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Blogue RBE

Sex | 27.12.24

Os sistemas de informação estão a utilizar mais recursos

Relatório de tendências da IFLA 2024

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Este é o sétimo de um conjunto de artigos que divulga e reflete sobre o Relatório de Tendências da IFLA 2024.

Este relatório procura fornecer as ferramentas, as estruturas, a inspiração e a energia necessárias para que as bibliotecas e os profissionais da informação enfrentem o futuro com otimismo. Apresenta sete tendências. Hoje dedicamo-nos à tendência 6.

As nossas necessidades de informação estão a ter impacto no planeta

A inteligência artificial (IA) e tecnologias similares dependem de um grande poder de computação e energia para funcionarem. Com a escalada da IA, aumentam também as suas exigências de recursos e o seu potencial para impactos ambientais significativos, especialmente em locais onde o lixo eletrónico é um problema, e em países que já enfrentam os efeitos da crise climática.

Para gerir os impactos climáticos das tecnologias de informação em rápido avanço, é necessária uma economia digital verde que promova a sustentabilidade ambiental e o bem-estar social.

Oportunidades

  • Novas práticas que têm em conta o ambiente
  • Redução da utilização de recursos e poupança de custos

Desafios

  • Alterações climáticas
  • Aumento da necessidade de tecnologia e dados 
  • Perda de memória e de conteúdos

Desenvolvimento

  • Aderir à economia verde é essencial para enfrentar alterações climáticas
    Uma economia verde é caracterizada por ser de baixo carbono, eficiente no uso de recursos e socialmente inclusiva. Nela, o crescimento do emprego e dos rendimentos resultam de investimentos públicos e privados em atividades, infraestruturas e ativos que reduzem emissões de carbono e poluição, aumentam a eficiência energética e dos recursos e previnem a perda da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas. (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

  • As nossas necessidades de informação estão a impactar o planeta
    O aumento da conectividade tem implicações ambientais mais intensas para os menos conectados. A Alliance for Affordable Internet destaca que as políticas futuras devem considerar que os que não têm acesso à internet são também os mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas. É necessário adotar políticas de banda larga que conectem novas gerações de utilizadores, minimizando a pegada de carbono e o impacto climático das infraestruturas digitais.

    Sugere-se investir em competências digitais e serviços de governo eletrónico para reduzir os impactos ecológicos, ligando comunidades remotas e promovendo a proteção ambiental, além de apoiar o direito de reparação de dispositivos para diminuir o lixo eletrónico.

    O Instituto das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Segurança Humana afirma que priorizar o bem-estar em vez do crescimento económico incessante pode abordar causas profundas de riscos ambientais, trabalhando por um futuro com menos ameaças para todos.

  • O lixo eletrónico é um problema crescente.
    O Global E-waste Monitor 2020 revelou que, em 2019, o mundo gerou 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrónico, com uma média de 7,3 kg per capita. A geração global de lixo eletrónico aumentou 9,2 milhões de toneladas desde 2014 e deve atingir 74,7 milhões de toneladas até 2030, impulsionada por altas taxas de consumo de equipamentos eletrónicos, ciclos de vida curtos e opções limitadas de reparação.

    Uma solução para mitigar o impacto ambiental da tecnologia é adotar uma economia circular, que se diferencia do modelo linear "extrair-produzir-descartar". Esta abordagem regenerativa visa separar o crescimento económico do consumo de recursos finitos, promovendo iniciativas como a reutilização de recursos (ex.: Libraries of Things) e colaboração entre governos e entidades para integrar práticas circulares.

    A OECD destaca a crescente aplicação de ferramentas de governança pública, como regulação, planeamento de infraestruturas e abordagens inovadoras para alcançar metas ambientais. Há governos que estão a liderar pelo exemplo, com iniciativas de "descarbonização" do setor público

    Para a economia da informação, grande utilizadora de hardware e dados, isso implica reduzir a renovação dos sistemas digitais e do hardware, em resposta à tendência para a aceleração da redundância da tecnologia, poderá resolver as questões relacionadas com a perda de memória e de conteúdos, juntamente com questões mais questões mais amplas, como o aumento dos preços da eletricidade e dispositivos mais caros. A transição para uma economia verde requer esforços em governança, colaboração e mudanças na gestão de recursos tecnológicos.

Questões a ter em conta

  • A renovação dos recursos físicos e eletrónicos, o armazenamento e o arquivo de materiais e registos e o equilíbrio entre as necessidades das gerações futuras e as práticas atuais:
    O que acontece aos recursos que são retirados de circulação? Será que tudo precisa de ser preservado e armazenado?

Perguntas

  • A sua organização tem um plano ou política para minimizar a produção de resíduos electrónicos?
  • Como é que as bibliotecas podem reduzir ou compensar os seus impactos ambientais?
  • Que estratégias têm as bibliotecas para promover a economia circular?

Referência
IFLA (2024). Trend Report 2024. https://www.ifla.org/wp-content/uploads/ifla-trend-report-2024.pdf 
📷Trend Report 2024

Relatório de tendências da IFLA 2024 no Blogue RBE

 

 

Relatório de tendências da IFLA 2024

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As práticas de conhecimento estão a mudar

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IA e outras tecnologias transformam a sociedade e a criação, utilização e partilha da informação

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A verdade está a ser renegociada

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As competências estão a tornar-se mais complexas

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As tecnologias digitais estão distribuídas de forma desigual

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Sex | 20.12.24

FOMO: O Medo de Perder Algo

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FOMO é a sigla em inglês para Fear Of Missing Out, que em português significa “medo de perder algo” ou “medo de ficar de fora”. Refere-se a um sentimento de ansiedade que surge quando acreditamos estar a perder informações, experiências, oportunidades ou momentos importantes que outras pessoas estão a viver.

Intensificado pelo uso contínuo das redes sociais e pela exposição constante a estilos de vida aparentemente mais atraentes, o FOMO não só incentiva a necessidade de estar permanentemente ligado como também fragiliza o equilíbrio entre vida online e offline.

O fenómeno tem vindo a exercer impactos profundos na sociedade contemporânea, condicionando comportamentos, afetando relações interpessoais e moldando a forma como as pessoas definem o seu bem-estar e as suas prioridades diárias.


Manifestações de FOMO

  • Verificação constante das redes sociais: Sentir a necessidade de saber o que os outros estão a fazer, mesmo que isso implique interromper atividades importantes.
  • Sensação de que a vida dos outros é mais divertida: Comparar constantemente a própria vida com a vida idealizada que se vê nas redes sociais.
  • Baixa autoestima: Sentir inferioridade devida à comparação constante com os outros.
  • Dificuldade em aproveitar o momento presente: Estar sempre a pensar no que se poderia estar a perder noutro lugar.
  • Ansiedade e irritabilidade: Sentir frustração e irritação por não participar em tudo.
  • Dificuldade em dizer “não”: Sentir pressão para aceitar todos os convites, mesmo que sem interesse, com receio de perder oportunidades.
  • Isolamento social: Sentir necessidade de isolamento, evitando situações sociais com medo de se sentir excluída.
  • Problemas de sono: Ter dificuldade em descansar.


Causas do FOMO

As causas do FOMO são diversas e complexas, mas destacam-se:

  • Comparação social: A tendência para comparar a própria vida com a dos outros, sobretudo através das redes sociais.
  • Pressão social: A sociedade valoriza frequentemente a experiência e a busca por novas sensações, aumentando a pressão para “estar sempre em todo o lado”.
  • Insegurança: A falta de confiança em si próprio pode resultar na necessidade de aprovação externa.
  • Personalidade: Algumas pessoas são mais propensas ao FOMO devido a traços de personalidade, como a ansiedade ou a introversão.


Estratégias para superar o FOMO

Existem várias estratégias para superar o FOMO e melhorar a qualidade de vida:

  • Consciencialização: Reconhecer que se está a sentir FOMO e compreender o seu impacto na vida.
  • Limitação do tempo nas redes sociais: Estabelecer limites para reduzir a exposição constante a conteúdos que induzam comparação.
  • Foco no presente: Concentrar-se nas experiências e momentos que se estão efetivamente a viver.
  • Cultivar passatempos e interesseso offline: Dedicar-se a atividades que tragam prazer, satisfação e realização pessoal.
  • Aceitar a imperfeição: Ninguém leva uma vida perfeita. É importante reconhecer que não se pode estar em todo o lado nem fazer tudo.
  • Procurar apoio: Conversar com amigos, familiares ou um profissional de saúde mental pode ajudar a lidar com a ansiedade.


Manifestações de FOMO nas diferentes faixas etárias

O FOMO não é exclusivo de nenhuma idade e pode afetar qualquer pessoa, manifestando-se de forma distinta conforme a etapa da vida, embora a sua essência seja a mesma: o receio de perder experiências importantes que outros estão a viver.


📍 Adolescentes:

  • Pressão social: A necessidade de aceitação e a construção da identidade tornam os adolescentes mais sensíveis a esta pressão.
  • Comparação constante: As redes sociais intensificam a comparação com a vida dos amigos, gerando insegurança.
  • Medo de exclusão: O receio de ser deixado de fora das atividades do grupo.


📍Jovens adultos:

  • Carreira e vida social: A procura de sucesso profissional e uma vida social ativa podem criar a ideia de que é preciso aproveitar todas as oportunidades.
  • Comparação com os pares: A perceção de que colegas e amigos progridem mais rapidamente gera ansiedade e frustração.
  • Medo de perder oportunidades: A pressão para alcançar metas e objetivos leva a um medo constante de deixar escapar algo importante.


📍Adultos:

  • Equilíbrio entre vida pessoal e profissional: A dificuldade em conciliar carreira, família e vida social pode criar a sensação de que se está a abdicar de algo.
  • Medo de envelhecer: A consciência da passagem do tempo leva à vontade de aproveitar tudo ao máximo.
  • Comparação com gerações mais novas: Pode surgir inveja ou frustração por se perceber que as gerações mais jovens têm mais oportunidades.


📍Idosos:

  • Isolamento social: A perda de entes queridos e a diminuição da rede de apoio podem aumentar o receio de ficar sozinho.
  • Saudade do passado: A nostalgia e a dificuldade em adaptar-se a novas realidades podem gerar a sensação de que a vida está a passar demasiado rápido.
  • Medo da morte: A consciência da finitude da vida intensifica o medo de perder experiências.


FOMO em crianças e jovens entre os 10 e 18 anos

O FOMO manifesta-se de forma peculiar em crianças entre os 10 e 18 anos. Nesta fase, a procura por aceitação social e a formação da identidade tornam-nas especialmente vulneráveis. Nesta faixa etária, pode observar-se:

  • Pressão para ter os mesmos objetos: A influência dos amigos e da publicidade pode levar à necessidade de possuir os mesmos brinquedos ou roupas.
  • Necessidade de participar em todas as atividades: A vontade de pertencer a um grupo pode resultar na sobrecarga de compromissos.
  • Comparação constante nas redes sociais: O uso precoce das redes sociais intensifica a comparação, gerando frustração.
  • Medo de exclusão do grupo: O receio de rejeição leva a que a criança faça esforços para não ser deixada de fora.
  • Dificuldade em dizer “não”: A criança pode não recusar convites por medo de exclusão.

📍 Consequências do FOMO em crianças e jovens:

  • Ansiedade e stress: A preocupação constante em não perder nada pode gerar ansiedade.
  • Dificuldade de concentração: A distração com as redes sociais pode afetar o desempenho escolar.
  • Problemas de autoestima: A comparação constante pode levar a sentir-se “menos” do que os outros.
  • Isolamento social: Em casos graves, a criança pode afastar-se dos outros por receio de se sentir excluída.


📍 Ajudar crianças e jovens com FOMO:

  • Dialogar: Conversar sobre estes sentimentos, explicando que é normal sentir insegurança por vezes.
  • Estabelecer limites: Reduzir o tempo de utilização de dispositivos eletrónicos e redes sociais.
  • Incentivar atividades offline: Promover hobbies e interesses que aumentem a autoestima e o bem-estar.
  • Ensinar o valor da amizade: Mostrar que a amizade se baseia na confiança e no respeito, não na competição.
  • Procurar ajuda profissional: Se o FOMO causar sofrimento significativo, um psicólogo pode ajudar.


E a biblioteca escolar? Qual poderá ser o seu papel no combate a este problema dos tempos atuais?

Enquanto espaços de aprendizagem, partilha e reflexão, as bibliotecas escolares podem desempenhar um papel significativo na promoção do bem-estar digital e no combate a fenómenos como o FOMO.

Certamente voltaremos a esta questão brevemente.

Já está a desenvolver ações no âmbito desta problemática? Partilhe com a comunidade RBE nos comentários. Juntos, vamos inspirar-nos para melhor cumprirmos o nosso papel: contribuirmos para comunidades mais fortes e resilientes.

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Qui | 19.12.24

As tecnologias digitais estão distribuídas de forma desigual

Relatório de tendências da IFLA 2024

2024-12-19.jpgEste é o sexto de um conjunto de artigos que divulga e reflete sobre o Relatório de Tendências da IFLA 2024.
Este relatório procura fornecer as ferramentas, as estruturas, a inspiração e a energia necessárias para que as bibliotecas e os profissionais da informação enfrentem o futuro com otimismo. Apresenta sete tendências. Hoje dedicamo-nos à tendência 5.

A inclusão digital irá aumentar a equidade

Apesar do aumento da utilização de dispositivos e ligações à internet, ainda existe um elevado número de pessoas sem acesso a recursos de qualidade. Esta exclusão digital surge em três áreas: ausência de dispositivos e ligações adequadas, custos inacessíveis e falta de competências digitais. Países menos desenvolvidos enfrentam piores condições de cobertura de rede e indivíduos social e economicamente desfavorecidos têm maior probabilidade de ficarem para trás.

Em resposta a estas desigualdades, o Pacto Digital Global da ONU propõe cinco objetivos para promover um futuro digital inclusivo, seguro, sustentável e centrado nos direitos humanos, incluindo a redução das desigualdades digitais, a expansão dos benefícios da economia digital, uma governação internacional dos dados mais responsável e um enquadramento ético para tecnologias emergentes como a inteligência artificial.

Oportunidades

  • Acesso à Internet mais barato e mais acessível 
  • Acesso mais fácil aos serviços através de identificações digitais
  • Conceção e implementação de práticas inclusivas de dados e informação para informar a conceção de serviços adequados

Desafios

  • Aprofundamento das desigualdades sociais 
  • Deficiência das infraestruturas da rede física
  • Falta de infraestruturas sociais para colmatar a falta de competências
  • Falta de dados

Desenvolvimento

  • O fosso digital está a aprofundar-se.

    Apesar dos progressos na conectividade global, cerca de um terço da população mundial continua offline e excluída da economia digital. Esta exclusão digital afeta sobretudo países menos desenvolvidos e grupos socialmente desfavorecidos, como pessoas com baixos rendimentos, menos escolaridade, desempregadas, mulheres, jovens em contextos rurais ou residentes em habitação social. A falta de acessibilidade e de preços comportáveis para dispositivos e ligações, bem como a dependência de redes públicas de acesso à internet, acentua estas desigualdades.

    Tecnologias emergentes como a Inteligência Artificial podem aprofundar o fosso digital entre países mais ricos e mais pobres e entre grupos com e sem acesso a infraestrutura, dispositivos e formação adequados. Embora a pandemia de COVID-19 tenha levado a um aumento do uso de tecnologias – beneficiando parcialmente alguns grupos antes excluídos, como os idosos –, agravou a exclusão de outros, nomeadamente crianças e jovens de meios desfavorecidos.

    Regiões rurais e remotas enfrentam maiores dificuldades de acesso à internet e a dispositivos, o que limita oportunidades educativas e profissionais.

    Contudo, as tecnologias digitais, se bem implementadas, podem também contribuir para ultrapassar estes obstáculos, proporcionando novas formas de ensino à distância e ligação entre escolas em zonas isoladas, ajudando a atenuar o isolamento e a escassez de professores.

  • Os serviços essenciais estão a migrar para serviços prioritariamente digitais ou serviços exclusivamente digitais o que exige identidades digitais

    Assiste-se à crescente adoção da prioridade digital na prestação de serviços por empresas, serviços sociais e governos, com o objetivo de tornar o acesso mais eficiente. Contudo, esta tendência pode prejudicar os grupos que mais necessitam desses serviços, mas não dispõem da tecnologia ou das competências digitais necessárias.

    A nível internacional, a maioria dos países compromete-se a reduzir o fosso digital, implementando planos de ação, quadros legais e mecanismos de financiamento para promover a inclusão. Ao mesmo tempo, muitos governos estão a introduzir identidades digitais únicas que permitem aos cidadãos aceder a múltiplos serviços, alinhando-se com metas europeias que visam assegurar que a maioria da população possa utilizar uma identidade digital até 2030.

    Países como a Dinamarca, a Índia ou a Estónia já adotaram estratégias de governo digital para simplificar processos. Porém, à medida que os serviços digitais ganham força, torna-se mais difícil recorrer a alternativas presenciais, colocando muita pressão sobre organizações de apoio a populações digitalmente excluídas para suprirem as falhas na prestação de serviços.

  • Estruturas de informação cultural inclusivas criam futuros equitativos.

    A organização e o tratamento dos dados e da informação têm raízes em sistemas coloniais e opressores, mas surgem novas abordagens para recolher, partilhar, traduzir e gerir dados, de forma a dar voz a diferentes perspetivas. Especialistas acreditam que a expansão das ferramentas digitais pode fortalecer os direitos humanos, facilitando o acesso a recursos, a comunicação e a informação segura.

    Instituições culturais, como bibliotecas, reavaliam o conhecimento, questionando o conceito de “descolonização” das coleções, um termo contestado e complexo. Além disso, o uso de princípios como os CARE (Collective benefit, Authority to control, Responsibility & Ethics - benefício coletivo, autoridade de controlo, responsabilidade e ética) e a soberania de dados indígenas reforçam a ideia de que as comunidades devem ter poder sobre a forma como o seu conhecimento é utilizado e valorizado.

    Enquadramentos culturais inclusivos são importantes para preservar línguas em risco de extinção, nomeadamente as indígenas, que correm um elevado perigo de desaparecer ao longo do século.
 
Questões a ter em conta
  • Recolher e analisar dados mais detalhados e desagregados melhora a representação e ajuda a identificar barreiras à inclusão.
  • Para refletir as experiências vividas por grupos vulneráveis, a investigação deve adotar abordagens interseccionais, incluindo dados diferenciados por fatores como o género.
Perguntas
  • De que dados dispõe atualmente a sua biblioteca? De que dados necessita? Que dados deveria estar a recolher (ou não)?
  • Que acesso a dispositivos e ligações é que as pessoas da sua comunidade têm fora da biblioteca?
Referência
IFLA (2024). Trend Report 2024. https://www.ifla.org/wp-content/uploads/ifla-trend-report-2024.pdf 
📷Trend Report 2024
 

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Relatório de tendências da IFLA 2024

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IA e outras tecnologias transformam a sociedade e a criação, utilização e partilha da informação

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A verdade está a ser renegociada

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Qua | 18.12.24

As bibliotecas são espaços comunitários de confiança, refúgios acolhedores para todos

Hoje é Dia Internacional dos Migrantes

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De templos a fóruns e de livros a pessoas, as bibliotecas estão a transformar-se na sala de estar da sociedade. Mas como é que as bibliotecas podem garantir que cada indivíduo da sociedade possa ter um lugar nesta sala de estar comum? Haverá alguma forma de o movimento do conhecimento apoiar o movimento das pessoas e o contrário? Como podem as bibliotecas servir um mundo em deslocação?

Nesta época em que se vive a maior crise global de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial - o número de refugiados duplicou desde 2016, de acordo com o Fórum Global dos Refugiados 2023, a ameaça de fome que 343 milhões de pessoas enfrentam em 74 países do mundo, numerosos conflitos armados ativos, a pobreza, a crise climática - as bibliotecas tornaram-se, mais do que nunca, um abrigo para o corpo, a mente e a alma quando as pessoas tomam decisões difíceis, escolhidas ou forçadas, para sobreviver. As pessoas deslocadas estão espalhadas por todo o mundo à procura do local mais seguro para se instalarem com as suas famílias e, quando se mudam para um novo país, enfrentam desafios jurídicos, culturais, educativos e económicos, necessitando de informação, orientação e apoio.

As Diretrizes da IFLA para bibliotecas que apoiam pessoas deslocadas: Refugiados, Migrantes, Imigrantes, Requerentes de Asilo [1], atualização do documento de 2017 publicada no passado dia 16, são mais do que nunca necessárias como um documento orientador para bibliotecas que desejam apoiar comunidades deslocadas.

Estas orientações expandem o papel tradicional das bibliotecas, incentivando bibliotecários, gestores e educadores a atuarem como facilitadores de integração e inclusão. Adaptáveis a contextos locais e internacionais, as recomendações mostram que as bibliotecas desempenham um papel fundamental para que estes novos membros da comunidade se sintam bem-vindos e tenham sucesso nos seus esforços para se desenvolverem, curarem os seus traumas e seguirem em frente, salientando que cada biblioteca deve avaliar as suas próprias necessidades e capacidades para melhor apoiar as populações deslocadas.

No contexto global atual, as bibliotecas desempenham um papel crucial como espaços seguros e inclusivos: oferecem apoio às pessoas deslocadas, que muitas vezes enfrentam traumas e vulnerabilidades complexas, promovendo a sua integração nas comunidades de acolhimento. Facilitam, ainda, a aprendizagem mútua entre deslocados e as comunidades locais, fortalecendo o respeito pela diversidade cultural, linguística e social, e contribuindo para a coesão social e convivência pacífica.

As bibliotecas assumem igualmente uma função crucial na defesa dos direitos humanos ao proporcionarem acesso universal à informação. Isto inclui recursos sobre educação, saúde, emprego e procedimentos legais, respeitando os princípios de igualdade e não discriminação. O direito à informação, consagrado em tratados internacionais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, é essencial para empoderar as pessoas deslocadas, permitindo-lhes reconstruir as suas vidas de forma digna e participativa, especialmente num mundo marcado pela desinformação.

Finalmente, as bibliotecas funcionam como espaços culturais essenciais, onde as pessoas deslocadas podem expressar livremente as suas culturas, línguas e identidades. Este apoio ajuda não apenas na recuperação emocional e integração das comunidades deslocadas, mas também na preservação da memória cultural e na valorização da diversidade. Ao promoverem o acesso às artes, à ciência e à cultura, as bibliotecas reforçam o bem-estar e a identidade cultural de cada indivíduo, desempenhando um papel vital na construção de sociedades mais inclusivas e resilientes.

Este documento, cuja consulta sugerimos, aponta caminhos para as bibliotecas em diferentes áreas:

1. Serviços e Programas

As bibliotecas desempenham um papel fundamental no fornecimento de serviços práticos para pessoas deslocadas. Esta secção sugere diversas abordagens e atividades:

  • Linguagem:
          º Desenvolver planos de acesso linguístico para oferecer suporte em várias línguas.
          º Criar uma coleção multilingue, com livros físicos e digitais nas línguas de origem e do país anfitrião.
          º Oferecer cursos de idiomas, incluindo tutoria individual e clubes de conversação.
          º Utilizar ferramentas visuais, como pictogramas e folhetos fáceis de ler, para superar barreiras linguísticas.
          º Estabelecer grupos de intercâmbio linguístico para que deslocados pratiquem o idioma local.

  • Informação:
          º Disponibilizar recursos básicos sobre direitos humanos, saúde, educação, emprego e integração.
          º Criar pacotes de informação com guias úteis traduzidos.
          º Desenvolver programas específicos, como ajuda na busca de emprego ou serviços legais em colaboração com associações.

  • Eventos:
          º Celebrar datas importantes, como o Dia Mundial dos Refugiados e a Semana dos Refugiados.
          º Organizar festivais culturais, exposições de arte, sessões de cinema e eventos de hora do conto.
          º Promover clubes de leitura multilingues e atividades de artesanato para incentivar a integração.

  • Tecnologia:
          º Oferecer acesso gratuito à internet e a dispositivos eletrónicos.
          º Facilitar o preenchimento de formulários online, criação de contas de email e uso de serviços digitais.
          º Fornecer notícias e recursos digitais tanto do país de acolhimento quanto dos países de origem.

2. Políticas das bibliotecas

Esta secção incentiva a implementação de políticas claras que garantam o respeito pela dignidade e inclusão de todas as pessoas:

  • Política de Respeito e Dignidade:
          º Promover um ambiente acolhedor e seguro para todos os utilizadores, independentemente do seu estatuto migratório.
          º Adotar uma política de tolerância zero contra estereótipos e atitudes negativas.

  • Política de Privacidade:
          º Proteger a privacidade dos utilizadores, garantindo que informações pessoais não sejam partilhadas.

  • Equidade no Acesso:
          º Garantir que todos tenham acesso aos serviços da biblioteca, mesmo que não possuam documentos de identidade.
          º Criar cartões temporários para deslocados que ainda não têm documentação oficial.

  • Comunicação Inclusiva:
          º Usar linguagem positiva para comunicar regras e serviços.
          º Desenvolver materiais visuais (pictogramas) e folhetos traduzidos em várias línguas.

3. Formação de pessoal

A formação contínua do pessoal é essencial para garantir serviços eficazes e culturalmente sensíveis:

  • Tópicos de formação:
          º Sensibilidade cultural e comunicação intercultural.
          º Gestão de preconceitos e treino sobre neutralidade e inclusão.
          º Privacidade e segurança de dados.
          º Formação em primeiros socorros psicológicos para lidar com traumas e situações sensíveis.

  • Preparação e implementação:
          º Avaliar as necessidades do pessoal através de questionários.
          º Trabalhar com organizações locais e especialistas para oferecer formação específica.
          º Incluir pessoas deslocadas nas formações, permitindo que compartilhem as suas experiências.

  • Acompanhamento pós-formação:
          º Realizar avaliações contínuas e fóruns para feedback.
          º Criar equipas dedicadas à melhoria constante dos serviços.

4. Parcerias e avaliação

As bibliotecas não trabalham sozinhas. A construção de parcerias é crucial para maximizar o impacto:

  • Parcerias:
          º Colaborar com ONGs humanitárias, associações de refugiados e instituições governamentais.
          º Criar parcerias com escolas, universidades e instituições GLAM (Galerias, Bibliotecas, Arquivos e Museus).
          º Trabalhar com associações jurídicas para fornecer serviços legais gratuitos.

  • Avaliação de necessidades:
          º Realizar pesquisas para compreender melhor a população deslocada local (idade, origem, línguas faladas).
          º Consultar diretamente as pessoas deslocadas através de grupos de foco e entrevistas.

  • Avaliação dos serviços:
          º Medir o impacto através de formulários anónimos e histórias pessoais.
          º Documentar o uso dos serviços e partilhar resultados com parceiros e autoridades.

5. Desafios e soluções

O documento identifica desafios comuns enfrentados pelas bibliotecas e propõe soluções:

  • Falta de Financiamento: Buscar parcerias, financiamento de instituições e doações da comunidade local.
  • Xenofobia: Promover programas educativos e eventos que incentivem a compreensão cultural e combatam discursos de ódio.
  • Questões Políticas Complexas: Atuar com neutralidade, respeitando as leis locais, enquanto apoia os direitos dos deslocados.

E as bibliotecas escolares?

Com base nestas diretrizes da IFLA, apresentamos 10 sugestões práticas para as bibliotecas escolares acolherem alunos migrantes:
1. Desenvolver uma coleção multilingue
Adquirir livros e recursos educativos nas línguas de origem dos alunos migrantes, incluindo livros infantis, dicionários, materiais de apoio ao ensino de línguas e histórias culturais. Isto ajuda os alunos a manterem a sua identidade cultural ao mesmo tempo que aprendem o português.

2. Criar espaços de aprendizagem da língua
Organizar clubes de leitura ou grupos de conversação onde os alunos migrantes possam praticar o português num ambiente acolhedor e informal. Disponibilizar materiais como guias visuais, jogos educativos e livros “fáceis de ler”.

3. Produzir materiais de comunicação inclusivos
Desenvolver folhetos informativos da biblioteca com pictogramas, símbolos e texto traduzido para as línguas faladas pelos alunos migrantes. Utilizar sinalização visual dentro da biblioteca para tornar o espaço mais acessível.

4. Promover eventos culturais e celebrações
Organizar eventos culturais que celebrem as tradições dos países de origem dos alunos migrantes, como festivais de contos, apresentações de música ou exposições de arte. Estas iniciativas valorizam a diversidade cultural e fortalecem o sentido de pertença.

5. Criar um programa de mentoria
Envolver alunos locais ou mais experientes para atuarem como mentores dos novos alunos migrantes. Estes pares podem ajudar na integração, apresentando os recursos da biblioteca e incentivando a participação em atividades.

6. Disponibilizar acesso a recursos digitais
Proporcionar acesso a computadores, internet e ferramentas de tradução online. Criar uma secção digital com ligações úteis no canal da biblioteca, incluindo conteúdos educativos, recursos linguísticos e notícias dos países de origem dos alunos.

7. Realizar sessões de contos multilingues
Promover sessões de histórias multilingues onde os alunos possam ouvir contos nas suas línguas de origem e na língua local. Estas atividades permitem uma troca cultural e facilitam a aprendizagem do novo idioma.

8. Trabalhar em parceria com a comunidade educativa
Colaborar com os professores para identificar as necessidades dos alunos migrantes e disponibilizar recursos específicos, como livros de apoio ao currículo e atividades para reforço de aprendizagens. Parcerias com pais e associações locais podem também ser úteis.

9. Incentivar o acesso à biblioteca
Oferecer visitas guiadas à biblioteca com interpretação nas línguas de origem, explicando os serviços disponíveis e como utilizá-los.

10. Promover atividades criativas inclusivas
Organizar oficinas de arte, jogos educativos, clubes de escrita e outras atividades onde os alunos possam expressar-se livremente. Estas atividades ajudam na socialização, reduzem o stress da adaptação e incentivam a partilha das suas culturas e histórias pessoais.

As bibliotecas escolares desenvolvem, já há bastante tempo, estas e outras ideias.

São espaços acolhedores, inclusivos e facilitadores da integração dos alunos migrantes, promovendo o respeito e valorização da diversidade cultural e linguística.

A Rede de Bibliotecas Escolares disponibiliza o recurso de apoio A de Acolher, que se encontra em atualização, com contributos recolhidos a partir da prática diária das bibliotecas escolares.


[1] IFLA. (2024). Diretrizes da IFLA para bibliotecas que apoiam pessoas deslocadas: refugiados | migrantes | imigrantes | requerentes de asilo. https://repository.ifla.org/items/7ce3fe3e-ce77-4dcb-9912-2e7d2dfcaab5 

 

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Ter | 17.12.24

Metodologias ativas: aprendizagens mais profundas, duradouras e equilibradas

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O que são metodologias ativas

As metodologias de aprendizagem ativas constituem um conjunto de abordagens pedagógicas que procuram inverter o paradigma tradicional de ensino, centrado essencialmente na transmissão unilateral de conteúdos pelo professor. Em vez de os alunos serem meros recetores passivos de informação, estas estratégias colocam-nos no centro do processo educativo, estimulando a sua participação ativa, pensamento crítico, autonomia e empreendedorismo.

Numa sala de aula tradicional, os docentes assumem frequentemente o papel de única fonte de conhecimento, limitando a interação a uma escuta atenta e, eventualmente, à reprodução dos conteúdos por parte dos alunos. As metodologias ativas, por outro lado, fomentam um ambiente em que os alunos são convidados a construírem o saber, procurando respostas, explorando recursos diversos, dialogando com colegas e docentes, resolvendo problemas complexos, realizando projetos, participando em debates, simulando cenários reais ou explorando estudos de caso. Esta transformação implica que os professores se tornem facilitadores, companheiros que orientam, inspiram e apoiam os alunos à medida que estes adquirem conhecimentos e desenvolvem novas competências.

Algumas das práticas mais comuns nas metodologias de aprendizagem ativas incluem a aprendizagem baseada em projetos (Project-Based Learning), a aprendizagem baseada em problemas (Problem-Based Learning), a aprendizagem cooperativa, a utilização de dinâmicas de grupo, o trabalho de campo, a gamificação e a integração de tecnologias digitais interativas. Estas estratégias não apenas encorajam a compreensão profunda dos conteúdos, como também promovem o desenvolvimento de competências essenciais para o século XXI, tais como o pensamento crítico, a comunicação eficaz, a colaboração, a literacia informacional e mediática, a resiliência e a criatividade.

As metodologias ativas reforçam a ligação entre a teoria e a prática. Ao lidarem com situações próximas da realidade, os alunos são levados a aplicarem os conhecimentos adquiridos em contextos concretos, a reconhecerem a complexidade dos problemas e a proporem soluções inovadoras.

Vantagens das metodologias ativas

As metodologias de aprendizagem ativas oferecem um conjunto significativo de vantagens que se refletem não apenas na qualidade da aquisição dos conteúdos, mas também no desenvolvimento global dos aprendentes enquanto indivíduos críticos, criativos e autónomos. Estas vantagens tornam-se especialmente evidentes quando comparadas com os modelos tradicionais de ensino, que muitas vezes assentam numa lógica transmissiva e numa postura passiva por parte dos alunos:

  • Promovem uma compreensão mais profunda e duradoura dos conteúdos.
    Ao envolverem os alunos em tarefas práticas, problemas concretos e contextos reais, estas abordagens incentivam a aplicar o conhecimento ao invés de apenas o memorizar. Esta aplicação prática conduz a uma maior retenção da informação, dado que os alunos estabelecem ligações mais sólidas entre a teoria e a experiência. Assim, o conhecimento deixa de ser algo meramente abstrato e distante, transformando-se em saber efetivamente utilizado no quotidiano.

  • Impulsionam o desenvolvimento de competências fundamentais para o século XXI.
    À medida que enfrentam desafios e trabalham em equipa, os alunos tornam-se mais hábeis na comunicação, na negociação, na resolução de problemas e na tomada de decisões. Simultaneamente, aprendem a pensar criticamente, questionando ideias pré-concebidas, analisando pontos de vista divergentes e formulando argumentações sólidas. Estas competências não só lhes serão úteis em contextos académicos, mas também ao longo de toda a vida, seja no mercado de trabalho, na participação cívica ou nas relações interpessoais.

  • Incrementam a motivação e o envolvimento.
    Quando os alunos participam ativamente no seu processo de aprendizagem, sentem-se mais interessados, curiosos e empenhados, o que se traduz numa atitude mais positiva face à escola.
    Isto é particularmente importante num contexto em que muitos jovens se sentem desmotivados ou desligados do que aprendem, por não reconhecerem a relevância do conhecimento transmitido.
    As metodologias ativas permitem-lhes ver sentido no que fazem, reforçando a sua autoconfiança e o gosto por aprender.

  • Reconhecem e valorizam a diversidade de perfis, interesses e estilos de aprendizagem presentes numa sala de aula.
    Ao propor-se atividades variadas – desde debates e simulações a trabalhos manuais ou projetos tecnológicos – cria-se um ambiente inclusivo, no qual cada aluno pode explorar as suas potencialidades, descobrir o seu próprio ritmo e desenvolver um conjunto de aptidões personalizadas.
    Esta flexibilidade é particularmente benéfica para alunos com diferentes necessidades, talentos e percursos de vida, garantindo assim uma aprendizagem mais equitativa e diferenciada.

  • Contribuem para uma melhor preparação dos jovens para a incerteza e a mudança constantes que marcam o mundo contemporâneo.
    Ao aprenderem a adaptar-se, a serem resilientes e a lidarem com a complexidade, os jovens desenvolvem a capacidade de enfrentarem situações novas, resolverem problemas inesperados e continuarem a aprender ao longo de toda a sua trajetória pessoal e profissional.
    Neste sentido, as metodologias ativas não se limitam a transmitir conhecimentos específicos, mas também a formar cidadãos conscientes, responsáveis e aptos a participar na construção de sociedades mais justas e sustentáveis.


Em suma, as vantagens das metodologias de aprendizagem ativas estão patentes na promoção de uma aprendizagem mais significativa, no reforço de competências essenciais, no aumento da motivação e do envolvimento dos estudantes, na valorização da diversidade e na preparação para um futuro incerto.

Ao investirem nestas abordagens, as escolas contribuem para a formação de indivíduos mais completos, capazes de responder aos desafios de um mundo em rápida transformação, sem perder de vista a ética, a colaboração e o pensamento crítico.

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Seg | 16.12.24

É tempo de luz, de partilha e de generosidade.

por Júlia Martins*

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O ano de 2024 está a terminar. É tempo de fazer balanços e traçar novos projetos, mas também tempo de abrir as portas das bibliotecas, recordar e expor os livros mais lidos, mais requisitados, que acabaram de chegar ou os que habitam na biblioteca há algum tempo.

É tempo de luz, de partilha e de generosidade. Na biblioteca podemos e devemos encontrar estes valores. 
Em casa, na rua, na escola brilham as luzes natalícias e na biblioteca as palavras dos livros iluminam os corações enquanto as estantes convidam os leitores a (re)descobrirem o gosto pela leitura.

Antes de partir para uma merecida pausa escolar visite a biblioteca escolar e, quem sabe, requisite alguns livros para ler durante a época natalícia. Partilhamos algumas sugestões para auxiliar no momento de escolha. 

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O Meu Primeiro Elmer de Natal (Nuvem de Letras, 2021) é um divertido livro que nos recorda é hora de levar o pinheiro de Natal para casa e enfeitá-lo para festejar os dias natalícios que está quase… quase a chegar. “Elmer estava a dar uma volta com os elefantes mais novos, para escolherem uma árvore de Natal. Foi então que um alce disse: - Deixa-os ver o Papá Vermelho esta noite, mas fiquem escondidos.”   
Faltam apenas dois dias para a véspera de Natal, noite em que o Papá Vermelho faz a sua visita anual, para carregar os presentes para o trenó e os elefantes mais pequeninos estão muito agitados. Este ano para além de escolher, colher e transportar cuidadosamente o pinheiro, Elmer prepara uma surpresa especial, mas terão de se manter sossegados e escondidos…. Será que os jovens elefantes conseguem?  

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O Pai Natal Não Vive no Polo Norte (Fábula, 2024) é um pequeno grande livro que começou como “proémio a um romance paradigmático (…), o fascinante “Para Onde vai os Guarda-Chuvas”. Este não é mais um livro sobre o Natal. É um livro peculiar sobre a quadra natalícia.
Dizer uma coisa e negá-la é um alerta… é o que encontramos neste livro.  Esta contradição é uma estratégia para obrigar o leitor a parar e (re)pensar sobre o Natal nos nossos dias. Todos queremos festejar o Natal, época dedicada à família, à vivencia dos valores de solidariedade e generosidade, do amor e da compaixão, da simplicidade e da fraternidade. Teremos consciência que nem sempre as nossas atitudes são harmonizáveis com estes valores? Serão estes valores conciliáveis com o consumismo desenfreado, com a superficialidade e a aparência? Afinal, que Natal é queremos? Em uníssono expressamos o desejo de um “Feliz Natal”, mas afinal, qual o significado de um “Feliz Natal”? 

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O Primeiro Natal do Pai Natal (Fábula, 2024) é um livro divertido, afetuoso, caloroso, arriscaria afirmar que é um dos livros mais meigos sobre o Natal, aquele que nos obriga a (re)pensar no outro e que só somos verdadeiramente felizes uns com os outros. Será esta a essência do espírito Natalício?  
Alguém já pensou como será o Natal do Pai Natal? Será que o Pai Natal sempre festejou o Natal? Será que passa todos os Natais a distribuir presentes pelo mundo fora? O que fará quando regressa ao seu lar após ter deixado os embrulhos junto às árvores de Natal? Descansa? Distribui presentes à sua família e amigos? Ou irá saborear a deliciosa consoada? Talvez os duendes, soubessem responder a estas questões. Ou talvez não.

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E ainda livros magníficos que acabaram de chegar aos escaparates: 

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“Criar uma Biblioteca não é um manual de instruções, mas sim uma narrativa sobre a curiosidade, a imaginação e a perseverança.
Assim como sobre a necessidade de frequentar lugares onde reina a diversidade e onde os livros estão ao alcance de todos.
Inês Fonseca Santos e André Letria imaginaram um livro sobre o modo como se pode alcançar esse lugar mágico onde os livros se acumulam para que possamos tê-los por perto, mesmo quando alguns tendem a escapar-nos.”

Sinopse [da editora]

 

 

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“Esta é a história de um espaço – o interior de uma casa, um dos cantos da sala – e dos acontecimentos que aí tiveram lugar ao longo de milhares de anos, no passado e no futuro. Considerada uma obra de arte e publicada em mais de vinte países, Aqui, de Richard McGuire, revolucionou a novela gráfica enquanto género literário e continua ainda hoje a influenciar novas gerações de artistas. A crítica é unânime: este é um dos melhores livros de literatura e de arte do século.” 

Sinopse [da editora] 

 

 

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 Venham conhecer o agente Simões, polícia-sinaleiro e o último da sua espécie. Toda a gente adorava o agente Simões.
De apito e luva branca em riste, estava sempre pronto a fitar o perigo nas pupilas, ter mão de ferro e nunca perder o pio. Até que, uma manhã, em contramão, a contragosto e caído do céu, apareceu um semáforo no seu cruzamento de sempre. E agora, o que fará o Simões sem os olás dos peões e as razias dos automóveis? Com o humor surpreendente de Ricardo Henriques e o traço inconfundível de Pierre Pratt, este é um álbum divertido sobre coragem, determinação e a força de um STOP! que ecoa por toda a galáxia.

Sinopse [da editora]

 

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“Histórias de criaturas mágicas têm sido contadas em todo o mundo há gerações… mas serão estas histórias apenas fantasias ou existe alguma verdade nas lendas de unicórnios e dragões, centauros e grifos?
Apresentado como se fosse um caderno de um zoólogo da década de 1920, esta obra com encadernação de luxo (com capa de tecido com relevo em folha dourada), pretende responder a esta questão, revelando o mundo oculto das feras mágicas que vivem entre nós. Nestas páginas os leitores conhecerão mais sobre mitologia e criaturas belas e bizarras de todo o mundo, descobrindo seus hábitos, habitats e as lendas que as rodeiam. Aprenderão sobre a anatomia de um unicórnio, o ciclo de vida de uma fênix, incríveis danças de cortejo de dragões e muito mais neste guia definitivo para criaturas mágicas.”

Sinopse [da editora]

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* Júlia Martins

Acredita no poder da leitura. Dar a ler é um desafio que gosta de abraçar. É leitora e frequenta, de forma assídua, Clubes de Leitura. Saiba mais

📷Imagem criada em https://www.canva.com/

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Qui | 12.12.24

As competências estão a tornar-se mais complexas

Relatório de tendências da IFLA 2024

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Este é o quinto de um conjunto de artigos que divulga e reflete sobre O Relatório de Tendências da IFLA 2024.[1]
Este relatório procura fornecer as ferramentas, as estruturas, a inspiração e a energia necessárias para que as bibliotecas e os profissionais da informação enfrentem o futuro com otimismo. Apresenta sete tendências. Hoje dedicamo-nos à tendência 4.

As pessoas vão precisar de competências práticas, críticas e digitais para prosperarem

À medida que as sociedades se tornam mais complexas devido ao impacto das tecnologias digitais, as pessoas precisam de desenvolver competências práticas para utilizar dispositivos, software e sistemas, bem como competências críticas e criativas para navegarem e beneficiarem dos ambientes informacionais e mediáticos.

Investimentos em competências podem ajudar as sociedades a antecipar situações adversas, promovendo a sustentabilidade ambiental e tecnologias digitais centradas no ser humano. Entre 2019 e 2030, projeta-se um aumento na procura por competências relacionadas com a interação com computadores, pensamento criativo, análise de dados e comunicação externa. Estas competências não são necessárias apenas para o trabalho, são também essenciais para o bem-estar e a segurança geral das pessoas.

Oportunidades

  • Desenvolvimento de aptidões e competências digitais para prosperar na economia digital 
  • Aumento da literacia mediática, resultando em comunidades informadas, criativas e resistentes
  • Melhoria da segurança em linha

Desafios

  • Escassez global de talentos
  • As fraudes penalizam ainda mais as pessoas sem qualificações

Desenvolvimento

  • Existe uma escassez global de talentos e uma procura crescente de aptidões e competências digitais.
    A procura por competências digitais está a crescer em várias profissões e não apenas nas tecnológicas. Espera-se uma redução global de 14 milhões de empregos nos próximos cinco anos devido à transformação do mercado de trabalho.
    Há escassez de competências digitais para a nova economia digital, exigindo melhorias nas literacias dos trabalhadores atuais e a preparação dos jovens para o futuro.
    Empresas e bibliotecas terão um papel crucial na formação, abordando desafios como o impacto da IA nos empregos e a necessidade de pensamento crítico, criativo e colaborativo.

  • A literacia informacional e mediática beneficia os indivíduos e as comunidades
    A capacidade de avaliar criticamente conteúdos em diversos media é essencial num contexto de ausência de notícias locais, desconfiança no governo e aumento de deepfakes, que exigem o desenvolvimento de competências para navegar no complexo panorama global de informação e criar comunidades informadas e resilientes.
    Governos e instituições reconhecem a necessidade de abordagens colaborativas para combater a desinformação, integrando literacia mediática, informacional e competências digitais.
    A OCDE defende um ecossistema informativo resiliente, envolvendo sociedade civil, media e comunicação governamental centrada nos cidadãos, enquanto os especialistas destacam a importância de desafiar estereótipos, fortalecer a inteligência humana e desenvolver ferramentas e sistemas digitais que garantam informações verificadas, acessíveis e atualizadas, capacitando cidadãos e profissionais para enfrentarem estes desafios.

  • A informação e as competências digitais melhoram a segurança
    Com o aumento da partilha de dados, a segurança torna-se uma preocupação urgente, com esquemas fraudulentos cada vez mais sofisticados, globais e direcionados, afetando especialmente grupos vulneráveis.
    Muitos crimes não são reportados por vergonha das vítimas e o avanço da IA reforça a necessidade de as organizações e os indivíduos desenvolverem capacidades digitais para identificarem fraudes e ameaças.
    Além disso, é essencial combinar abordagens técnicas e regulamentares com literacias digitais, mediáticas e informacionais para proteger os mais vulneráveis e garantir uma participação segura online.

Questões a ter em conta

  • A Australian Media Literacy Alliance observa que “museus, arquivos, bibliotecas, organismos públicos de radiodifusão, escolas e universidades já desempenham um papel significativo no apoio à literacia mediática e têm-no feito há décadas”.
  • A UNESCO afirma que “a literacia da informação e a aprendizagem ao longo da vida têm sido descritas como os faróis da sociedade da informação, iluminando os caminhos para o desenvolvimento, a prosperidade e a liberdade”.

Perguntas

  • Qual é o papel das bibliotecas na identificação e abordagem das lacunas destas competências emergentes nas comunidades?
  • Que desenvolvimento profissional é que as bibliotecas precisam de oferecer aos seus funcionários?
  • A literacia mediática e da informação oferece de facto uma solução para os riscos e agressões online?

Referência
IFLA (2024). Trend Report 2024. https://www.ifla.org/wp-content/uploads/ifla-trend-report-2024.pdf  
📷Trend Report 2024

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Relatórios de tendências da IFLA no Blogue RBE

 

 

Relatório de tendências da IFLA 2024

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As práticas de conhecimento estão a mudar

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IA e outras tecnologias transformam a sociedade e a criação, utilização e partilha da informação

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A verdade está a ser renegociada

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Relatório de tendências da IFLA 2023

 

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Relatório de tendências da IFLA 2022

 

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Relatório de tendências da IFLA 2021

 

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Qua | 11.12.24

A Biblioteca Escolar e a Rádio Escolar Splash

por Maria José Barroso, professora bibliotecária da EB de Piscinas, Olivais, Lisboa

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A criação da Rádio

A Escola Básica de Piscinas, em Lisboa, é semelhante a outras escolas do país, abraçando diariamente o desafio de envolver alunos com uma grande variedade de interesses, competências inesperadas e uma riquíssima diversidade cultural.

Uma vez que que a rádio é por excelência um meio de inclusão, onde é possível comunicar em qualquer língua e chegar a públicos diversificados, escolhemos desenvolver um projeto que passasse mais pela palavra falada do que pela palavra escrita.

Entendemos que deveria ser um projeto no qual os alunos fossem os protagonistas e os professores se mantivessem em segundo plano, como um recurso de apoio. Quer o nome da rádio, Rádio Escolar Splash, quer o seu logotipo, foram escolhidos por votação, a partir das propostas apresentadas por alunos.

O projeto teve início no ano letivo 2019/2020 e funciona na biblioteca escolar, sob a orientação da professora bibliotecária, que presta o apoio necessário e garante que o recurso está disponível para alunos e professores.

Para o arranque do projeto foi fundamental, por um lado, o patrocínio da Câmara Municipal de Lisboa que, através do Orçamento Participativo, ofereceu o equipamento e, por outro, a formação, assegurada pela Rádio Miúdos, a professores e à equipa inicial de alunos. 

Como funciona a Rádio Escolar Splash?

Foi criado um clube em que os alunos se inscrevem no início de cada ano letivo. A seleção dos novos elementos é feita por audições desenhadas e conduzidas pelos alunos veteranos de acordo com o perfil pretendido: alunos que façam uma boa gestão das relações interpessoais, que sejam criativos, com boas competências de comunicação e que criem um bom ambiente, para que a partilha aconteça. Outros aspetos valorizados são a responsabilidade ao nível da assiduidade e pontualidade.

Mas a rádio não é exclusiva do clube, estando disponível para outros alunos que a queiram experimentar de forma livre ou para os professores que pretendam usá-la como recurso educativo. Neste ponto, tem sido interessante o envolvimento dos alunos em situações como:

  • O programa de filosofia para crianças, Diverte-te a Pensar, em que eles escolhem uma pergunta como ponto de partida para uma conversa;

  • Gravação de leituras de poesias, de músicas originais e de entrevistas históricas, em articulação com os professores de Português, de Educação Musical e História e Geografia de Portugal, respetivamente.

Qual é a sua programação?

A Rádio Escolar Splash, dinamizada por este grupo de alunos, tem já alguns programas emblemáticos, tais como:

  • Todos à Mesa - Várias culturas em diálogo; 
  • Aventuras Splash - Programa de sugestões culturais; 
  • Entrevistas Splash; 
  • Os Sentimentos estão no ar - Teatro Radiofónico. 

Este ano está a arrancar:

  • Indecisões - Programa sobre problemas na adolescência;
  • Era uma vez... Historinhas Splash. 

É importante referir que os genéricos de alguns dos programas têm músicas criadas pelos alunos da escola, e que a edição dos programas é feita no Audacity pela professora bibliotecária e alguns alunos. 

Em que canais é que a Rádio é transmitida?

Os interessados podem ouvir as gravações dos programas nas plataformas de podcast Soundcloud e Spotify e ficar a par das novidades no Instagram da Biblioteca.

Qual é o balanço do projeto?

O balanço do projeto tem sido muito positivo. Os alunos mais tímidos ganham confiança e todos os envolvidos desenvolvem inúmeras competências: a construção coletiva de textos desenvolve a expressão escrita, a pesquisa de informação para os textos é um pretexto para aprofundar a literacia de informação e dos media, as visitas de estudo para os programas culturais têm alargado a experiência cultural e despertado novos interesses.

Recomendações

Para os colegas que pretendam implementar um projeto semelhante, temos duas recomendações. 
Desde logo, lembrem-se que podem fazer gravações apenas com um telemóvel e, sobretudo, não tenham medo de arriscar.

Projetos como este podem proporcionar aos alunos a oportunidade de mostrar a sua individualidade e de se motivarem para pensarem em conjunto e na diversidade, contrariando o absentismo, o abandono escolar e a desmotivação perante a escola. Desta forma, serão cidadãos mais interventivos e conscientes da sua riqueza pessoal e cultural.

Maria José Barroso, professora bibliotecária
Escola Básica de Piscinas, Olivais, Lisboa

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Ter | 10.12.24

A Biblioteca Escolar: Um espaço multifacetado ao serviço da educação das crianças e dos alunos do AE de Lordelo

por Beatriz Castro, Diretora do AE de Lordelo, Paredes

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O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PASEO), homologado pelo Despacho n.º 6478/2017, de 26 de julho, é, assumidamente, marcado por uma cultura científica e artística de base humanista, em que impera a operacionalização de um conjunto de competências que se pretendem que todas as crianças e alunos desenvolvam para o exercício de uma cidadania ativa e informada. 

O Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho, refere no seu preâmbulo, que

a sociedade atual enfrenta novos desafios decorrentes de uma globalização e desenvolvimento tecnológico em aceleração, tendo a escola de preparar os alunos, que serão jovens e adultos em 2030, para empregos ainda não criados, para tecnologias ainda não inventadas, para a resolução de problemas que ainda se desconhecem. Nesta incerteza quanto ao futuro, onde se vislumbra uma miríade de novas oportunidades para o desenvolvimento humano, é necessário desenvolver nos alunos competências que lhes permitem questionar os saberes estabelecidos, integrar conhecimentos emergentes, comunicar eficientemente e resolver problemas complexos. 

Ora, a escola tem de re(pensar) a sua ação e assumir uma multiplicidade de compromissos e pensar que a educação, como processo de nos tornarmos pessoas ou de nos fazermos a nós próprios, exige contextos ou espaços favoráveis, desde logo espaços pautados pelo exercício da autonomia, da liberdade e da responsabilidade. (Parecer 2/2004, do CNE). 

A biblioteca escolar é um espaço de excelência para que a escola se possa reconfigurar e cumprir a sua missão atual, porque é o centro fulcral para a aquisição de diferentes literacias, quer em ambientes físicos ou digitais, e para o desenvolvimento do pensamento crítico, da comunicação, da colaboração e da criatividade de todas as crianças e alunos. 

Partindo desta premissa, sempre norteei a minha ação no apetrechamento e modernização das três bibliotecas do Agrupamento de Escolas de Lordelo (doravante designado por AE Lordelo) de forma a tornarem-se lugares atrativos e acolhedores para todas as crianças, alunos, professores, pessoal não docente, pais/encarregados de educação, e demais utilizadores que o frequentam.  Para conseguir tal desígnio, o AE Lordelo candidatou-se a vários projetos para aquisição de equipamentos e de fundo documental, promoveu, e continua a promover, o envolvimento do agrupamento em parcerias, projetos e atividades que, pela sua natureza e enquadramento, facultam o acesso a recursos financeiros, ou outros com igual valor, contribuindo, assim, para o apetrechamento das bibliotecas escolares, complementando e aliviando o esforço imposto ao orçamento do agrupamento. 

As bibliotecas do AE de Lordelo são espaços multifacetados, permitindo uma verdadeira aprendizagem ativa e colaborativa, constituindo-se como o pilar do desenvolvimento curricular e da promoção das diferentes literacias de modo a potenciar uma maior participação de todas as crianças e alunos em ambientes inclusivos. Nestes espaços físicos acolhedores, funcionais, abertos e vívidos, desenvolve-se uma multiplicidade de atividades curriculares e extracurriculares. 

A biblioteca escolar aposta num trabalho de proximidade com todos os docentes dos diferentes departamentos curriculares de forma a integrar os recursos existentes das bibliotecas nas atividades curriculares. A título exemplificativo destacam-se os projetos desenvolvidos: “A ler, recontar e ouvir, aprendo”, “Leitura em vai e vem” e “10 minutos a ler” dirigidos às crianças da educação pré-escolar; criação do “Clube de Leitura”, nos 2.º e 3.º anos de escolaridade, no âmbito da disciplina de Oferta Complementar - Habilidades Linguísticas; “Diários de Escrita com a Biblioteca Escolar”, nos 3.º e 4.º anos de escolaridade;  “Vamos escrever com a biblioteca escolar”, no 2.º ciclo e nos 7.º e 8.º anos de escolaridade; “Vou levar-te comigo”, no 3.º ano de escolaridade; “Livr´ à mão”, no 4.º ano de escolaridade; “10 minutos a ler”, nos 5.º, 6.º e 7.º anos de escolaridade, e  “Leitura orientada”, nos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico. Estes projetos constavam no Plano de Recuperação das Aprendizagens 2021/2024. 

A biblioteca escolar oferece uma diversidade de atividades educativas e culturais, tais como, encontros com escritores, designadamente na semana da leitura, encontros temáticos, comemoração de efemérides, em articulação com as diversas estruturas  pedagógicas do AE Lordelo (Serviço de Psicologia e Orientação, Clube do Desporto Escolar, Clube Europeu,  Clube Eco-Escolas, Projeto de Educação para a Saúde e Sexualidade ...), workshops, sessões de divulgação, estimulando nas crianças e nos alunos o trabalho colaborativo, a partilha de saberes, o desenvolvimento cognitivo, da criatividade, da autonomia e do espirito crítico, bem como o desenvolvimento afetivo e social dos discentes. Deste modo, a biblioteca escolar desempenha uma função indispensável na concretização de projetos interdisciplinares ou transdisciplinares bem como na ocupação dos tempos livres das crianças e dos alunos.

Dado que as bibliotecas do AE Lordelo apresentam um espaço educativo multifuncional,  e como forma de promover a sua imagem, elas são “palco” para a realização de diversas atividades, tais como: assembleias de alunos do ensino básico e do ensino secundário, no âmbito da medida “Dar voz aos alunos”; Focus Group, dinamizados pela equipa de avaliação interna e pela equipa EQAVET (Quadro de Referência Europeu de Garantia da Qualidade para o Ensino e a Formação Profissionais) , envolvendo alunos, pessoal docente, pessoal não docente, pais e encarregados de educação e empregadores; realização das provas de aptidão dos alunos dos cursos profissionais abertas à comunidade. 

A biblioteca escolar tem tido um papel ativo no Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital da Escola (PADDE). Com efeito, a biblioteca escolar, em articulação com a equipa PADDE, promoveu, nos últimos três anos letivos, ações de formação de curta duração e workshops, por forma a capacitar os alunos, o pessoal docente, o pessoal não docente e os pais/encarregados de educação, garantindo a todos o uso das tecnologias digitais de uma forma responsável, ética e eficaz numa sociedade cada vez mais dinâmica, imprevisível e digital. 

O AE de Lordelo tem como missão prestar à comunidade um serviço público de qualidade, garantindo o direito de cada aluno a uma educação inclusiva, promotora de melhores aprendizagens, de modo a que todos os alunos alcancem as competências inscritas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. Na persecução da nossa missão, é fundamental que a biblioteca escolar continue a ser um espaço educativo integrador das múltiplas literacias, dispondo de um acervo diversificado e atualizado, de recursos e ferramentas digitais e de espaços físicos aprazíveis para que as crianças e alunos se sintam felizes e capazes de desenvolverem um conjunto de competências alinhadas com o PASEO.  

Beatriz Ester Moura de Castro
Diretora do Agrupamento de Escolas de Lordelo, Paredes

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Seg | 09.12.24

Empoderar os alunos com a leitura repetida

por Kathy Collier*

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Esta estratégia para melhorar as competências de leitura dos alunos do ensino básico permite-lhes perceber o seu progresso.

Quando um aluno lê um texto várias vezes, chama-se a isso leitura repetida. A leitura repetida de textos curtos, frases e nomes ou sons de letras pode aumentar a fluência e ajudar a monitorizá-la. Os professores podem capacitar os alunos utilizando a leitura repetida como uma oportunidade para dar feedback, agir com base no feedback e registar as suas melhorias. Seguem-se algumas ideias que utilizei e que os novos professores poderão considerar úteis.

Como começar

Na maior parte das vezes, a leitura repetida é uma estratégia que os alunos utilizam quando estão a ler; podem ler uma frase ou um período novamente para aumentar a fluência e/ou verificar se faz sentido. Também pode ser necessário efetuar leituras repetidas cronometradas, o que permite aos professores avaliar o desenvolvimento e ajudar os alunos a perceberem e celebrarem a melhoria. Quando os alunos veem o seu progresso, compreendem a importância de lerem um texto várias vezes nas suas leituras independentes para aumentarem a sua fluência e, consequentemente, a sua compreensão.

Nas leituras cronometradas típicas, o aluno lê um texto em voz alta durante um minuto. O texto varia consoante a idade e a capacidade de concentração e pode ser uma página de letras em que o aluno diz os nomes ou os sons das letras, ou pode ser uma série de frases ou uma passagem. As avaliações de leitura cronometrada são efetuadas entre um aluno e o professor. Como alternativa, pode ser interessante para toda a turma praticar em conjunto a leitura cronometrada - por exemplo, quando uma turma do jardim de infância lê os sons de uma série de letras, para aquecer para atividades de leitura ou fonética.

É importante que os professores apresentem a leitura repetida cronometrada aos alunos como uma forma de verem o seu desenvolvimento, para que não fiquem ansiosos com o facto de serem cronometrados. Também é importante que os alunos saibam que há alturas em que o ritmo pode abrandar à medida que trabalham a expressão e a descodificação - pelo que o ritmo de leitura é apenas um indicador de crescimento. Encoraje-os a ter isso em conta se houver uma diminuição na taxa de leitura de um texto.

Fornecer feedback inicial

Se um aluno estiver preso numa palavra que corresponda a uma estratégia fonética atual ou anterior, relembre-lhe a estratégia para o ajudar a descobrir. Escolha cuidadosamente a sua linguagem enquanto professor, de forma a dar ao aluno o mínimo de apoio necessário para que ele consiga resolver a palavra sozinho. Se a palavra tiver uma parte irregular ou for uma palavra que é pouco provável que o aluno conheça de leituras anteriores ou da utilização da fonética, o professor pode esperar alguns segundos e depois fornecer a palavra.

Por vezes, utilizo um marcador para destacar partes de palavras ou palavras complicadas antes da leitura e digo ao aluno: “Esta palavra pode ser nova para ti e é irregular, por isso vou dizer-te a palavra.”

Quando um aluno está a trabalhar no desenvolvimento de frases, uma forma de feedback pode ser um professor exemplificar como juntar palavras em frases. Quando o faço, coloco uma linha por baixo das palavras que juntei; alguns professores colocam uma barra entre as frases. Por exemplo: “Eu fui à loja / para comprar comida para o meu gato”. Depois de ensaiar o corte, o aluno pode ler para praticar, ou o professor pode ler em conjunto com o aluno, e depois o aluno lê sozinho.

Outra opção para a exemplificação é a “leitura em baloiço”, em que o professor lê, o aluno lê, o professor lê com uma sugestão de algo a melhorar e o aluno volta a ler. Ou o professor e o aluno podem alternar a leitura de uma das palavras de forma alternada e depois repetir, mas trocando quem lê primeiro. Com a alternância de palavras, o aluno tem a oportunidade de ler e ouvir cada uma das palavras durante as duas leituras.

É importante salientar ao aluno que tem de manter os olhos no texto, independentemente de quem está a ler, para ver as palavras e ajudar o seu cérebro a tornar-se mais automático com as palavras.

Quando o objetivo de um aluno é aumentar a velocidade, peço-lhe que “persiga” as palavras. Depois, lemos juntos e eu acelero a leitura um pouco mais do que o aluno faria sozinho. Desta forma, o aluno está a correr atrás das minhas palavras.

Sugestões para dar feedback

O feedback deve ser específico e objetivo. Quanto mais específico for o feedback, mais significativo e estimulante será. Concentro o meu feedback na competência em que o aluno está a trabalhar e dou um exemplo de como ou quando utilizou a estratégia. Começo com um comentário positivo e depois posso dar uma dica. “Corrigiste a palavra 'back' quando viste que 'bake' não fazia sentido. Quando lermos da próxima vez, lembra-te de fazer uma pausa aqui no ponto final.”

É importante dar um feedback conciso e não parar demasiadas vezes para dar feedback, pois o objetivo é que o aluno se empenhe na tarefa. Gosto de dar ao aluno a possibilidade de agir e de lhe perguntar: “O que é que fizeste bem?” Se um aluno ainda não conseguir articular o que fez bem, ofereço-lhe uma lista visual de três a quatro estratégias que pode utilizar, para que tenha algumas ideias por onde escolher.

Possíveis áreas de foco para a leitura repetida e feedback incluem, mas não se limitam a, descobrir palavras, usar a expressão, autocorrigir-se, usar estratégias fonéticas, não desistir, manter os olhos no texto e lembrar-se de uma palavra de um texto anterior.

Empoderar os alunos

Para além das ideias acima referidas sobre a competência e a autonomia, as estratégias específicas que se seguem têm a capacitação como objetivo principal.

Torná-lo visual: Forneça um gráfico de barras para o aluno colorir após a sua primeira leitura. Se lerem 45 palavras por minuto, devem colorir 45 quadrados utilizando uma cor como o amarelo. Depois, após praticar o texto com leituras repetidas e receber feedback do professor, o aluno pode fazer uma leitura final e colorir a coluna seguinte de quadrados a verde.

Pergunto ao aluno o que o ajudou a melhorar (ou, se a pontuação baixou, qual poderá ser a razão). Proporcionar aos alunos formas de documentar o seu progresso e refletir sobre o que contribuiu para esse progresso oferece-lhes uma ferramenta que podem utilizar na sua aprendizagem futura.

Estabelecer um objetivo: Quando um aluno estabelece um objetivo para a sua aprendizagem, está no papel de condutor e, muitas vezes, fica mais empenhado e motivado ao trabalhar para atingir o objetivo. O professor pode apoiar o aluno, ajudando-o a dar passos em direção ao objetivo e oferecendo estratégias e feedback. Os objetivos para os alunos podem incluir o número de palavras por minuto; respirar se eles se sentirem ansiosos ao ler uma palavra desafiadora; ler todas as palavras com o som /a/ corretamente; ou dizer a si mesmos: “Todos os leitores chegam a palavras difíceis quando leem”.

Quanto mais capacitarmos os nossos alunos através de estratégias e feedback, mais poderemos acelerar o seu avanço na leitura. A leitura é uma competência fundamental que nós, enquanto educadores, temos de garantir que estamos a desenvolver em todos os nossos alunos. Nas palavras de Frederick Douglass, “Quando aprenderes a ler, serás livre para sempre”.

O texto deste artigo foi traduzido e publicado com a autorização da Edutopia:

Collier, K. (2024, 5 de março). Empowering Students With Repeated Reading. Edutopiahttps://www.edutopia.org/article/improving-elementary-students-reading-ability

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* Sobre Kathy Collier

Sou uma aprendiz e uma colaboradora. O meu papel atual, e de sonho, é o de formadora de línguas e de literacia. Também sou coordenadora de literacia elementar em todo o distrito. Tenho 16 anos de experiência em sala de aula (espanhol K-5, primeiro, terceiro e quarto ano), sete anos como coordenadora de recursos de aprendizagem e três anos como coordenadora de currículo elementar. As minhas paixões incluem a equidade, a orientação, o treino, a linguagem, as convicções e os sistemas. Integro a aprendizagem do meu mestrado em alfabetização e educação multicultural, programas de atribuição de licenças (ESL e professor de leitura) e duas credenciais de formação no meu trabalho com professores e currículo.

Nota: © Excecionalmente, por se tratar de uma tradução que careceu de autorização, este trabalho tem todos os direitos reservados.

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