Portanto, é necessário procurar abordagens modernas e criativas para comunicar as informações de forma eficaz, organizada e apelativa.

No entanto, isto não significa que se deva abandonar totalmente os cartazes em papel. Eles ainda têm um lugar importante na comunicação, especialmente para destacar informações de curto prazo ou campanhas específicas. A chave está em equilibrar o uso do papel com soluções mais modernas e interativas, criando uma comunicação diversificada e eficaz.

Apresentamos abaixo cinco alternativas inovadoras para complementar o uso de cartazes em papel, tornando a comunicação na biblioteca escolar mais envolvente e organizada.

1. Pequenos monitores interativos

Podem instalar-se pequenos tablets à entrada da biblioteca, nos balcões de atendimento ou nas paredes principais, oferecendo uma forma dinâmica e moderna de apresentar informações. Estes dispositivos permitem a exibição de conteúdos rotativos, captando a atenção dos alunos com animações suaves, imagens coloridas e vídeos curtos. São uma excelente forma de comunicar horários de funcionamento, eventos especiais, novidades do acervo e até recomendações de leitura, de forma apelativa e interativa.

Ao utilizar-se estes tablets, a atualização das informações é rápida e remota, eliminando a necessidade de impressões constantes e contribuindo para a sustentabilidade. Além disso, permitem um visual apelativo, adaptado ao estilo digital dos alunos, com cores vibrantes e animações dinâmicas que captam a atenção. Os monitores interativos oferecem ainda a possibilidade de os alunos navegarem no catálogo digital, participarem em quizzes literários ou acederem a resenhas feitas por colegas.

Esta abordagem aumenta significativamente o envolvimento e a interatividade, promovendo uma experiência de utilizador mais rica e motivadora.

2. Vinil decorativo e autocolantes informativos

Os autocolantes de vinil decorativo ou informativo são uma alternativa elegante e duradoura para complementar os cartazes em papel. Podem ser aplicados em paredes, prateleiras, armários ou em outras superfícies lisas da biblioteca, mantendo um visual organizado e moderno. Estes vinis permitem transmitir informações de forma criativa e atrativa, sem sobrecarregar o espaço com papel, e são ideais para comunicar frases inspiradoras, citações literárias, mapas do acervo, regras da biblioteca ou recomendações de leitura.

Uma das grandes vantagens dos vinis decorativos é a sua durabilidade e fácil manutenção, permitindo que as informações permaneçam atualizadas por longos períodos sem necessidade de substituição frequente. Além disso, a flexibilidade do design permite criar composições criativas, adaptando-se a campanhas sazonais, datas comemorativas ou temas literários, mantendo o ambiente da biblioteca sempre renovado e envolvente. Ao utilizar-se personagens literárias, cenários temáticos ou ilustrações lúdicas nos autocolantes, também se cria um ambiente acolhedor e inspirador, estimulando a curiosidade e o interesse.

3. Spots de som direcionado

Instalar spots de som direcionado à entrada da biblioteca é uma forma inovadora de comunicar informações de maneira eficaz. O som é projetado apenas na área próxima à entrada, garantindo que as mensagens sejam ouvidas apenas por quem se aproxima do espaço, sem interferir no ambiente interno de estudo e leitura. Esta abordagem é ideal para transmitir boas-vindas, horários de funcionamento, anúncios de eventos especiais e destaques do mês, criando uma experiência sensorial que desperta a curiosidade e cativa a atenção dos alunos.

Por não ocuparem espaço físico nem interferirem com o ambiente de estudo, permitem uma comunicação fluida e discreta, ideal para transmitir informações de forma apelativa e pontual. Outra vantagem significativa é a possibilidade de programar as mensagens para diferentes horários do dia, adaptando-as às rotinas da biblioteca.

A criatividade na utilização dos spots de som pode incluir vozes de personagens literárias, efeitos sonoros temáticos ou até histórias curtas em episódios, que motivam os alunos a visitarem a biblioteca regularmente. Esta abordagem lúdica e interativa cria um ambiente acolhedor e estimulante, transformando a entrada da biblioteca num espaço de descoberta e curiosidade.

4. QR Codes inteligentes e interativos

Os QR codes oferecem uma forma prática e digital de transmitir informações, adaptando-se perfeitamente ao contexto escolar. Podem ser colocados em locais estratégicos da biblioteca, como na entrada, nos balcões de atendimento ou nas prateleiras, permitindo que os alunos acedam às informações através dos seus telemóveis. 

Ao utilizarem os QR codes, os alunos podem aceder a horários de funcionamento, catálogos digitais, informações sobre eventos e oficinas, resenhas de livros feitas por colegas, trailers literários, entre outros conteúdos interativos.

Esta forma de comunicação é ideal para partilhar informações detalhadas sem sobrecarregar visualmente o espaço da biblioteca. Além disso, permite integrar surpresas digitais, como quizzes literários ou desafios de leitura, aumentando o envolvimento e a curiosidade dos alunos.

Os QR codes são uma opção de baixo custo e alta flexibilidade, pois podem ser facilmente atualizados e personalizados para diferentes campanhas ou eventos. A simplicidade da sua implementação torna-os acessíveis mesmo em bibliotecas com orçamentos limitados, garantindo uma comunicação moderna e eficaz.

5. Ecrã de TV digital para informações dinâmicas

O uso de um ecrã de TV digital é uma solução prática e acessível para modernizar a comunicação na biblioteca escolar. Reutilizando um ecrã de TV existente ou adquirindo um modelo básico, é possível exibir informações de forma dinâmica e atraente, utilizando animações, vídeos curtos e imagens coloridas.

Nos ecrãs de TV, é possível apresentar horários de funcionamento, anúncios de eventos, novidades do acervo, recomendações de leitura, resenhas de alunos e até quizzes literários.

A versatilidade do conteúdo permite que a informação seja atualizada de forma rápida e remota, eliminando a necessidade de imprimir cartazes constantemente. Além disso, o dinamismo visual cria um ambiente interativo e motivador, incentivando a exploração da biblioteca e do acervo literário. Os ecrãs de TV permitem uma comunicação flexível e sustentável, sem exigir grandes investimentos.

Um equilíbrio inteligente na comunicação

Ao complementar o uso de cartazes em papel com alternativas modernas e interativas, as bibliotecas escolares podem criar uma comunicação mais eficaz, apelativa e sustentável. Ecrãs digitais, vinis decorativos e spots de som direcionado oferecem abordagens criativas e envolventes, ajustadas às expetativas digitais dos alunos, sem abandonar completamente o uso dos métodos tradicionais.

Claro que é importante ter em conta que os orçamentos das bibliotecas escolares são frequentemente limitados. Por isso, é essencial avaliar cuidadosamente os recursos disponíveis e definir prioridades antes de implementar qualquer solução. A escolha das estratégias de comunicação deve ser feita de forma ponderada, considerando o impacto e o custo-benefício de cada abordagem. Optar por soluções sustentáveis e de longa duração, como os vinis decorativos, ou reutilizar dispositivos já existentes, como ecrãs de TV, pode ser uma forma eficaz de inovar sem comprometer o orçamento.

Evidentemente, os cartazes em papel continuam a ser úteis para destacar informações de curto prazo, campanhas específicas ou eventos temporários. No entanto, o equilíbrio entre os métodos tradicionais e as soluções inovadoras é importante para criar um ambiente organizado, dinâmico e atrativo.

Ao diversificarem as estratégias de comunicação, as bibliotecas fortalecem o seu papel educativo e tornam-se espaços mais inspiradores e acolhedores.

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Qua | 26.02.25

Como tornar a leitura em voz alta divertida e eficaz para todas as idades

por Andrew Boryga*

2025-02-26.png

Leituras em voz alta bem planeadas podem melhorar o pensamento crítico, a compreensão e o envolvimento em todas as disciplinas e níveis etários.

A leitura em voz alta é uma atividade popular nas salas de aula do pré-escolar e dos primeiros anos do ensino básico - e por boas razões.

No início da vida de leitura de uma criança, ouvir histórias interessantes lidas com perícia pelos professores é fundamental para melhorar o ouvido do aluno para a leitura fluente e é uma excelente forma de levar as crianças a debaterem o vocabulário, os conhecimentos de base e as caraterísticas literárias e textuais fundamentais, como o enredo, o tom, a linguagem figurativa e o desenvolvimento das personagens.

O consenso sobre a eficácia da leitura em voz alta também já é claro há algum tempo. Em 1985, a Comissão Federal de Leitura concluiu que são a “atividade mais importante para a construção dos conhecimentos necessários para um eventual sucesso na leitura”.

Isto é especialmente verdade quando os alunos estão apenas a aprender a ler e têm dificuldades em questões como a consciência fonológica, o conhecimento das letras e a compreensão, mas a comissão avisou que as leituras em voz alta não devem ser “completamente abandonadas” para os leitores mais velhos e mais competentes. Embora as escolas secundárias tendam a proteger zelosamente o seu tempo, a prática da leitura em voz alta “deve continuar ao longo dos anos”, afirmaram.

O autor e educador Doug Lemov concorda e afirma que reservar tempo para ler em voz alta com alunos do ensino básico ou mesmo do ensino secundário pode ajudar a melhorar a fluência e a reforçar os músculos da compreensão que queremos que exercitem: “a análise e a interpretação não podem acontecer sem uma leitura fluente”, afirma. Entretanto, um estudo de 2013 centrado em leituras em voz alta no ensino secundário concluiu que estas podem ajudar a modelar comportamentos de leitura positivos para leitores relutantes, expor os alunos a uma linguagem e literatura de grande valor estético e orientá-los para um pensamento de nível superior.
É claro que a simples leitura em voz alta para as crianças não é suficiente.

Os métodos com maior impacto exigem “um compromisso significativo por parte do professor”, conclui Elizabeth Heubeck, num artigo recente para a EdWeek. “Na sua forma mais eficaz, a leitura em voz alta exige uma preparação avançada e ponderada” e as técnicas que os professores devem conhecer variam consoante os níveis de ensino e, até certo ponto, consoante as disciplinas.

Segue-se um conjunto de estratégias escolhidas a dedo para o ajudar a implementar eficazmente a leitura em voz alta nas suas salas de aula.

1. Selecionar a história certa

Os educadores de todos os níveis de ensino concordam: Um dos componentes mais importantes de uma leitura em voz alta bem-sucedida é um livro que interesse aos alunos - e que represente uma boa base para o ensino da leitura e da literacia.

Antes de selecionar um livro, a antiga educadora e investigadora de leitura Molly Ness disse à EdWeek que os professores devem fazer a si próprios perguntas como: “Será que o vocabulário representa um desafio?” e ”Será que os alunos têm o conhecimento de base para compreender o conteúdo do texto?” Pensar nestas questões pode ajudá-lo a planear textos adequados ao desenvolvimento dos alunos, que os envolvam, que se relacionem com áreas de conteúdo relevantes ou recentemente abordadas e que também os ajudem a progredir como leitores.

Se tiver algumas opções - ou se quiser garantir que está a escolher algo em que os alunos estão genuinamente interessados - dê-lhes uma palavra a dizer no processo, escreve a professora de educação Christie Rodgers. Experimente fazer um inquérito aos alunos sobre os tipos de histórias de que gostam ou apresente-lhes algumas opções e coloque-as à votação.

2. Dedicar tempo

Embora a maior parte dos professores do ensino básico esteja ciente dos benefícios da leitura em voz alta, Heubeck cita um inquérito recente a professores do primeiro ciclo que mostra que mais de metade não atribui tempo intencional a esta prática.

Rodgers defende que, para que os alunos colham os benefícios que a leitura em voz alta tem para oferecer, esta deve ocorrer diariamente - especialmente para os alunos mais novos. “Assim que me comprometi a ler para os meus alunos diariamente, rapidamente se tornou numa coisa por que todos nós ansiávamos em cada aula”, disse ela.

Os alunos mais velhos também podem beneficiar. Kasey Short, professora de Inglês no ensino secundário, escreve que reserva pelo menos cinco minutos por dia - normalmente os últimos cinco minutos da aula, para criar suspense e deixar os alunos “a pensarem no que vai acontecer a seguir” - para ler para os seus alunos. É um tempo de que lhe perguntam muitas vezes como é que consegue “abdicar”, mas Short diz que compensa: “Passar este tempo todos os dias enriquece a comunidade da sala de aula, permite-me partilhar o gosto pela leitura, melhora o meu ensino da língua e expõe os alunos a novos autores, géneros e temas.”

3. Pausas estratégicas e sondagem

Numa revisão de 2022 que consultou dezenas de estudos sobre estratégias eficazes de leitura em voz alta, os investigadores concluíram que fazer pausas estratégicas durante a leitura oral para fazer perguntas pertinentes e esclarecedoras ajuda os alunos a praticarem competências-chave de literacia.

Durante a leitura, parar para fazer perguntas como: “Como é que achas que esta personagem se sente? Porquê?” ou ‘Porque é que achas que esta personagem fez ___ ou não fez ___?’ pode ajudar os alunos a criarem ligações importantes com um texto, segundo os investigadores. Entretanto, perguntas como: “O que achas que vai acontecer a seguir - e porquê?” podem levar os alunos a ‘irem além do texto’ para inferirem o significado, exercitarem os seus conhecimentos de base e fazerem previsões.

Collier escreve que é importante pensar estrategicamente sobre a frequência das pausas - e o que se pede aos alunos para fazerem. Para uma leitura em voz alta de 10 minutos, recomenda que se pare quatro vezes, o que ajuda a manter uma experiência de leitura agradável, em vez de uma experiência “agitada e não autêntica”.
Ao ler em voz alta com alunos mais velhos, pausas semelhantes podem centrar-se em questões que suscitem debate ou levem os alunos a considerarem as motivações de uma personagem.

4. Questionar sobre vocabulário difícil

As leituras em voz alta são particularmente úteis para questionar sobre vocabulário difícil no momento certo e ajudar os alunos a desenvolverem - e expandirem - as suas definições de termos-chave.

Dianne Stratford, professora do ensino básico e secundário, escreve que, antes de iniciar uma leitura em voz alta, os professores devem identificar as palavras em que se devem concentrar e ensinar previamente. Durante a leitura em voz alta, ajude os alunos a expandirem a sua compreensão, incorporando atividades rápidas que contribuam para criar “definições adequadas aos alunos” para as palavras e para as relacionar com as suas experiências.

Por exemplo, os alunos mais novos que encontrem palavras como “frustrado” ou “ansioso” podem utilizar as definições fornecidas pelo professor - e o contexto do texto - para criarem a sua própria definição e partilharem momentos em que sentiram essas emoções. Repetindo a palavra corretamente, criando a sua própria compreensão da mesma e ligando-a a uma memória, é muito mais provável que se lembrem dela e a utilizem corretamente no seu discurso e na sua escrita.

Na sua sala de aula do ensino secundário, a professora de Inglês , Carly Van Der Wende, dá a conhecer aos alunos, assim que entram na sala, uma nova palavra que fará parte da leitura em voz alta do dia. Em conjunto, passam cinco a dez minutos a dissecar a palavra, utilizando-a em frases escritas, “pesquisando sinónimos e antónimos e criando uma representação pictórica da mesma”, disse.

5. Modelo para “descobrir”

As leituras em voz alta eficazes também podem servir de modelo para os alunos sobre o que fazer quando encontram palavras ou frases que não compreendem enquanto leem - uma prática que a investigação mostra ser especialmente eficaz quando se trabalha com textos ricos em terminologia específica de biologia, física ou história.

Ao ler textos mais difíceis, a professora de Inglês do ensino secundário Christina Torres escreve na EdWeek que para frequentemente nas palavras difíceis e modela o pensamento metacognitivo em tempo real, “questionando as minhas reações a pontos do enredo ou a dispositivos literários, ou ligando a história a outras coisas que já lemos” e, mais tarde, pedindo aos alunos que façam o mesmo.

Na sua sala de aula, considere a possibilidade de interromper uma leitura em voz alta para exemplificar a forma como lida com informações confusas, utilizando estratégias como procurar palavras desconhecidas, utilizar pistas de contexto ou começar do início - ou do ponto em que perdeu o fio à meada - e reler passagens difíceis, se necessário.

6. Envolver os alunos

Os professores de alunos mais novos assumem frequentemente a maior parte das responsabilidades orais durante a leitura em voz alta, mas Todd Finley, professor de educação inglesa, diz que quando se trabalha com alunos mais velhos, deve considerar-se a possibilidade de partilhar a carga.

De acordo com Finley, práticas como a leitura em círculo - em que os alunos leem oralmente a partir de um texto partilhado, um a seguir ao outro - são populares, mas a investigação sugere que podem estigmatizar os maus leitores, enfraquecer a compreensão devido a interrupções frequentes e prejudicar a fluência e a pronúncia. Em vez disso, Finley recomenda a leitura coral, em que um professor e os alunos leem passagens em voz alta em conjunto. Um estudo de 2011 descobriu que apenas 15 minutos de leitura coral por semana ajudaram a melhorar a decodificação e a fluência entre os alunos do 6.º ano.

Na Concourse Village Elementary School, no Bronx, em Nova Iorque, os alunos leem um texto em coro todos os dias durante uma semana - primeiro, o professor lê em voz alta, concentrando-se na entoação e na elocução; depois, os alunos leem em conjunto, a pares e sozinhos. A cada leitura, os alunos aperfeiçoam uma nova competência: anotar, identificar pormenores importantes e escolhas criativas e tirar conclusões sobre a ideia principal.

Lemov disse à EdWeek que integra a leitura coral como parte de um “ciclo de leitura” de 20 minutos na sala de aula com alunos mais velhos, o que os ajuda a desenvolverem a sua resistência e atenção à leitura. O ciclo inclui um período de leitura em voz alta pelo professor, leitura em voz alta pelos alunos a pares e termina com uma leitura silenciosa.

7. Introduzir drama

Quando lê para alunos mais novos, Rodgers sugere que abrace o seu “artista performativo interior” enquanto lê, reagindo a grandes mudanças no enredo ou nas personagens. “As crianças de todas as idades adoram ser entretidas e ver um professor a dar vida a uma história é mágico.” Expressar surpresa, tristeza, raiva ou outras emoções relevantes nos momentos apropriados de um texto também pode ajudar a modelar - e a revelar - alguns dos temas e desenvolvimentos do enredo para os alunos mais novos, acrescenta.

O teatro também funciona para os alunos mais velhos. Torres, por exemplo, experimenta diferentes sotaques apropriados com os seus alunos do ensino secundário - como um afeto sulista enquanto lê To Kill a Mockingbird. “Não só mostra aos alunos que a leitura pode ser lúdica e imperfeita (as suas reações a diferentes vozes são sempre divertidas), como também ajuda a evocar o mundo do romance e a atrair o interesse pela história.”

A professora de inglês Chanea Bond disse à Edutopia que, quando lê Their Eyes Were Watching God, de Zora Neale Hurston, com os seus alunos do ensino secundário, estes têm muitas vezes dificuldade em compreender o dialeto sulista do romance. Embora ela própria não leia necessariamente em voz alta, fazer com que os seus alunos acompanhem uma versão em audiolivro gravada pela atriz Ruby Dee ajuda a trazer a história até aos alunos. “De repente, eles começam a perceber”, disse ela.

8. Ler em todo o currículo

Em 2023, o especialista em alfabetização Tim Shanahan disse à Edutopia que, no ensino secundário, os alunos deveriam aprender “as rotinas de leitura especializadas” das disciplinas que estudarão à medida que avançam para no ensino secundário e além. Isso envolve aprender não apenas como ler textos complexos, mas como lê-los como historiadores, matemáticos ou cientistas.

As leituras em voz alta podem ajudar os alunos a estudarem textos complexos e a tirarem mais partido deles do que se os lessem sozinhos. “Existe a ideia de que se praticarmos a leitura, vamos tornar-nos bons nisso”, disse Shanahan. “Mas quando se compara esse tipo de prática com o trabalho com um professor, os resultados são muito diferentes.”

Na sua sala de aula, isso pode ser feito através da leitura de textos históricos espinhosos, como a Declaração de Independência, ou de obras clássicas da literatura, como Macbeth de Shakespeare ou A Origem das Espécies de Darwin, antes de os alunos fazerem anotações e retirarem as suas próprias conclusões. Uma boa e fluente leitura em voz alta de um texto repleto de termos científicos - ou de floreados do inglês elisabetano - pode reduzir o atrito para os ouvintes mais jovens, quando o professor enfatiza o ritmo da linguagem; coloca a tónica adequada em frases-chave; e abranda o ritmo da leitura quando a linguagem se torna particularmente difícil.

Os alunos mais novos também beneficiam da leitura em voz alta em todos os domínios curriculares. Chelsea Miro, especialista em aprendizagem no ensino básico e secundário e ex-professora, escreve que a leitura de livros ilustrados sobre matemática para os alunos pode criar formas novas e “convidativas” de se envolverem com conceitos matemáticos, por exemplo. Um estudo de 2023 concorda, concluindo que os livros ilustrados de matemática melhoram o envolvimento dos alunos, ajudam os alunos a compreenderem melhor as representações matemáticas, como gráficos, e até aumentam o desempenho em tarefas como a contagem.

O texto deste artigo foi traduzido e publicado com a autorização da Edutopia:

Boryga, A. (2025). How to Make Read-Alouds Fun and Effective for All Ages. Edutopiahttps://www.edutopia.org/article/how-to-make-read-alouds-fun-and-effective-for-all-ages 

* Andrew Boryga

Sou um escritor, editor e educador que se preocupa profundamente em ajudar as crianças a terem acesso a um ensino básico e secundário de elevada qualidade. Os meus textos foram publicados no The New York Times, The New Yorker, The Atlantic e noutras publicações. No passado, também ensinei escrita a alunos do ensino básico, estudantes universitários e reclusos do sexo masculino. Nasci e cresci no Bronx, em Nova Iorque, e atualmente resido com a minha família em Miami, na Florida.

Nota: © Excecionalmente, por se tratar de uma tradução que careceu de autorização, este trabalho tem todos os direitos reservados.

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Seg | 24.02.25

As línguas são importantes: Orientação global sobre educação multilingue

2025-02-24.png

No dia 21 de fevereiro, a UNESCO celebrou o 25º aniversário do Dia Internacional da Língua Materna. Este ano marcou um quarto de século de esforços dedicados a preservar a diversidade linguística e promover o uso das línguas maternas na educação.

Para comemorar esse marco, a UNESCO lançou um novo relatório [1] que destaca a necessidade urgente de incluir o multilinguismo nos sistemas educativos para que as crianças aprendam num idioma que compreendam e falem fluentemente.

Vivemos num mundo onde se falam mais de 7.000 línguas, refletindo a vasta diversidade cultural e linguística da humanidade. No entanto, um quarto de bilião de alunos ainda não tem acesso à educação na língua que compreendem melhor, o que agrava a crise global de aprendizagem e compromete o crescimento económico e o desenvolvimento sustentável.

A educação multilingue é um caminho essencial para promover igualdade, inclusão social e desenvolvimento sustentável. Mas como funciona? Por que é tão importante? E como podemos implementá-la de forma eficaz? 
Este relatório explora estas questões.

O que é a educação multilingue?

A educação multilingue vai muito além do ensino de línguas como disciplinas escolares. Trata-se de utilizar duas ou mais línguas como meios de ensino, permitindo que os alunos aprendam numa língua que compreendem e dominam.

Segundo a UNESCO, a educação multilingue deve incluir três componentes principais:

  • Língua Materna (L1): A primeira língua do aluno, aquela que é falada em casa e com a qual ele tem maior familiaridade.
  • Língua Nacional ou Regional: A língua oficial ou amplamente falada no país ou região, promovendo coesão social.
  • Língua Internacional: Uma língua global, como o inglês, para garantir a integração económica e global dos alunos.

Esta abordagem não só melhora os resultados de aprendizagem, como também valoriza a identidade cultural e linguística dos alunos, promovendo o respeito pela diversidade.


Por que motivo a educação multilingue é importante?

1. Melhoria dos resultados de aprendizagem

Os estudos demonstram que as crianças aprendem melhor quando ensinadas numa língua que compreendem. Quando os alunos podem construir conhecimento na sua língua materna, eles desenvolvem competências de literacia mais fortes, o que cria uma base sólida para aprenderem outras línguas e disciplinas.

  • Literacia e linguagem: A alfabetização na língua materna ajuda os alunos a adquirirem competências de leitura e escrita de forma mais eficiente. Isso ocorre porque não precisam de aprender simultaneamente uma nova língua e um novo conteúdo.

  • Aprendizagem de outras disciplinas: O ensino na língua materna melhora o desempenho dos alunos em matemática, ciências e outras disciplinas, pois permite-lhes compreenderem plenamente os conceitos.

  • Aprendizagem ao longo da vida: Estudos mostram que alunos multilingues desenvolvem competências cognitivas superiores, como a resolução de problemas e o pensamento crítico, beneficiando-os ao longo da vida académica e profissional.

2. Inclusão e Igualdade

A educação multilingue é um instrumento poderoso para a inclusão social. Quando as crianças aprendem numa língua que compreendem, elas sentem-se mais confiantes e envolvidas na aprendizagem, o que reduz as taxas de abandono escolar e aumenta o desempenho académico.

  • Acesso à educação: Ao utilizar a língua materna como meio de instrução, a educação torna-se mais acessível para grupos marginalizados, como comunidades indígenas e minorias linguísticas.

  • Igualdade de género: Estudos demonstram que a educação multilingue contribui para a igualdade de género, especialmente em contextos onde as raparigas enfrentam barreiras culturais e linguísticas para frequentar a escola.

  • Inclusão de migrantes e refugiados: Para crianças migrantes e refugiadas, aprender na língua materna ajuda na integração social e no desenvolvimento de uma identidade cultural saudável, ao mesmo tempo que 

3. Preservação da Diversidade Cultural

A educação multilingue desempenha um papel crucial na preservação da diversidade linguística e cultural. Ao permitir que as crianças aprendam na sua língua materna, promove-se a revitalização de línguas ameaçadas, mantendo viva a cultura e a história de comunidades inteiras.

  • Identidade cultural e social: Quando as crianças aprendem na sua língua materna, elas mantêm um forte sentido de identidade cultural e respeito pelas suas raízes.

  • Revitalização de línguas ameaçadas: A UNESCO alerta que até 1.500 línguas podem desaparecer até ao final deste século. A educação multilingue ajuda a contrariar esta tendência.

  • Valorização da diversidade: Ao valorizar as línguas maternas e minoritárias, a educação multilingue promove o respeito pela diversidade cultural e combate a discriminação linguística.

4. Desenvolvimento Sustentável

A educação multilingue está diretamente ligada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU:

  • ODS 4 – Educação de qualidade: Ao melhorar o acesso à educação em línguas compreendidas pelos alunos, promove-se a qualidade e uma educação inclusiva e equitativa.

  • ODS 5 – Igualdade de género: A inclusão linguística empodera raparigas e mulheres de comunidades marginalizadas.

  • ODS 8 – Trabalho Digno e Crescimento Económico: A educação multilingue melhora as competências da força de trabalho, promovendo crescimento económico sustentável.

  • ODS 10 – Redução das Desigualdades: Ao promover a inclusão social e linguística, a educação multilíngue reduz as desigualdades sociais e económicas.

  • ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes: Ao valorizar a diversidade linguística e cultural, promove-se a coexistência pacífica e a coesão social.


Recomendações para Implementação

A implementação eficaz da educação multilingue requer um compromisso sistémico que vai além da simples introdução de línguas adicionais no currículo. Implica mudanças na política educativa, na formação de professores, na criação de materiais didáticos e na colaboração com comunidades locais.

A UNESCO apresenta um conjunto abrangente de recomendações para guiar governos, educadores e stakeholders na implementação de programas de educação multilingue que sejam inclusivos, eficazes e sustentáveis.

1. Desenvolvimento de políticas inclusivas

Para que a educação multilíngue tenha impacto, é essencial formalizar compromissos políticos e integrá-los em estruturas legais e políticas educativas nacionais. Isso garante que todos os alunos tenham o direito de aprender numa língua que compreendem. É necessário:

  • Incorporar direitos linguísticos na legislação educacional, assegurando que as línguas maternas sejam reconhecidas como línguas de instrução válidas.

  • Desenvolver políticas nacionais claras que definam as diretrizes para a educação multilíngue, especificando o uso das línguas maternas, nacionais e internacionais ao longo das várias fases do ensino.

  • Estabelecer parcerias intersetoriais, incluindo Ministérios da Educação, Cultura, Finanças e Organizações Não Governamentais (ONGs), para assegurar a sustentabilidade financeira e administrativa dos programas multilíngues.

2. Formação e capacitação de professores

A eficácia da educação multilingue depende da competência linguística e pedagógica dos professores. Eles devem não só ser fluentes nas línguas de ensino, mas também possuir estratégias pedagógicas específicas para ensinar em contextos multilingues. É necessário:

  • Recrutar e treinar professores bilingues ou multilingues, que tenham fluência tanto na língua materna dos alunos quanto na língua oficial de ensino.

  • Desenvolver programas de formação contínua (pré-serviço e em serviço) que capacitem os professores com: 
    o Competências pedagógicas diferenciadas, incluindo técnicas de imersão, transição e educação bicultural.
    o Métodos de ensino inclusivos, que valorizem a diversidade cultural e linguística.

  • Criar redes de apoio entre professores multilingues, promovendo a partilha de experiências, recursos e práticas inovadoras.

3. Desenvolvimento de materiais didáticos culturalmente relevantes

Um dos maiores desafios da educação multilingue é a falta de materiais didáticos adequados nas línguas maternas. Para promover a literacia e a aprendizagem significativa, é essencial desenvolver recursos pedagógicos culturalmente relevantes. É necessário:

  • Produzir materiais didáticos e currículos que reflitam o contexto cultural dos alunos, utilizando histórias, exemplos e referências culturais locais.

  • Utilizar tecnologias digitais para criar e distribuir conteúdos educativos em várias línguas, como e-books, vídeos educativos e aplicações móveis.

  • Promover a participação das comunidades locais na criação de conteúdos, garantindo que os materiais respeitem e valorizem as tradições culturais e linguísticas.

4. Integração no currículo

Para que a educação multilíngue seja eficaz, é necessário integrar as línguas maternas no currículo desde os primeiros anos, garantindo que o desenvolvimento da literacia comece na língua que as crianças dominam. É necessário:

  • Introduzir a língua materna como língua de ensino nos primeiros anos de escolaridade, fazendo uma transição gradual para línguas nacionais e internacionais.

  • Integrar a diversidade linguística e cultural em todas as disciplinas, utilizando abordagens como a aprendizagem baseada em conteúdos e línguas (CLIL).

  • Desenvolver estratégias de avaliação inclusivas, que avaliem as competências dos alunos nas várias línguas de ensino, garantindo que o desempenho académico seja medido de forma justa.

5. Envolvimento das comunidades locais e parcerias

O envolvimento das comunidades locais é essencial para o sucesso da educação multilingue. A participação ativa de pais, cuidadores e líderes comunitários fortalece o sentido de pertença e valoriza as línguas locais. É necessário:

  • Fomentar parcerias com pais e comunidades, encorajando o uso da língua materna em casa e promovendo atividades culturais que reforcem a identidade linguística.

  • Colaborar com organizações locais e internacionais, incluindo ONGs, universidades e agências de desenvolvimento, para partilhar recursos e conhecimentos técnicos.

  • Criar programas de sensibilização e advocacia, promovendo a importância da educação multilingue junto da sociedade e desmistificando preconceitos sobre o multilinguismo.

6. Monitoração e avaliação contínuas

Para garantir a qualidade e sustentabilidade da educação multilingue, é crucial implementar sistemas robustos de monitorização e avaliação que analisem o impacto nos resultados de aprendizagem, inclusão e coesão social. É necessário:

  • Realizar análises situacionais e estudos de base para entender o contexto sociolinguístico e as necessidades educativas específicas.

  • Implementar mecanismos de monitorização contínua para avaliar a eficácia dos programas e fazer ajustes conforme necessário.

  • Utilizar dados para advocacy e planeamento, promovendo políticas baseadas em evidências e garantindo a alocação de recursos adequada.


Um Investimento no futuro

Implementar a educação multilingue de forma eficaz exige um compromisso holístico e sustentável. Ao adotar as recomendações deste relatório, os países podem promover a inclusão social, melhorar os resultados educativos e contribuir para o desenvolvimento sustentável, preparando os alunos para um mundo interconectado e diversificado.

Investir na educação multilingue não é apenas uma questão de justiça social, mas também um investimento económico inteligente. Comprovadamente, melhora os resultados educativos, promove a coesão social e contribui para o desenvolvimento sustentável.

Ao promover o respeito pela diversidade linguística e cultural, a educação multilingue prepara os alunos para um mundo interconectado e global, onde as diferenças são vistas como forças e não como barreiras.

Referência
[1] UNESCO. (2025). Languages matter: Global guidance on multilingual education. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. https://doi.org/10.54675/MLIO7101 

 

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Sex | 21.02.25

IFLA: uma agenda de competências essenciais para o futuro das bibliotecas 

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O relatório A Skills Agenda for the Trend Report complementa o Relatório de Tendências da IFLA, partilhando um conjunto de áreas nas quais deveríamos concentrar-nos para garantir a máxima preparação para o que o futuro possa trazer.

Para identificar as competências que serão mais relevantes no futuro, os líderes emergentes participantes do IFLA Information Futures Summit , realizado em Brisbane, Austrália, de 30 de setembro a 2 de outubro, realizaram um workshop. Este workshop foi baseado no próprio Relatório de Tendências e nas discussões realizadas durante a cúpula, permitindo explorar e definir uma agenda de competências para o futuro das bibliotecas. Os participantes colaboraram depois on-line para transformar essas reflexões num documento abrangente, concebido como um guia e ponto de partida para futuras conversas dentro do setor.

Assim, o relatório apresenta uma agenda de competências essenciais para o futuro do trabalho em bibliotecas, com base nas tendências identificadas no Relatório de Tendências da IFLA. O documento agrupa as competências em três domínios principais: competências práticas, competências de parceria e competências de desenvolvimento pessoal.

Competências Práticas

  1. Programação Básica: Conhecimento fundamental de linguagens como Python e R para auxiliar no apoio a utilizadores e na automatização de tarefas biblioteconómicas. Esta competência permite compreender o funcionamento de aplicações digitais, criar pequenas soluções tecnológicas para melhorar os serviços e apoiar os utilizadores em atividades relacionadas com a programação.

  2. Literacia em Inteligência Artificial: Compreensão básica de conceitos como aprendizagem automática e processamento de linguagem natural, permitindo o uso de ferramentas como chatbots e assistentes virtuais para melhorar os serviços da biblioteca. O domínio desta competência ajuda a utilizar sistemas de recomendação e otimizar a pesquisa de informação.

  3. Literacia em Privacidade: Capacidade de proteger informações pessoais e orientar os utilizadores sobre boas práticas de privacidade em ambientes digitais. Inclui o conhecimento sobre legislações de proteção de dados, como o RGPD, e a capacidade de identificar riscos de segurança online.

  4. Literacia em Comunicação Científica: Entender os processos de publicação académica, incluindo acesso aberto e direitos de autor. Esta competência é fundamental para apoiar investigadores e estudantes na navegação pelo ecossistema da ciência aberta.

  5. Gestão de Projetos: Planear, executar e avaliar projetos para a implementação de novos serviços e iniciativas. Abrange a utilização de ferramentas como diagramas de Gantt e metodologias ágeis para garantir o sucesso das iniciativas.

  6. Literacia Informacional e Mediática: Capacitar os utilizadores para a análise crítica da informação e o combate à desinformação. Implica ensinar estratégias para verificar a veracidade das fontes e compreender o impacto das redes sociais na disseminação de (des)informação.

  7. Gestão da Informação: Gerir recursos de informação de forma ética e eficiente, considerando o desenvolvimento de políticas de gestão de dados e a organização de coleções físicas e digitais.

Competências de Parceria

  1. Advocacy, Extensão, Marketing e Comunicação: Promover o valor das bibliotecas e envolver comunidades diversificadas. Inclui o desenvolvimento de campanhas de sensibilização, a utilização de ferramentas de marketing digital e a criação de parcerias estratégicas.

  2. Competências de Negociação e Relacionamento Interpessoal: Estabelecer e manter relações de cooperação com stakeholders e parceiros. Envolve a capacidade de comunicar de forma clara, ouvir ativamente e encontrar soluções benéficas para todas as partes envolvidas.

  3. Construção de Comunidades, Colaboração e Trabalho em rede: Criar redes de apoio e colaboração para troca de conhecimentos e recursos. Esta competência passa por identificar atores relevantes no setor e criar sinergias para o desenvolvimento de projetos comuns.

  4. Gestão da Mudança: Lidar com transformações organizacionais e tecnológicas de maneira proativa. Implica a capacidade de antecipar tendências, comunicar eficazmente a necessidade de mudança e envolver as equipas no processo.

  5. Pedagogia e Ensino: Desempenhar um papel ativo na formação de utilizadores e no desenvolvimento de competências informacionais. Exige o conhecimento de métodos de ensino eficazes e a capacidade de adaptar os conteúdos a diferentes públicos.

  6. Consciência Cultural: Reconhecer e respeitar a diversidade cultural nas interações e serviços de biblioteca. Implica a compreensão das necessidades específicas de comunidades diversas e a criação de serviços inclusivos.

Competências de Desenvolvimento Pessoal

  1. Mentalidade de Crescimento e Resiliência: Estar disposto a aprender continuamente e a adaptar-se a novos cenários. Envolve a capacidade de lidar com desafios, aprender com os erros e procurar ativamente novas oportunidades de crescimento.

  2. Empatia e Inteligência Emocional: Compreender e atender às necessidades dos utilizadores. Inclui a capacidade de reconhecer e gerir as próprias emoções e de compreender os sentimentos dos outros.

  3. Pensamento Crítico e Inovador: Analisar criticamente tendências e propor soluções criativas. Esta competência é fundamental para questionar práticas estabelecidas e introduzir melhorias nos serviços prestados.

  4. Liderança Colaborativa: Inspirar e motivar equipas na busca por objetivos comuns. Implica a capacidade de promover a cooperação, valorizar as contribuições de todos os membros e orientar a equipa para o sucesso.

  5. Autonomia e Proatividade: Tomar iniciativas de melhoria e inovação nos serviços biblioteconómicos. Esta competência exige uma atitude proativa e a confiança para implementar novas ideias de forma independente.

Com esta agenda, a IFLA convida os profissionais de bibliotecas a refletirem e agirem. O relatório destaca que a preparação para o futuro passa pelo investimento em formação contínua e pela colaboração com outras instituições e setores. O desenvolvimento destas competências permitirá aos bibliotecários e profissionais da informação enfrentarem os desafios emergentes e aproveitarem as oportunidades de um mundo em constante mudança. Só assim as bibliotecas permanecerão espaços dinâmicos, inclusivos e resilientes.

Referência

International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA). (2024, 6 de fevereiro). A skills agenda for the trend report. https://www.ifla.org/news/a-skills-agenda-for-the-trend-report/

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Qui | 20.02.25

Fomentar o gosto pela leitura

por Thomas Courtney*

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Veja como este professor usa um programa baseado em recompensas para ajudar tanto os leitores motivados como os relutantes a criarem o hábito de ler.

Agora que já leciono há 25 anos, os miúdos voltam a visitar-me quando são adultos. Qual é a primeira coisa que me dizem?

“Sr. Courtney, ensinou-me a gostar de ler. Obrigado.”

A forma como aprendi a incutir o gosto pela leitura, mesmo quando a escola não a promove, é estabelecendo e incentivando a leitura de tal forma que nenhuma criança deixe o seu livro para trás. Ao fazê-lo, não só promovo o gosto pela leitura, como também crio uma cultura de sala de aula que se tornou fundamental para quem sou como professor. Aqui está um guia de como o fazer em qualquer nível de ensino.

Estabeleça as condições corretas

Um ótimo programa de leitura independente requer muito menos do que se pensa. No mínimo, são necessárias apenas algumas coisas: uma pequena parte do tempo de aula, livros de vários níveis e um ambiente tranquilo.
Eu gosto de ir mais longe do que Kelly Gallagher explica em Readicide: dar à minha turma um “banho de livros”. Faço compras em vendas de garagem e feiras de trocas, recolho donativos e aceito livros de amigos. Sempre que me dão dinheiro para material, guardo algum para os melhores livros novos. Quando não há mais dinheiro, faço acordos com o bibliotecário para pedir livros emprestados por um período de tempo alargado.

Coloco todos os tipos de livros em exposição para os meus alunos do sexto ano, desde textos com personagens diversas a romances gráficos de grande interesse, banda desenhada e livros de capítulos populares. Muitos dos meus alunos adolescentes têm interesses maduros, incluindo romances para jovens adultos e, especialmente, séries sobre lares problemáticos. Para os leitores relutantes, certifico-me de que tenho livros sobre jogos de vídeo atuais, séries animadas e desenhos animados. Acho que isto funciona mesmo na escola secundária.

Acima de tudo, faça duas coisas: Certifique-se de que os alunos gostam dos seus livros e de que os conseguem ler de forma autónoma.

Leia com o tempo que tem

Não conheço um único professor que não desse mais tempo de leitura independente aos seus alunos se não se sentisse pressionado a ensinar outras coisas. Eu conheço bem essa sensação. Aprendi que não é preciso muito tempo para estabelecer uma rotina de leitura que se estenda para fora da sala de aula. Depois de me certificar de que os alunos têm um livro que adoram e um livro que conseguem ler, monto a minha famosa “Estação de Leitura Única”. Qualquer pessoa que se tenha esquecido de um livro ou que precise de ser mudado pode encontrar ali algo que a ajude até eu poder falar com ela e mudar o livro.

Dou apenas oito a dez minutos de tempo de leitura aos alunos no início de um período (leciono no ensino secundário). O segredo é terminar o período de leitura antes de eles quererem parar. Quer ouvi-los dizer “Ahhhhhh”. Essa é a sua dica de que está a funcionar - já fiz isto desde o jardim de infância até ao oitavo ano.

A cada semana, mais ou menos, aumente o tempo em alguns minutos. Faça com que eles queiram mais tempo para ler. No final do ano, terá aumentado a sua resistência à leitura, o que poucos alunos têm desde a Covid.
Não se esqueça de partilhar - ou, melhor ainda, de deixar os alunos partilharem - pequenos excertos das suas partes favoritas do livro. Por vezes, basta deixá-los falar sobre os seus livros em grupo para que um miúdo consiga convencer um vizinho a ler algo novo. No final de cada período de leitura, lembre às crianças que devem guardar os livros nas mochilas para os levarem para casa. Se utilizar o ClassDojo ou outra forma de contactar os pais, não se esqueça de enviar também lembretes de leitura para casa. Ficará surpreendido com o quanto os alunos lêem para além da sala de aula, especialmente os leitores avançados.

Convide a uma competição amigável

Agora que já estabeleceu a rotina, é altura de medir e avaliar.

Para o fazer sem me esforçar muito, crio uma competição mensal baseada no programa Accelerated Reader. Há outros programas de controlo de leitura disponíveis, mas prefiro este porque quase todos os livros fazem parte do seu sistema. O custo é de cerca de 4 dólares por aluno. Poderá ter de consultar o conselho local da escola, o diretor e outros colegas para obter financiamento, mas vale a pena. Os miúdos lêem livros e depois fazem um teste rápido online. O sistema de pontos regista tanto os livros ilustrados como os livros de capítulos. Ao longo dos anos, tenho ouvido queixas de professores sobre alunos que lêem livros ilustrados e que poderiam ler livros de capítulos. A minha resposta é simples: Atualmente, é melhor os miúdos lerem qualquer livro do que nenhum livro.

À medida que os pontos do Accelerated Reader vão chegando, pode acompanhar quem está a ler e o que está a ler. Melhor ainda, pode observar a compreensão dos alunos de textos nivelados em diferentes vertentes de compreensão e selecionar grupos com base em necessidades semelhantes.

Crie um incentivo

Agora que já desenvolveu uma rotina de leitura bem estabelecida, é altura de incentivar.

Eu crio um prémio mensal que alguns dos alunos podem alcançar. Pode fazer praticamente tudo para criar uma grande competição, mas, para mim, não há nada como o prémio comunitário mensal do Sr. Courtney. Os alunos da minha turma que lêem uma determinada quantidade de livros podem participar no Ice Cream Social do Sr. Courtney, na Noite de Patinagem no Gelo do Sr. Courtney, na Noite Opcional do Aluno na Ópera do Sr. Courtney e até na Caminhada na Montanha Cowles do Sr. Courtney. Cada evento não me custa quase nada, uma vez que o prémio é a possibilidade de os alunos irem a estes eventos com as suas famílias. Todos os meses, para além de criar o gosto pela leitura, tenho a oportunidade de me encontrar informalmente com as famílias dos alunos e fazer algo divertido. O prémio comunitário faz parte de um programa de escolas comunitárias e tem o apoio total da administração da minha escola.

Independentemente dos prémios que escolher, não se esqueça de seguir algumas regras básicas:

  1. Nunca acumule pontos mês a mês. Uma criança em setembro com dois pontos não vai competir em abril por um prémio que exige 80 pontos.
  2. Ajude os leitores com dificuldades, permitindo-lhes fazer exames sobre os livros que lê com eles ou para eles na aula. Isto ajuda-os a ver que conseguem ler e compreender o texto e encoraja-os a fazê-lo sozinhos.

  3. Nunca lhes retire pontos e nunca utilize a leitura como castigo.

Contagie outros

Agora que já estabeleceu e incentivou um programa de leitura independente divertido, cativante e gratificante, passe-o adiante. Todos os anos, fico sempre espantado com o número de pais que continuam a incentivar a leitura em casa depois de os seus filhos terem experimentado a prática na minha turma. Talvez isto não seja algo que me deva surpreender. Afinal de contas, o nosso trabalho, em parte, sempre foi criar o gosto pela leitura. Apenas opto por o fazer oferecendo o que as crianças adoram: diversão.

 

O texto deste artigo foi traduzido e publicado com a autorização da Edutopia:

Courtney, T. (2024, 29 de agosto). One Way to Foster a Love of Reading. Edutopiahttps://www.edutopia.org/article/using-incentives-encourage-reading-school 

📷 Imagem criada com https://www.rawpixel.com/ 


* Thomas Courtney

É um professor com 25 anos de experiência, tendo sido Professor do Ano do Distrito Escolar Unificado de San Diego e Professor do Ano do Guia da Universidade Estatal de San Diego. Atualmente, ensina ciências humanas do sexto ano, artes da língua inglesa e desenvolvimento da língua inglesa na Millennial Tech Middle School, uma escola pública de nível 1 no sudeste de San Diego.

Nota: © Excecionalmente, por se tratar de uma tradução que careceu de autorização, este trabalho tem todos os direitos reservados.

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Qua | 19.02.25

Todos Juntos Podemos Ler

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Uma das prioridades da Biblioteca Escolar é a promoção: da leitura, da curiosidade e do desejo de ler. Desenvolver nas crianças e jovens o gosto pelo livro e pela leitura. As atividades que a biblioteca promove devem ser bastante diversificadas porque os públicos são diversos e com experiências muito diferentes. Em primeiro lugar é necessário conhecer bem as crianças e jovens com quem trabalhamos, para ir ao encontro daqueles que ainda não foram cativados pelo livro ou que o deixaram para trás para dar prioridade a outras atividades mais apelativas. Atrair novos leitores ou resgatar os que já gostaram de ler, implica diversificar estratégias e atividades de acordo com o interesse do púbico alvo. Implica trabalhar a leitura de forma criativa, incentivar sua regularidade e mostrar o prazer que ela nos pode proporcionar.

A iniciativa “Todos Juntos Podemos Ler” é uma iniciativa que promove a prática da leitura. E da qual o Agrupamento nº2 de Elvas faz parte com a dinamização do projeto Ler, cantar, recriar, animar – Histórias plurais. Este projeto pretende criar melhores condições para o desenvolvimento das aprendizagens e integração de crianças, migrantes e com necessidades de apoio educativo e inclusão. Têm sido muitas e diversificadas as atividades desenvolvidas para fomentar: a prática da leitura, da escrita e da oralidade; a inclusão de alunos e a interculturalidade.

Foi no âmbito deste projeto, que no passado dia 7 de fevereiro, se realizou um Atelier de coro de leitura com a atriz Cristina Paiva, da Andante Associação Artística.

A Andante é uma companhia de teatro que se dedica exclusivamente à promoção da leitura. Esta atividade decorreu ao longo do dia e contou com três momentos. Uma parte em que se trabalharam estratégias e técnicas de abordagem à leitura coral, outra parte de construção de uma leitura em coro pelo grupo, e por último a apresentação do trabalho realizado aos familiares dos alunos envolvidos e outros elementos da comunidade escolar. Na atividade participaram alunos, professores, professoras bibliotecárias e pessoas ligadas à promoção da leitura em instituições culturais do concelho. Todos juntos lemos! E com uma grande profissional da representação sentimos a magia da leitura e da animação do texto. Com esta experiência testemunhamos que a poesia é música, é emoção, é jogo cerebral, é imagem, é brincadeira, é jogo físico e estabelece uma rápida relação com a memória, conforme é referido na página da Andante.

Foi, na verdade, uma experiência muito rica que nos proporcionou momentos de leitura, de aprendizagem, de alegria e boa disposição, e ainda, nos conseguiu cativar para uma outra forma de ler; a leitura em coro. É uma boa forma de todos juntos podermos ler!

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Ter | 18.02.25

Porque precisamos de bibliotecas mais do que nunca

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O título desta reflexão tem como base um texto de opinião do website “MuseumNext®” intitulado Why We Need Museums Now More Than Ever — The Importance of Museums, por Rebecca Carlsson. (1)

Os argumentos apresentados aplicam-se ao nosso universo: as bibliotecas escolares. De facto, museus e bibliotecas têm um tronco comum, desde logo serem instituições consideradas credíveis pelo público, albergando acervos que preservam e catalogam e selecionando e disponibilizando património cultural que engloba inúmeras áreas do conhecimento.

A responsabilidade de quem toma a seu cargo uma biblioteca escolar acresce, considerando o seu público-alvo – crianças e jovens em processo de formação pessoal, uma fase decisiva para a aquisição de valores como liberdade e responsabilidade, equidade, diversidade e inclusão, aprendendo a colaborar e a participar, a caminho de uma cidadania plena. (2)

Carlsson remete para o papel fundamental das instituições culturais nos tempos conturbados em que vivemos, considerando-as verdadeiras “âncoras na tempestade”.

A defesa desta asserção está nos vários os domínios da nossa sociedade (IFLA -  Estratégia para 2024-2029): trabalhar em conjunto para assegurar futuros sustentáveis para todos, através do conhecimento e da informação. (3)

Urge informar, refletir, agir e transformar, recuperando a paz social, reforçando a solidariedade e a tolerância, criando pontes e assegurando o direito inalienável à verdade dos factos e ao livre-arbítrio.

Aprender com o passado

O conhecimento da História contribui para a compreensão dos acontecimentos que conduziram à atualidade e dá-nos uma perspetiva do caminho percorrido pela humanidade, nas suas conquistas, no seu esplendor, nos seus momentos admiráveis, mas também nas suas misérias, nas suas tragédias, nos seus momentos sombrios. A nossa espécie, capaz do melhor e do pior, não cessa de nos surpreender, pela positiva ou pela negativa.

Apesar da impossibilidade de atingir um nível de objetividade e fidelidade absolutos quanto ao estudo do passado, não será, de todo, avisado, encobrir, desacreditar ou desvirtuar acontecimentos devidamente documentados.

Seria como tentar construir ‘a casa comum’ a partir do telhado. Facilmente se adivinha o que acontecerá a uma sociedade que acredite nesta solução como uma possibilidade viável…

Sem a preservação e o respeito pela memória, ficaremos vulneráveis a toda e qualquer versão dos acontecimentos e a ‘verdade’ torna-se algo tão instável e imprevisível como uma folha esvoaçando, à mercê do vento.

Compreender o presente

Ser professor hoje acarreta, talvez, um dos maiores desafios de sempre, desde a massificação e a democratização do ensino.

Com as dificuldades e os obstáculos conhecidos, a docência é uma carreira pouco atrativa para os jovens candidatos ao mercado de trabalho. Sucessivas políticas de redução de custos em educação têm causado graves problemas a todo o sistema, que engloba os recursos humanos e materiais necessários ao funcionamento das bibliotecas escolares, o ‘coração’ da construção do conhecimento na escola.

Contudo, um bom desafio pode constituir um catalisador para a ação. Há que assumir um papel transformador e de liderança, pois os nossos alunos encontram-se hoje sem mecanismos de defesa perante a manipulação da informação (desinformação/ notícias falsas) por parte dos gigantes da world wide web, apoiados pelo poder em roda livre e pelo desejo desenfreado de obtenção de lucros astronómicos.

As redes sociais, tão amplamente utilizadas por crianças e jovens, carecem de regulação adequada, que, cada vez mais, será difícil implementar com a devida segurança, devido aos inesgotáveis algoritmos da Inteligência Artificial, que comprometem valores que defendemos enquanto sociedade.

As bibliotecas escolares têm agora um papel decisivo no acompanhamento dos alunos, ajudando-os a distinguir o trigo do joio e a criar bases sólidas para uma cidadania responsável, formados e informados e capazes de ler nas entrelinhas e desmontar as promessas vãs de quem não tem qualquer intenção de lhes proporcionar uma vida digna e promissora, lutando contra a tendência para o fenómeno de ‘desligamento’ a que alguns chamam “condição sonâmbula”. (4)

Perspetivar o futuro

Marina Hyde, colunista do jornal britânico The Guardian, no seu artigo No, the kids are really not all right. Honestly, can you blame them? (5), alerta para fenómenos como as altas percentagens de jovens e adultos, sobretudo a geração Z, que tende a defender regimes políticos baseados em figuras ‘fortes’ que liderem o país sem passarem por escrutínios ou responderem a um parlamento eleito democraticamente. Mostram-se favoráveis ao incremento das forças armadas, esquecendo o facto de serem eles próprios a engrossar as fileiras… Ao mesmo tempo, cada vez mais jovens participam em distúrbios racistas ou extremistas, sem terem, realmente, convicções de qualquer natureza.

O que tem corrido mal? Onde falhámos? Que hipóteses existem ainda para obviar a males maiores?

Hyde atribui grande quota-parte de responsabilidade às gerações anteriores, os que têm comandado os destinos do mundo geopolítico. Cegos a tudo o que não seja poder e riqueza, governos alegadamente bem intencionados sucedem-se, ‘gerindo’ o bem comum com displicência e pouca seriedade, sem pudor ou ética.

Os resultados estão à vista de todos. A cor do dinheiro impera, os valores definham e empurram-se os problemas globais para a geração seguinte. Até quando será esta situação sustentável?

Referências

  1. Carlson, R. (2024). Why We Need Museums Now More Than Ever — The Importance of Museums. https://www.museumnext.com/article/why-we-need-museums-now-more-than-ever/
  2. Rede de Bibliotecas Escolares. (2021). Bibliotecas Escolares: presentes para o futuro. Programa Rede de Bibliotecas Escolares: Quadro estratégico: 2021-2027. https://www.rbe.mec.pt/np4/qe.html 
  3. IFLA. (2024). IFLA Strategy 2024-2029.  IFLA Publications. https://repository.ifla.org/server/api/core/bitstreams/c4471267-0bbe-4499-9ee1-293be9420bbd/content 
  4. Guerreiro, A. (2025, 7 de fevereiro). A condição sonâmbula. Público. https://www.publico.pt/2025/02/07/culturaipsilon/opiniao/condicao-sonambula-2121208 
  5. Hyde, M. (2025). No, the kids are really not all right. Honestly, can you blame them? The Guardian. https://www.theguardian.com/commentisfree/2025/jan/28/generation-z-dictators-better-than-democracy-uk

📷 Imagem de pencil parker por Pixabay (adaptada).

Leia também

Porque é que o nosso futuro depende das bibliotecas, da leitura e de sonharmos acordados

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Seg | 17.02.25

Revisitamos Rita Taborda Duarte

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Aos 12 anos escreveu o primeiro poema e enviou-o para o DN Jovem. A resposta do editor do jornal foi "não gostámos lá muito mas continua a tentar." E foi isso mesmo que Rita Taborda Duarte fez. Continou a escrever e a partir dos 15 começou a publicar regularmente poemas e contos. Não sabe muito bem explicar quer o prazer da escrita quer o prazer da leitura mas sabe identificar-lhes a origem: "por ter crescido numa casa onde os livros estavam pelo chão e faziam parte da normalidade, contribuiu para que lesse e escrevesse".
In Jornal Expresso, janeiro de 2015

Fechado para Balanço é um poema de Rita Taborda Duarte [1] que nos revela a seguinte confissão:

(…)
Trazemos, então, o livro dos registos
e fazemos contabilidade, noite dentro.
Não sei como serão outros amores
mas o nosso é um longo livro nocturno dividido
em deves     em haveres      por um leve traço a sépia debotado.
Rasuramos e apagamos e voltamos a somar,
passamos cheques, recolhemos dividendos:
numa matemática cega, sem mais valias;
que nunca vão certas as contas deste amor.
(…) 

Nas bibliotecas escolares, só  perto dos meses quentes do verão, se poderá fechar para balanço. Agora, é tempo de ter as portas abertas e convidar todos a entrar e, juntos, descobrirmos  escritores, poetas, ensaístas…  Nós, leitores, andamos sempre em busca de novas descobertas, de um novo autor ou um título desconhecido.

Desta vez revisitamos a obra da Rita Taborda Duarte e (re)descobrimos:  a beleza e o humor nas palavras, a descontrução de conceitos e de esterótipos, a linguagem melódica e ritmada, jogos de palavras,  como de uma brincadeira se tratasse, mas também histórias questionadoras, e magistralmente bem narradas, muita emoção e amores que vagueiam nos poemas, uns mais longos outros mais curtos. Haverá melhor razão para entrar  na biblioteca e aceitar o desafio da descoberta? É certo que nas estantes da biblioteca, muitos são os títulos escritos por Rita Taborda Duarte. Poesia e contos para crianças e jovens constituem a maioria da obra da autora que, muitos de nós, já (re)lemos e demos a ler.

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Gaspar, com os pés bem assentes na Lua é o título mais recente da Rita, magnificamente ilustrado pelo Sebastião Peixoto [2], que nos dá a conhecer Gaspar, um jovem que conhecia a lua como ninguém, que sabia que “ela, traiçoeira, nos espiava quando sobrevoava as nossas cabeças, aguardando o momento certo para atacar as suas presas.” A avó achava que “ele estava aluado” e a restante familia e amigos

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Todos pensavam que a lua não não lhe estava a fazer bem à cabeça, era evidente o seu mal estar, pois “ mal comia, cada vez mais pálido, de olhos meio tortos. Cada vez mais magrinho, que mais parecia, não um pau, mas um fio fininhoe branquelas de virar tripas.”
Ler Gaspar, com os pés bem assentes na Lua é compreender a biodiversidade do mundo, mas é essencialmente aceitar o poder, o valor das palavras e importância de combater o empobrecimento vocabular, quer dizer é homenagear a PALAVRODIVERSIDADE.

Haverá melhor forma de glorificar a palavra do que ir frequentemente à biblioteca e descobrir novos livros povoados por tantas palavras diferentes?
Corre, corre à biblioteca e verifica se este novo livro da Rita Taborda Duarte já está disponível.

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Em 2003, Rita Taborda Duarte, vence o Prémio Branquinho da Fonseca, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo semanário Expresso, com o original A Verdadeira História de Alice e desde essa data tem publicado regularmente para crianças e jovens. Sabemos que este é um livro que marca presença em muitas bibliotecas escolares e que continua a encantar os leitores mais jovens.

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Todas, quase todas, as pessoas pequenas quando crescem se transformam em pessoas grandes e só muito poucas se tornam grandes pessoas. Como a Alice. Mas, antes de ser uma grande pes soa grande, Alice já fora uma grande pequena pessoa. Por isso, quando cresceu continuou a ver os olhos verde-escuros quase terra das formigas. A diferença é que agora os via com os seus olhos grandes de grande pessoa que também conseguia distinguir a pupila azul-celeste-quase-céu nos mesmos olhos verde-escuro-quase-terra das formigas. E os seus dedos ficaram tão compridos que tornavam perto as coisas que estavam muito longe. E muitas vezes se via a Alice ir buscar uma gota de céu às nuvens e um fósforo de luz ao Sol. [...] "

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É que há tantos modos de contar o tempo… porque o tempo, mesmo o que parece aprisionado nos mostradores dos relógios, não é todo igual: eu até vi minutos-lesmas mais lentos do que muitas décadas e anos que passarinhavam por aí num segundo supersónico, à velocidade de quem voa. (…) Ora, este país de que falo dividia a sua história mais recente em duas metades bem diferentes: a vida lenta e lerda antes do 25 de abril e a de depois do 25 de abril.” 

Rita Taborda Duarte, nasceu em Lisboa, em 1973,  num tempo onde a palavra “abrilar” era oca, sem significado. Sempre!  é um livro, da coleção Missão Democracia [3], que nos dá a conhecer a palavra “abrilar” e conta-nos a história do nascimento de duas novas vidas: a de uma criança e a de um país. 

Nas entrelinhas de Sempre! estão escondidos poemas e canções, alerta-nos a autora. Eis, outro desafio para abraçar… Vamos descobrir esses poemas e cantar ou simplesmente  escutar essas canções?

O mês de abril aproxima-se. Será que as bibliotecas escolares vão abrilar?

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Já imaginaram um leão sem juba, um elefante que não tinha tromba e uma casa sem telhado? E se esta história não começasse por “ Era uma vez”?

Fica a sugestão para ler, em voz alta, para e com os jovens, este magnífico livro e, juntos, dar asas à imaginação. E se a biblioteca escolar organizasse um atelier de escrita criativa ou de ilustração inspirado nesta leitura?

As ilustrações de Rachel Caiano [4] são primorosas!

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Rita Taborda Duarte sabe (des)construir as ideias e lançar desafios para pensar e dialogar.

Desta vez, o tema é o Pai Natal? Será que não existe? Não existe? Será possível? Não será este um belíssimo tema para dialogar? Quem apresenta argumentos a favor? E quem apresenta as respetivas objeções?

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O tempo: não é bem uma pessoa, como nós, porque tem asas e voa. No entanto, vai tendo a sua vidinha e o seu trabalho certo. No fundo, é um trabalho que não tem assim tanto que saber: basta passar pelas pessoas e envelhecê-las. A verdade é que o tempo tem pressa de fazer o seu trabalho, por isso anda sempre a correr ( como nós quando fazemos os trabalhos de casas). Há quem diga que ele é dinheiro. No entanto, nunca se viu ninguém trocá-lo por uma caixa de gelados em nenhum centro comercial."

Afinal, o que é o tempo? O tempo tem asas? É verdade que o tempo tem pressa?

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Saltando de ideia em ideia, pulando de verso em verso, vamos olhar para o mundo pelo seu lado reverso e conhecer a bicharada, que mora lá num cantinho, entre as rimas da poesia e os nossos pensamentos. E se olharmos com cautela, descobrimos as elefantigas, misto de elefante e formigas que nem se vêem a olho nu, um camarito rosado ou girafeus cangurus.”

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«ROTURAS E LIGAMENTOS, livro do corpo, livro-corpo, de Rita Taborda Duarte e de André da Loba [5], pode ser lido como um itinerário de articulações, as mais aparentes e as mais profundas, as que conectam os ossos e as que são subjacentes ao discurso e ao desenho, conferindo-lhes uma relação de sequencialidade ou de especificação semântica. Religam-se nomes, dispõem-se verbos, conjugam-se palavras, letras, sílabas, atribui-se uma função representativa à linguagem, que destapa uma rede de significações (…) Centrais nesta reflexão dir-se-iam a ideia de resistência de um corpo, da mente e do espírito, e o esforço do equilíbrio, mais bem suportado porque a imaginação tem o dom da ubiquidade e é ágil enquanto centro de acção e movimento.»

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«Não Desfazendo reúne vinte e cinco anos de poesia, da Rita Taborda Duarte, e inclui um livro inédito: Uma Pedra na Boca. No decurso dos seus poemas, «a linguagem, contra toda a verosimilhança, perde peso, gravidade e circula livremente no ar, permitindo uma outra geometria e geografia [e] inversão das Coordenadas (e hierarquias) de orientação no espaço (fazendo com que se possa dizer que, “afeiçoad[os] à mão/ e com o impulso certo”, sabe-se de poemas que “subiam mais alto ainda que muitos pássaros”» [do posfácio de Fernando Guerreiro].»

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O Modo de Vida
SEGUNDA

Uma palavra não dita vale um silêncio duas vezes mais pesado.

Era o que pensava antes de decidir o dizer pelo não dizer. Por isso, falar significava calcular a solidez de uma palavra (o artigo… o advérbio) de modo a saber se o espaço, o momento em questão, suportaria determinada massa de silêncio.

Desde muito cedo aprendera a medi-la, às palavras. E pesava-as; pouco tempo antes de permanecer calado.”

In Não Desfazendo, pág. 407

Outros livros de Rita Taborda Duarte

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Notas

  1. Rita Taborda Duarte, nasceu em Lisboa, em 1973. É professora adjunta convidada na Escola Superior de Comunicação Social. Faz crítica de poesia e ensaio em diversas publicações da especialidade (Relâmpago, Colóquio–Letras, etc.). Desde 2010 que é membro da Comissão de Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian, publicando com assiduidade no site Rol de Livros da mesma instituição (www.leitura.gulbenkian.pt).

  2. Sebastião Peixoto nasceu em 1972, em Braga. É licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Trabalha como ilustrador freelancer, colaborando com várias editoras nacionais e internacionais. Tem mais de vinte títulos infantojuvenis publicados e diversas participações em fanzines, revistas e jornais. Integrou duas mostras no âmbito da Seoul Illustration Fair, tendo, noutra edição, em 2017, ganhado a medalha de ouro do Thesif Award.

  3. Ver o artigo Tempo para Ler , no Blogue RBE, publicado no dia 06.02.24 ( https://blogue.rbe.mec.pt/missao-democracia-2810694 ) e espreitar a coleção completa em https://livraria.parlamento.pt/collections/missao-democracia

  4. Rachel Caiano, artista plástica e ilustradora, com formação em artes do palco, tem vindo a desenvolver projetos nas áreas da pintura, cenografia e ilustração. Finalista do Prémio Jovens Criadores 2007, alguns dos seus livros constam da exposição «The White Ravens», uma seleção internacional. Ilustrou mais de 30 livros de diferentes géneros publicados Portugal, Brasil, Espanha e Angola. Promove workshops e masterclasses de ilustração e educação pela arte em escolas e bibliotecas.

  5. André da Loba nasceu em Portugal e é um artista publicado e exposto cujo trabalho recebeu reconhecimento internacional. Como ilustrador, animador, designer gráfico, escultor e educador, a combinação de curiosidade, experiência, conhecimento e desconhecimento de André serve como o meio constante com o qual ele cria e inspira. O seu trabalho é um convite e um desafio para mudar o mundo, não importa quão grande ou pequeno ele seja.

📷 Rita Taborda Duarte: Nealmarques, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons

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* Júlia Martins

Acredita no poder da leitura. Dar a ler é um desafio que gosta de abraçar. É leitora e frequenta, de forma assídua, Clubes de Leitura. Saiba mais

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Sex | 14.02.25

Novos Horizontes da Inteligência Artificial nas Bibliotecas

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A obra New Horizons in Artificial Intelligence in Libraries, editada por Edmund Balnaves, Leda Bultrini, Andrew Cox e Raymond Uzwyshyn, publicada pela IFLA (International Federation of Library Associations and Institutions), explora o impacto crescente da Inteligência Artificial (IA) no setor das bibliotecas. Por ser um assunto de grande importância para o nosso setor de atividade, apresentamos um resumo do livro que, por estar em acesso aberto, pode ser lido na íntegra, fazendo o download de cada capítulo.

Organizado em quatro partes principais, o livro aborda desde a situação atual da IA nas bibliotecas até projetos concretos e implicações éticas.

Inteligência Artificial e Bibliotecas: Introdução

O livro introduz a IA como um conjunto de sistemas informáticos que realizam tarefas anteriormente reservadas ao intelecto humano, como reconhecimento de imagens, análise de dados e processamento de linguagem natural. A tecnologia está a ser cada vez mais integrada nos serviços bibliotecários, melhorando a pesquisa, a classificação e a personalização da experiência do utilizador. Além disso, a IA permite otimizar a organização das coleções e facilitar o acesso a grandes volumes de dados, tornando o trabalho dos bibliotecários mais eficiente.

Ao longo da introdução, os autores analisam a evolução da IA desde os primeiros sistemas de automatização até às tecnologias mais avançadas, como os modelos de linguagem generativa e redes neurais profundas. A implementação da IA em bibliotecas não é apenas uma questão de inovação tecnológica, mas também uma transformação estrutural dos serviços oferecidos ao público.

Parte I
Estado da arte em Inteligência Artificial nas Bibliotecas

A primeira parte do livro discute o modo como a IA já está presente nas bibliotecas, auxiliando na classificação automática de documentos, na análise semântica de textos e na recomendação de conteúdos personalizados. Destacam-se iniciativas europeias que procuram desenvolver a IA de forma ética, garantindo transparência e equidade no acesso ao conhecimento.

Além disso, referem-se as novas abordagens para digitalização de acervos, ferramentas de análise preditiva para identificar tendências de uso de materiais e sistemas inteligentes para facilitar a navegação em bases de dados complexas. Essas tecnologias permitem que as bibliotecas modernizem os seus serviços e aumentem a sua relevância para os utilizadores.

Outro ponto relevante abordado é a integração da IA em catálogos eletrónicos e interfaces de pesquisa, permitindo que os utilizadores obtenham resultados mais precisos através da análise de padrões de pesquisa e interesses.

Ferramentas como chatbots avançados e assistentes virtuais estão a tornar-se comuns para facilitar a interação com os serviços bibliotecários.

Parte II
Implicações da Inteligência Artificial na educação e nas bibliotecas

A segunda parte foca-se nos desafios e oportunidades trazidos pela IA para bibliotecas académicas e instituições de ensino. São abordados temas como:

  • O impacto da IA na educação: A personalização da aprendizagem através da IA pode permitir um ensino mais adaptado às necessidades individuais dos alunos, melhorando a retenção de informação e a acessibilidade a recursos educativos. A IA pode ajudar a criar ambientes de aprendizagem imersivos, proporcionando feedback imediato e adaptando os materiais ao nível de conhecimento de cada estudante;

  • O risco de vieses algorítmicos nos sistemas de IA: Como os algoritmos de IA são treinados em dados históricos, podem reproduzir e amplificar preconceitos, afetando a equidade no acesso à informação. Os autores alertam para a necessidade de monitorização constante dos sistemas e a criação de mecanismos que garantam justiça e inclusão na recomendação de conteúdos;

  • A necessidade de políticas que garantam um desenvolvimento ético da tecnologia: Para evitar problemas como a manipulação de informações ou discriminação, é essencial desenvolver normas claras para o uso da IA nas bibliotecas. Os autores destacam exemplos de regulamentações emergentes e diretrizes propostas por organizações internacionais para garantir que a IA seja utilizada de forma responsável.


Parte III
Projetos em Aprendizagem Automática e Processamento de Linguagem Natural

Nesta seção, são apresentados projetos práticos que demonstram a aplicação da IA em bibliotecas, incluindo:

  • Modelagem de tópicos para classificação automática de documentos: Sistemas baseados em IA são utilizados para agrupar documentos por temas de forma automatizada, facilitando a recuperação de informações. Algoritmos de clustering e análise semântica desempenham um papel essencial na criação de taxonomias dinâmicas;

  • Reconhecimento de entidades em registos bibliográficos: Técnicas de IA permitem identificar autores, títulos, assuntos e outros elementos relevantes para a indexação automática. O uso de redes neurais para extrair metadados tem contribuído para a melhoria dos sistemas de recuperação de informação;

  • Uso de IA para otimizar os processos de catalogação e indexação: Soluções inteligentes são desenvolvidas para agilizar o trabalho de catalogadores e melhorar a precisão das descrições bibliográficas. A automação baseada em IA reduz significativamente o tempo necessário para catalogação manual, garantindo maior uniformidade nos registos.

Além destes exemplos, o livro apresenta casos em que IA é utilizada para melhorar a acessibilidade, como na criação de descrições automáticas de imagens e na transcrição de conteúdos audiovisuais. Essas tecnologias beneficiam utilizadores com deficiência visual ou auditiva, tornando o acesso à informação mais inclusivo.

Parte IV
Inteligência Artificial nos Serviços Bibliotecários

A última parte explora casos reais de bibliotecas que já utilizam IA, tais como:

  • Uso de chatbots para melhorar a assistência ao utilizador: Há bibliotecas que implementam assistentes virtuais para responder a perguntas frequentes, facilitar a pesquisa e orientar os utilizadores. Por exemplo, algumas bibliotecas universitárias que utilizam IA para oferecer suporte 24/7;

  • Implementação de jogos educativos baseados em IA para promover a literacia digital: Algumas bibliotecas utilizam inteligência artificial para desenvolver atividades interativas que ensinam competências digitais de forma lúdica. Estes jogos ajudam os utilizadores a compreender melhor a gestão da informação e a navegação em bases de dados;

  • Desenvolvimento de assistentes virtuais para apoiar a pesquisa académica: Sistemas baseados em IA ajudam investigadores a encontrar artigos relevantes, sugerem referências bibliográficas e organizam informações de forma automatizada. Estas ferramentas estão a ser integradas em plataformas de gestão de conhecimento para facilitar o trabalho de investigadores e estudantes.

Conclusão

O livro enfatiza a necessidade de uma abordagem equilibrada à adoção da IA em bibliotecas, considerando tanto os avanços tecnológicos como as implicações éticas e sociais. A IA tem o potencial de revolucionar a forma como as bibliotecas operam, mas é fundamental garantir que a sua implementação seja transparente, acessível e eticamente responsável.

Além disso, a obra destaca a importância do papel dos bibliotecários no uso da IA, enquanto curadores e mediadores da informação, assegurando que as novas tecnologias sejam utilizadas de forma justa e eficiente para o benefício de toda a comunidade. A formação contínua dos profissionais da informação e o desenvolvimento de competências digitais são essenciais para garantir que a IA seja implementada de forma sustentável e eficaz.


Balnaves, E., Bultrini, L., Cox, A. & Uzwyshyn, R. (2025). New Horizons in Artificial Intelligence in Libraries. Berlin, Boston: De Gruyter Saur. https://doi.org/10.1515/9783111336435 

 

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Qui | 13.02.25

CPC: Concurso de Palavras Cruzadas

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Do local ao nacional: Concurso de Palavras Cruzadas (CPC) desafia à mobilização de todas as bibliotecas escolares

O Concurso de Palavras Cruzadas é uma iniciativa de professores bibliotecários de Douro, Tâmega e Sousa e do cruciverbalista Paulo Freixinho, com o apoio da Rede de Bibliotecas Escolares, e tem como objetivos principais;

  1. estimular a leitura e a escrita através da gamificação;
  2. potenciar a precisão vocabular;
  3. exercitar o cérebro e funções cognitivas importantes;
  4. desenvolver competências de leitura e escrita multimodais;
  5. fomentar a transdisciplinaridade e o conhecimento em geral.

Esta iniciativa, que se desenvolve entre os meses de março e maio, é dirigida a alunos que frequentam a escolaridade obrigatória, do 1º ciclo ao ensino secundário, de todos os agrupamentos de escolas ou escolas não agrupadas, públicas ou privadas, de Portugal.

Seguindo as regras e procedimentos que constam do seu regulamento, os alunos dos diferentes níveis de escolaridade são chamados a resolver os desafios preparados exclusivamente para o concurso pelo cruciverbalista Paulo Freixinho em cada uma das eliminatórias, com vista a apurar um finalista de cada ciclo por Agrupamento de Escolas ou Escola Não Agrupada para a Final Nacional, a decorrer em Cinfães, no dia 27 de maio de 2025.

Além de perseguir os objetivos enunciados, o desenvolvimento do CPC pretende também propiciar a vivência de momentos de comunicação significativos em que se valorize a palavra, escrita e falada, em comunidade de prática.

Para que os alunos comecem já a treinar, publicam-se dois desafios exemplificativos, um para o 1º ciclo, outro para o ensino secundário.

Na primeira edição, em 2023/24, participaram cerca de 450 alunos de 11 Agrupamentos de Escolas de Douro e Tâmega e Sousa.

Foi relevante o interesse e o entusiasmo de alunos e professores que participaram na iniciativa e a avaliação da atividade foi muito positiva, pleo que o lançamento da 2ª edição do Concurso de Palavras Cruzadas, que desafia à mobilização de todas as bibliotecas escolares, a nível nacional, para a participação ativa, foi unânime. As inscrições estão abertas até ao dia 7 de março de 2025.

📷 https://www.canva.com/

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