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Blogue RBE

Qui | 16.11.23

Filosofia & livros: um diálogo arriscado.

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Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.

Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.

(Caetano Veloso, Livros

Realizou-se no passado dia 14 de outubro o Seminário Internacional Os Riscos da Educação, no âmbito do Folio Educa, no qual participámos com a comunicação intitulada Filosofia & livros: um diálogo arriscado

A propósito do Dia Mundial da Filosofia, que este ano se celebra a 16 de novembro, pretendemos recuperar parte da nossa comunicação de forma a celebrar a filosofia e a nossa obsessão pela transparência

O risco de ler. O risco de perguntar. 

Quando falamos de risco falamos de probabilidade da ocorrência, de danos, mas não só. Também falamos de ousar, transgredir, desafiar, questionar. A este propósito partilhamos o início do livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll: 

“Alice começava a ficar muito cansada de estar sentada ao lado da irmã, na margem do rio, sem nada para fazer. Uma ou duas vezes espreitou para o livro que a irmã estava a ler, mas este não tinha imagens ou diálogos, “e qual é a utilidade de um livro”, pensou a Alice, “sem imagens nem diálogos”?” 

Lewis Carroll (2017) Alice - As Aventuras No País das Maravilhas. Porto: Editora Exclamação. pp. 15

Se fosse possível conversar com Alice, dir-lhe-íamos que ler é um ato arriscado, no sentido em que nós, as pessoas leitoras, somos (ou tornamo-nos) pessoas ousadas, críticas e amantes da arte de fazer perguntas. 

Sem perguntas a vida paralisava, o conhecimento seria restrito e o espanto talvez não existisse. Mesmo nos livros “sem imagens nem diálogos” as perguntas estão lá! É necessário prestar atenção, escutar [é fundamental!] e ser uma pessoa curiosa, muito curiosa, mas também ser ousada e provocadora. 

As perguntas obrigam-nos a:

  • exercitar o pensamento;
  • criar espaços democráticos e de verdadeira liberdade;
  • intensificar a generosidade [no sentido de partilhar as nossas perguntas de maneira a provocar o diálogo];
  • lidar com a incerteza;
  • gerir a tensão e a discórdia. 

Livros que fazem perguntas. Livros perguntadores.

Os livros perguntadores podem não apresentar perguntas na capa ou mesmo no interior (por perguntas entendemos uma frase que termina com um ponto de interrogação). São livros que nos convocam a curiosidade, ampliam o pensamento e proporcionam uma certa tensão na leitura. A sua leitura permite o exercício da incerteza, da imaginação e consideração de possibilidades, exigindo que as pessoas leitoras se envolvam ativamente. Por último, a provocação: um livro perguntador resulta num trampolim no sentido da construção de sentidos e da exploração de significados, seja do texto escrito, da ilustração, do formato do livro, das guardas. É um livro que nos toca no ombro, que cutuca o pensamento, que incomoda e faz perguntar. 

Os Livros Perguntadores partilhados no FOLIO Educa 

Estes foram os livros que nos acompanharam durante a comunicação no FOLIO Educa:

Vamos continuar a #PararPensarEscutarDialogar sobre e com os livros e queremos partilhar esses diálogos com a comunidade. Fica o convite para subscrever newsletter mensal, clicando AQUI.

Nota das autoras: este texto tem origem na comunicação “Filosofia & Livros: um diálogo arriscado” apresentada no Seminário Internacional “Os Riscos da Educação”, no FOLIO Educa, a 14 de outubro de 2023. Agradecemos ao curador Paulo Santos pelo convite para fazer parte deste evento e a toda a equipa pelo acolhimento; bem como à Rede de Bibliotecas Escolares pela possibilidade de partilhar algumas das nossas ideias em torno dos #LivrosPerguntadores. 

Joana Rita Sousa
Júlia Martins 

 

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Qua | 15.11.23

Configurar as bibliotecas para serem o melhor espaço na escola

por Paige Tutt

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Demos uma espreitadela a bibliotecas escolares por toda a América para ver de que forma os bibliotecários estão a reestruturar o espaço para apoiar o crescimento social, emocional e criativo dos alunos, dando ao mesmo tempo prioridade a excelentes leituras.

Todos os dias, mais de 500 alunos visitam a biblioteca da Campbell High School em Smyrna, Geórgia - muitas vezes antes do início do dia escolar ou durante o período de almoço. Por outras palavras, os alunos optam por passar "o pouco tempo não estruturado que têm" na biblioteca, diz Andy Spinks, um dos dois especialistas em bibliotecas da escola.

A biblioteca recentemente renovada - agora conhecida como Learning Commons - é um centro polivalente espaçoso e luminoso dentro da escola. Há mesas de café onde as crianças podem trabalhar em conjunto; assentos confortáveis e flexíveis; um espaço de criação onde os alunos podem explorar atividades como costura e joalharia; um estúdio de gravação e produção de áudio; e um estúdio de produção de vídeo onde as crianças podem criar TikToks ou vídeos do YouTube utilizando os seus telemóveis ou computadores portáteis fornecidos pela escola. Está muito longe do espaço que costumava ser (uma folha de presenças de 2008 registou apenas 21 alunos a entrar na biblioteca num dia).

"É um local onde os alunos se juntam, interagem e constroem uma comunidade", afirma Spinks. Ouço frequentemente os adultos queixarem-se de que os adolescentes estão "sempre a olhar para o telemóvel" e não conseguem interagir com as pessoas cara a cara, mas não é isso que vejo. Vejo-os a conversar, a trabalhar em projetos de grupo, a jogar xadrez e Uno e a exercitar a sua criatividade de forma colaborativa. Até o tempo que passam no ecrã - a jogar jogos de vídeo, a fazer vídeos e a gravar música - é colaborativo".

Spinks e outros bibliotecários com ideias semelhantes em toda a América estão a transformar as bibliotecas escolares de repositórios silenciosos e sóbrios de conhecimento em espaços vibrantes que acolhem as crianças e encorajam "a exploração, a criação e a colaboração", escreve a investigadora e antiga professora Beth Holland. Através de uma planificação cuidadosa e com a ajuda do contributo dos alunos, a biblioteca da Escola Secundária Campbell, e outras semelhantes, oferecem um refúgio indispensável para escapar à agitação do dia a dia, servindo de núcleo de apoio a todo o tipo de necessidades sociais, emocionais e criativas - ao mesmo tempo que proporcionam acesso a bons livros.

Para termos uma ideia de como as escolas estão a repensar as bibliotecas, falámos com bibliotecários e especialistas em bibliotecas de todo o país sobre as soluções criativas que estão a utilizar para transformarem as bibliotecas nos melhores locais para estar na escola.

Colocando as crianças no centro

Na A. P. Giannini Middle School em São Francisco, quase metade dos livros trazidos para a coleção da escola provêm de pedidos dos alunos, diz a professora bibliotecária Shannon Engelbrecht. Se um miúdo chega e pergunta: "Tem este livro?" e eu respondo: "Não tenho; preencha a folha de requisição", recebemo-lo numa semana através do sistema de encomendas rápidas". O mesmo acontece com o espaço de criação, maioritariamente abastecido com artigos que os miúdos pedem, comprados a partir de um orçamento fornecido pela Associação de Pais.

"Vou ao Dollar Tree e vejo se têm máquinas de fazer pompons para que o que temos no centro de criação seja o que os alunos pediram", diz Engelbrecht. Assim, é muito mais provável que queiram ler um livro ou recomendá-lo aos amigos e dizer: "Escolhi este livro para a biblioteca. Devias experimentar". Ou 'Já experimentaste uma máquina de fazer pompons?'".

Depois de ter concluído uma avaliação das necessidades dos alunos, o bibliotecário Christopher Stewart, de Washington, D.C., começou a fazer pequenas alterações na biblioteca da escola, exibindo, por exemplo, tecidos e arte relacionados com as várias culturas dos alunos. "Quero que eles façam parte dela", diz Stewart. "Encomendar tecido afro-americano [para expor nos moldes de vestuário], encomendar arte do México que represente os alunos. Não basta ter uma coleção de livros que seja representativa. Queria garantir que os alunos se vissem não só nas páginas dos livros, mas também no mobiliário e na arte."

Stewart também contrata estudantes para agirem como "embaixadores da marca da biblioteca", funcionando como uma espécie de painel de pesquisa de mercado com informações sobre a coleção de livros da biblioteca, tipos de programação que gostariam de ver e seleções para o clube de leitura, entre outras coisas. "É bonito porque eles são os ouvidos dos seus pares", diz. "Está a mostrar intencionalidade da parte da biblioteca. Porque não quero dar-vos o que acho que devem ter; quero dar-vos o que querem e precisam."

Reestruturação para a criatividade e até algum barulho

As bibliotecas do Herricks Union Free School District em Long Island, Nova Iorque, nem sempre são silenciosas - e isso é intencional, diz Michael Imondi, diretor de ELA, Leitura e Serviços de Biblioteca do ensino básico e secundário. Os dias de sussurros entre as prateleiras já lá vão e quando o distrito decidiu renovar as suas bibliotecas, as prioridades de design centraram-se nos quatro Cs - comunicação, colaboração, criatividade e pensamento crítico. "Este não é um espaço calmo", diz ele. "É um espaço de trabalho, um espaço de colaboração".

Existem mesas grandes para incentivar a colaboração dos alunos, bem como salas de estudo silenciosas onde as crianças podem trabalhar de forma independente. Na biblioteca da escola secundária, alguns tampos de mesa são quadros brancos nos quais se pode escrever diretamente quando se planificam projetos de grupo ou se traça um mapa de ideias. Um pequeno ajuste no nome - de biblioteca para Library Learning Suite - ajudou a enfatizar o novo foco. "As palavras são importantes", diz Imondi. Ter a palavra "aprendizagem" é importante porque é isso que está a acontecer agora. Quer venha ler um romance da prateleira ou utilize a nossa impressora 3D para construir algo para a sua aula de ciências, é um espaço de aprendizagem."

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Na biblioteca da Escola Secundária de Campbell, Spinks diz que uma das grandes mudanças nos últimos anos diz respeito ao papel fundamental das bibliotecas como espaços "principalmente preocupados com a informação que os alunos recebem". Agora, estão "a concentrar-se mais em fazer coisas, produzir informação e meios de comunicação". Uma dessas áreas é a das artes criativas: Spinks ficou surpreendido com o talento que os estudantes demonstraram nos estúdios de áudio e produção da biblioteca.

"Estes miúdos são tão talentosos, tão criativos", diz Spinks. Inicialmente, pensou que o estúdio poderia não ser muito utilizado durante o dia de escola, porque os alunos precisariam de uma ou duas horas para fazer qualquer coisa. Mas eles continuam a surpreendê-lo com o que são capazes de fazer em curtos períodos de tempo: "Eles chegam e, durante um bloco de almoço de 25 minutos, podem carregar a música, fazer um vídeo e ter algo para partilhar com os amigos."

Bibliotecas onde as crianças descontraem

Depois de se aperceber de que os alunos precisavam de um "espaço que fosse só deles" onde pudessem processar as suas emoções em segurança, Stewart criou uma sala de paz, amor e meditação dentro da biblioteca. "É o centro", diz ele. "Um lugar para não se sentirem julgados, para sentirem muito amor e para se sentirem aconchegados." Uma pausa bem-vinda e necessária do stress do mundo exterior, com música relaxante e uma fonte de água, também funciona como um local para sessões de educação para a justiça, bem como uma sala aberta que os conselheiros e terapeutas utilizam para atender às necessidades da comunidade escolar.

Criar uma zona livre de preconceitos no interior da biblioteca é também uma prioridade para Engelbrecht. Precisa de utilizar um dos computadores de secretária para terminar os trabalhos de casa antes da aula? Isso não é um problema. Está a ter dificuldade em manter os olhos abertos? A Engelbrecht não se importa que os alunos adormeçam ocasionalmente no grande sofá em forma de U no centro da sala - tem capacidade para cerca de sete crianças sentadas, e ela não lhe diz para manter os pés no chão. "Nunca se pode fazer isso na escola porque não é suposto pôr os pés em cima da mobília", diz ela. "Mas nós temos três peças de mobiliário especificamente para pôr os pés em cima".

Ainda assim, livre de preconceitos não significa sem regras, diz ela. Engelbrecht vai a todas as turmas de inglês uma vez por mês e dá diferentes lições sobre media, tecnologia, literacia digital e cidadania. O seu lema é "Assumir a melhor intenção, equidade de espaço, coração bondoso". As conversas que tem com os alunos sobre tudo, desde o cyberbullying a como reagir quando alguém nos faz sentir desconfortáveis, são cruciais para criar relações de confiança e estabelecer a biblioteca como um porto seguro.

Entretanto, nos estados onde as proibições de livros estão em vigor, falámos com bibliotecários que estão a encontrar formas de manter os seus espaços acolhedores e inclusivos - através, por exemplo, de exposições de livros que realçam diferentes culturas, valores e identidades.

"Todas as crianças merecem ir à biblioteca e encontrar um livro com alguém que se pareça com elas, ou que aja como elas, ou que tenha alguma semelhança com elas", diz Jamie Gregory, bibliotecária numa escola privada na Carolina do Sul. "Penso que é importante que a coleção da nossa biblioteca reflita a nossa comunidade, mas deve continuar a ser diversificada, para que os alunos possam aprender que não há pessoas de quem devam ter medo ou que os querem apanhar. Todos os tipos de comunidades merecem uma representação justa".

"A literatura é a prioridade. A coleção de livros impressos e eletrónicos é a prioridade", afirma Boyd. "A segunda prioridade é o acesso à tecnologia, para que os alunos estejam em igualdade de circunstâncias com outros alunos de todo o distrito e de todo o país. Quero certificar-me de que as crianças têm um acesso claro aos materiais, para que possam aprender e descobrir a independência, e não apenas através de uma tarefa na sala de aula."

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Manter um olhar atento sobre os livros para que sejam relevantes, interessantes e populares continua a ser uma prioridade para todos os bibliotecários com quem falámos. Apesar de reduzir frequentemente a coleção, nenhum livro é desperdiçado na biblioteca da escola secundária de Stacy Nockowitz em Columbus, Ohio. Tudo o que é eliminado é oferecido aos alunos como parte de uma oferta de livros. A oferta deste ano deveria ter durado uma semana, mas as provisões só duraram dois dias porque os miúdos "ficaram loucos pelos livros", diz ela. Há alguns anos, falou-se muito sobre "Será que as bibliotecas vão deixar de ter livros? Vão passar a ser totalmente digitais? Esse tipo de coisas. Tomámos uma decisão muito consciente de não o fazer. Nunca pensámos nisso, porque os nossos filhos adoram ter livros físicos nas mãos."

O texto deste artigo foi traduzido com a autorização da Edutopia:

Tutt, P. (2023, 8 de agosto). Setting Up Libraries to Be the Best Space in School. Edutopia. https://www.edutopia.org/article/setting-up-libraries-to-be-the-best-space-in-school

Sobre Paige Tutt

Sou uma jornalista sediada em Nova Iorque que se tornou editora, designer de bolos personalizados, diretora de redes sociais/comunicações e que voltou a ser jornalista.

Tenho um mestrado do Emerson College em Escrita, Literatura e Edição, com especialização em Edição de Revistas Online. Obtive o meu bacharelato na Universidade de Binghamton em Inglês, Literatura Geral e Retórica.

As questões da diversidade, equidade, interseccionalidade e inclusão na educação são-me extremamente caras e próximas. Estou empenhada em tornar visíveis os desafios que os estudantes das comunidades marginalizadas - especialmente as crianças negras - enfrentam diariamente, criando e participando no discurso e, em última análise, trabalhando para erradicar estas questões.

Nota: © Excecionalmente, por se tratar de uma tradução que careceu de autorização, este trabalho tem todos os direitos reservados.

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Ter | 14.11.23

São Brás de Alportel celebra a Magia da Leitura com o (En)leio das Histórias

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O evento (En)leio das Histórias esteve de volta às bibliotecas de São Brás de Alportel, entre os dias 25 e 27 de outubro e marcou a comemoração do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares (MIBE). Os alunos do ensino pré-escolar e do 1.º Ciclo foram convidados a explorar as diferentes atividades lúdico-pedagógicas (Nós) relacionadas com a leitura e os livros:

NÓ DO CONTO- Era uma vez…

NÓ DA SURPRESA – Visita a… escola antes de Abril

NÓ DA ESCRITA- Enleia as palavras!

NÓ DA TROCA – Toma lá, dá cá!

NÓ DA ILUSTRAÇÃO – Títulos às avessas.

NÓ DA LEITURA – As aventuras de Cuscas!

NÓ DA TRANSMEDIA- As aventuras do Snoopy

cartaz_enleio_das_historias2023 - Ana Marta E. Bra

O (En)Leio das Histórias é uma iniciativa anual, promovida pela Rede de Bibliotecas do Concelho de São Brás de Alportel, com o apoio da Câmara Municipal de São Brás de Alportel e do Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas.

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Seg | 13.11.23

Relatório global de confiança 2023

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2023 – Navegamos num mundo polarizado

Segundo o relatório global Edelman Trust Barometer 2023 (23.ª ed.), que resulta da resposta de mais de 32.000 pessoas de 28 países a questionários digitais, regista-se uma falta de confiança nas 4 principais instituições: empresas, governo, ONG e meios de comunicação social.

Portugal não participa no estudo, mas no contexto global, as suas conclusões podem ajudar a compreender e prevenir fenómenos nacionais.

Segundo o Relatório Global 2023, a falta de confiança nas instituições resulta de 4 fatores

1. Desempenho Económico e Expectativas de Renda Futura

24 dos 28 países “registam mínimos históricos” de confiança de que “as suas famílias estarão melhor em cinco anos”: 36% é o nível máximo de confiança dos países desenvolvidos.

Este medo/ansiedade ou pessimismo económico, nas palavras do Relatório, é menor nas economias em crescimento que lideram o índice de confiança económica: Índia, Indonésia, Arábia Saudita, Singapura.

2. Desequilíbrio institucional

 O governo é percecionado como incompetente e antiético, ao contrário das empresas que estão à frente do governo: 53 pontos na perceção de competência e 29 pontos na ética.

Esta tendência que se tem vindo a registar resulta provavelmente do desempenho das empresas durante a pandemia Covid-19, em relação à Agenda 2030 e ao abandono do mercado russo no contexto da invasão da Ucrânia: “As empresas estão sob pressão para ocupar o vazio deixado pelo governo”.

3. Divisão entre classes sociais

O nível de confiança anda a par dos rendimentos: “Aqueles que se encontram no quartil superior de rendimento têm uma visão profundamente mais positiva das instituições do que aqueles que se encontram no quartil inferior”. A crescente desigualdade de rendimentos faz com que as pessoas vivam vidas separadas, demonstrem “falta de identidade partilhada” e vontade em contribuir para os desígnios nacionais.

O Relatório mostra que, para cada país, ao longo do tempo, têm aumentado as divisões. Os países que lideram este aumento são, por ordem decrescente: Países Baixos/Holanda, Brasil, Suécia, França, Nigéria, EUA, Alemanha e Reino Unido.

4. A batalha pela verdade

A pandemia Covid-19 gerou – até hoje – uma contínua perda de confiança nos meios de comunicação social, sendo percecionados como fonte de desinformação: “Um ambiente mediático partilhado deu lugar a câmaras de eco, tornando mais difícil resolver problemas colaborativamente. Os media não são fiáveis, têm uma confiança especialmente baixa os media sociais”, pois há a perceção global de que a Internet não é segura nem confiável.

Também os governos são considerados fontes de informação falsa e enganosa. ONG e empresas são as únicas consideradas com informação confiável, conforme gráficos infra.

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 5. Injustiça sistémica e polarização

A “injustiça sistémica” (Systemic unfairness) resulta da maioria das pessoas considerar a ocorrência simultânea destes 4 fatores. Ela gera a perceção de que “navegamos num mundo polarizado”, conclusão do Relatório.

Quanto maior é a desigualdade, maior é a falta de confiança e de polarização e vice-versa, pois a polarização é causa e consequência da desconfiança.

Há 6 países que estão em risco de “polarização severa”: Brasil, França, Reino Unido, Japão, Alemanha e Itália.

A polarização agrava os medos de, por ordem decrescente: preconceito e de discriminação, decréscimo de desenvolvimento económico e violência nas ruas. 65% dos inquiridos considera que “o civismo e o respeito mútuo é hoje o pior que alguma vez viu”.

Professores, ONG e líderes de empresa são, por ordem decrescente, percecionados como fontes congregadoras e unificadoras das pessoas. Em contrapartida, são percecionados como forças que dividem e separam, por ordem decrescente, as pessoas ricas e poderosas, os governos – sobretudo estrangeiros e hostis – e os jornalistas.

“Só as empresas são competentes e éticas” - pelo terceiro ano consecutivo mantêm o aumento ético – e são confiáveis. Os inquiridos pretendem das empresas maior envolvimento social em áreas como, por ordem decrescente: mudança climática e desigualdade económica; informação confiável e requalificação de mão de obra. Este envolvimento social faz com que as empresas corram o risco de serem politizadas. O Relatório também evidencia que quando os governos e as empresas trabalham em conjunto, há melhores resultados sociais.

Para os inquiridos as empresas devem continuar a:

  • Liderar, os cidadãos depositam nelas grandes expetativas e responsabilidades em apresentar soluções sobre “o clima, a diversidade, a inclusão e desenvolvimento de competências”;

  • Colaborar com o governo, a restaurar o otimismo económico e a advogar pela verdade e a ter papel central no ecossistema de informação e a promover o discurso dos cidadãos.

 

2017 – Confiança em crise ou implosão da verdade

No contexto da campanha presidencial dos EUA, que levou à eleição de Donald Trump nos EUA e do ​​referendo do Brexit no Reino Unido, 2017 revelou “a maior queda de sempre na confiança nas instituições”, segundo o Comunicado de Imprensa do Relatório 2017 [2].  

Em 2017 apenas 15% dos inquiridos acredita que o sistema está a funcionar. Inclusive, as elites com elevado rendimento, com formação universitária e bem informadas, entre 48 a 51% diz que o sistema falhou para eles.

Neste período, a comunicação social – inclusive medias tradicionais – é percecionada como menos confiável que o governo e as instituições, ONG e empresas. Esta “falta de confiança nos meios de comunicação social também deu origem ao fenómeno das notícias falsas e aos políticos que falam diretamente às massas”, sem intermediários de imprensa ou sem ser na Assembleia/ Parlamento [3].

Um dos 10 insights/perceções do Barómetro 2017 [4] é que os media são percecionados como camaras de eco (the media echo chamber): 53% das pessoas não escutam regularmente pessoas ou organizações das quais discordam e ignoram informação contrária à que acreditam.

Esta quebra de confiança nos media e nos governos – a segunda instituição menos confiável – associada aos efeitos da globalização e ao ritmo crescente de desenvolvimento de tecnologias digitais e de inovação, “transforma-se em medos, estimulando o aumento de ações populistas que agora ocorrem em várias democracias”. “Populistas” e nacionalistas: em Portugal, temos o exemplo da rápida ascenção do Chega. Esta tendência política surge associada ao crescimento de movimentos inorgânicos de fragmentação do poder e de fragilização dos governos e das democracias.

Para reconstruir a confiança nas instituições, o Barómetro 2017 propõe que estas reformulem o seu modus operandi tradicional e criem um novo modelo “mais integrado que coloque as pessoas — e a abordagem dos seus medos — no centro de tudo o que fazem” [5].

Para todos serem parceiros e co-construtores das instituições e criarem relações de confiança, a literacia da informação e media e a educação para a cidadania é componente essencial de todas as ações e projetos com a biblioteca escolar, co-criados e postos em prática com as crianças e jovens. 

Referências

  1. (2023). Edelman Trust Barometer: Global Report. https://www.edelman.com/sites/g/files/aatuss191/files/2023-03/2023%20Edelman%20Trust%20Barometer%20Global%20Report%20FINAL.pdf
  2. (2017). Trust Barometer. https://www.edelman.com/trust/2017-trust-barometer
  3. (2017). 2017 Edelman TRUST BAROMETER Reveals Global Implosion of Trust. https://www.edelman.com/news-awards/2017-edelman-trust-barometer-reveals-global-implosion
  4. (2017). 10 Trust Barometer Insights. https://www.scribd.com/document/336642756/10-Trust-Barometer-Insights
  5. (2017). Edelman Trust Barometer Reveals Global Implosion. https://www.edelman.com/news-awards/2017-edelman-trust-barometer-reveals-global-implosion
  6. 📷 [1]

 

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Sex | 10.11.23

Papel vital das bibliotecas escolares e da professora bibliotecária: uma aliança para o desenvolvimento educativo

Por Mário Rocha, diretor do AE de Cristelo

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O Agrupamento de Escolas Cristelo, integrado no Programa TEIP e com um Plano de Inovação desde 2016 (integrou o Projeto Piloto de Inovação Pedagógica – P-PIP), tem três bibliotecas escolares, integradas na Rede de Bibliotecas Escolares: Escola EB 2/3/S de Cristelo; EB1 de Sobrosa e EB1 de Duas Igrejas. Todas as escolas do agrupamento estão integradas na rede.

No complexo cenário educacional de hoje, as bibliotecas escolares surgem como verdadeiros oásis de conhecimento, desempenhando um papel crucial na formação dos estudantes. Nessas bibliotecas, o mundo dos livros entrelaça-se com o vasto universo digital, proporcionando uma rica experiência de aprendizagem que vai além das salas de aula. No entanto, para que esse ambiente se torne verdadeiramente enriquecedor, é essencial a presença ativa e dedicada de uma professora bibliotecária exemplar, como é o caso da professora Célia Barbosa.

As bibliotecas escolares não são apenas depósitos de livros; são espaços onde a imaginação floresce, onde a literatura ganha vida e onde as competências de pesquisa e literacia digital são cultivadas. Sob a orientação atenciosa da professora bibliotecária, esses espaços transformam-se em centros de descoberta e de aprendizagem. Com a sua paixão pela leitura e a sua habilidade para incentivar os alunos a explorar novos horizontes literários, ela desempenha um papel vital na promoção da leitura entre os estudantes. Não apenas fornece recomendações de livros personalizadas, mas também organiza atividades interativas, como clubes de leitura e eventos literários, tertúlias dialógicas, no âmbito do Projeto INLUD-ED, que inspiram os alunos a tornarem-se leitores ávidos e críticos, desafiando-os através de olimpíadas de leitura, entre outros.

A nossa professora bibliotecária trabalha, ainda, em colaboração com os professores para integrar recursos da biblioteca nas atividades curriculares, oferecendo suporte às aulas e ajudando os alunos a encontrar informações relevantes para seus estudos. Interage com pais e encarregados de educação, promovendo atividades de leitura, como são exemplo: Os meus pais também leem; Letras que Falam; A Ler Vamos e Matiga; Links-B; Escola a ler: MEL; 10 minutos de leitura diária; Ouvintes Sortudos; Um conto patudo de esperança. Atividades e projetos estes integrados na ação 2 do Plano Plurianual de Melhoria (PPM) do Programa TEIP.

Além de seu papel como promotora da leitura, a Professora Bibliotecária é sensível à literacia da informação e do digital. Ela desenvolve nos alunos, para além da perícia em encontrar informações, a capacidade de como avaliá-las criticamente e utilizá-las de maneira ética e eficaz, numa prática de cidadania que se quer cada vez mais ativa e responsável. A sua orientação capacita os alunos para navegarem no vasto oceano de informações digitais com confiança, preparando-os para um mundo vertiginosamente mais digitalizado.

No entanto, o sucesso das bibliotecas escolares não seria possível sem o apoio firme e sempre presente da direção da escola. O diretor desempenha um papel fundamental ao garantir que a biblioteca tenha os recursos necessários para prosperar. Ele reconhece a importância das bibliotecas escolares como espaços de aprendizagem colaborativa (veja-se o exemplo do projeto Coopera) e apoia ativamente iniciativas que promovem a leitura, a pesquisa e a inovação, bem patente em ações que constituem o Plano Plurianual de Melhoria e Plano de Inovação. Sob a sua liderança, a biblioteca não é apenas um local de estudo, mas um ambiente dinâmico onde o conhecimento é explorado, questionado e celebrado.

A ampliação do espaço, a atualização de mobiliário e os desafios constantes são evidências disso mesmo.

Para além disso, através de uma liderança que se quer também pedagógica, a direção, assumindo esse papel, estabelece padrões de excelência académica e promove a colaboração entre os professores, incluindo a professora bibliotecária, para melhorar a qualidade da educação oferecida aos alunos.

Por fim, é crucial o apoio ao desenvolvimento profissional dos professores, proporcionando oportunidades de capacitação e incentivando a atualização das competências pedagógicas e técnicas.

Em última análise, a colaboração entre a professora bibliotecária e a direção é essencial para o sucesso da biblioteca escolar. Enquanto a professora Célia Barbosa nutre o amor pela leitura e capacita os alunos com competências essenciais, o diretor proporciona o apoio estratégico e logístico necessário para que a biblioteca seja verdadeiramente eficaz.

Juntos, tentamos moldar não apenas leitores proficientes, mas também cidadãos informados, críticos e criativos, preparando os alunos para enfrentar os desafios do mundo moderno com confiança e sabedoria, rumo ao efetivo desenvolvimento do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, alinhado com os desígnios do LifeComp (The European Framework for Personal, Social and Learning to Learn Key Competence) - Quadro Europeu para Competência: Pessoal, Social e Aprendizagem.

Mário Rocha, diretor do AE de Cristelo

 

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Qui | 09.11.23

Fórum RBE 2023: Bibliotecas Escolares - ecos de liberdade e transformação

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Na sequência do Fórum RBE 2023: Bibliotecas Escolares - Liberdade e transformação, que teve lugar no dia 24 de outubro, nas instalações da Fundação Calouste Gulbenkian, ocorre refletir um pouco sobre a diversidade e a riqueza de ideias (e ideais) que foram, inevitavelmente, contagiando quem ali se encontrava. Essa riqueza e diversidade (transversalidade), essa liberdade e transformação serão, efetivamente, as pistas certas para o caminho que as bibliotecas escolares devem (continuar a) perseguir nos dias de hoje?

Diremos que sim, sem qualquer hesitação.

Como um ilustre orador confirmou, a biblioteca é (deve ser), o coração da escola. Que responsabilidade esta! É, porém, um coração especial, que pulsa livre, aberto, recetivo, pleno de recursos, ávido de partilha, diálogo e entrega.

Ser criança ou jovem no mundo atual é, à primeira vista, algo fascinante, repleto de maravilhas tecnológicas e barreiras derrubadas, muito para lá do alcance do visível. Mas, como quase sempre acontece, esse fascínio acarreta uma outra face, menos luminosa, na qual, nem tudo o que parece, é…

Como tão bem transmitiram alguns alunos convidados para o painel de partilha de ideias (e ideais), ao serem desafiados a identificar em si mesmos uma qualidade e um defeito, a dualidade dos conceitos e o “verso e o reverso” são uma realidade constante. Duas faces da mesma moeda, dilema, uma questão de perspetiva…

E a leitura, como vai? Como está a nossa relação com a palavra escrita? Sabemos que não é assunto pacífico, nem sequer consensual. Ir ou não ir à biblioteca escolar, eis a questão… O que tem para oferecer? Como são olhados os utilizadores? Que imagem passam para os seus pares? A questão da aceitação tem muito peso no meio juvenil.

O ato da leitura é solitário e o mundo chama-nos lá fora. Recolhimento e ruído não combinam. Em que ficamos? A contemporaneidade contém mais desafios do que podemos humanamente suportar. Como decidir se queremos apenas viver a nossa vida, no prazo que a natureza nos concedeu, ou se estamos tentados a experienciar memória de milhares de anos, desde que há registo gráfico, ou a alargar as nossas vivências através da imaginação dos escritores e dos conhecimentos que nos podem transmitir?

A leitura leva ao pensamento estruturado, estende os horizontes e facilita a competência escrita e a oralidade. Durante toda a nossa vida estas aptidões são essenciais para o exercício da nossa quota de cidadania, de forma independente, distintiva e única, contribuindo para o bem comum, a coesão e o desenvolvimento da sociedade, precisamente o contrário da tendência para a polaridade e o extremismo a que assistimos todos os dias.

Hoje, vendem-se ideias ao desbarato, porque são apenas opiniões pouco ou nada fundadas e fazem-se afirmações como se de verdades se tratasse, a um ritmo alucinante, à beira da náusea. Até para os mais avisados (e aqui a idade não conta) é necessário cautela e uma dose generosa de bom senso. Como fazer a triagem no enredado da teia (web) da sociedade da informação e da comunicação? Como distinguir o trigo do joio?

Cada vez mais, neste campo, a quantidade de conteúdos e a ineficácia da sua regulação, constituem fatores que dificultam exponencialmente a procura da qualidade, do que é fidedigno, correto, verdadeiro.

Os 15 minutos de fama de que falava Warhol, a que todos teríamos direito, um dia, foram completamente ultrapassados, a partir do momento em que todos podemos produzir conteúdos e publicá-los direta e gratuitamente. Uma fama perene, sem prazo, oferecida pela globalização, sem quaisquer custos…, mas os custos existem e são altos.

A pressa e a leveza dos dias que se sucedem tendem a precipitar-nos para atitudes irrefletidas e crédulas, e não combinam com o pensamento crítico e a capacidade analítica que tanta falta nos faz, enquanto sociedade. A Biblioteca Escolar assume uma responsabilidade acrescida, diríamos mesmo, basilar e inclui-se no conjunto de entidades cujos valores de “verdade e confiança”, validado por diversos estudos que colocam as bibliotecas e os museus em patamares iguais). Deste modo, a informação que a biblioteca escolar presta é digna de confiança, por ser credível – objetiva, rigorosa e equilibrada.

Foi tocante, em particular, a criatividade de alguns momentos.

Quem não gosta de uma boa história? E se, para além das palavras que escrevem a história, as personagens ganharem vida e contarem a história, emprestando o seu corpo e a sua voz, movimentando-se e encarnando seres outros, mágicos e enigmáticos, caricatos ou dramáticos, alimentando o nosso imaginário? Os elefantes dão boas histórias… e não se esquecem delas… por terem memória de elefante!

E não é que Arte e Ciência, afinal, andam de mãos dadas, tão próximas como velhas amigas? É algo comum um “artista” ser multifacetado, que a criação não conhece fronteiras. Um pintor que também é escritor… Uma compositora que também é performer… Um bailarino que também é cantor… Uma atriz que também é “graffiter”… Mas um(a) artista cientista ou um(a) cientista artista?!...  facto mais raro, capaz de surpreender…

Um orador confirmou-nos que sim, que têm existido pessoas de grande valor que combinam estes saberes. Têm de ser muito curiosas, estas pessoas extraordinárias. Querer saber, investigar, compreender, associar, criar, inventar, elaborar. São pessoas tais, que não esperam receitas, criam-nas, novinhas, sem precisar de instruções. Fogem à regra, pois então! Preferem estar do lado de fora da “caixa” e são maravilhosamente avessos a formatações… Talvez o termo “genial” seja o que melhor as caracteriza.

Estes seres notáveis contribuem para tornar o nosso mundo muito mais interessante, rico e emocionante. Até descobrem padrões ocultos na natureza e desvendam mistérios quiçá insondáveis para a maioria…

São seres livres e transformadores, capazes de nos inspirar.

Com um coração do tamanho do mundo, capaz de acolher todos em igualdade de acesso e oportunidades, queremos e cremos que assim sejam as nossas bibliotecas escolares, também elas capazes de nos inspirar.

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Qua | 08.11.23

Revisitando a 9.ª edição do "Concurso Ensaio filosófico no Ensino Secundário" e preparando o Dia Mundial da Filosofia 2023

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Assinalando-se no próximo dia 16 de novembro o Dia Mundial da Filosofia, celebrado pela UNESCO, desde 2002, na terceira quinta-feira do mês de novembro, revisitamos três ensaios da 9.ª edição: o prémio atribuído ao ensaio filosófico Questões de género, da autoria de um grupo de três alunos do Colégio Pedro Arrupe, Afonso Nobre, Matilde Mestre e Sebastião Mendonça, bem como as duas menções honrosas: Questões de género, da autoria da aluna Beatriz Silva Pinheiro, da Escola Básica e Secundária Dr. Manuel Ribeiro Ferreira (Alvaiázere) e O que faz alguém homem ou mulher? Existirá uma essência de género?, da autoria da aluna Constança Inês Piscarreta Correia, da Escola Portuguesa de Moçambique.

“As questões acerca da natureza do género têm surgido recentemente como um objeto de debate e reflexão de grande importância. […] A compreensão do género como uma categoria inata ou adquirida, binária ou não-binária, fixa ou fluida, levanta questões fundamentais sobre a essência do ser humano e a forma como nos relacionamos em sociedade. […] Quais são as implicações que a definição de género tem na sociedade e no modo como nos apresentamos e nos relacionamos com os outros?[…]

Questões de igualdade de género, discriminação, violência e exclusão estão intrinsecamente ligadas às ideias e crenças que moldam a nossa compreensão de género. Compreender e problematizar essas noções é essencial para promover uma sociedade mais justa e inclusiva. Mais uma vez, este problema trata de uma questão de direitos humanos.”
Afonso Nobre, Matilde Mestre e Sebastião Mendonça

“É moralmente aceitável tolerar a discriminação com base no género? […]

A igualdade é um princípio ético fundamental, e não um enunciado de factos. […] O eixo estruturante das relações entre homens e mulheres continua manchado de um certo desequilíbrio, muitas vezes menosprezado, tanto pelas entidades políticas como pela sociedade civil, o que constitui um grande problema na sociedade atual, no que diz respeito ao alcance da igualdade de género

 Se temos a possibilidade de agir de modo diferente do que agimos, por que razão não agimos, sempre, de forma correta? O que é agir de forma moralmente correta?”
Beatriz Silva Pinheiro

“Será que existe um conjunto de características fixas e imutáveis, inerentes ao género e que determina o que é ser homem ou mulher? […] Desde o início dos tempos que existe o homem e a mulher. O feminino e o masculino. A humanidade tem-se dividido nestes dois rótulos, nestas duas caixas que distinguem não só diferenças anatómicas, mas também diferenças de papéis, formas de pensar e de ser que designamos de géneros. Mas o que é realmente o género? Será algo determinado pelo sexo biológico? Existirá uma essência definida para a distinção de papéis entre géneros? […]

Os conceitos associados ao género são estabelecidos social e culturalmente através de padrões de comportamento considerados próprios do homem e da mulher, os quais são interiorizados e assumidos por cada um, como sendo “naturais”.
Constança Inês Piscarreta Correia

Como habitualmente, a Associação de Professores de Filosofia (Apf) já disponibilizou uma proposta de sequência didática para o Dia Mundial da Filosofia - Inteligência Artificial, Ética e Pensamento Crítico.

Será também nesse dia que será entregue o prémio ao grupo autor do ensaio vencedor da 9.ª edição do Concurso “Ensaio Filosófico”, no Colégio Pedro Arrupe, e lançada a 10ª edição do Concurso, promovido pela Apf em parceria com a Rede de Bibliotecas Escolares.

Dirigindo-se a alunos do ensino secundário público e privado, os Ensaios a concurso não estão sujeitos a tema específico (tema livre) e são uma oportunidade para se promover o interesse pela escrita e reflexão filosóficas; para realçar a importância da disciplina de Filosofia na componente de formação geral dos alunos do ensino secundário; para consolidar nos alunos competências em literacia da informação e para divulgar o trabalho desenvolvido nos Agrupamentos e nas Escolas do ensino secundário.

Participe(m)!

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Ter | 07.11.23

Discórdia - uma leitura atual

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Para muitos a democracia grega foi um marco da civilização ocidental, mas foi igualmente relevante para a filosofia, despertando o espírito crítico, o questionamento, a problematização e o confronto de ideias.  Atualmente, a divergência de opiniões está a ultrapassar os limites do saudável dando lugar ao conflito, ao mau estar, aos confrontos e problemas. Ganhará quem gritar mais alto? Conseguiremos escutar o outro? Qual o valor do diálogo?

Vivemos momentos turbulentos, o ruído não nos deixa escutar o outro. Cada um quer ouvir a sua voz. Uma voz alta. Bem alta. Por vezes, ensurdecedora, com que cada um grita mais alto. Conseguiremos dialogar? Conseguiremos entender os pontos de vista dos outros? Teremos liberdade para duvidar? Estaremos esquecidos de que o debate de ideias amplia horizontes e saberes? Será que nos entendemos aos gritos?

Afinal, porque discordamos? Discordar será tão importante quanto concordar? A leitura de Discórdia ajuda-nos a refletir sobre a polarização de opinião e a necessidade de encontrar soluções, redes de entendimento que torne a vida numa comunidade aprazível.

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A narrativa visual inicia-se nas guardas do livro, onde é visível um balão de cor púrpura, a mistura equilibrada, transmitindo a sensação de prosperidade e respeito.  Quando o balão de cor púrpura conhece o balão laranja, cheio de entusiasmo e energia, tudo se complica. Os dois balões dão lugar a um balão bicolor, que cresce desmesuradamente sem que ninguém o consiga parar. Onde existia cor instala-se o negro. E agora? O que fazer?

Na narrativa, assim como na vida, é necessário encontrar novas soluções, reunir sinergias e descobrir, em conjunto, de forma reflexiva, que cores distintas podem coabitar e encontrar a harmonia. Tolerância, respeito e flexibilidade ganham sentido e tornam-nos mais conscientes da importância da convivência social.

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No final, a esperança invade-nos rompendo com a negritude dos dias, alguém recorda que discordar faz parte da vida e que poderá ser benéfico e construtivo. 

Este livro nasceu de um trabalho do curso de ilustração, lecionado em 2019 por Catarina Sobral e Tiago Guerreiro, com a orientação de André Letria, editor do Pato Lógico. Um dos exercícios do curso era, precisamente, a criação de uma narrativa visual para a coleção - Imagens Que Contam - livros silenciosos, apenas com uma palavra, a do título, contribuindo desta forma para uma narrativa poderosa.

Nani Brunini nasceu em 1976, em São Paulo. Antes de se mudar para Lisboa, onde vive atualmente, morou em Mannheim, Helsínquia, Londres e São Francisco. Estudou Artes Plásticas na Universidade de São Paulo e Design Industrial na UFPE no Recife. Fez mestrado em Design Management na Universidade de Cambridge, em Inglaterra. Depois de dez anos a trabalhar com pesquisa e estratégia em design, voltou aos pincéis e lápis de cor. Em 2020, foi convidada a publicar o seu primeiro livro, Discórdia.

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Seg | 06.11.23

IFLA: Declaração sobre bibliotecas e IA

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Potencial

Os sistemas de IA (Inteligência Artificial) têm potencial para transformar o modo como aprendemos/trabalhamos e vivemos e a gestão e serviços das bibliotecas na criação, classificação e pesquisa de conteúdo; assistência à aprendizagem e aprendizagem personalizada; realidade aumentada por IA; OCD (Optical Character Recognition/Reconhecimento Ótico de Caracteres); tradução automática e serviços mais acessíveis para todos.

Questões

No âmbito do uso de sistemas de IA em contexto de biblioteca escolar, há questões que se levantam:

  • Como é que os professores bibliotecários estão a comunicar aos alunos as potencialidades e os impactos de IA?
  • Estão a ensaiar novas formas de aprender baseada em investigação de IA, da qual os alunos são cobaias?
  • Ao familiarizarem-se precocemente com sistemas IA, criados para gerar/melhorar automaticamente conteúdos (texto, imagens, dados, códigos de programação…), os alunos poderão julgar, à primeira vista, que trabalhar não exige esforço?
  • Que competências de literacia de informação é que os professores bibliotecários ensinam aos alunos?
  • Incentivam a criação de informação/dados/História(s) sobre a comunidade local não contemplada na IA generalista e dominante?
  • Como é que os alunos estão a iniciar o seu próprio envolvimento intelectual (leitura/discussão/expressão) para que tenham pensamento crítico antes de utilizarem IA?
  • Como é que leem, escrevem e discutem factos e notícias, de modo a desenvolver o raciocínio e o espírito crítico?
  • Como é que podem procurar informação aprofundada, rigorosa e evitar resultados iguais e limitados?

Considerações

A declaração política da IFLA sobre Bibliotecas e IA estabelece considerações para a sua utilização com alunos e outros utilizadores:

  • “Deve estar sujeita a normas éticas claras (…), seguras [privacidade] e legais”;
  • Deve ser usada “significativamente”, no contexto de atividades relevantes para a vida diária dos jovens;
  • Deve ser acessível a todos e inclusiva, proporcionando “oportunidades equitativas de aprendizagem ao longo da vida, particularmente para as populações vulneráveis”.

Qual é o papel das bibliotecas e do professor bibliotecário?

A declaração política da IFLA sobre Bibliotecas e IA define o papel que os bibliotecários – e o professor bibliotecário - podem desempenhar no setor da IA.

1.

É necessário reforçar a MIL (Media and Information Literacy/Literacia Mediática e da Informação), de que faz parte a “literacia em IA” e, segundo a IFLA, esta inclui a compreensão de:

  • Como funciona/Qual é a lógica e limitações de IA e ML (machine learning/ aprendizagem automática) e dos algoritmos (“literacia algorítmica”, conforme documento) na forma como os utilizadores acedem e recebem informação;
  • Potenciais impactos sociais da IA, especialmente em direitos humanos;
  • Competências de gestão e proteção de dados pessoais – privacidade e ética;
  • Literacia mediática e da informação.

Neste contexto, os bibliotecários podem alargar as parcerias na área das tecnologias e da literacia algorítmica e digital e participar em “debates políticos sobre o que significa a IA ser utilizada ‘para o bem’”.

Para saberem ajustar os seus serviços à evolução das necessidades da sociedade, do mercado de trabalho e dos seus utilizadores, é importante que os bibliotecários reforcem a sua formação no setor.

2.

É fundamental que as iniciativas de literacia em IA sejam acessíveis, para que todos possam beneficiar - e não ser prejudicados – e fazer escolhas significativas de aplicações de IA, designadamente os grupos mais vulneráveis. Porquê?

Para:

  • “Promover a participação informada do público no diálogo político e na tomada de decisões em matéria de IA”
  • “Incentivar a transparência”, a qual deve prever “a capacidade de contestar”/reclamar o uso indevido de IA.

3.

Para além destas recomendações, a declaração da IFLA sobre Bibliotecas e IA define condições para a utilização e a aquisição de tecnologias de IA em contexto de biblioteca:

  • “Deve estar sujeita a normas éticas claras e salvaguardar os direitos dos seus utilizadores”;
  • Deve cumprir “os requisitos legais e éticos em matéria de privacidade e acessibilidade”.

Qual é o papel de associações de bibliotecas, formadores e governos?

1. Apresenta recomendações às associações de bibliotecas e formadores, das quais se destaca:

  • Defender a intervenção das bibliotecas na adaptação dos sistemas educativos às novas exigências no mercado de trabalho que a IA pode trazer;
  • “Colaborar com investigadores e programadores de IA para criar aplicações para uso das bibliotecas, que cumpram as normas éticas e de privacidade e respondam especificamente às necessidades das bibliotecas e dos seus utilizadores”;
  • Promover fóruns de partilha e “intercâmbio de boas práticas sobre a utilização ética das tecnologias de IA nas bibliotecas”.

A formação e a experiência destes profissionais em qualidade dos dados, curadoria, privacidade e uso ético de informação e literacia MIL habilita-os para esta intervenção.

2. E apresenta aos governos recomendações sobre IA:

  • Negociar com os criadores e empresas de ferramentas de IA, para que incluam exceções aos direitos de autor, para que possam ser usadas para fins de educação e investigação;
  • Dotar as “bibliotecas das infraestruturas e tecnologias necessárias” para uso de IA;
  • Assegurar que a regulamentação/legislação em IA “proteja os princípios da privacidade ou da equidade”, salvaguardando o interesse público/social da IA.

O SIG (Special Interest Group/Grupo de Interesse Especial) de IA da IFLA trabalha no sentido de implementar as recomendações para a utilização de tecnologias de IA no setor das bibliotecas, conforme constam da Declaração sobre Bibliotecas e IA da IFLA, acrescentando-lhe valor e impacto.

Publicou, a 30 de junho, um recurso não técnico sobre IA que pode ser útil aos professores bibliotecários. Apresenta um conjunto de tópicos simples, com bibliografia atual e um glossário, que pode ajudar a estruturar atividades com alunos [3].

A dinamização destas atividades é importante porque permite conhecer as perceções e utilizações dos jovens e permitem que eles saibam como foi construída, funciona, quais as melhores ferramentas, para o que se deve – e não deve – usá-la, que desafios éticos levanta, entre muitos outros aspetos. 

Referências

  1. (2020). IFLA Statement on Libraries and Artificial Intelligence. International Federation of Library Associations and Institutions. https://www.facebook.com/photo/?fbid=4003466199682295&set=a.598622580166691
  2. (2020). IFLA Statement on Libraries and Artificial Intelligence. International. Federation of Library Associations and Institutions. https://repository.ifla.org/handle/123456789/1646
  3. IA generativa para profissionais de bibliotecas e informação (rascunho). International Federation of Library Associations and Institutions. https://www.ifla.org/generative-ai/
  4. 📷 [1]

 

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Sex | 03.11.23

Biblioteca escolar: 18 anos de desafios e aprendizagem

Por Ana Paula Gervásio de Almeida, professora bibliotecária no AE de Monchique

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Há precisamente 18 anos, quando a então Presidente do Conselho Executivo me convidou para desempenhar o cargo de Coordenadora da Biblioteca Escolar no Agrupamento de Escolas de Monchique, aceitei, entusiasmada, sem quaisquer reservas. Era professora de Português, os livros fascinavam-me, desenvolvia, com os meus alunos, algumas atividades de leitura interessantes e tudo me parecia exequível e motivador. Estava longe de imaginar a odisseia que me aguardava!

Duas das bibliotecas do agrupamento acabavam de ser integradas na Rede de Bibliotecas Escolares e, mal comecei, percebi imediatamente que o cargo que assumira era muito mais complexo e exigente do que eu julgava. Questionei, então, a minha decisão, mas esmorecer nunca foi uma opção.

Começou por ser um trabalho físico, musculado, de reestruturação dos espaços e de reorganização do fundo documental. Não houve um livro (e eram muitos!) que tivesse ficado no mesmo lugar. As listagens sintetizadas da CDU foram, então, preciosíssimas. Dávamos, ao mesmo tempo, os primeiros passos nas tarefas de etiquetagem e catalogação.

Paralelamente, as ideias fervilhavam e iam surgindo atividades, novas atividades, que procuravam corresponder aos pressupostos dos normativos curriculares e aos interesses e expectativas dos alunos.

Surge, entretanto, o Modelo de Avaliação da Biblioteca Escolar. Que desafio! Por essa altura, a ação da biblioteca escolar já era reconhecida e valorizada na escola e na comunidade, graças, essencialmente, a um conjunto diversificado de atividades de leitura, que davam corpo ao Projeto aLer+ e que ultrapassavam os limites físicos do espaço escolar, conquistando adeptos. Não obstante, uma apreciação detalhada dos fatores críticos de sucesso, dos impactos nas aprendizagens e dos níveis de desempenho de cada domínio do MABE fizeram-me perceber que estávamos muito aquém de um bom desempenho. Senti-me, então, numa estrada sinuosa, semeada de obstáculos e com tantas etapas por cumprir.  Adivinhava-se, no entanto, lá ao fundo, um mar de oportunidades. O MABE era, inquestionavelmente, um instrumento pedagógico de referência e de melhoria contínua: orientava, apontava caminhos, incentivava ao trabalho colaborativo, fomentava parcerias, promovia a criatividade, incutia a vontade de fazer mais e melhor.

Também o referencial «Aprender com a Biblioteca Escolar» se revelou um guia fundamental para o desenvolvimento das literacias da leitura, da informação e dos media, enfatizando o contributo da biblioteca escolar para a aquisição de habilidades essenciais no século XXI.

Progressivamente, a biblioteca afirmava-se na escola como um polo dinamizador do saber, ao serviço da aprendizagem e do desenvolvimento das múltiplas literacias, com particular destaque para o domínio da leitura. Algumas das atividades desenvolvidas eram replicadas noutras escolas e consideradas boas práticas por entidades externas. Os relatórios da IGEC apresentavam considerações muito favoráveis em relação à dinâmica da BE, e os novos professores (que todos os anos chegam à escola) estranhavam, no início, mas, paulatinamente, iam-se tornando cúmplices, assumiam as propostas como suas e, muitas vezes, elevavam-nas a um patamar surpreendente.

Pessoalmente, tenho de admitir que o cargo de professora bibliotecária me dotou de saberes, competências e capacidades que dificilmente teria adquirido noutras funções. O trabalho em rede, quer localmente quer a nível nacional, desempenhou um papel crucial na minha capacitação profissional, proporcionando uma consistente e sistemática partilha de experiências, de recursos educativos e de estratégias pedagógicas e garantindo o acesso regular a formação contínua diversificada e de qualidade, antecipando, muitas vezes, os desafios que uma sociedade em constante mudança impõe à escola. Facultou-me ainda a oportunidade extraordinária de trabalhar colaborativamente com dezenas e dezenas de colegas de diferentes áreas e departamentos, em prol das aprendizagens, do bem-estar e do sucesso pessoal e escolar dos nossos alunos.

Por agora, já na reta final do meu percurso profissional, a biblioteca escolar, tal como a conhecemos nos últimos dezoito anos, está prestes a encerrar portas. A escola vai, finalmente, para obras. É tempo de desfazer dossiês, rasgar papéis, esvaziar gavetas e armários, encaixotar livros… preparar a saída da biblioteca para um espaço provisório. As memórias (boas memórias) cruzam-se com o movimento diário de alunos e professores, indiferentes à desorganização da mudança. Estão certos! Afinal, a biblioteca escolar é muito mais do que um espaço físico. É, acima de tudo, uma vontade, uma atitude.

Ana Paula Gervásio de Almeida,
Professora bibliotecária no Agrupamento de Escolas de Monchique, desde setembro de 2005.

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1. *Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.

2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.

3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.

 

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