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Blogue RBE

Ter | 31.01.23

Metaverso: o melhor de vários mundos?

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Embora, como dissemos no artigo aqui publicado em 24.01, o metaverso ainda não exista verdadeiramente, ele já está presente de várias maneiras, em diferentes áreas da atividade humana. Ainda não vivemos no metaverso, mas já podemos experimentá-lo.

O metaverso gira em torno da realidade virtual (RV), de avatares e de conteúdos multimédia e de jogos - tudo dentro de espaços virtuais nos quais as pessoas (como avatares) podem mover-se e interagir umas com as outras. Exemplos de manifestações do metaverso são o Roblox, a Second Life e a PlayStation Home; também os jogos online como o Fortnite, o Minecraft, e o World of Warcraft são exemplos do que pode vir a ser o metaverso se e quando se constituir como um ecossistema digital em que milhões de pessoas poderão viver, interagir, comprar e vender, estudar, trabalhar.

Como as tecnologias subjacentes ao estabelecimento do metaverso já existem (tecnologia 3D, software de colaboração em tempo real e instrumentos financeiros descentralizados assentes em blockchain), tudo indica que a rapidíssima evolução tecnológica a que assistimos nos leve a experiências totalmente novas num futuro bastante próximo.

Tratando-se de uma mudança de paradigma tão poderosa como foi a World Wide Web nos anos 90, é natural que o metaverso e toda a problemática que ele envolve estejam a ser alvo de inúmeras discussões e debates em torno das suas potencialidades, das suas vantagens e dos riscos que pode acarretar e que precisamos de evitar.

No presente artigo, ocupar-nos-emos do que o metaverso nos pode trazer de positivo.

Se nos imaginarmos num mundo em que o metaverso tenha substituído a World Wide Web, tal como a conhecemos hoje, milhões e milhões de pessoas terão acesso a experiências de vida que, de outra forma, não vivenciariam.

Pensemos, por exemplo, no universo das viagens e dos contactos com pessoas distantes. Que oportunidades surgirão para quem, até agora, pouco teve a experiência da viagem?

Na vida familiar também serão sensíveis as vantagens do metaverso, onde será fácil a partilha de experiências virtuais em tempo real com a família e amigos, mesmo que distantes, como se todos estivessem na mesma sala.

As compras a distância, a que hoje já recorremos muito, ganharão novas dimensões. No metaverso, poderemos experimentar uma peça de roupa ou verificar como um móvel ou objeto decorativo ficarão na nossa casa.

No mundo laboral, o trabalho remoto, que era já uma realidade para muitas pessoas, tornou-se verdadeiramente popular durante a pandemia, sobretudo pela otimização do tempo e da sua gestão e pelo conforto. No entanto, todos sabemos como a falta do contacto presencial nos afetou. O metaverso, em teoria, proporcionará uma experiência única de trabalho a distância, em que cada um, através do seu avatar, se sentirá presente num espaço de trabalho em que pode interagir com colegas, manipular produtos e elaborar projetos, tendo a sensação de uma experiência colaborativa ao vivo e interativa, sem sair de casa. A formação profissional tornar-se-á, também ela, muito menos solitária.

Dos cuidados de saúde à construção, da arquitetura às ciências da vida, a resolução de problemas visuais é a chave do sucesso em muitos ramos de atividade. No metaverso, a tecnologia 3D proporciona um meio único, rentável e preciso de desenvolvimento e resolução de problemas, colaboração e criação.

Na educação abrem-se perspetivas de tal modo inovadoras, que este aspeto será, por si só, objeto de um artigo neste blogue.

Das experiências parcelares agora existentes, até um metaverso em que estaremos imersos, caracterizado pela interoperabilidade, em que, por exemplo, o nosso avatar poderá ser o mesmo em vários contextos, vai ainda uma distância significativa, mas o tempo que levaremos a percorrer essa distância poderá ser curto.

Na sua obra mais vendida, The Metaverse: And How It Will Revolutionize Everything, o autor Matthew Ball definiu assim o metaverso:

"Uma rede massivamente dimensionada e interoperável de mundos virtuais 3D em tempo real que podem ser experimentados de forma síncrona e persistente por um número efetivamente ilimitado de utilizadores, com um sentido de presença individual e com continuidade de dados, tais como identidade, história, direitos, objetos, comunicações e pagamentos".

Se conseguirmos prevenir os riscos e tirar partido das oportunidades, viver no metaverso poderá, sem dúvida, ser exaltante.

 

Referências

1. Tucci, L. (2022, 18 de novembro). What is the metaverse? An explanation and in-depth guide. TechTargethttps://www.techtarget.com/whatis/feature/The-metaverse-explained-Everything-you-need-to-know

2. The Adecco Group (2022, 4 de abril). The Advantages and Disadvantages of Working in the Metaverse. https://www.adeccogroup.com/future-of-work/latest-insights/the-advantages-and-disadvantages-of-working-in-the-metaverse/

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Seg | 30.01.23

Faraós Superstars: notícias e coisas que faltam saber

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No contexto da biblioteca escolar é importante compreender, para além da popularidade, do que é notícia e da História dominada pelo culto de personalidades e de heróis de uma parte do Planeta.  

2022 foi um ano fantástico para a egiptologia!

Em novembro, abriu ao público, na Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição Faraós Superstars (25 nov. 2022 – 06 mar. 2023) e celebraram-se os 100 anos de abertura do túmulo de Tutancámon, por Howard Carter (1874-1939) e sua equipa. 

Este túmulo é o maior – reúne mais de 5.000 artefactos - o mais valioso achado arqueológico de sempre feito no Vale dos Reis, território do Antigo Egito reservado à construção de tumbas de monarcas e pessoas influentes.

 

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A coleção Tutancámon pode ser visitada virtualmente a 360 graus [2].

Em setembro, celebraram-se os 200 anos da decifração, por Jean-François Champollion, da Pedra de Roseta, fragmento de estela trilingue que permite, pela primeira vez, a decifração de hieróglifos, dando origem à egiptologia (17 set. 1822). 

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Exposta ao público no The British Museum, a Pedra de Roseta é a peça mais visitada do Museu [3]. 

 Estes dois acontecimentos mudaram a compreensão e a relação que tínhamos com o Antigo Egipto que passou a ser de grande proximidade. Fala-se de uma egiptomania global - faraós superstars, na terminologia da Exposição Gulbenkian - no âmbito da qual Tutancámon é carinhosamente mencionado “rei Tut” e vulgariza-se a venda e uso de merchandising, papiros, amuletos, bijuteria e outros artefactos inspirados nesta civilização milenar localizada a nordeste de África. 

Neste contexto, o Museu Calouste Gulbenkian, em colaboração com a Rede de Bibliotecas Escolares, lançaram, às bibliotecas e às escolas, o desafio de projetos dirigido a crianças e jovens de todas as idades.

A estratégia mediática por detrás de faraós superstars como Tutancámon 

Para a egiptomania contribuiu a estratégia mediática lançada pelo arqueólogo e egiptólogo britânico Howard Carter que fez um acordo de exclusividade com o jornal The Times, aquando da sua redescoberta do túmulo e do vasto – mais de 5.000 artefactos - e valioso tesouro de Tutancámon (1333-1323 a.C.). 

Assim se explica porque é que este rei que, tendo subido ao trono aos 8 anos e morrido antes dos 20 anos, se tornou mais famoso após a sua morte do que em vida. 

Para o fenómeno da egiptomania também contribuíram as inscrições sobre uma suposta maldição para quem profanasse o túmulo real, bem como a morte de Lorde George Herbert (1866-1923) que financiou esta campanha arqueológica e pareceu confirmá-la.

Como é que este rei e a egiptologia são representados nas notícias em Portugal, na Europa e no mundo? Note-se que em 1922 exerce forte influência, a França, sobre o património arqueológico redescoberto em solo egípcio e, a Inglaterra, sobre este território, pois o Egito era uma colónia britânica – só a partir de 1952 é que passa a Estado soberano. 

Sobre a divulgação deste túmulo real na imprensa portuguesa, principalmente em 1923 e 1924, a Biblioteca Nacional de Portugal disponibiliza a exposição Tutankhamon em Portugal: Relatos na imprensa portuguesa 1922-1939 aberta ao público até 5 de abril e, segundo a qual, se publicaram “Entre 1922 (ano da descoberta do túmulo) e 1939 (ano da morte de Howard Carter), 28 periódicos portugueses 234 notícias, de diferentes tipos (desde curtas e pouco desenvolvidas notícias de agência até reportagens desenvolvidas e ilustradas)” [1]. Comissariada por José das Candeias Sales e Susana Mota, esta exposição complementa e enriquece Faraós Superstars.

Também podemos questionar-nos a respeito da narrativa sobre o Antigo Egito que a fotografia cria nas notícias, aproximando o material arqueológico redescoberto do público e documentando-o? 

Por outro lado, Carter começou a trabalhar muito jovem, não como arqueólogo e egiptólogo, mas como ilustrador científico de túmulos egípcios. A atenção aos pormenores que escapam a um primeiro olhar pode ter grande importância para o trabalho científico, designadamente arqueológico e de registo e arquivo, bem como artístico. Que detalhes podem esboços e desenhos tornar visíveis e que não têm sido muito valorizados na egiptologia? 

 

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O 138.º aniversário de Howard Carter (doodle) [4].

Fala-se de redescoberta do túmulo de Tutancámon porque há evidências de que tenha sido anteriormente encontrado e saqueado por pessoas locais e porque é importante sublinhar que se pode fazer egiptologia, não apenas através de trabalho de campo, de escavações, mas também através de visitas a museus e de exposições e através da leitura de livros e outros recursos. Esta dimensão colaborativa – reúne arqueólogos, historiadores, linguistas e profissionais de outras disciplinas - e continua – tem em conta o processo - da egiptologia parece corresponder à realidade e convoca todos para trabalharem, uns com os outros, na exploração e preservação deste património da Humanidade. 

Privilegiando-se o trabalho de contextualização e análise crítica, pode desocultar-se, no trabalho solitário de Carter e Champollion, também o trabalho especializado de trabalhadores(as) locais, egípcios, anónimos que, interessando-se pelo património do seu país, contribuem para estas redescobertas e para a egiptologia. 

Com base nas notícias, exposições e literatura, interrogamo-nos:

🔴 Será que os egípcios nunca se interessaram por descobrir os monumentos do seu território e decifrar as inscrições que fazem parte deles? 

🔴 Será que a egiptologia só foi criada a 17 de setembro de 1822, quando Champollion conclui a decifração da Pedra de Roseta? 

🔴 Qual é a visão das crianças e jovens sobre esta História predominantemente escavada, redescoberta, escrita - e financiada - por homens poderosos de países europeus e americanos?

🔴 Como iluminar sombras e esquecimentos da História do Antigo Egito e da Humanidade e da forma como os Museus e os Arquivos foram construídos em Portugal, na Europa e no mundo? 

🔴 Será possível mapear e dar visibilidade aos principais nomes de trabalhadores especializados egípcios – ou de outras culturas – que ajudaram à redescoberta do túmulo de Tutancámon e à decifração da Pedra de Roseta? 

🔴 Qual é o ponto de vista das crianças e jovens sobre a Convenção da UNESCO de 1970 que incentiva a restituição de bens culturais apropriados de forma ilícita? 

 2023 vai ser para a Egiptologia um ano ainda mais fantástico!

Se entendermos a celebração de faraós superstars e da egiptologia como um processo de aprofundamento, alargamento e regeneração do Antigo Egipto, com base num trabalho ou aprendizagem, que envolve questionamento crítico, reflexão, expressão, memória, esta celebração pode contribuir para desmistificar e reconstruir uma perspetiva mais abrangente e verdadeira das raízes da Humanidade e de nós próprios. 

 

Referências

1. Biblioteca Nacional de Portugal. (2022, 4 nov. - 4 abr. 2023). Tutankhamon em Portugal: Relatos na imprensa portuguesa 1922-1939 [Folha de sala]. Lisboa: BNP. https://www.bnportugal.gov.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=1732%3Atutakhamon-portugal-relatos-imprensa&catid=173%3A2022&Itemid=1727&lang=pt

2. Ministry of Tourism and Antiquities. (2023). A Virtual Tour through the Tutankhamun Collection at the Egyptian Museum. Cairo: MTA. https://egymonuments.gov.eg/news/a-virtual-tour-through-the-tutankhamun-collection-at-the-egyptian-museum/

3. The British Museum. (2023). Explore: the Rosetta Stone. UK: BM. https://www.britishmuseum.org/collection/egypt/explore-rosetta-stone

4. Google. (2012, May 12). The 138th birthday of Howard Carter [doodle]. https://www.google.com/doodles/howard-carters-138th-birthday

Fonte da imagem: 1. Biblioteca Nacional de Portugal. (2022, 4 nov. - 4 abr. 2023). Tutankhamon em Portugal: Relatos na imprensa portuguesa 1922-1939 [Folha de sala]. Lisboa: BNP. https://www.bnportugal.gov.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=1732%3Atutakhamon-portugal-relatos-imprensa&catid=173%3A2022&Itemid=1727&lang=pt

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Sex | 27.01.23

História ameaçada: negação e distorção do Holocausto nas redes sociais

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No final de 2022, a UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) publicou, com2023-01-27-2.png o apoio da World Jewish Congress (Congresso Mundial Judaico) o relatório History under attack: Holocaust denial and distortion on social media [1], o primeiro relatório a abordar a extensão e a natureza da negação e distorção do Holocausto.

Com base nos dados de milhares de milhões de utilizadores do Facebook, Instagram, Telegram, TikTok e Twitter, em inglês, francês, alemão e espanhol, o relatório detalha o modo como estes media são terreno fértil para o ódio e o preconceito e propõe ações a adotar como resposta ao problema, apresentando, nas palavras de António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, conclusões duras.

Princípios e objetivos

A negação e a distorção do Holocausto são perigosas. São um ataque à verdade e ao conhecimento. Alimentam-se 2023-01-27-1.pngde preconceitos espalhados por grupos antissemitas e disseminam-nos, ameaçando a nossa compreensão de um dos mais trágicos momentos de violência da História da humanidade: o genocídio de seis milhões de judeus pela Alemanha nazi e pelos seus aliados e colaboradores. Em países de toda a Europa, as pessoas tornaram-se cúmplices na perseguição e assassinato dos seus vizinhos.

A negação e a distorção do Holocausto podem impedir a sociedade de ter em conta este passado. Impedem a nossa compreensão das causas e dos sinais de alerta da xenofobia e do risco de genocídio e conduzem à redução dos nossos esforços para robustecer a sua prevenção. É insultuoso para as vítimas e sobreviventes do Holocausto e há2023-01-27-3.png o risco da reabilitação de ideologias violentas e antissemitas. Nas suas manifestações mais extremas, celebra e glorifica esta história, incitando à violência contra os judeus e apelando a outros genocídios.

As Nações Unidas e a UNESCO condenam a ascensão da negação e distorção do Holocausto online como uma forma perigosa de ódio e encomendaram este estudo, em parceria com o Congresso Mundial Judaico, para sensibilizarem para as formas que elas assumem nas redes sociais e para apontarem respostas políticas e educativas.


Principais conclusões

1. Quase metade (49%) de todo o conteúdo dos canais públicos do Telegram que discute o Holocausto nega ou distorce a sua história. São mais de 80% de mensagens em língua alemã e aproximadamente 50% em inglês e francês. Estas publicações, em número crescente em todo o mundo, são com frequência explicitamente antissemitas e estão facilmente acessíveis a todos os que procuram informação sobre o Holocausto nessa plataforma, que não tem nenhuma política de prevenção da negação ou distorção do Holocausto, constituindo-se como um refúgio para todos os que desejem negar ou distorcer o genocídio.

2. A negação e a distorção do Holocausto estão presentes em todas as redes sociais, incluindo as que têm políticas de moderação de conteúdos direcionadas para as prevenir. Nessas plataformas, a negação do Holocausto está menos presente, mas a distorção é muito mais comum e assume várias formas.O conteúdo público relacionado com o Holocausto, divulgado nas várias redes, negou ou distorceu a História em percentagens significativas: 19% no Twitter; 17% no TikTok; 8% no Facebook; 3% no Instagram.

3. Nos casos em que as plataformas online introduziram políticas de moderação de conteúdo e orientação clara do utilizador, isso poderá limitar e remover conteúdos nefastos. De facto, existe uma diferença notável nos níveis de negação e distorção do Holocausto entre o Facebook - que se transformou para combater a desinformação - e o Telegram, que permanece altamente não moderado.

4. As políticas que regulamentam diretrizes e moderação online limitam-se frequentemente à abordagem da negação do Holocausto esquecendo a questão mais complexa da sua distorção. Os responsáveis pelas diferentes redes sociais devem também monitorizar e, quando necessário, tomar medidas sobre conteúdos que distorçam o Holocausto, trabalhando em parceria com peritos, organizações da sociedade civil e organizações internacionais. Mantendo sempre os padrões internacionais de liberdade de expressão, as ações a implementar podem incluir:
           - adição de etiquetas de verificação de factos que redirecionam para conteúdo exato e fiável;
           - desclassificação;
           - depreciação, colocando sob etiqueta de aviso ou removendo conteúdo nocivo;
           - desativação das receitas publicitárias;
           - desativação de contas de atores que produzem e difundem esse conteúdo, incluindo através de um comportamento não autêntico e coordenado.

5. As mensagens em sítios moderados podem ser camufladas e indicar aos utilizadores material muito mais explícito noutros sítios, tais como o Telegram. Consequentemente, como a negação do Holocausto tem sido limitada em plataformas moderadas, migrou para outras mais livres, sendo os sítios mais habituais utilizados para encaminhar os utilizadores para fóruns mais radicais.

6. A distorção do Holocausto acompanha os acontecimentos mundiais e as mudanças de opinião dependendo da atualidade, das áreas de maior preocupação da opinião pública e da evolução da agenda noticiosa. Assim, um elevado grau de distorção do Holocausto esteve associado a protestos anti confinamento e outras restrições implementadas para combater a doença coronavírus (COVID-19).

7. A negação e a distorção do Holocausto manifestam-se frequentemente de forma dissimulada e codificada, o que pode dificultar os esforços para mitigar a sua disseminação online. Por conseguinte, investigadores, empresas2023-01-27-4.png de plataformas online e educadores deverão envolver-se mais e compreender estes media contemporâneos para desenvolverem formas de comunicação criativas e ousadas, contra mensagens perturbadoras, bem como uma resposta educativa eficaz.

8. A negação e distorção do Holocausto é por vezes espalhada através de memes e 'humor', por comunidades online que espalham ideologias extremistas violentas. O 'humor' e os memes permitem que narrativas de ódio ganhem aceitação e legitimidade entre o público em geral, para propagar ideologia racista e supremacista branca, para recrutar e radicalizar novos membros e para criar um sentido de identidade de grupo. A negação e a distorção do Holocausto estão, portanto, intimamente relacionadas e muitas vezes associadas a outros tipos de malefícios online, incluindo homofobia, misoginia, racismo e xenofobia.

9. Educar sobre o Holocausto e outros crimes nazis é a melhor defesa contra a negação e a distorção. É imperativo que os jovens conheçam os factos fundamentais do Holocausto e desenvolvam competências de pensamento crítico e literacia da informação e dos media, para que possam rejeitar e contrariar a desinformação e o discurso de ódio.

Recomendações

A partir destas conclusões, o relatório recomenda uma conjunto de ações que os responsáveis pelas redes sociais, os decisores políticos e governos, a sociedade civil, os investigadores e os educadores podem empreender para prevenirem e combaterem a negação e distorção online do Holocausto.

Relativamente à educação, salienta-se:

⭕ A educação sobre o Holocausto é a melhor defesa contra a negação e a distorção e deveria ser mais integrada nos currículos escolares. É imperativo que os jovens sejam informados com precisão sobre os factos fundamentais desse genocídio para que as possam rejeitar e combater.

⭕ A negação e a distorção do Holocausto não podem ser abordadas sem abordar igualmente a literacia da informação e dos media nos currículos escolares. Para proteger o conhecimento dos factos do Holocausto, os Ministérios da Educação devem investir na educação para a cidadania digital com o objetivo de capacitar os alunos para interpretarem e avaliarem a (des)informação na era digital. Os manuais escolares e os materiais de aprendizagem devem ser sistematicamente revistos para assegurar a exatidão histórica.

⭕ Os programas existentes que educam as pessoas sobre o Holocausto deveriam renovar os seus esforços para desenvolver competências de literacia histórica que promovam o pensamento crítico e a compreensão epistémica

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sobre o Holocausto, através da avaliação de provas históricas e análise especializada em cooperação com arquivos, museus e historiadores.

⭕ A educação sobre o Holocausto deve também servir para aumentar a consciência da negação e distorção do Holocausto, das suas formas e consequências, para melhor preparar os alunos para as identificarem e lhes responderem adequadamente, caso as encontrem.

⭕Para apoiar esta ação, os Ministérios da Educação deveriam investir na formação de professores sobre a educação para o Holocausto, a fim de promover pedagogias que construam resiliência contra a sua negação e distorção e proporcionar acesso a recursos precisos e informados sobre a sua História.

⭕Os professores necessitam de formação, apoio e materiais para melhor compreenderem o modo como a negação e a distorção do Holocausto são comunicadas online e os tipos de comunidades em que circulam atualmente. Os educadores também beneficiariam de orientação e recursos específicos sobre modos de responder a incidentes críticos de negação e distorção do Holocausto na sala de aula, sobre como responder à resistência em relação à aprendizagem sobre o Holocausto e sobre como moderar eficazmente as discussões em sala de aula relacionadas com o discurso de ódio e as teorias da conspiração.

⭕É fundamental que os governos e a sociedade civil promovam orientações sobre comparações falsas e ilegítimas entre o Holocausto e outros acontecimentos históricos ou contemporâneos.

Isto inclui fornecer aos educadores formação sobre como comparar significativamente o Holocausto com outros crimes de atrocidade, mantendo simultaneamente a exatidão histórica e contextualizando ambas as histórias. Os educadores devem ser apoiados para reconhecer e rejeitar afirmações falsas e ilegítimas e para compreender como tais comparações têm o potencial de causar danos.

Os museus, arquivos, organizações educativas, organizações da sociedade civil, jornalistas e outros atores também necessitam de orientação sobre como responder eficazmente a falsas comparações com o Holocausto.

⭕Organizações educativas, museus e arquivos do Holocausto devem aumentar a sua visibilidade em novas plataformas online, tais como o Telegram, onde este fenómeno de negação e distorção é muito forte. Isto exigirá investimento em formação do pessoal com o objetivo de aumentar a compreensão da lógica e cultura destas plataformas e de desenvolver contra-argumentos e estratégias que promovam a literacia histórica e o pensamento crítico.

E nas bibliotecas escolares?

Hoje é Dia Internacional de Comemoração em Memória das Vítimas do Holocausto, data promovida pelas Nações Unidas desde 2006, e num número muito significativo de bibliotecas escolares os alunos estão, neste preciso momento, envolvidos em ações que visam criar conhecimento e resiliência em relação a esta matéria. Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça!

2023-01-27-6.pngE as bibliotecas escolares respondem claramente à chamada à ação que encontramos neste relatório:

Por um lado, abordam a História do Holocausto e os seus factos com exatidão; incentivam leituras que conduzem a vivências e empatia; promovem pesquisas credíveis: geram conhecimento seguro sobre o Holocausto.

Por outro lado, trabalham permanentemente as literacias da informação e dos media que permitem identificar a desinformação, conhecer o funcionamento de plataformas online e os seus riscos e desenvolver pensamento crítico.

Referência

[1] UNESCO. (2022). History under attack: Holocaust denial and distortion on social media. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000382159

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Qui | 26.01.23

ABC do Metaverso

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Dando continuidade à preparação do Dia da Internet Mais Segura, prosseguimos a publicação de artigos subordinados ao tema deste ano: Metaverso vs Realidade.

Hoje, estabelecemos como objetivo a clarificação de alguns conceitos com que inevitavelmente nos deparamos quando fazemos algumas leituras sobre o metaverso. São conceitos essenciais para a compreensão eficaz das questões em causa.

 

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Avatar

Como o metaverso é um ambiente 3D e social, cada utilizador tem de se representar para os outros e fá-lo através do seu avatar. Pode definir-se o avatar do metaverso como a representação de um utilizador nesse mundo. Existem muitos tipos de avatares diferentes no metaverso (de corpo inteiro, apenas a cabeça e o torso, com roupas de marca adquiridas…) . Estes podem parecer-se com quase tudo o que se possa imaginar, sendo possível assemelharem-se exatamente com o ser humano que representam ou terem uma aparência completamente diferente. Parecendo uma questão simples, há todo um conjunto de questões que surgem quando se aborda esse tema.

 

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Bitcoin

Bitcoin é uma moeda digital que opera livre de qualquer controle central ou supervisão de bancos ou governos. Em vez disso, depende de software e criptografia ponto a ponto.

Um livro público regista todas as transações de bitcoin e as cópias são mantidas em servidores em todo o mundo, conhecidos como nós. O consenso sobre quem possui que moedas é alcançado criptograficamente através desses nós, em vez de depender de uma fonte central de confiança como um banco.

 

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Blockchain

O blockchain é um grande banco de dados partilhado que regista as transações dos utilizadores; é a tecnologia por detrás das moedas digitais. É um livro público, descentralizado, que regista todas as transações e que nenhuma pessoa, empresa ou autoridade possui ou controla. Em vez disso, cada utilizador pode aceder a todo o blockchain e cada transferência de fundos de uma conta para outra é registada de forma segura e verificável, usando técnicas matemáticas emprestadas da criptografia. Com cópias do blockchain espalhadas por todo o planeta, ele é considerado efetivamente inviolável.

Os blockchains públicos (publicamente acessíveis na Internet) mais conhecidos são Bitcoin, Ethereum, Dash, Monero e Zcash. Este tipo de blockchain mantém os seus dados, software e desenvolvimento abertos ao público, para que qualquer pessoa os possa rever, auditar, desenvolver ou melhorar.

 

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Criptografia

Sabendo-se que "cripto" significa "segredo" em grego, compreende-se facilmente que, na área digital, criptografia é uma tecnologia que permite enviar mensagens ou dados seguros e encriptados entre duas ou mais partes. O remetente "encripta" a mensagem, ocultando o respetivo conteúdo a terceiros, e o destinatário "desencripta" a mensagem, tornando-a novamente legível. 

As criptomoedas utilizam a criptografia para permitir que as transações sejam anónimas, seguras e sem necessidade de confiança, ou seja, não é necessário saber seja o que for sobre uma pessoa para realizar transações seguras com ela, nem é necessário qualquer intermediário fidedigno.

 

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Interoperabilidade

A interoperabilidade é a capacidade de um sistema ou produto de trabalhar com outros sem exigir nenhuma ação específica.

A interoperabilidade é baseada em padrões e protocolos e resulta de uma inovação significativa. Ela permite que comuniquemos por telefone com alguém, mesmo que a rede telefónica do nosso interlocutor não seja a nossa ou que sejam usados telemóveis com diferentes sistemas operativos. Também está por trás do enorme sucesso do e-mail, pois permite que todos enviem e recebam mensagens, independentemente do serviço que escolherem.

Esta é uma questão que está por resolver no metaverso e que ocupa as preocupações dos gigantes da tecnologia, mas que começa já a encontrar um caminho. Os utilizadores querem ligar-se num único lugar e aceder a tudo o que possuem. Atualmente, para cada metaverso, é preciso criar novo avatar e começar tudo do zero, quando o desejável era usar num metaverso o mesmo avatar que já foi criado e aperfeiçoado noutro. Outro exemplo da falta de interoperabilidade é que não é possível comercializar um NFT comprado num metaverso fora desse metaverso.

 

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NFT

NFT é a sigla em inglês para non-fungible token (token não fungível, na tradução para o português).

Um token, é a representação digital de um ativo – dinheiro, propriedade ou obra de arte – registada num blockchain. Se uma pessoa tem o token de uma propriedade, significa que tem direito àquele imóvel – ou parte dele.

Por outro lado, bens fungíveis, são aqueles que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade ou quantidade.

Um NFT é, portanto, a representação de um item exclusivo, que pode ser digital – como uma arte gráfica feita no computador – ou físico, um quadro. Além de obras de arte, também músicas, jogos, momentos únicos no desporto e memes podem ser transformados em NFT.

Na prática, ter um NFT (token não fungível) significa ter um certificado digital de propriedade que qualquer um pode ver e confirmar a autenticidade, mas ninguém pode alterar.

 

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Tecnologias imersivas

As tecnologias imersivas transformaram a experiência digital ao reunir o virtual com a visão, o som e até mesmo o toque dos utilizadores. A combinação de tecnologias imersivas permite que uma pessoa se sinta parte de um ambiente simulado artificial.

A Realidade Aumentada e a Realidade Virtual são as principais tecnologias imersivas. Enquanto a Realidade Aumentada sobrepõe informações digitais ao ambiente físico, a Realidade Virtual cria um novo espaço cortando os sentidos físicos e substituindo-os por informações digitais.

 

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Web3

A Web1 caracterizou-se por apresentar páginas estáticas que apenas permitiam leitura. Com a chegada da Web2, passou a existir interação e criação de conteúdo, abrindo-se caminho para as redes sociais, o homebanking e o comércio online.

Surge agora a Web3, uma reformulação da internet, que se sustenta em tecnologias de inteligência artificial e blockchain. O conceito foi usado pela primeira vez pelo engenheiro britânico Gavin Wood, cofundador da criptomoeda Ethereum.

Alguns pesquisadores da área utilizam o termo de forma bastante abrangente, para definir o futuro da internet que usamos hoje. Nesse futuro, os utilizadores retomam o controlo sobre os seus dados e não concentram o poder nas mãos das grandes empresas de tecnologia como a Google, Meta, Apple e outras.

Por outras palavras, a Web3 trata da modernização da internet, oferecendo aos utilizadores ferramentas para ter mais controle sobre seus dados e atividades online.

 

Bibliografia

1. Bet2me Academy. (2019, 10 de junho). Quantos tipos de blockchain existem. https://academy.bit2me.com/pt/cuantos-tipos-de-blockchain-hay/

2. Coinbase (s.d.). O que é a criptografia? https://www.coinbase.com/pt-PT/learn/crypto-basics/what-is-cryptography

3. Digital Catapult (2022, 25 de maio). Everything you need to know about immersive technology. https://www.digicatapult.org.uk/expertise/blogs/post/everything-to-know-about-immersive-technology/

4. Freitas, V. (2022, 18 de outubro). O que é Web3? Entenda o conceito e como ele funciona. https://ecommercenapratica.com/blog/web3-o-que-e/

5. Godoy, F. (2022, 1 de setembro). Como resolver a interoperabilidade entre os metaversos? https://investnews.com.br/colunistas/metanews/como-resolver-a-interoperabilidade-entre-os-metaversos/

6. InfoMoney. (2022, 8 de novembro). O que são NFTs? Entenda como funcionam os tokens não fungíveis. https://www.infomoney.com.br/guias/nft-token-nao-fungivel/

7. InfoMoney. (2022, 14 de outubro). O que é blockchain? Conheça a tecnologia que torna as transações com criptos possíveis. https://www.infomoney.com.br/guias/blockchain/

8. King, R. (2022, 1 de fevereiro). Web3: The hype and how it can transform the internet. https://www.weforum.org/agenda/2022/02/web3-transform-the-internet/

9.  Metamandrill. (s.d.). Guia de Avatar do Metaverso; Incorpore-se no Metaverso; https://metamandrill.com/metaverse-avatar/

10. Sparkes, M. (s.d.). What is bitcoin and how does it work? https://www.newscientist.com/definition/bitcoin/

11. Ulieru, M. (2016, 23 de junho). Blockchain: what it is, how it really can change the world. https://www.weforum.org/agenda/2016/06/the-blockchain/

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Qua | 25.01.23

Já há máquinas que escrevem e desenham como os humanos! E agora?

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A inteligência artificial (IA) é uma tecnologia em rápido desenvolvimento que tem o potencial de melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas, mas também levanta questões éticas e legais importantes.

Como o aparecimento de plataformas e ferramentas de IA tem proliferado, para os mais variados serviços e áreas do conhecimento, é fundamental que os professores bibliotecários estejam atentos às tendências mapeadas pelas grandes organizações da área [p.ex. Center for the Future of Libraries - ALA; Federação Internacional das Associações e Instituições Bibliotecárias - IFLA] , que possuam conhecimentos básicos acerca dessas realidades e mantenham as bibliotecas como fontes atualizadas e preparadas para as mudanças e cenários futuros que as envolvem.

A IA já atua de forma invisível no nosso quotidiano e, subtilmente, vai dando forma a novas experiências de relação dos humanos com máquinas e/ou ferramentas digitais. Já estamos familiarizados, por exemplo, com o uso de assistentes virtuais que ajudam as pessoas no quotidiano a realizar tarefas específicas [Amazon Alexa; Google Assistant; Apple Siri; Chatboots como o LibAnswers ou o Bibliocommons;  etc.] e/ou que promovem a acessibilidade e a inclusão [p.ex: VLibras; VirtualSign; Voiceitt; etc.]

Não obstante, há inovações que nos surpreendem, sobretudo, quando as máquinas são capazes de realizar tarefas que simulam o pensamento humano e o reproduzem em atividades, como reconhecimento de padrões, planeamento e/ou raciocínio.

O recente ChatGPT  é disso exemplo, por ser capaz de gerar textos que aparentam ter sido escritos por humanos, ou ferramentas como o DALL.E e o Midjourney que são capazes de criar imagens geradas por prompts (comandos de texto).

Estes são exemplos de aplicação de inteligência artificial, quer na área de processamento de linguagem, onde a IA é aplicada para compreender e gerar texto natural, quer na área de composição visual, onde o algoritmo ao pesquisar uma extensa base de dados de ilustrações, fotografias, pinturas, em domínio público ou não, cria imagens surpreendentes.

Assim, através desses modelos de linguagem de IA, é possível, sem intervenção humana, gerar texto como notícias, artigos científicos, descrições de produtos e até mesmo histórias e poesias (ChatGPT) e/ou criar imagens/arte realista, onde é possível combinar conceitos, atributos e estilos (DALL.E; Midjourney).

As potencialidades destas plataformas podem ser observadas em vídeos (por exemplo End of An Artist's Career? A.I. Creates Art for You!), em galerias de imagens ou capas de revistas totalmente produzidas por IA, que facilmente atribuímos a um autor humano. Veja-se, a título de exemplo, a imagem de capa deste artigo.

Esta é uma tendência com potencial para crescer, devido à rapidez, praticidade e facilidade do processo de criação, mas que, simultaneamente, suscita várias interrogações e múltiplas inquietações, umas de natureza ética e outras de natureza legal.

Como podemos observar, através da exploração dos exemplos referidos, a IA pode ter um impacto significativo, não só na indústria criativa, pois tem potencial para mudar a maneira como os humanos criam conteúdos e, ainda, suscita preocupações sobre a autenticidade e a originalidade dos produtos gerados.

A lei dos direitos de autor protege as obras criadas por seres humanos. No entanto, com a geração automática de conteúdos pela IA, há questões que ficam por responder, sobre quem deve ser considerado o autor de uma obra e de como esses direitos devem ser protegidos. Atendendo a este contexto, é muito provável que os sistemas de citação e referenciação bibliográfica tenham de acomodar estas novas fontes e, por outro lado, ferramentas como as que detetam o plágio possam incorporar pesquisas capazes de avaliar se os textos foram produzidos por humanos ou por máquinas.

Para além destas questões, podemos inventariar uma série de outras preocupações com a IA, já que tais tecnologias podem:

  • gerar desinformação, de alta qualidade e em grande quantidade (como os deep fakes, que são muito difíceis de distinguir de gravações ou vídeos autênticos);

  • ser utilizadas de forma discriminatória (algoritmos treinados com dados que refletem preconceitos existentes na sociedade);

  • levar a decisões injustas ou mesmo prejudiciais (entrevistas para obtenção de empregos realizadas por máquinas);

  • limitar a liberdade individual e a privacidade (sistemas de vigilância com IA que rastreiam as pessoas sem o seu consentimento);

  • branquear questões de responsabilidade (se uma decisão automatizada causar danos a alguém, quem será responsável pelos danos?).

Face a este tipo de preocupações, a Comissão Europeia já deu os primeiros passos ao elaborar uma proposta de regulamentação para a IA, visando garantir que esta seja usada de forma segura e ética. Tal proposta inclui medidas que visam garantir a transparência, explicabilidade e segurança dos sistemas de IA e proteger os direitos fundamentais das pessoas.

A ironia está em que a digitação nos dá acesso a mais informação, mas está a reduzir o espaço para o pensamento profundo e para o raciocínio, pois diminui o papel dos indivíduos na análise e interpretação da informação.

Para terminar, e como forma de testar e ilustrar as potencialidades da IA, solicitou-se ao ChatGPT que redigisse um poema sobre a inteligência humana. O resultado foi o seguinte:

                    “A inteligência humana, tão sofisticada e profunda
                    Com a sua capacidade de raciocinar, criar e compreender
                    É uma força a ser admirada
                    Uma fonte de conhecimento e sabedoria
                    É a chave para desvendar os segredos da natureza
                    E construir sociedades complexas e avançadas
                    É a luz que ilumina o caminho para o progresso
                    E nos permite sonhar com um futuro melhor
                    É a ferramenta que nos permite comunicar
                    E partilhar os nossos pensamentos e emoções
                    É a força que nos impulsiona a buscar a verdade
                    E a buscar significado na vida
                    A inteligência humana, tão sofisticada e profunda
                    É a nossa mais valiosa posse
                    É a fonte da nossa criatividade, do nosso conhecimento e da nossa consciência
                    É o que nos faz humanos e nos diferencia dos outros seres vivos.”

                                                                                                                   Fonte?/ Autor?: ChatGPT

E agora?

Agora, não sabemos se poderemos ficar tranquilos por a inteligência artificial nos reconhecer tal poder e tais virtudes.

Podemos, no entanto, confiar que seremos capazes, se usarmos os nossos recursos mais sofisticados, de adaptar a nossa relação com a tecnologia, para que a realidade permaneça humana, ou, parafraseando Eugénio de Andrade (Rosto Precário), “Deixe-me pois pensar que o homem ainda tem possibilidades de se tornar humano.”

Notas:

  1. A Rede de Bibliotecas Escolares tem publicado recentemente, neste blogue, vários textos sobre inteligência artificial. Pode aceder a esses textos seguindo esta hiperligação.

  2. A curadoria de artigos proveniente de fontes muito diversificadas permitiu igualmente criar a revista digital Inteligência Artificial.

Fonte das imagens: DALL.E; comando de texto: A picasso oil painting with a dog robot writing on a computer

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Ter | 24.01.23

Metaverso vs Realidade

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Todos os anos, no segundo dia, da segunda semana do segundo mês do ano assinala-se mundialmente o Dia da Internet Mais Segura, uma iniciativa liderada em Portugal pelo Consórcio Centro Português de Internet Mais Segura (PT SIC), de que a Rede de Bibliotecas Escolares é parceira.

Sendo a literacia dos media uma área de trabalho fundamental para as bibliotecas escolares, tradicionalmente estas aderem à iniciativa com grande entusiasmo, dinamizando nas suas comunidades múltiplas ações, sempre perseguindo o objetivo que congrega numerosos parceiros: ajudar a tornar a Internet um lugar melhor e mais seguro: JUNTOS POR UMA INTERNET MELHOR. A Rede de Bibliotecas Escolares apela a todas as bibliotecas que desenvolvam atividades no âmbito desta atividade a que registem a sua participação na página do Portal RBE dedicada à ação.

Este ano, o Centro Internet Segura definiu como tema para as reflexões Metaverso vs Realidade. A Rede de Bibliotecas Escolares aderiu à sugestão e disponibiliza quatro novos planos de aula para abordar a temática com alunos dos vários ciclos de ensino, integradas no âmbito das atividades de aplicação do referencial Aprender com a Biblioteca Escolar.

Sabendo-se que se trata de um conceito que ainda levanta muitas dúvidas junto do cidadão comum, publicaremos uma série de artigos sobre a matéria, entre hoje e 7 de fevereiro, como contributo para este desígnio comum de transformar a internet em algo melhor.

Lembramos que já dedicámos a nossa atenção ao metaverso, precisamente no Dia da Internet Mais Segura 2022, quando publicámos o artigo Metaverso... uma tecnologia que veio para ficar, cuja (re)leitura aconselhamos.

Hoje, faremos uma clarificação do conceito e da sua história

O que é o Metaverso?

 O metaverso é o que muitas pessoas acreditam ser, inevitavelmente, o futuro da internet: um universo virtual tridimensional, único, partilhado, imersivo e persistente, onde os humanos experimentam a vida de maneiras que não poderiam no mundo físico.

Imagina-se uma coleção de ambientes virtuais interconectados onde os utilizadores interagem fazendo-se representar por avatares – um mundo virtual onde biliões de pessoas vivem, trabalham, compram, aprendem e interagem umas com as outras – tudo a partir do conforto de seus sofás no mundo físico.

Neste mundo, os ecrãs de computador que usamos hoje para nos ligarmos a uma rede mundial de informações expandem-se e tornam-se portais multipresentes para um mundo virtualpara um mundo virtual 3D que é palpável, como a vida real, mas maior e melhor. Fac-símiles digitais de nós mesmos movem-se livremente de uma experiência para outra, representando as nossas identidades e o nosso dinheiro.

No centro do metaverso está a combinação de realidade aumentada com realidade virtual. A realidade aumentada é caracterizada por imagens geradas por computador sobrepostas sobre situações do mundo real, seja num telefone ou com óculos que nos permitem ver através do ecrã. A realidade virtual acontece quando se está totalmente imerso num mundo 3D gerado por computador.

Algumas das tecnologias que permitem acesso a esse mundo alternativo, como capacetes de realidade virtual e óculos de realidade aumentada, estão a evoluir rapidamente, mas outras componentes indispensáveis do metaverso, como largura de banda adequada ou padrões de interoperabilidade, ainda não se sabe quando e se se materializarão.

Apesar de todas as conversas que se vêm fazendo à sua volta, o metaverso ainda não existe verdadeiramente. No entanto, vemos as grandes empresas tecnológicas empenhadas em investir de forma séria nessa tecnologia o que indicia que a questão não é se o metaverso se vai concretizar, mas quando.

História do metaverso

Embora o conceito esteja ainda a surgir, não é novo: foi utilizado pela primeira vez em 1992, pelo escritor de ficção científica norte-americano Neal Stephenson, no seu livro Snow Crash (em português Samurai: Nome de código).

Nesta linha do tempo poderá ver as principais datas associadas ao conceito:

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De que forma(s) irá o metaverso transformar as nossas vidas? Que novos desafios trará à espécie humana?


Bibliografia

  1. Bahl, A. (2022, 13 de setembro). Metaverse for kids: The ultimate guide for parents and children. https://www.iamexpat.nl/education/education-news/metaverse-kids-ultimate-guide-parents-and-children
  2. ConnetSafely. (s.d.). Metaverse and Virtual Reality Safety Tips for Parents. https://www.connectsafely.org/metaverse-and-vr-tips-for-parents/
  3. Tucci, L. (2022, 18 de novembro). What is the metaverse? An explanation and in-depth guide. TechTarget. https://www.techtarget.com/whatis/feature/The-metaverse-explained-Everything-you-need-to-know

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Seg | 23.01.23

A Centralidade da Biblioteca Escolar do Século XXI

por Mário Henrique Gomes, Diretor do AE Professor Armando de Lucena, Malveira, Mafra

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Com a democratização do acesso à informação, a Escola passa a estar focada na promoção de competências para a pesquisa, seleção, utilização e partilha da informação, nas crianças e nos jovens.

Por outro lado, a Escola do século XXI é frequentada por uma diversidade de crianças e jovens, com interesses, necessidades, potencialidades e expetativas diversas, decorrentes de diferentes percursos escolares prévios, de vivências familiares e histórias pessoais heterogéneas.

Neste contexto, as Bibliotecas Escolares, como espaço de acesso à informação através de meios diversificados, revistas, livros e audiovisuais, em formato impresso ou digital, são autênticos laboratórios de pesquisa e de manipulação da informação, podendo agir como centrais na articulação e desenvolvimento do currículo.

Mais do que nunca, o papel essencial da Escola é o de promotor do desenvolvimento das literacias da informação e para os media, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e participativos na construção social.

O que se espera da Escola do século XXI não é que transmita conhecimento, mas que dote os alunos dessas ferramentas conceptuais e de competências para transformarem a informação, agora universalmente acessível, em conhecimento.

No Agrupamento de Escolas Professor Armando de Lucena (AEPAL), as Bibliotecas Escolares assumem, de acordo com o previsto no Projeto Educativo, uma renovada centralidade. As Bibliotecas Escolares são determinantes no suporte ao desenvolvimento de dinâmicas de pesquisa e seleção da informação, da verificação da sua validade e veracidade, da sua utilização e partilha. No AEPAL, existe um site dedicado às Bibliotecas Escolares, onde é feita a partilha de um vasto conjunto de recursos e atividades. A convite da equipa de Professoras Bibliotecárias do AEPAL, tenho tido a oportunidade de contribuir com algumas comunicações em formato audiovisual, reforçando esta centralidade das Bibliotecas Escolares.

À boleia das palavras do Professor Nóvoa, também eu acredito que a Escola ideal é aquela em que se entra pela Biblioteca.

Mário Henrique Gomes
Diretor do AE Professor Armando de Lucena, Malveira, Mafra

 

Veja também:

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Sex | 20.01.23

50 anos do 25 abril: Amílcar Cabral e a História do Futuro

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No contexto da comemoração dos 50 anos do 25 de abril de 1974, a Assembleia da República (Lisboa) acolheu, nos dias 13 e 14 de janeiro, o colóquio internacional Amílcar Cabral e a História do Futuro que assinala os 50 anos do assassinato de Amílcar Cabral, ocorrido a 20 de janeiro de 1973, em Conacri (República da Guiné).

Os organizadores do Colóquio foram o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, através do projeto CROME, Crosses Memories; Politics of Silence [2], o Instituto de História Contemporânea (NOVA-FCSH), o Laboratório IN2PAST e a CULTRA promotora da campanha Abril é Agora.

O Colóquio foi transmitido em direto [1] e a sua programação [3] reúne diversas personalidades da política e da cultura: Pedro Pires, ex-Primeiro-Ministro, antigo Chefe de Estado de Cabo Verde e atual Presidente da Fundação Amílcar Cabral, Iva Cabral, historiada e filha de Amílcar Cabral, o historiador Mustafah Dhada, Carlos Cardoso do Centro de Estudos Sociais Amílcar Cabral (CESAC), o investigador Bruno Sena Martins e a vereadora da Câmara de Lisboa e ex-deputada Beatriz Gomes Dias. Inclui performance de Prétu (antes Chullage) e festa no B.Leza.

Dos inúmeros tópicos de interesse do Colóquio, destacamos quatro:

1. Amílcar Cabral, figura incómoda, bem viva na cultura urbana juvenil

Nascido na Guiné-Bissau e filho de pai cabo-verdiano e de mãe guineense, Amílcar Cabral é líder e herói incontestado da luta pela independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, tendo sido assassinado por dois membros do partido político que ajudou a fundar, em 1959, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, PAIGC.

É uma personalidade que suscita questões controversas, inclusive sobre a sua morte, colocando-se a hipótese do envolvimento de Spínola e da PIDE/ DGS no seu assassinato, o que poderia ser uma solução militar planeada para salvar o império colonialista português. Apesar de haver, em África, arquivos que nunca foram estudados e, em Portugal, documentos omissos nos arquivos da PIDE, as evidências científicas disponíveis não confirmam esta hipótese.

“Ele é incómodo, representa inquietação. Por isso ainda o estudamos”, disse Pedro Pires, comandante da luta armada ao lado de Cabral e Primeiro-Ministro e Presidente de Cabo Verde após a sua independência, em 1975.

Agrónomo, poeta, guerrilheiro, intelectual - escreveu 106 textos, disse o historiador Mustafah Dhada – Amílcar Cabral é figura complexa que tem suscitado crescente interesse académico, apesar de na Guiné-Bissau se experienciar o seu “silenciamento” ou “apagamento na esfera pública”, conforme sublinhou Sílvia Roque, professora de Relações Internacionais na Universidade de Évora.

O seu nome e imagem não consta da toponímia ou das notas em circulação, o Mausoléu Amílcar Cabral que está na fortaleza José de Amura, em Bissau, carece de autorização dos militares para ser visitado e praticamente não consta dos manuais escolares.

Os meios tradicionais, institucionais e escolares, não resgatam Cabral, são os movimentos informais e inorgânicos, de origem popular, que atualizam e disseminam o seu pensamento e ação.

Sílvia Roque, com base em entrevistas a jovens guineenses, feitas para compreender “como é que o passado é vivido hoje e se projeta no futuro”, afirma que Cabral está impregnado na memória dos jovens e surge como algo desejável, é uma figura identitária, de resistência contra o colonialismo e de emancipação, que apresenta uma nova visão de futuro para a sociedade, baseada no encontro com a identidade cultural africana reprimida, primeiro pela escravatura e depois pelo colonialismo e apartheid.

2. A cultura como elemento estrutural da mudança política e social

Cabral é resgatado na rua, através de movimentos espontâneos urbanos e juvenis sem formação académica e que se exprimem através do rap e de outras canções e manifestações de protesto (e.g. Marxa Cabral criada a partir do rap [4]), de murais, de nova poesia (e.g. oraleitura, performances), de debates políticos e de intervenção social local, de T-shirts com a sua imagem, mostrando-se bem vivo em elementos da cultura popular.

Estas estéticas emergentes africanas questionam noções oficiais de cultura e de identidade e criticam a desgovernação e o colonialismo e racismo disseminado nos comportamentos e linguagem do dia a dia.

A influência africana – e.g. na música: o funaná, o batuque, a bazuca, a morna, o gumbé - é uma componente transversal e muito importante da cultura europeia e mundial contemporânea, profundamente híbrida.

Segundo Redy Wilson Lima, sociólogo e investigador do contexto cabo-verdiano urbano, “conseguimos a independência, mas não a libertação” e, segundo Miguel de Barros, sociólogo e investigador guineense, “a libertação é um ato de cultura”.

Arte e cultura são “o elemento estrutural dos movimentos de mudança sociais e políticas”: “criam código” para as comunidades articularem ideias e experiências e terem voz; geram consciencialização política – a intervenção política não é exclusiva das pessoas que ocupam cargos no sistema partidário; mobilizam – geram vontade, motivação - e transformam, para além de serem expressão e memória dos factos que ocorreram na História.

Segundo Miguel de Barros, atualmente os textos, imagens e sons de/ sobre Amílcar Cabral são usados para resignificar e refletir sobre as lutas presentes, travadas na periferia e para atualizar, prestar homenagem à luta dos antigos combatentes em prol da efetivação dos direitos humanos e da emancipação e soberania de um povo e de uma nação que comemora 50 anos de independência. Este movimento de resistência que se estende até à atualidade é produtor de conhecimento e de cultura.

3. Desafios para o futuro

Como transformar estes movimentos populares, de resistência, em democracia participativa, que fortaleça e dignifique as instituições de serviço público, foi uma das questões levantadas no Colóquio.

É importante que a academia articule com as escolas de ensino obrigatório, aproximando-se delas, não apenas para recolher dados, mas também para partilhar estas reflexões e desafiar as crianças e jovens a envolverem-se na vida política e a porem em prática estas ideias, referiu uma professora do auditório.

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CES vai à Escola é uma iniciativa do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra aproxima a educação e ensino do mundo académico para responder aos desafios sociais e políticos atuais.[6]

Miguel de Barros mencionou o seu trabalho de contribuir para a criação, na rua e no bairro, de assembleias populares/ concelhos de cidadãos, cujos participantes têm a oportunidade de apresentar e discutir, em conjunto, os seus problemas para tomarem decisões conscientes, terem voz e porem em prática, uns com os outros, as suas ideias.

É também importante que o poder político integre na sua agenda estes problemas e envolva estes cidadãos pois, segundo o investigador, a reestruturação da sociedade deve ter origem no espaço público.

Esta liderança empreendedora e colaborativa é, segundo Redy Wilson Lima, inspirada no exemplo e obra de Amílcar Cabral.

Beatriz Gomes Dias destacou que o 25 de abril é uma conquista e uma luta coletiva, do povo português, de combatentes anónimos, que requer um alargamento dos elementos de memorialização (e.g. toponímia), bem como um reconhecimento e valorização da língua nas suas diferentes formas, expressões e sotaques e uma visão crítica e contextualizada da História. A propósito, um elemento do auditório referiu que, no Brasil, a Lei 10.639 de 2003 torna obrigatório o ensino da história e da cultura africana no Brasil, como estratégia para mitigar a perceção preconceituosa e estereotipada da população negra que aumenta as desigualdades sociais.

4. O papel das bibliotecas escolares

Os 50 anos do 25 de abril de 1974 celebram-se de 23 de março de 2022 a dezembro de 2026 e, em 2023, o assassinato de Amílcar Cabral é um dos três temas sobre os quais a programação destas comemorações vai incidir [5].

A Rede de Bibliotecas Escolares associa-se às Comemorações, incentivando a discussão destes passados complexos que alargam a História oficial e geram visões mais inclusivas, participativas e pacíficas para o presente e futuro, abre esta reflexão e deixa o título de um romance de Mário Lúcio Sousa, escritor natural de Cabo Verde (1964), formado em Direito e ex-deputado do Parlamento e ex-Ministro da Cultura e Arte de Cabo Verde.

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“A última lua implodiu; estilhaçou-se feita uma supernova e apagou-se como um olho de gato, enquanto, no chão do mundo, sagrava-se e sangrava-se um herói [Amílcar Cabral]”[7].

Esta agenda das Comemorações alarga e aprofunda o papel das bibliotecas escolares no cumprimento da agenda do Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação 2021-2025 de que a RBE e as bibliotecas escolares fazem parte.

 

Referências

1. Assembleia da República. (2023, 13 e 14 jan.). Colóquio: Amílcar Cabral e a história do futuro. Lisboa: AR. https://www.facebook.com/events/624393636353027/?active_tab=discussion

2. Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. CROME, Crosses Memories; Politics of Silence. Coimbra: CES. https://crome.ces.uc.pt/index.php?id_lingua=2

3. Abril é Agora! (2023, 13 e 14 jan.). Colóquio Amílcar Cabral e a história do futuro. Lisboa: Cultra. https://abrilagora.pt/agenda/coloquio-amilcar-cabral-e-historia-do-futuro

4. Redy, Lima. (2022, 19 jan.). Marxa Cabraln2022. Lisboa: Buala. https://www.buala.org/pt/a-ler/marxa-cabral-2022

5. Ribeiro, Nuno. (2923, 17 jan.). Aprovado programa dos 50 anos do 25 de Abril. Lisboa: Público. https://www.publico.pt/2023/01/17/politica/noticia/aprovado-programa-50-anos-25-abril-2035329

6. Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. (2023). CES vai à escola. Coimbra: CES. https://www.ces.uc.pt/extensao/cesvaiaescola/

7. Sousa, Mário. (2022). A Última Lua de Homem Grande. Lisboa: Publicações D. Quixote. https://www.buala.org/pt/mukanda/uma-abordagem-critica-do-romance-a-ultima-lua-de-homem-grande-de-mario-lucio-sousa-parte-i

8. Fonte da imagem de capa: [1].

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Qua | 18.01.23

Ensinar e aprender após 2020 - seminário internacional

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Realiza-se na próxima 6.ª feira e sábado, 20 e 21 de Janeiro, em Coimbra, o seminário internacional E-DUCATION: TEACHING AND LEARNING AFTER 2020 que proporcionará a oportunidade para saber mais sobre este projeto ERASMUS+ transnacional no qual colaboram várias instituições de ensino e pesquisa: Fundación Santos Mártires de Córdoba, Universidade de Córdoba, Universidade Internacional de La Rioja e Conecta 13 (Espanha); Istituto Istruzione Superiore "Abramo Lincoln", Escolas Eurolingue e CREATIV (Itália) e o Agrupamento de Escolas Rainha Santa Isabel (Portugal).

A colaboração centra-se em três linhas de trabalho: metodologias ativas online, avaliação em sistemas remotos e coordenação da comunidade educativa no atendimento aos alunos, dando especial atenção a quem se encontra em situação de desvantagem.

Este é um projeto que envolve todo o AE Rainha Santa Isabel, nomeadamente as bibliotecas escolares como interfaces no acesso à informação e ao conhecimento, catapultando a as suas funções para o domínio da hibridez de serviços educativos, criados durante a pandemia e com percursos ainda sustentáveis.

A organização deste seminário internacional, é da responsabilidade do AE Rainha Santa Isabel, Coimbra mas representa o envolvimento dos diversos parceiros do projeto. Consulte o Programa.

O congresso será organizado em duas Ações de Curta Duração para docentes:

  • ACD18A - 3h - 20/01/2023 - 14h30-17h30
  • ACD18B – 6h - 21/01/2023 - 9h30-17h30

Mais Informações e Inscrições para Pessoal Docente no CFAE Minerva.

Pais e Encarregados e Educação, estudantes, psicólogos, assistentes sociais, e outros técnicos, podem também inscrever-se, preenchendo o respetivo formulário.

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Ter | 17.01.23

Faraós Superstars e a cultura contemporânea

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A cultura está no centro da biblioteca escolar. Pode ser criada a partir da Literatura, História e Ciência, expandindo, modificando ou invertendo factos e evidências ou iluminando omissões, por vezes, intencionais e estruturais, transmitidas pelos homens no poder. Alarga o passado à luz dos desafios contemporâneos e globais e, por isso, tem o propósito de incluir, criar coesão social e dar sentido à vida das pessoas.

No ano em que se comemora o centenário da descoberta do túmulo do faraó Tutankhamon e o bicentenário da decifração da Pedra de Roseta que dá origem à egiptologia, o Museu Calouste Gulbenkian, com o qual a Rede de Bibliotecas Escolares colabora, abre ao público a exposição  Faraós Superstars (25 nov. 2022 – 06 mar. 2023) e lança às escolas um Desafio de Projetos cujas Inscrições podem ser realizadas  até 3 de fevereiro.

Para apoiar as escolas inscritas, a RBE criou um conjunto de 10 Ideias para Projetos que podem inspirar os participantes.

Com a colaboração da Coordenadora de Mediação do Museu, Dra. Inês Brandão, irá realizar-se sexta-feira, dia 20 de janeiro, entre as 15:00 e as 15:35 horas, uma sessão de sensibilização, à distância, via Zoom, dirigida a todos os professores bibliotecários e outros professores que queiram participar e na qual os participantes podem intervir com comentários e questões. A ligação para entrar nesta sessão é a seguinte:

https://dge-me-pt.zoom.us/webinar/register/WN_EpDGyhdbTyOUyJD7_JFEtA

A partir de fevereiro, todos os professores inscritos neste Desafio de Projetos que não possam visitar presencialmente a Exposição, poderão participar num encontro à distância, dinamizado pela Dra. Inês Brandão e com a colaboração da RBE, que facilitará a aproximação aos recursos e aos conteúdos da Exposição.

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Faraós Superstars apela-nos a sentir, conhecer, incorporar e regenerar uma cultura ancestral que está nas raízes da Humanidade e tem ligação à atualidade, sobretudo à cultura pop.

Gostaríamos que todas as crianças e jovens experienciassem e vivessem este património, através da imaginação e do conhecimento, contribuindo com diferentes textos, expressões e práticas artísticas que podem ser realizadas em diversos formatos e suportes e usar diferentes meios, materiais e técnicas.

Estes processos partilhados ampliam a visão dos participantes e ligam e enriquecem o património cultural global.

Contamos com a colaboração de todos os professores bibliotecários e coordenadores interconcelhios para levar esta oportunidade às escolas e às bibliotecas e deixamos um verso de uma coleção de poemas baseados em textos hieroglíficos: 

Bebo todo o dia,
Não água do odre, mas beleza.[1]

Referências

[1] In: Pereira, Hélder (trad.). (1998, janeiro). Poemas de Amor do Antigo Egito [Coleção Gato Maltês, p.53]. S.l.: Assírio Alvim.

Fonte da imagem: Fundação Calouste Gulbenkian. Faraós Superstars. https://gulbenkian.pt/visitas-para-grupos-particulares/faraos-superstars/

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