O projeto “Newton Gostava de Ler” está a decorrer pela primeira vez, este ano letivo, no concelho de Torres Vedras, graças à parceria e apoio do Serviço Educativo Quero Ser Cientista, da Divisão da Educação da Câmara Municipal de Torres Vedras.
Esta iniciativa enquadra-se no âmbito da promoção da literacia científica em meio escolar, aliando ciência, leitura e criatividade, e resulta de uma colaboração entre a Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) e a Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro.
O projeto visa estimular o interesse pela ciência através da leitura e desafia as bibliotecas escolares a promoverem atividades que cruzem o universo científico com o literário. Através da utilização de kits pedagógicos, propostas de leitura e desafios experimentais, pretende-se envolver os alunos numa aprendizagem ativa, significativa e interdisciplinar.
No concelho de Torres Vedras, foi adquirido, para arranque, o Kit 3, 2, 1... Lançar Sonda na Biblioteca !, que tem circulado por várias escolas do concelho, onde têm sido dinamizadas diversas sessões com alunos desde o 1.º ciclo (3.º e 4.º ano) ao 3.º ciclo, promovendo o contacto direto com atividades científicas e a articulação com o currículo escolar:
O impacto destas sessões tem sido muito positivo, tal como partilhou um dos professores bibliotecários dinamizadores:
“Mal tinham terminado as sessões, já me perguntavam quando iria fazer outra do mesmo género.”
Como parte da implementação do projeto, os professores bibliotecários do concelho participaram num workshop de formação, dinamizado no dia 17 de dezembro de 2024, no Centro de Educação Ambiental de Torres Vedras. A sessão foi conduzida pelos formadores da Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro, entidade responsável pela conceção e dinamização do projeto a nível nacional.
Durante a sessão, os participantes exploraram o conteúdo do kit, realizaram atividades práticas e discutiram formas de articulação com os currículos e com o plano de atividades das bibliotecas escolares.
Para apoiar a dinamização do projeto nas escolas, foi também disponibilizada uma proposta complementar de preparação das leituras por parte da Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro, com o objetivo de enriquecer a experiência dos alunos e fomentar a interdisciplinaridade entre ciência e literatura.
O entusiasmo gerado pelas sessões, o interesse demonstrado pelos alunos e o envolvimento ativo dos professores bibliotecários confirmam o enorme potencial do projeto “Newton Gostava de Ler” para transformar a forma como a ciência e a leitura se cruzam no contexto educativo.
Este é um exemplo claro de como a colaboração entre instituições, a inovação pedagógica e o investimento em recursos educativos de qualidade podem fazer a diferença na aprendizagem dos alunos, despertando curiosidade, espírito crítico e gosto pela descoberta.
Que este projeto continue a inspirar novas leituras, novas experiências e muitos mais lançamentos — de sondas, de ideias e de futuros cientistas-leitores nas nossas escolas!
Na noite de 9 de maio, a sala do primeiro piso da Biblioteca Municipal de Sobral de Monte Agraço, dedicada à literatura juvenil e adulta, encheu-se de música e vozes partilhadas, tendo Luís de Camões como figura tutelar de um serão que celebrou, “com engenho e arte”, o poder da palavra e da leitura em família.
A elevada adesão ao evento levou a organização a alterar o espaço inicialmente previsto- a sala polivalente- para um ambiente mais amplo que pudesse acolher os mais de pais e encarregados de educação inscritos na iniciativa. Ali decorreu o VIII Serão de Encantar, promovido pela Rede de Bibliotecas do Concelho de Sobral de Monte Agraço, sob o mote “Letra a letra, palavra por palavra…(A)mar Camões”, que cumpriu plenamente o seu propósito: reunir famílias, educadores, alunos e parceiros em torno da palavra dita, da leitura vívida, da música e da herança literária de Luís de Camões.
O Serão de Encantar é, desde a sua origem, um projeto que transcende a simples programação cultural. É a afirmação da leitura como prática afetiva e cívica, promotora de vínculos entre gerações e de um sentimento de pertença à comunidade educativa. Esta iniciativa, criada inicialmente com o objetivo de dar a conhecer os serviços, recursos e dinâmicas da Rede de Bibliotecas do Concelho de Sobral de Monte Agraço, tem vindo a consolidar-se como um espaço privilegiado de encontro intergeracional e de partilha entre a escola e a comunidade.
Este ano, o tema escolhido respondeu ao repto da Rede de Bibliotecas Escolares no sentido de celebrar Camões “com engenho e arte”, no contexto das Comemorações dos 500 anos do seu nascimento.
Um serão em família com palavras que encantaram
A sessão teve início com as palavras de boas-vindas da Vereadora da Educação,Dra. Carla Alves, e da Coordenadora Bibliotecária Interconcelhia, Dra. Paula Ribeiro, que enalteceram o papel das bibliotecas e o importante papel das famílias e das comunidades para a formação integral dos alunos. Seguiu-se a intervenção da Dra. Júlia Leitão, representante da Rede de Bibliotecas, que contextualizou esta oitava edição e valorizou o trabalho em rede bem como a adesão das famílias como requisitos essenciais para o sucesso e a continuidade desta iniciativa e de todo o trabalho desenvolvido para promover a leitura.
A Coordenadora das Bibliotecas Escolares do Agrupamento de Escolas de Sobral de Monte Agraço sublinhou o paralelismo entre o legado camoniano e a missão das bibliotecas escolares, enquanto espaços onde se promove a curiosidade, a expressão artística, a literacia e a formação de leitores críticos e criativos, justificando a temática central escolhida.
Coube à responsável da Biblioteca Municipal apresentar o programa da noite e introduzir a primeira atividade, protagonizada por um grupo de 18 crianças da Educação Pré-Escolar e do primeiro ciclo das escolas de Sapataria, de Pêro Negro e de Santo Quintino. Com o teatro de sombras “Mais um ano de Camões”, os mais novos deram início à viagem poética, orientados pelas vozes narradoras dos educadores Afonso Moreno e Orada Chambel. Num ambiente de penumbra e encantamento, as figuras projetadas deram vida e voz a alguns versos da lírica camoniana e a uma narrativa que recriou o encontro entre mundos e com o outro, evocando o espanto, o medo e a descoberta mútua aquando da chegada dos portugueses a terras desconhecidas através do olhar da personagem Namutu, personagem inspirada no conto de Pepetela “Estranhos pássaros de asas abertas“.
Seguiu-se a performance de uma aluna do 12.º ano, Joana Alves, que deu voz ao soneto “Amor é fogo que arde sem se ver” e à cantiga “Verdes são os campos”, poemas que celebram o amor e a natureza.
Atécnica da Biblioteca Municipal, Alexandra Santos, assegurou uma envolvente dinâmica intitulada “Era uma vez… Camões”, tendo por base a obra de Sérgio Franclim, As Aventuras e Desventuras de um Poeta Épico, na qual apresentou, de forma interativa, episódios da vida do poeta, cruzando-os com a atualidade. Concluiu a sua intervenção com a proposta de uma atividade a realizar em família intitulada “Aos olhos de Camões”, que desafiou os participantes a (re)interpretar o mundo a partir do olhar do poeta e a partilhar as propostas para divulgação posterior nas redes sociais.
Miguel Costa trouxe à sessão o soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, lembrando a todos que as palavras de Camões permanecem vivas e atuais, inspirando autores posteriores. Terminou partilhando um poema da sua autoria, em que reatualiza algumas temáticas camonianas.
O serão prolongou-se na sala polivalente, num pequeno lanche-convívio, com leituras realizadas pelo professor bibliotecário Joaquim Ferreira e o aluno Miguel Costa, provando que, mais do que uma sessão de leitura, o VIII Serão de Encantar foi um momento de aproximação entre parceiros, famílias, encarregados de educação, reunindo a comunidade numa experiência educativa e cultural que fez da leitura uma festa e da biblioteca um lugar de encontro. Sob a égide de Camões, celebraram-se os laços que unem a escola à família, a literatura à vida e o passado ao presente — letra a letra, palavra por palavra, com emoção e encanto.
A Rede de Bibliotecas do Concelho de Sobral de Monte Agraço renovou, assim, o seu compromisso com a promoção da leitura em contexto escolar, familiar e comunitário, afirmando a escola e as bibliotecas como espaços de cultura e cidadania.
Letra a letra, palavra por palavra… amou-se Camões, a palavra escrita e dita, com engenho, arte e encantamento.
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, “adotada por todos os Estados-Membros das Nações Unidas em 2015, define as prioridades e aspirações do desenvolvimento sustentável global para 2030 e procura mobilizar esforços globais à volta de um conjunto de objetivos e metas comuns”. São dezassete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ( https://ods.pt/) que devem ser entendidos numa perspetiva holística, como se tratasse de “uma lista das coisas a fazer em nome dos povos e do planeta”.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável têm como base os progressos e as aprendizagens resultantes dos 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, estabelecidos entre 2000 e 2015. Recordamos que a Agenda 2030 decorre do trabalho conjunto de governos e cidadãos de todo o mundo. Trata-se de um apelo urgente a todos os países, a todos os líderes, a todos os educadores, a todos nós.
Muitas são as bibliotecas escolares (BE) que seguem as orientações da IFLA (https://www.ifla.org/wp-content/uploads/2019/05/assets/hq/topics/libraries-development/documents/libraries-un-2030-agenda-toolkit-pt.pdf ) reforçando a ideia que as “bibliotecas dão um importante contributo para o desenvolvimento. O propósito deste conjunto de ferramentas é apoiar o trabalho de advocacy para a inclusão das bibliotecas e do acesso à informação como parte dos planos de desenvolvimento nacionais e regionais que contribuirão para cumprir - Transformar o nosso mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (Agenda 2030 da ONU) “
As Bibliotecas Escolares associam-se a estes objetivos apresentando um conjunto diversificado de atividades, recursos e de sugestões de leitura para que os professores bibliotecários, docentes e alunos possam trabalhar em prol de uma maior consciencialização e da urgência de dar cumprimento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Neste sentido, partilhamos os seguintes títulos para conhecer e pensar melhor os objetivos:
"Estes livros pretendem falar de uma forma aberta, simples, mas factual sobre o mundo em que vivemos e incentivar as crianças e jovens a agirem proativamente de forma a conseguirem contribuir para a melhoria das condições de vida das pessoas, mesmo aquelas que vivem longe, noutros países.” [Sinopse da editora - Plátano Editora] Coleção Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, de Carlos Desgarrado Pereira, Catarina Soares, Cátia Cavaco, Filipa Saldanha, Sofia Santos, Tânia Marques e Tânia Oliveira
“A obra ODS-Estratégia Metodológica para a Sustentabilidade, surge da investigação e compreensão da Agenda 2030 e o conjunto de indicadores que compõem os ODS, onde exponho os critérios metodológicos de cerca de 200 indicadores dos 17 objectivos. Trata-se de uma obra técnica, do ramo das estatísticas, com abordagem metodológica em termos de cálculos de variadíssimos indicadores (Económicos, Sociais e Ambientais), nela apresento uma análise estatística e teste de conformidade dos indicadores, de forma qualitativa e/ou quantitativa. No desenvolvimento de cada capítulo, apresentamos a caracterização metodológica de cada indicador, fazendo uma exposição da definição, fundamentação, conceitos, comentários e limitações, metodologia de cálculo, desagregação, fonte de informação e organização internacional responsável.” [sinopse responsabilidade do editor]
Na impossibilidade, de num só artigo, de sugerir leituras para todos os ODS, neste artigo partilhamos algumas sugestões de leitura para trabalhar, debater, dialogar sobre o ODS 4 – Educação de Qualidade.
“Quando um percurso de transformação pode ser um percurso de traição. Tara Westover cresceu a preparar-se para o Fim dos Tempos, para ver o Sol escurecer e a Lua pingar, como que de sangue. Passava o verão a conservar pêssegos e o inverno a cuidar da rotatividade das provisões de emergência da família, na esperança de que, quando o mundo dos homens falhasse, a sua família continuasse a viver.
Não tinha certidão de nascimento e nunca pusera um pé na escola. Não tinha boletim médico, porque o pai não acreditava em médicos nem em hospitais. Não havia quaisquer registos da sua existência. O pai foi ficando cada vez mais radical com o passar do tempo, e o seu irmão, mais violento. Aos dezasseis anos, Tara decidiu educar-se a si própria. A sua sede de conhecimento haveria de a levar das montanhas do Idaho até outros continentes, a cruzar os mares e os céus, acabando em Cambridge e Harvard. Só então se perguntou se tinha ido demasiado longe. Se ainda podia voltar a casa. Uma Educação é a história apaixonante de uma mulher que se reinventa. Mas é também uma história pungente de laços de família e de dor quando esses laços são cortados. Com o engenho dos grandes escritores, Tara Westover dá forma, a partir da sua experiência singular, a uma narrativa que vai ao cerne do que é a educação e do que ela nos pode oferecer: a perspetiva de ver a vida com outros olhos e a vontade de mudarmos."[sinopse responsabilidade do editor]
“O Pedrito está ansioso por aprender, mas não quer ir sozinho à escola. Será que vai correr bem? É o primeiro dia de escola do Pedrito. Ele começa a juntar todas as coisas importantes de que vai precisar, desde o lápis ao cesto com o almoço. Mas apercebe-se de que as irmãs vão ficar em casa. Então, a mãe explica-lhe que a escola é para coelhinhos crescidos como ele! O Pedrito fica contente e ansioso por aprender coisas novas e estar com os amigos. Vem divertir-te com este conto do Pedrito Coelho, no mundo encantado de Beatrix Potter. “ [sinopse responsabilidade do editor]
“Chegado ao fim do seu passeio matinal, o velho olha ainda, já ao longe, a escola das suas infâncias. A Escola do seu futuro. A sua Escola de paredes brancas. Ávidas de inscrições. Onde muitos sonhos possam ser gravados. Tantos quantas crianças e quantos os sonhos que não deixamos morrer-lhes."
“Os Lápis estão prontos para voltar às aulas, cheios de vontade de aprender mais e mais! Eles também estão prontos para fazer novos amigos e para se divertirem na sua aula preferida... Artes Plásticas!
Mais uma história hilariante, que vai acompanhar os mais pequenos no seu regresso às aulas, com o material escolar preferido, os Lápis de Cor! Mais um livro cheio de humor que vem ajudar os mais pequenos a regressar à escola ainda com mais energia!” [sinopse responsabilidade do editor]
“Podem os pais, os educadores, os profissionais do ensino ou outros interessados aprender através da escuta atenta à voz das crianças? Manuela Castro Neves entende que sim. Ao longo de vários anos, a autora reuniu um conjunto de relatos de episódios vividos por ela com crianças entre os quatro e os dez anos de idade e que designou por «histórias». Ocorridas em sessões de apoio individualizado à aprendizagem, ou em encontros com os seus ouvintes em escolas e bibliotecas, ou ainda noutros lugares e tempos sem ligação entre si, estas «histórias» afloram questões pedagógicas, ao mesmo tempo que abrem pistas para o seu aprofundamento. Uma obra de grande sensibilidade, que coloca a criança no centro do processo de crescimento e de aprendizagem, com as suas interrogações e descobertas, e que aborda o papel do erro e da motivação como 'leitmotive' desse processo. Uma obra profundamente humana, que irá certamente regalar e enternecer, mas também surpreender o leitor.” [sinopse responsabilidade do editor]
“O Martim é um menino especial, sobretudo para a sua melhor amiga, que o vê como ninguém e dá valor a tudo o que o torna diferente de toda a gente. Martim sabe de cor a ementa do mês da cantina da escola, mas engana-se a fazer contas. Gosta de abraços, mas não que lhe toquem. Gosta de bicharocos, mas para os guardar no bolso. Um dia, a melhor amiga deixa de o ver na escola e não descansa até perceber onde ele está. Um livro perfeito para abordar a situação das crianças “diferentes”, com necessidades educativas especiais. “ [sinopse responsabilidade do editor]
“Neste ensaio sobre várias cegueiras, o professor Rui Correia debruça-se sobre a proximidade na educação. De como nos darmos aos nossos miúdos e da serventia, tão lunar quanto luminosa, que a escola traz para as suas vidas. O lugar que ela ocupa neles. De como a vida toda é sempre a melhor encarregada de educação. “ [sinopse responsabilidade do editor]
"O nome de Malala Yousafzai, a menina que quase perdeu a vida por querer ir à escola, nunca será esquecido. Malala nasceu no Paquistão em 1997, no vale do Swat, uma região de extraordinária beleza, habitada por reis e rainhas, príncipes e princesas, cobiçada por povos antigos e protegida pelos bravos guerreiros pashtuns – os povos das montanhas. Uma das melhores alunas da turma, a pequena Malala cresceu nos corredores da escola do pai, Ziauddin Yousafzai, até ao dia em que os talibãs invadiram a sua cidade. Armados e sempre vigilantes, proibiram a música e a dança, obrigaram as mulheres a ficar em casa e decretaram que apenas os meninos poderiam estudar. Malala não podia aceitar esta situação e, fazendo das palavras a sua arma, resistiu – e continuou a ir às aulas. A 9 de outubro de 2012, quando voltava da escola, foi alvejada por membros dos talibãs, e poucos acreditaram que sobreviveria. A jornalista Adriana Carranca visitou o vale do Swat dias depois do atentado, hospedou-se em casa de uma família local e decidiu escrever este livro-reportagem, onde conta tudo o que por lá viu e aprendeu, para ensinar às crianças do resto do mundo a história real da menina mais jovem a ter recebido o Prémio Nobel da Paz. Um bonito e verdadeiro exemplo de como uma pessoa e um sonho podem mudar o mundo.” [sinopse responsabilidade do editor]
O relatório Trends Shaping Education 2025 é uma publicação trianual da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que, tal como as 6 edições anteriores:
Analisa as grandes forças globais - sociais, tecnológicos, económicos, ambientais e políticos - que estão a transformar os sistemas educativos;
Apresenta uma visão integrada e prospetiva da educação, explorando cenários alternativos e ferramentas de reflexão estratégica para antecipar disrupções e oportunidades futuras;
Informa e inspira decisores políticos, investigadores, líderes educativos e a sociedade em geral sobre como a educação pode contribuir para um futuro mais resiliente, inclusivo e sustentável.
É relevante para as bibliotecas escolares, que desempenham um papel central na promoção da inclusão, inovação, literacia e desenvolvimento de competências essenciais para o século XXI.
1. Principais Tendências e Recomendações
A edição 2025 estrutura-se em quatro grandes eixos, que refletem as principais megatendências com impacto na educação (e nas bibliotecas escolares): 1. Conflito Global e Cooperação, 2. Trabalho e progresso, 3. Vozes e narrativas e 4. Corpo e mente.
Ao longo do artigo evidenciamos a forma como as bibliotecas acompanham estas tendências, constroem resiliência e colaboram com a ação governativa.
1. Conflito Global e Cooperação
Este eixo “destaca como o recente aumento de conflitos globais e tensões geopolíticas está a pressionar os orçamentos públicos, com os gastos em segurança e defesa a crescerem frequentemente à custa de outras prioridades, como a educação”.
Esta situação tem efeitos na qualidade e continuidade dos serviços educativos.
O relatório sublinha o papel da cooperação internacional na formulação de políticas educativas inclusivas e equitativas e levanta questões sobre o contributo da educação para a construção de sociedades mais pacíficas e para o apoio a movimentos migratórios resultantes de conflitos e alterações climáticas.
Destaca o crescimento das desigualdades sociais, económicas e culturais em contextos de crise, como o atual.
Recomendações
Investir em políticas de inclusão para grupos vulneráveis (migrantes, minorias, alunos com necessidades especiais);
Promover a equidade e a justiça social como pilares do sistema educativo;
Adaptar currículos e abordagens pedagógicas para que possam responder eficazmente à diversidade dos alunos.
O relatório evidencia que “os mercados de trabalho globais estão a transformar-se rapidamente devido à convergência de avanços tecnológicos, como a IA (Inteligência Artificial) [a Internet das Coisas (IoT) e Realidade Virtual (VR)] e às crescentes exigências de sustentabilidade”. Estas mudanças influenciam a procura de novas competências na educação e formação profissional.
No domínio tecnológico
A “explosão” de tecnologias digitais está a automatizar tarefas rotineiras e cognitivas, criando funções e empregos que exigem competências digitais, pensamento crítico, resolução de problemas e adaptabilidade.
O crescimento do trabalho remoto está a modificar padrões laborais, promovendo estilos de vida mais flexíveis.
A rápida evolução do mercado de trabalho exige que a aprendizagem seja flexível e contínua - “a aprendizagem ao longo da vida é essencial para a adaptação às mudanças tecnológicas e sociais”. Esta tendência traduz-se em:
Diversificação dos percursos educativos e valorização de competências não-formais;
Reforço da formação contínua e da reconversão profissional;
Parcerias entre escolas, empresas e universidades.
Na escola [e na biblioteca], a digitalização e a adoção crescente de tecnologias, estão a redefinir o conceito de escola e “a transformar a forma como as pessoas aprendem, trabalham e interagem”. Esta tendência implica:
Personalização do ensino, adaptando conteúdos e métodos ao perfil e necessidades individuais dos alunos, melhorando os resultados de aprendizagem;
Novos desafios éticos e de equidade no acesso à tecnologia.
Recomendação
Integração da literacia digital em todos os currículos, preparando os alunos “para avaliar criticamente conteúdos digitais, proteger a sua privacidade e utilizar a tecnologia de forma a melhorar a aprendizagem e o bem-estar”.
A transição para economias verdes está a aumentar a procura por empregos sustentáveis, mas a falta de consciência ambiental, de competências técnicas e de práticas de consumo sustentável pode dificultar este processo.
Recomendações
Os sistemas educativos:
“Desempenham um papel crucial na promoção da literacia sobre as interdependências entre sistemas naturais e sociais, evidenciando, por exemplo, como as alterações climáticas afetam a saúde pública ou como práticas agrícolas impactam os ecossistemas e a segurança alimentar”. A educação para o desenvolvimento sustentável e o pensamento sistémico devem ser integrados no currículo, promovendo-se competências para a cidadania ecológica e envolvendo-se as escolas e comunidades em projetos de sustentabilidade.
“Têm um papel fundamental na promoção de estilos de vida sustentáveis e na preparação para empregos verdes”.
A Sustentabilidade é um valor fundamental do Quadro Estratégico da Rede de Bibliotecas Escolares e deve ser tida em conta na planificação e ação estratégica da biblioteca escolar.
3. Vozes e narrativas
Este eixo sublinha a importância de incluir diversas perspetivas e histórias no currículo, na política/ democracia, artes, media/ jornalismo e digital.
Defende o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural, linguística e experiencial como elementos fundamentais para um ambiente educativo mais inclusivo, representativo e inovador.
Destaca o papel da educação no desenvolvimento da cidadania ativa e na promoção da pluralidade de vozes e narrativas, referindo movimentos como #MeToo, Black Lives Matter, Fridays for Future e a descolonização como exemplos de discussões coletivas “sobre quem conta as histórias e quem é ouvido nas democracias [contemporâneas] e no panorama cultural global”.
No próprio relatório, os cenários apresentados no final de cada capítulo - que exploram como o mundo e a educação poderão ser em 2040 - são acompanhados por narrativas ficcionais de atores-chave do setor educativo, que adotam diferentes perspetivas e contextos para inspirar a reflexão e a ação sobre futuros alternativos e os seus impactos na vida real
Num contexto de polarização política e desafios à democracia como o atual, a educação para a cidadania global e a participação democrática deve ganhar relevo.
É “essencial preparar os jovens para serem cidadãos ativos e informados”, promover o diálogo intercultural, o respeito e a tolerância por diferentes culturas e combater a desinformação.
As bibliotecas escolares cumprem estas recomendações ao:
Construírem uma coleção inclusiva e diversa, com diferentes autores e protagonistas para obras literárias e diferentes idiomas, ideias e opiniões.
Recolherem e partilharem histórias reais autênticas e inspiradoras de pessoas diversas.
Desenvolverem projetos colaborativos que incentivam a intervenção comunitária.
4. Corpo e mente
O relatório reconhece a íntima ligação entre saúde física, saúde mental e aprendizagem e “o impacto de fatores sociais e ambientais no sucesso escolar”.
Por isso, recomenda políticas e currículos que integrem o bem-estar físico e emocional na cultura escolar, incentivando
Práticas de atividade física;
Desenvolvimento de competências socio-emocionais e resiliência;
Criação de ambientes escolares seguros e acolhedores;
Apoio psicológico.
Foi desde a pandemia Covid-19 que “o bem-estar se tornou um objetivo central das políticas educativas”, exigindo aos sistemas educativos respostas integradas e inovadoras.
Informações e recursos que promovem a consciencialização sobre questões de saúde mental e combatem os estigmas
Um lugar seguro, onde todos os alunos podem ser acolhidos e encontrar consolo e proteção.
2. Os futuros possíveis da educação e a construção de resiliência
O aspeto mais inovador/ controverso do relatório é a incorporação, no contexto da educação, de "Futuros Possíveis".
Em vez de assumir que o futuro será apenas uma continuação linear do presente, o relatório propõe um exercício de pensamento prospetivo, desafiando os leitores a refletirem sobre diferentes cenários futuros - desde transformações radicais até potenciais colapsos sociais, ecológicos e tecnológicos - e a considerar como as políticas educativas podem ser adaptadas a cada um desses cenários.
A educação é um sistema dinâmico e flexível e, por isso, , é fundamental imaginar e planear como pode responder a contextos imprevisíveis, sobretudo perante desafios globais emergentes, como as crises climáticas, as rápidas mudanças tecnológicas e o agravamento das desigualdades sociais.
Adotar esta abordagem de antecipação e adaptação torna o sistema educativo mais resiliente, preparado para enfrentar incertezas e transformar desafios em oportunidades de inovação e desenvolvimento.
A Biblioteca Escolar do Agrupamento de Escolas José Silvestre Ribeiro, Idanha-a-Nova, lançou o desafio de um resgate às brincadeiras e brinquedos de outros tempos, promovendo uma articulação intergeracional com impacto significativo na comunidade educativa. A iniciativa surgiu no âmbito dos Domínios de Autonomia Curricular e do Desenvolvimento e Cidadania e em parceria com docentes do 2.º Ciclo.
Os alunos abraçaram a proposta e foi com brilho, música e emoção que avivaram as memórias das brincadeiras de outros tempos. A família, designadamente os avós, foram determinantes na passagem desse testemunho da sua infância, longínqua, que os seus netos, alunos do 5.º e 6.º anos, magnificamente souberam mostrar, brincando, lendo, testemunhando bons exemplos de como é importante exercer o direito a brincar para o crescimento cognitivo e físico das crianças.
De facto e de acordo com o consignado, no PASEO, “As humanidades hoje têm de ligar educação, cultura e ciência, saber e saber fazer. O processo da criação e da inovação tem de ser visto relativamente ao poeta, ao artista, ao artesão, ao cientista, ao desportista, ao técnico – em suma à pessoa concreta que todos somos.” Nesse sentido a pluralidade de atividades de articulação e inclusão de vários saberes intergeracionais proporcionou momentos de aprendizagem, centrados na leitura, na dramatização, na música e na arte de brincar.
Durante a Semana da Leitura, que coincidiu com a Exposição “Resgate aos Brinquedos” na Biblioteca Escolar, as crianças do Jardim de Infância e os alunos do 1.º Ciclo de Idanha e Ladoeiro visitaram a sede do Agrupamento de Escolas José Silvestre Ribeiro trazendo muita poesia, alegria e magia.
A leitura e a narração de histórias não têm apenas carácter lúdico, é também uma metodologia que enriquece a aprendizagem e promove o conhecimento. As histórias na infância são fundamentais na formação da identidade e da aquisição de valores assim como no desenvolvimento da imaginação, das capacidades cognitivas e da inteligência emocional das crianças. Para além disso, estimulam a capacidade de observação, a concentração e a memória. A integração musical na leitura ou narração de uma história apura o processamento auditivo, a coordenação motora e a sociabilidade.
As Adufeiras de Idanha-a-Nova (das quais fazem parte alunas, familiares e assistentes operacionais) têm no seu reportório cantares tradicionais que preservam as tradições e a cultura secular. Alegraram e cantaram a "Senhora do Almurtão" ao som do Adufe.A interação dos pequenos leitores com os colegas mais velhos (5.º, 6.º, 7.º e 8.º anos) nos atos de leitura lúdica privilegiou um ambiente pedagógico que favoreceu ligações afetivas e intelectuais. Pois a leitura de textos literários variados permite a aquisição de vocabulário novo e a expressividade de diferentes sentimentos libertando o leitor de angústias próprias do crescimento.
As histórias lidas, musicadas e dramatizadas (O Sapo apaixonado, A Bola e o Pássaro, Os Ovos Misteriosos, O Espantalho Enamorado, Os Direitos vão à Escola, Corre corre Cabacinha,...) abordaram a Inclusão, a Interculturalidade e os Direitos das Crianças através da leitura, da dramatização e da música.
Esta iniciativa, dinamizada pela Biblioteca Escolar, contribuiu diretamente para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em especial o ODS 4 – Educação de Qualidade, o ODS 5 – Igualdade de Género, o ODS 10 – Redução das Desigualdades, o ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis e o ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes, reforçando o papel da escola como espaço de inclusão, memória, criatividade e cidadania.
Conceição Machado Professora Bibliotecária do Agrupamento de Escolas José Silvestre Ribeiro
A Declaração da IFLA sobre Direitos de Autor [Copyright] e Inteligência Artificial (IA) [1] é um documento estratégico que visa apoiar as bibliotecas membros da IFLA “na abordagem de questões de direitos de autor relacionadas com o uso de IA e desenvolvimento de programas e serviços bibliotecários relevantes”.
Elaborada pelo Comité Consultivo da IFLA sobre Direitos de Autor e outras Questões Legais, em colaboração com o Grupo de Interesse Especial da IFLA sobre IA e outros, é fundamental num contexto de integração crescente de IA nas práticas bibliotecárias.
Contextualização: lei de direitos de autor e inovação das bibliotecas
Leis de direitos autorais:
Regulam a maneira como a informação é acedida, partilhada e criada;
Têm um papel importante na decisão de como os modelos de IA são treinados e podem ser utilizados [2].
A Declaração da IFLA reconhece o papel inovador das bibliotecas, destacando que estão numa posição única para liderar a adoção e utilização ética de IA e sublinha que podem ser pioneiras a vários níveis:
Apoio ao treino de IA, disponibilizando repositórios abertos com dados e conteúdos para treino de modelos linguísticos, por exemplo adaptados a contextos locais;
Inclusão de conteúdos gerados por IA nas coleções - por exemplo, criação de sistemas de recomendação bibliográfica baseados em IA;
Utilização de IA para gestão automatizada de coleções digitais, catalogação, descoberta de coleções e melhoria da eficiência de serviços essenciais, como referência e empréstimo entre bibliotecas.
Desafios e respostas
Limitação do uso de obras com direitos de autor
O avanço de IA comporta desafios significativos, especialmente devido à crescente tendência dos titulares de direitos de autor em limitar:
O uso de conteúdos para treino de modelos de IA;
Exceções que permitam o acesso livre à informação.
Estas restrições afetam a missão das bibliotecas.
Em muitos países, a legislação de direitos de autor evoluiu para acomodar as novas tecnologias, respondendo “às preocupações legítimas dos criadores, incluindo as bibliotecas no seu papel de criadoras de processos e serviços baseados em IA. No entanto, este não é o caso em todos os países”, persistindo desigualdades legais que podem dificultar a inovação nas bibliotecas (A, B, C).
Outros desafios
A IFLA sublinha que muitos desafios sobre IA vão além dos direitos de autor, abrangendo questões de ética, privacidade, segurança e impacto ambiental. Nestes casos, recomenda que as bibliotecas procurem orientação em fontes de políticas apropriadas.
Recomendações para bibliotecas
IA orientada por valores
A IFLA defende que a adoção ou recomendação de ferramentas de IA pelas bibliotecas deve ser guiada por valores:
As bibliotecas devem considerar implementar ou recomendar, aos utilizadores, ferramentas de IA com uma abordagem orientada por valores (values-driven approach). Por exemplo, as ferramentas de IA não devem comprometer a liberdade de expressão, a privacidade ou outras áreas de preocupação (como os impactos ambientais e as limitações da ação humana).
Alargamento das exceções aos direitos de autor
Apela à “promoção de limitações e exceções que permitam a extração de texto e de dados (text and data mining) de conteúdos legitimamente adquiridos ou acedidos, bem como o acesso a conjuntos de dados tão vastos quanto possível como defesa contra preconceitos e erros” [3].
Coleções para IA respeitando os princípios FAIR e CARE
As bibliotecas podem contribuir para este objetivo preparando coleções para a IA com licenças adequadas e respeitando os princípios FAIR (Findable, Accessible, Interoperable, Reusable) e CARE (Collective Benefit, Authority to Control, Responsibility, Ethics), que promovem um uso ético, transparente e equitativo da informação, especialmente no que respeita a dados de comunidades sub-representadas.
Esta abordagem deve ser acompanhada pela “monitorização contínua dos serviços de IA nas bibliotecas, para garantir a diversidade e o acesso equitativo à informação”.
Literacia em IA
O documento também defende que as bibliotecas devem ter papel ativo na promoção da literacia em IA, capacitando utilizadores e profissionais para compreenderem, questionarem e utilizarem ferramentas de IA de forma informada e crítica.
Recomendações para os Governos
Até agora o debate tem-se centrado entre os sectores dos direitos de autor e as grandes empresas de IA, não deixando espaço para se concentrar nas prioridades das bibliotecas: dar acesso à informação, à educação, à investigação e à participação cultural.
O documento apela a uma ação colaborativa de governos, empresas de IA e titulares de direitos, recomendando que:
Governos e empresas disponibilizem recursos para apoiar repositórios e infraestruturas de dados;
Titulares de direitos e fornecedores não imponham cláusulas contratuais que limitem indevidamente o uso de IA pelas bibliotecas ou impeçam o exercício de exceções legais:
“Detentores de direitos e comerciantes não devem incluir nos contratos uma linguagem que dificulte ou restrinja indevidamente a utilização da IA pelos utilizadores das bibliotecas ou que impeça a utilização de quaisquer exceções aplicáveis na legislação de direitos de autor”.
A declaração refere iniciativas internacionais que a IFLA apoia, como a ICOLC Statement on AI Licensing, que promovem uma abordagem colaborativa e ética, equilibrando os interesses de autores, fornecedores, utilizadores e bibliotecas, e defendendo o acesso aberto e equitativo à informação.
Conclusão
A Declaração da IFLA reforça o papel das bibliotecas como instituições centrais na promoção da literacia, inclusão digital e desenvolvimento ético da IA.
Ao defender uma abordagem baseada em valores, a IFLA posiciona as bibliotecas como agentes de inovação e inclusão, capazes de liderar a integração responsável da IA na sociedade, sem comprometer o acesso ao conhecimento e direitos fundamentais.
Diferenciando-se de abordagens estritamente jurídicas, a declaração apresenta uma visão abrangente e ética sobre IA, posicionando as bibliotecas como espaços de experimentação tecnológica ao serviço do bem comum.
Em abril de 2021, em pleno regresso à normalidade após os tempos desafiantes da pandemia, a Biblioteca Escolar do Agrupamento de Escolas do Fundão promoveu uma iniciativa singular no âmbito da Semana Aberta e da Semana da Leitura: a Farmácia Literária, uma proposta criativa de promoção da literacia da leitura e do bem-estar através dos livros.
Inspirando-se nos princípios da biblioterapia, esta atividade transformou o espaço exterior da escola sede numa “clínica literária” ao ar livre. Os professores bibliotecários assumiram o papel de “médicos de leitura” e dinamizaram consultas abertas, nas quais os “utentes” – alunos, pais e encarregados de educação, assistentes operacionais, técnicos e docentes – recebiam prescrições de leitura personalizadas, adequadas ao seu “estado de saúde emocional e literária”.
Cada “consulta” incluía uma conversa breve e empática, seguida da recomendação de um tratamento inicial em forma de pequenos excertos. A receita final indicava um livro-medicamento, que os participantes podiam levantar na Biblioteca Escolar.
Paralelamente, foram elaboradas várias bulas literárias, inspiradas em livros do fundo documental da biblioteca. Essas bulas, que combinavam criatividade, humor e informação, integraram uma exposição aberta a toda a comunidade escolar, inserida nas celebrações da Semana Aberta, momento anual em que a escola convida a comunidade a entrar e a participar.
A iniciativa teve uma excelente adesão e mostrou, mais uma vez, como a leitura pode ser um poderoso aliado na promoção do bem-estar e da cidadania ativa.
Em resposta ao entusiasmo gerado, a atividade mantem-se até ao presente, com novas abordagens e surpresas, continuando a afirmar a biblioteca escolar como espaço de cuidado, encontro e inspiração.
Os livros foram o nosso refúgio. E ainda são. Livros fazem-nos sentir menos sozinhos.” Neil Gaiman
por Luís Santos Diretor do AE Afonso de Paiva (Castelo Branco)
A biblioteca escolar é, indubitavelmente, o coração pulsante do nosso agrupamento. É um espaço dinâmico e acolhedor que vai muito além da mera disponibilização de livros. É um verdadeiro centro de recursos e de aprendizagem que apoia de forma transversal todos os níveis de ensino e áreas curriculares.
No que diz respeito ao apoio aos currículos, as nossas bibliotecas têm-se revelado um recurso inestimável. A professora bibliotecária e a equipa de docentes que a apoiam, trabalham em estreita colaboração com os docentes das diversas disciplinas e dos diferentes níveis de ensino, assegurando que os recursos disponíveis estão alinhados com os conteúdos programáticos e as necessidades específicas de cada turma. Promove a curadoria de conteúdos e disponibiliza-os em repositórios e plataformas digitais institucionais, acessíveis a toda a comunidade educativa. Esta sinergia permite-nos enriquecer as experiências de aprendizagem dos nossos alunos, tornando-as mais significativas e contextualizadas.
A promoção da leitura e da literacia é outra das grandes missões da nossa biblioteca escolar. Através de iniciativas como projetos de leitura, sessões de mediação leitora, clube de leitur@s, encontros com autores e concursos de leitura e escrita, temos conseguido fomentar o gosto pela leitura entre os nossos alunos. Observamos com orgulho como estas atividades e outras enquadradas pelo PNL ou RBE, têm contribuído para melhorar as competências de compreensão e expressão dos nossos educandos, preparando-os melhor para os desafios académicos e para a vida.
A biblioteca é também um espaço privilegiado para o desenvolvimento de múltiplas competências e valores. Os projetos e atividades que ali decorrem, muitos deles de carácter interdisciplinar, promovem competências essenciais como o pensamento crítico, a criatividade, a colaboração e a comunicação. Além disso, a biblioteca tem-se afirmado como um local onde se vivenciam valores fundamentais como o respeito, a inclusão e a cidadania ativa.
Enquanto estrutura colaborativa, a nossa biblioteca escolar tem desempenhado um papel crucial na promoção de um ambiente de aprendizagem ativo e participativo. É gratificante ver como alunos de diferentes anos e turmas se juntam para trabalhar em projetos comuns, partilhando conhecimentos e experiências. Esta dinâmica colaborativa estende-se também ao corpo docente, com a biblioteca a servir frequentemente como ponto de encontro para planificações conjuntas e partilha de boas práticas.
Um aspeto que me é particularmente caro é o papel da biblioteca como espaço de inclusão e bem-estar. Temos trabalhado arduamente para que a nossa biblioteca seja um local verdadeiramente acolhedor para todos, independentemente das suas características ou necessidades específicas. É um espaço onde todos se sentem valorizados e onde podem encontrar os recursos e o apoio necessários para o seu desenvolvimento pessoal e académico.
A biblioteca escolar tem-se revelado um pilar fundamental no desenvolvimento curricular e na promoção das diferentes literacias. Num mundo cada vez mais digital, a nossa biblioteca tem sabido adaptar-se, integrando recursos tecnológicos e promovendo competências de literacia digital e mediática, essenciais para o sucesso dos nossos alunos no século XXI.
Por fim, não posso deixar de sublinhar o contributo da biblioteca para a criação de um ambiente escolar mais rico e estimulante. As múltiplas atividades curriculares e extracurriculares que ali decorrem frequentemente, transformam-na num espaço vivo e dinâmico, que potencia uma maior participação e envolvimento de toda a comunidade educativa.
Em suma, a nossa biblioteca escolar é muito mais do que um repositório de livros. É um espaço de aprendizagem, de descoberta, de crescimento e de partilha. É um recurso inestimável que contribui decisivamente para a qualidade do ensino e da aprendizagem no nosso agrupamento, preparando os nossos alunos para os desafios do futuro e ajudando-os a tornarem-se cidadãos informados, críticos e participativos.
Continuaremos a investir na nossa biblioteca escolar, certos de que estamos a investir no futuro dos nossos alunos e da nossa comunidade.
Luís Santos Diretor do Agrupamento de Escolas Afonso de Paiva (Castelo Branco)
“Garantir que as bibliotecas são organizações que promovem a defesa da dignidade humana e da justiça, o compromisso com a equidade e o valor da diversidade” (p.17)
A sociedade tem vindo a tornar-se mais heterogénea, como consequência de:
Velocidade e facilidade das comunicações (era digital) e transportes;
Globalização.
A biblioteca escolar tem sabido adaptar-se, afirmando-se como comunidade intercultural e plurilingue, representativa de todas as pessoas/ culturas, conforme recomenda o Manifesto da Biblioteca Multicultural (IFLA/UNESCO, 2009):
Bibliotecas de todos os tipos devem refletir, apoiar e promover a diversidade cultural e linguística a nível internacional, nacional e local [e no ciberespaço] e, assim, trabalhar para o diálogo intercultural e a cidadania ativa. […] Especial atenção deve ser dada aos grupos que são muitas vezes marginalizados em sociedades culturalmente diversas: minorias, requerentes de asilo e refugiados, residentes com permissão de residência temporária, trabalhadores migrantes e comunidades indígenas” [povos originários, viviam nas terras antes de terem sido colonizadas/ “descobertas”] e tradicionais, como a comunidade Roma.
Neste âmbito, a Rede de Bibliotecas Escolares gostaria de deixar uma palavra de reconhecimento às bibliotecas que aprofundam as seguintes tendências:
♦️ Identificar, preservar e valorizar as principais línguas maternas faladas na comunidade escolar, numa abordagem integrada em que o bibliotecário - ou alunos monitores - assume o papel mediador cultural.
Porque, a ciência evidencia que esta valorização tem benefícios cognitivos para os alunos e que é essencial para o seu sucesso educativo e inclusão social;
Para enriquecimento cultural de todos, porque, quando se comemora a Década Internacional das Línguas Indígenas 2022-2032, importa lembrar a diminuição crescente da diversidade linguística global – segundo o Relatório Mundial das Línguas metade das 7 mil línguas faladas atualmente no mundo estão ameaçadas de extinção [não são apenas as espécies naturais] até final do século (UNESCO, 2021).
♦️ Construir uma coleção inclusiva e diversa:
Vários formatos para o mesmo título;
Diferentes autores e protagonistas para obras literárias, incluindo de grupos marginalizados ou sub-representados;
Diferentes ideias, pontos de vista e opiniões.
Os bibliotecários devem liderar a construção de
coleções que respondam às necessidades das comunidades como um todo. Eles precisam manter o foco em garantir que todos possam encontrar-se numa biblioteca, e não apenas aqueles que gritam mais alto ou desfrutam de maior poder político. Quando este não é o caso, as bibliotecas não estão a realizar todo o seu potencial para serem as forças do progresso e da equidade [intelectual] que deveriam ser. Esta situação é particularmente alarmante no caso das bibliotecas escolares, dado o papel vital que as bibliotecas desempenham na construção de competências e no alargamento de experiências” [1].
♦️ Envolver/ escutar todos os utilizadoresno planeamento, ação estratégica e avaliação dos serviços e da coleção, que deve ser co-construída com aqueles que deles beneficiam, aplicando-se o princípio, “Nada sobre nós sem nós”, conforme as Diretrizes para Serviços Bibliotecários Inclusivos da IFLA (2025).
♦️ Proporcionar experiências de fruição, discussão crítica da informação e participação comunitária, funcionando como ágoras contemporâneas e centros culturais. No século XXI o saber/ cultura/ biblioteca não é apenas acumulação de informação, mas também experiência e memória coletiva, viva e em constante transformação. As bibliotecas escolares são, assim, agentes de coesão social e de ligação tangível entre culturas.
A biblioteca escolar/ escola deve constituir uma “comunidade convivencial” (A. Nóvoa), desempenhando um papel fundamental “na construção de uma ‘vida em comum’” (p. 59), pois nunca foi tão urgente uma educação que contribua para a democratização das sociedades e para o futuro da nossa humanidade comum (p. 51) [2].
Atualmente reforça-se o direito inalienável dos povos e comunidades à sua própria história e cultura, que devem tornar-se acessíveis e representativas da diversidade social (democratização).
O relatório Reimaginar os nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação (UNESCO, 2021) reconhece a educação e a cultura como bens comuns fundamentais e defende que a construção de futuros mais justos e inclusivos exige o envolvimento de uma pluralidade de vozes, de todos (memória histórica), pois a nossa herança é “intencionalmente incompleta”, apresenta “exclusões” e “requer correções”, reparação, numa perspetiva de justiça epistemológica. Neste sentido, José Agualusa diz, na sua obra A Rainha Ginga, que “Angola tem muito passado pela frente”.
Neste contexto, o trabalho de curadoria da biblioteca escolar assume-se como prática interpretativa e ética, não apenas técnica ou de gestão, que enquadra/contextualiza e problematiza os registos e recursos do passado, orientado por valores humanistas e pelos desafios da atualidade, designadamente da paz, da liberdade intelectual e da justiça, que são para a RBE uma responsabilidade fundamental.
Além disso, o seu papel é formar leitores com competências críticas, capazes de desenvolver, autonomamente, uma leitura/ expressão reflexiva e contextualizada dos registos/ recursos e cultura herdada, cumprindo a missão de ligar, alargar e aprofundar todas as épocas. Demarca-se da lógica do presentismo/ imediatismo do universo digital e da superficialidade das redes sociais, proporcionando tempo e espaço (físico e digital) para o pensamento, a escuta e a co-construção de sentido.
Na(s) Biblioteca(s) Escolar(es) do Agrupamento de Escolas da Venda do Pinheiro tem havido, nos últimos tempos, uma agitação curiosa e entusiasmada. As crianças dos Jardins de Infância têm vindo à(s) Biblioteca(s) para participar em momentos muito especiais de descoberta e aprendizagem.
A magia começa com uma História
Por vezes, tudo começa com a magia das histórias. Antes de iniciarem as suas investigações, as crianças ouvem um conto que desperta a imaginação e prepara o espírito para a aventura do conhecimento. Da última vez, foi explorado o livro "Ké Iz Tuk?", de Carson Ellis, que funcionou como um verdadeiro rebuçado de palavras — doce, misterioso e cheio de pistas para explorar o mundo natural.
Descobrir, Investigar e Representar
Depois da história, começa a verdadeira missão científica! Cada criança descobre, num pequeno “frasco” iluminado por lanternas, um animal escondido. E, como verdadeiros investigadores, começam logo a pensar: quantas patas terá? E asas? Terá antenas?
Mas a curiosidade não fica por aqui. As crianças vão em busca de respostas, consultando enciclopédias e livros científicos disponíveis na Biblioteca. Verificam se as suas hipóteses estavam certas e, no final, desenham o animal pesquisado com todos os pormenores que aprenderam. Algumas representam ainda graficamente informações específicas: uma “conversa” entre formigas através das antenas, o processo da metamorfose da borboleta, um formigueiro, ou uma fila de formigas a seguir indicações olfativas…
Tantas Descobertas Fascinantes!
Estas sessões têm-se revelado momentos riquíssimos de aprendizagem. As crianças fazem descobertas fascinantes: que as borboletas apenas conseguem distinguir quatro cores — branco, amarelo, roxo e vermelho — ou que as aranhas tecem teias com um fio que sai da sua própria barriga!
Cada página lida, cada conversa, cada desenho é uma pequena conquista no caminho do saber. E, se quiserem saber mais curiosidades, basta perguntar às crianças. Elas explicam tudo com um brilho nos olhos e uma certeza sábia de quem está a aprender com entusiasmo.
O que dizem as educadoras e as crianças
O feedback das educadoras reforça o impacto positivo da atividade. Uma das educadoras referiu que a proposta foi muito apelativa e interessante, gerando grande envolvimento por parte das crianças, despertando-lhes a curiosidade e o interesse pela pesquisa. Sublinha ainda que a atividade se enquadra nas dinâmicas de sala e está em consonância com as OCEPE (Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar).
Outra educadora destaca que as crianças adoraram a atividade, que lhes trouxe informações novas e curiosidades que desconheciam, tornando-se assim uma experiência muito importante. A história foi também valorizada por mostrar “uma forma diferente de falar... mas que até conseguimos perceber!”, permitindo abordar áreas como a expressão oral e a comunicação, o conhecimento do mundo, e as artes visuais, com os desenhos a refletirem o que observaram nos livros.
Os comentários das crianças foram todos positivos — sinal claro de que aprenderam, se divertiram e ficaram com vontade de saber mais.
Referencial “Aprender com a Biblioteca Escolar”
Este trabalho foi cuidadosamente planeado de acordo com o Referencial “Aprender com a Biblioteca Escolar” e constitui um excelente exemplo de articulação entre leitura, pesquisa e produção de conhecimento, desde a Educação Pré-escolar. A planificação da atividade encontra-se disponível na página da RBE, na área de recursos educativos para o pré-escolar, acessívelaqui.