Parte significativa da informação atual a que acedemos - na comunicação e entretenimento quotidianos e no trabalho - é visual: pinturas, fotografias e vídeos; gráficos/infografias, mapas e tabelas; emojis, memes e gifs; imagens de jogos de computador; imagens 3D; NFT (Non Fungible Token); dados pessoais visuais (capitalismo de vigilância)…
As imagens têm poderde:
Sintetizar e tornar acessível informação extensa e complexa;
Criar envolvimento com o espetador/público;
Dar voz/exprimir ideias, emoções, atitudes e valores;
Influenciar/manipular.
“A importância das competências de literacia visual aumentou com o desenvolvimento daWeb [e de redes sociais como Instagram ou TikTok], meio altamente visual e que facilita a captação e a partilha de imagens” (Matusiak, 2020) [1] e a sua manipulação. E por isso deve ter um peso crescente nas sessões com alunos na biblioteca escolar.
A literacia visual faz parte da literacia da informação e média e, segundo a IFLA, “As competências de literacia visual e mediática não fazem parte inerente do nosso conjunto natural de competências como seres humanos; essas são competências que precisam ser ensinadas, aprendidas e praticadas”.
No contexto de uma paisagem visual cada vez mais heterogénea e em mudança, é fundamental que as bibliotecas escolares criem oportunidades para os alunos disporem do seu tempo – desacelerarem – e da sua atenção – focarem-se – para, a partir/com as imagens, desenvolverem competências de pensamento crítico e criatividade, que, segundo o Fórum Económico Mundial de 2016 sobre O Futuro dos Empregos, são indispensáveis para enfrentar a Quarta Revolução Industrial que vivemos.
E estas competências são:
1. Avaliação da autenticidade e da credibilidade, evitando serem enganados e manipulados. Para o efeito, devem analisar a fonte, o contexto, as informações técnicas, bem como da qualidade da imagem ou media visual;
2. Uso/partilha eficaz e ética, respeitando os direitos de autor;
3. Análise e interpretação dos elementos de uma imagem - cor, formas/figuras, espaços… Como se encaixam? Que história contam? Que símbolos, ideias, significados transmitem? - de modo a constatarem que a mesma imagem sugere diferentes interpretações a diferentes pessoas e ao longo do tempo;
4. Criação ativa de imagens e media visuais significativos, pois através desta criação a criança ou jovem toma consciência de que cada linguagem visual – pintura, fotografia, vídeo… - dispõe de ferramentas – ângulos da câmara, luminosidade, sombras… - que servem para criar um determinado efeito no público – o espetador está no centro da criação da imagem - e que podem inclusive ser usadas contra o bem.
A primeira definição de literacia visual foi criada na era pré-digital, na década de 60, por John Debes e destaca a importância de desenvolver competências visuais e integra-las com outras experiências sensoriais para compreender e interpretar imagens. Mas desvaloriza a capacidade de o ser humano criar imagens, pois pensava-se que esta era uma área exclusiva de especialistas de belas artes.
Para a UNESCO – e a Rede de Bibliotecas Escolares - todos temos capacidade de expressar ideias e emoções – somos todos artistas. E a UNESCO apresenta evidências de que quando ligamos artes a todas as formas de aprender, aprendemos melhor, não apenas artes, mas todas as matérias e disciplinas.
Para sensibilizar para as artes e a cultura e promover competências de literacia visual, que permitem compreender que as imagens não são neutras, nem objetivas, as bibliotecas escolares disponibilizam e expõem álbuns/novelas gráficas selecionadas pelo professor bibliotecário em cooperação com os alunos.
Estes álbuns combinam imagens visuais e textos, muitas vezes curtos e simples, que se adaptam a uma aprendizagem não formal e informal que suscita a curiosidade de todos e faz crescer o gosto por ler e aprender.
Nota: Esta foi a comunicação da Rede de Bibliotecas Escolares nas XII Jornadas da Rede de Bibliotecas da Maia, subordinadas ao tema, O Poder da Imagem. [2]
As bibliotecas desenvolvem as suas coleções para apoiar as suas comunidades. A coleção de uma biblioteca não é a mesma que a de outra, uma vez que tem de se adaptar aos seus utilizadores.
Esta mesma doutrina não se aplica aos sítios Web. Lembre-se, os utilizadores chegam ao sítio Web da sua biblioteca com toda a sua experiência na Web. Se o seu sítio desrespeitar as convenções ou não tiver os elementos esperados, não está a servir a sua comunidade - está a apresentar obstáculos de que as pessoas não estão à espera.
É demasiado fácil acreditar que, online, os utilizadores da sua biblioteca são uns flocos de neve especiais. Pelo contrário, eles são como toda a gente que utiliza a Web: Querem poder aplicar os seus conhecimentos prévios e sentir-se confortáveis quando utilizam o sítio Web da biblioteca.
As melhores práticas são importantes. Faça com que o site da sua biblioteca seja um lugar familiar.
Laura Solomon é gestora de serviços bibliotecários da Rede de Informação da Biblioteca Pública do Ohio (oplin.ohio.gov) e programadora Web front-end certificada. Há mais de 20 anos que desenvolve e desenha para a Web, tanto em bibliotecas públicas como enquanto consultora independente. É especialista em desenvolvimento com Drupal. Eleita Library JournalMover & Shaker em 2010, escreveu três livros sobre redes sociais e marketing de conteúdos, especificamente para bibliotecas, e dá palestras internacionais sobre estes e outros tópicos relacionados com tecnologia. Como ex-bibliotecária infantil, gosta de levar a "diversão da tecnologia" ao público e de dar às bibliotecas as ferramentas de que necessitam para servir melhor o cliente virtual.
Por Cláudia Susana Vieira Santos, Prémio Professor Bibliotecário 2023
Em primeiro lugar, uma palavra de felicitação à Isabel e ao Jorge. Tenho que vos dizer que me sinto muito orgulhosa por partilhar esta lista de finalistas convosco, porque conheço a excelência do vosso trabalho.
Um agradecimento especial ao nosso júri que, com tanta dedicação e paciência, analisou as nossas candidaturas e que, pelo percurso profissional de cada um dos seus elementos, confere um enorme prestígio a este prémio.
Um agradecimento muito especial à Rede de Bibliotecas Escolares. Não pela criação deste prémio, mas por muito mais do que isso: pela genialidade com que alimenta todos os dias o trabalho das bibliotecas escolares; porque sonhou, em 1997, com bibliotecas escolares que fossem o coração da escola, transformador de práticas educativas, e conseguiu levar a cabo de forma tão espantosa esse desígnio que hoje as bibliotecas escolares portuguesas são reconhecidas como exemplos de inovação e criatividade.
Quando, em 2007, comecei a trabalhar em bibliotecas escolares percebi de imediato que estas eram lugares de luz, de sonho e de magia…, provavelmente já o sabia porque também como utilizadora me tinham encantado as histórias e o conhecimento contido nos livros…
Porém, não podia imaginar que, colaborativamente e em rede, construiríamos bibliotecas que são espaços flexíveis e multifuncionais, que nos permitem trabalhar múltiplas competências; que são também espaços inclusivos, porque a escola é agora de todos e esse todo significa a diversidade, diferentes percursos de aprendizagem, diferentes vivências, diferentes nacionalidades.
Não poderia também, nesse tempo, saber que viveríamos uma pandemia e que, mesmo nos momentos mais difíceis, as bibliotecas escolares não deixaram de estar presentes na vida dos seus utilizadores. Apostámos, então, numa presença digital sem precedentes, sendo que hoje oferecemos um serviço em linha de elevadíssima qualidade que nos permite chegar aos nossos utilizadores a qualquer hora e em qualquer lugar.
Testemunhar tudo isto e fazer parte deste processo de evolução, ser peça integrante desta rede que inspira, forma, constrói, desafia, estabelece parcerias, cria programas inovadores… dizia eu, testemunhar tudo isto e fazer parte deste processo de evolução é motivo de muito orgulho.
Agradeço e dedico este prémio a todos os alunos, professores, assistentes operacionais e parceiros externos do meu agrupamento que comigo têm colaborado e me têm feito crescer como profissional. Sendo impossível nomeá-los, porque são muitos, nomeio aqui algumas pessoas que me têm incentivado e inspirado ao longo deste meu percurso:
Um agradecimento à professora Sílvia Vidinha, diretora do meu agrupamento, uma entusiasta das bibliotecas escolares e de todas as propostas que tragam inovação à escola. Se não fosse a Sílvia, eu não estaria aqui, pois foi ela que me inscreveu neste prémio, apesar da minha relutância. Antes da Sílvia, ao professor Benjamim Moreira, ex-diretor do nosso agrupamento, com quem trabalhei em profícua colaboração durante 13 anos.
À minha coordenadora interconcelhia, Raquel Ramos, pelo exemplo de dedicação às bibliotecas escolares, pelas ideias criativas que me tem dado para os meus projetos, pelas palavras de incentivo quando a “espuma dos dias” nos traz pensamentos de desistência, pela exigência, porque é o querer sempre melhor que nos faz crescer enquanto professores bibliotecários.
Aos colegas bibliotecários do concelho de Viana do Castelo, exemplar comunidade de prática e grupo de colaboração e partilha.
À professora bibliotecária Nelma Nunes, minha colega e companheira de todos os dias nesta aventura que é fazer crescer as bibliotecas do Agrupamento de Escolas de Santa Maria Maior! Obrigada pela tua paciência, dedicação e inesgotável criatividade. Como tantas vezes dissemos uma à outra: O que seria de mim sem ti!
Por fim, mas estes são os mais importantes, agradeço à minha família pelo apoio, compreensão e carinho, porque quando a biblioteca ganha são eles que perdem. Perdem uns bocadinhos do tempo que poderia passar com eles, mas também sabem que, para mim, isso é ganhar. Ganhar a certeza de que ser professora bibliotecária significa deixarmos marcas nas vidas dos nossos alunos…
Na vida daquela aluna que, de saída para a universidade, vem à biblioteca dar-nos um abraço e dizer-nos como foi importante participar no projeto “TV na Maior” porque a ajudou a ultrapassar a sua timidez e falta de autoestima.
Mas também na vida daquele aluno que, aos 16 anos, nunca tinha lido um livro e um dia, já depois de ter vindo com a turma escolher um livro para os “10 minutos a ler” nos chega à biblioteca, muito orgulhoso, trazendo um livro debaixo do braço como quem traz um objeto precioso, e nos diz: “Professora, já li este, ajuda-me a escolher outro?”. E nunca mais deixou de frequentar a biblioteca!
Dra. Manuela Silva, permita-me dirigir-lhe agora algumas palavras, porque sei que coordena esta rede com a mesma paixão com que eu coordeno a minha biblioteca:
Dra. Teresa Calçada, dirijo-me também a si, com as mesmas palavras, porque é da sua responsabilidade a criação da Rede de Bibliotecas Escolares:
Tenho visitado muitas escolas europeias no âmbito do projeto Erasmus+ e nunca encontrei bibliotecas escolares com padrões de excelência que se comparem aos nossos. País nenhum soube ainda construir uma rede que espalhe por todas as escolas desígnio tão elevado e tão exigente.
As nossas escolas precisam muito das bibliotecas escolares e dos professores bibliotecários, porque são eles que ajudam a desenvolver o capital humano de que o nosso país tanto precisa.
Para mim, este prémio significa o reconhecimento do meu trabalho, de que muito me orgulho, é certo. No entanto, ele não me fará tomar como garantido o que fiz até agora. O meu compromisso é de continuidade e de melhoria.
Nunca tenhamos também as bibliotecas escolares como garantidas. Há sempre margem para fazermos mais e melhor.
E enquanto eu puder fazer parte desta rede, podem contar comigo.
Obrigada.
24 de outubro de 2023 Cláudia Santos
[1] Este texto corresponde ao discurso proferido por Cláudia Santos, no dia 24/10/2023, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, ao receber o Prémio Professor Bibliotecário 2023.
São cerca de 1400, os professores bibliotecários que, em todo o país, trabalham diariamente para que a biblioteca seja o coração da escola. Para que seja um lugar de descoberta, de exploração, mas também de partilha, de entreajuda, de criação de laços; um lugar que a todos os alunos e alunas deve acolher, apoiar na construção da sua autonomia e incentivar na reflexão aprofundada, na interrogação criativa e no conhecimento de si e do mundo.
O Prémio Professor Bibliotecário, instituído pela primeira vez em 2023, foi criado com o intuito de distinguir o trabalho de excelência nesta área profissional.
Nesta primeira edição, foi contemplada com o Prémio Professor Bibliotecário, Cláudia Vieira Santos, do Agrupamento de Escolas de Santa Maria Maior, em Viana do Castelo. As duas Menções Honrosas, foram entregues a Isabel Rodrigues Bernardo, do Agrupamento de Escolas Lima-de-Faria, em Cantanhede e Jorge Soares de Carvalho, do Agrupamento de Escolas de Amares.
O júri deste Prémio, que realçou a enorme qualidade de todas as candidaturas apresentadas, foi constituído por Guilherme d’Oliveira Martins, que presidiu, Isabel Alçada, Teresa Calçada, Isabel Mendinhos e Sandy Gageiro.
Este Prémio só existe graças aos parceiros que, desde a primeira hora, abraçaram esta ideia.
O Grupo Leya, cuja Presidente, Dra. Ana Rita Bessa, aderiu entusiasticamente a esta iniciativa, ofereceu um valor monetário de 5.000,00 € ao Professor Bibliotecário premiado e de 2.000,00 € a cada um dos Professores Bibliotecários obsequiados com uma Menção Honrosa.
A Fundação Calouste Gulbenkian e, em particular, o Professor Doutor Guilherme d’Oliveira Martins, que apadrinhou a criação da Rede de Bibliotecas Escolares e tem acompanhado o seu desenvolvimento nos últimos 27 anos, concederam-nos o privilégio de poder atribuir este Prémio na Fundação, no âmbito do Fórum RBE 2023 – Liberdade e Transformação, que ontem se realizou.
A Universidade Aberta, representada pela Professor Doutora Glória Bastos, também se associou à iniciativa, oferendo a cada um dos finalistas uma Formação, na modalidade escolhida pelo próprio.
A Rede de Bibliotecas Escolares atribui um valor de 2.500,00 € às bibliotecas do Agrupamento de Escolas em que professor vencedor desempenha funções; e de 1.000,00 € às bibliotecas de cada um dos agrupamentos dos professores agraciados com menções honrosas.
A entrega deste Prémio, ondem realizada no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, foi particularmente emocionante, representando uma distinção que se estende a todos os Professores Bibliotecários, profissionais especialmente qualificados, que desempenham esta exigente função de forma comprometida e inovadora.
Veja uma síntese resultante dos portefólios dos professores premiados:
Integrada no FOLIO Educa, a ação de formação “Tertúlias Literárias Dialógicas” responde, transversalmente, às necessidades de formação dos educadores e docentes das diversas áreas do conhecimento, centrando-se na promoção e mediação da leitura e das literacias, com enfoque no papel das bibliotecas escolares enquanto recurso central de trabalho interdisciplinar e colaborativo nas escolas. Todos os anos, as “Tertúlias Literárias Dialógicas” estruturam-se em torno do tema geral do Festival Internacional Literário de Óbidos, sendo o tema desta edição o “Risco”.
Este ano, o programa integrou as quatro tertúlias abaixo apresentadas:
- 13 de outubro - Oportunidades e riscos das redes sociais - Sara Pereira
- 16 de outubro - Crianças em risco? - Eduardo Sá
- 18 de outubro - A ética na Inteligência Artificial: desafios - Martinha Piteira e Manuela Aparício
- 20 de outubro - Dreamshaper - João Pedro Borges
Trata-se de um programa alinhado com as prioridades definidas pela RBE para 2023-2024 [1], com vista a desenvolver, aperfeiçoar e consolidar dinâmicas que respondam aos imperativos atuais, exigindo que as bibliotecas se desenvolvam do ponto de vista digital e contribuam para esse movimento ao nível da escola, nas várias dimensões da sua ação. É preciso um trabalho diário concertado para desenvolver competências de leitura e de escrita, essenciais a toda a aprendizagem, e competências digitais, de informação e media, para garantir uma participação efetiva na sociedade.
A abrir o ciclo de tertúlias, Sara Pereira, professora do Instituto de Ciências Sociais e investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), da Universidade do Minho, retomou algumas das ideias centrais da obra da sua autoria Crianças, jovens e media na era digital: Consumidores e Produtores?[2]
Hoje, as crianças e os jovens têm uma relação bastante (inter)ativa com os media, são simultaneamente consumidores e produtores de conteúdos, surgindo os conceitos de “prosumers” ou “produsers”.
Foi Alvin Toffler [3] quem introduziu o termo “prosumer” (prosumidor) no início dos anos 80, caracterizando-o como "um esbatimento progressivo da linha que separa o produtor do consumidor" (Toffler, 1984, p. 267). Depois da Primeira Vaga (da sociedade agrícola, quando a maior parte das pessoas consumia o que produzia), veio a Segunda Vaga (da revolução industrial, quando a sociedade separou estas duas funções, criando a distinção entre consumidor e produtor) e estamos, atualmente, na Terceira Vaga (era da informação e da comunicação), em que os novos estilos de vida são baseados metade na produção para troca, metade na produção para uso.
Tendo em conta esta realidade, Sara Pereira, considerando o público em idade escolar, levantou duas questões com que interpelou os presentes:
📍 Nas plataformas digitais, estaremos a produzir e a participar mais? E estaremos a comunicar melhor?
📍 A nossa participação salda-se, sobretudo, em “pequenos atos de envolvimento” ou numa cultura verdadeiramente participativa?
Segundo a oradora, os dados provenientes de vários estudos empíricos revelam que as práticas mediáticas de crianças e jovens estão mais orientadas para o consumo do que para a produção e, ainda, que as vias para a participação nem sempre têm por detrás princípios de expressão e de cidadania.
O projeto Transmedia Literacy. Exploiting transmedia skills and informal learning strategies to improve formal education [4] revela que os adolescentes portugueses são mais consumidores do que produtores. Mesmo os que produzem reveem-se mais como consumidores, sentindo-se mais confortáveis nesse papel. As suas produções mais regulares são fotos e vídeos curtos e as práticas mais comuns passam por partilhar conteúdos com os amigos, ver as publicações de outros, observar e seguir o fluxo de conteúdos. Estas práticas são mais frequentes do que publicar conteúdos originais, por isso as suas produções traduzem-se em "pequenos atos de envolvimento”, na sua grande maioria informais, espontâneas pouco estruturadas, não planeadas e de curto alcance. As motivações por detrás dessas produções são o entretenimento e a diversão.
Face a essas conclusões, a oradora defendeu que temos de ultrapassar a tendência de olhar a relação dos jovens com os meios digitais sob o prisma de risco e de segurança. Os medos, receios, preocupações e dúvidas que as plataformas digitais e as redes sociais levantam reforçam os argumentos protecionistas e de segurança, de que resulta uma preocupação com os perigos e os riscos, preocupação essa que se sobrepõe às oportunidades e aos desafios que esses meios podem proporcionar.
Por isso, depois de largo debate em que também estiveram em questão o uso de telemóveis nas escolas e o uso de ferramentas de inteligência artificial generativa, ficou lançado o desafio de apostar numa pedagogia capacitadora que “desenvolva conhecimentos, atitudes e competências de pensamento e ação críticas para habitar o ecossistema informativo e mediático” em que vivemos, de modo a que as crianças e jovens possam retirar desse ecossistema máximo proveito para as suas vidas e o seu bem-estar. Afinal, assegurar o bem-estar não implica, somente, salvaguardar a sua segurança, mas antes permitir-lhes que possam compreender e participar no mundo online com segurança e respeito.
A fechar a sessão, ficou a ideia de que, num ambiente mediático rico e diversificado, há que formar públicos exigentes, críticos e participativos, o que aponta para a necessidade urgente de apostar na literacia mediática como uma competência fundamental do século XXI e um direito de todas as crianças e jovens. O projeto bYou – Estudo das vivências e expressões de crianças e jovens sobre os media [5], de que a RBE é parceira, encoraja práticas mediáticas reflexivas e críticas, numa perspetiva de Literacia para os Media e é, apenas, uma das muitas ações possíveis que urge desenvolver.
[2] Pereira, S. (2021). Crianças, jovens e media na era digital: Consumidores e Produtores?. UMinho Editora/Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade. https://doi.org/10.21814/uminho.ed.45
[3] Tofler, A. (1984). A Terceira Vaga. Livros do Brasil.
[4] Projeto financiado pela União Europeia no âmbito do programa Horizonte 2020 e que envolveu a participação de oito países, entre eles Portugal, através da Universidade do Minho, com coordenação de Sara Pereira. Mais informação em https://transmedialiteracy.org/
Por Manuela Pargana Silva, Coordenadora Nacional RBE
Hoje, noFórum RBE 2023: Bibliotecas Escolares - Liberdade e transformação, teremos oportunidade de, juntos, celebrarmos o presente e o futuro da nossa Rede de Bibliotecas.
Sendo inúmeros os desafios que a humanidade atualmente enfrenta é imperioso à condição humana ser mais exigente sobre o seu papel no mundo, sendo para isso fundamental aprofundar o conhecimento, exercitar o diálogo e o sentido crítico.
A procura da felicidade, que é um desígnio sobre o qual todos estaremos de acordo, está ela própria relegada para uma espécie de segundo plano, substituída pela procura da sobrevivência.
O enorme feito da inteligência humana que é a inteligência artificial apresenta-nos tantas oportunidades como riscos.
Neste cenário, o saber, mas também a adaptação, a resiliência, a flexibilidade, a solidariedade e a empatia tornam-se essenciais às pessoas no sentido de as capacitar para encontrar as respostas mais consentâneas às circunstâncias específicas, conscientes de que as questões são cada vez mais globais, multidimensionais e complexas, o tempo cada vez mais acelerado e a realidade cada vez mais instável.
Para isso a biblioteca, na escola, tem por missão “acolher, apoiar, colaborar, desafiar, transformar e empoderar”[1]o que significa criar, para as crianças e os jovens, um ambiente inclusivo e seguro, um lugar onde os mais frágeis recebam alento e todos se sintam acolhidos, onde todos trabalhem em conjunto por objetivos comuns, onde a inteligência de cada um se sinta desafiada a pensar, a interrogar-se, a refletir sobre problemas, a procurar soluções e, sempre que possível, a pô-las em prática. Assim, a biblioteca será capaz de manter vivo o gosto por aprender, promovendo, de forma colaborativa, estratégias que preparem as crianças e jovens para lidarem com a incerteza, para serem mais empáticas, para seguirem caminhos individuais e coletivos de construção do saber, interligando conhecimentos, conhecendo diferentes perspetivas e pontos de vista, como base para uma melhor compreensão de si próprios e do seu lugar no mundo.
Tenho consciência de que a missão que a RBE definiu para si própria é muito exigente. Mas só o é, porque pode ser. Porque somos uma rede e temos a força de ser uma rede. Uma rede de pessoas, que abrange quem está mais diretamente implicado no desenho e na operacionalização dos programas e dos projetos, quem quotidianamente desenvolve a ação, os nossos professores bibliotecários e os assistentes de biblioteca, passando pela indispensável coordenação intermédia e dedicação dos nossos coordenadores interconcelhios e, por fim, pelo Gabinete RBE que define e gere os fios condutores desta rede.
A diferentes níveis, local, regional, nacional e internacional, a RBE conta com muitos parceiros que enriquecem a sua ação.
E tudo isto, tendo em vista aqueles que queremos que sejam os atores principais, os nossos alunos, para quem trabalhamos no sentido de que desenvolvam "saberes e competências indispensáveis numa sociedade cada vez mais dinâmica, imprevisível, digital e global."[2]
O Fórum RBE, estou certa, trará pensamento e novos contributos sobre as questões mais emergentes da atualidade, ajudando-nos a refletir sobre as alterações necessárias à escola e à educação, com tradução na biblioteca escolar enquanto lugar de leitura, de desenvolvimento de literacias, de acesso à cultura e conhecimento do mundo, de encontro, de interação, de co construção e enriquecimento do património da humanidade, garante que é de valores civilizacionais essenciais à condição humana como a liberdade e a democracia.
O Que Se Vê da Última Fila é um livro sobre paixões. Num tom intimista e pessoal o leitor ficará a conhecer discursos, ensaios e introduções de livros do próprio Neil Gaiman[1] ou de outros autores que admira, mas também algumas pessoas e escritores que influenciaram reflexões significativas para o autor.
No mês em que se festeja, por esse mundo fora, a relevância das Bibliotecas Escolares e no Dia da Biblioteca Escolar em Portugal, fica o convite para (re)ler um dos capítulos deste livro - Porque é que o nosso futuro depende das bibliotecas, da leitura e de sonharmos acordados. Trata-se do discurso feito, em Londres, em 2013, na Palestra da Reading Agency[2], cujo tema principal é o ato de ler e os efeitos da leitura e das mudanças que se ocorrem em nós, mas não só. Esclarece-nos sobre o poder da imaginação, o valor inestimável da palavra, de como a leitura de ficção ajuda a criar empatia e de como a descoberta da leitura é, por si só, um prazer.
Partilhamos da ideia de que todos nós temos a obrigação de falar de leitura e de livros, afinal, segundo nos dizem, “tudo muda quando lemos.” Naquela noite, na palestra, Neil Gaiman proclamou uma verdadeira ode à leitura, às bibliotecas e aos bibliotecários.
Falou dos bibliotecários da sua vida, homens bons, que “gostavam de livros e que os livros fossem lidos”, uns verdadeiros ilusionistas, fazendo aparecer os mais incríveis livros sobre fantasmas, foguetões, vampiros, bruxas, prodígios, aventuras ou outros. Não eram snobs em relação às escolhas e preferências dos leitores, verdadeiros divulgadores das novidades editoriais, pedagogos na arte de requisitar livros em qualquer biblioteca, e na literacia da informação. Conseguiam a preciosidade de tratar os leitores com respeito.
“As bibliotecas têm que ver com liberdade.”
Liberdade de aceder. Liberdade de ler. Liberdade de perguntar. Liberdade de criar e imaginar. Liberdade de refletir, descobrir e pesquisar. Liberdade de comunicar. ...
“Uma biblioteca é um lugar que serve de repositório da informação e permite a todos terem igual acesso à informação. […] é um espaço comunitário. “
As bibliotecas são espaços democráticos. Inclusivos. Lugares de aprendizagem, de colaboração e cooperação. Lugares de acessibilidade e conhecimento. Lugares de imaginação e criatividade. Lugares do “público, antes de ser o das coleções”[3]. Lugares de descontentamento. Só os insatisfeitos “podem mudar e melhorar os seus mundos, deixá-los melhor do que os encontraram, torná-los diferentes.” Lugares de conforto. Lugares seguros, acolhedores e verdadeiros refúgios do mundo. Lugares de leitura. Lugares onde se cruzam a literatura, a arte e a ciência, o impresso e o digital, o áudio e o silêncio. Lugares onde todos cabem.
“Temos a obrigação de ler em voz alta aos nossos filhos. De lhes lermos coisas de que eles gostem. (…) De fazermos vozes, de as tornarmos interessantes e de não deixar de lhes ler só porque eles já sabem ler sozinhos. Temos a obrigação de usar esse tempo de leitura em voz alta como forma de fortalecer os laços que nos unem, um tempo em que não estamos a olhar para o telemóvel, em que pomos de parte as distrações do mundo.”
As crianças e jovens que escutam o som das palavras ou que leem em voz alta com os pais, educadores, familiares ou amigos ampliam o sentido do texto, aguçam a curiosidade, esboçam os lugares mais inimagináveis e melhoram a sua relação com o mundo e com os outros.
A leitura pode não salvar, mas poderá ser prazerosa e isso é bom, muito bom. Devemos mostrar ao mundo que ler é uma coisa boa, inspiradora.
Deveremos dar a ler, abraçando diferentes géneros literários, e não esquecendo que a leitura de ficção é um ato de fuga. Oferece-nos o sabor da conquista de “lugares e mundos que de outra maneira nunca conheceríamos”, possibilita-nos o exercício da imaginação. Liberta-nos da realidade.
“Precisamos de bibliotecas. Precisamos de livros. Precisamos de cidadãos letrados.”
Nós, leitores, pais e educadores, cidadãos do mundo, temos o dever de apoiar as bibliotecas e “incentivar os outros a frequentá-las, de protestar contra o encerramento de bibliotecas.” Frequentar bibliotecas é valorizar a literatura, as artes e as ciências, as literacias, mas também dar voz a muitas vozes. É acreditar no futuro e não esquecer o passado.
Por último, ecoam, em nós, as palavras de Neil Gaiman:
“Temo que, no século XXI, as pessoas não percebam o que são as bibliotecas e para que servem. Se pensarmos nas bibliotecas como sendo estantes de livros, a ideia poderá parecer-nos antiquada ou ultrapassada, especialmente numa época em que a maioria dos livros, embora não todos, estão disponíveis digitalmente. Mas pensar assim é falhar o essencial.”
Acreditemos no poder das bibliotecas, do livro e da leitura, mas também da palavra e da informação.
Acreditamos que ler poderá fazer a diferença.
Notas
[1]Neil Gaiman é autor de vários bestsellers, tais como Coraline e a Porta Secreta, Deuses Americanos,Mitologia Nórdica, O Oceano no Fim do Caminho, entre outros. Muitos são os títulos publicados em Portugal. Ao longo da sua carreira, foi distinguido com importantes prémios, entre os quais Newbery, Carnegie, Hugo, Nebula, World Fantasy, Will Eisner. Neil Gaiman é romancista, dramaturgo, guionista para cinema e televisão, criador de novelas gráficas e BD. Nasceu em Inglaterra, mas atualmente vive nos Estados Unidos da América, onde é professor na Bard College.
[2]Reading Agency – uma” instituição de beneficência cuja missão é a de conferir oportunidades de vida idênticas a toda a gente, ajudando-as a tornarem-se leitores convictos e entusiastas. Uma instituição de beneficência que apoia programas de literacia, bibliotecas e indivíduos, e que, de forma pura e desinteressada, incentiva o ato da leitura. “Saiba mais em: https://readingagency.org.uk/
[3] Expressão usada por Michèle Petit, no livro Ler o Mundo.
Os sistemas de IA (Inteligência Artificial) têm potencial para transformar o modo como aprendemos/trabalhamos e vivemos.
Automatizam versões agregadas de competências humanas com valor, usadas para ler, conhecer, expressar e influenciar/manipular. “Todas as tecnologias têm consequências positivas e negativas, mas com a IA, o alcance dessas consequências é extraordinariamente grande” e, por isso, o uso de IA em educação deve ser amplamente discutido [1].
Fonte da imagem [1]
O gráfico supra resulta de testes em que “o desempenho humano e de IA foram avaliados em cinco domínios: reconhecimento de caligrafia, reconhecimento de fala, reconhecimento de imagem, compreensão de leitura e compreensão de linguagem. Dentro de cada domínio, o desempenho inicial da IA é definido como –100” e o desempenho humano corresponde à linha de base zero. E mostra que, nos últimos 10 anos, a evolução de IA tem sido veloz, pelo que, na maioria destas competências, ultrapassou o desempenho humano [1]. Estes testes - e estudo correspondente - foram originalmente publicados em Dynabench: Rethinking Benchmarking in NLP [Natural Language Processing/Processamento de Linguagem Natural, subdomínio de IA que ensina máquinas a lidar com a linguagem humana] [2].
Problemas/Discussão
Porque faz parte do dia-a-dia e tem enorme potencial, é importante envolver os alunos na reflexão e uso crítico de IA.
Há questões controversas que podem analisar, investigar e discutir para saber tomar decisões informadas e intervir na discussão pública:
📍 A falta de regulamentação capaz de promover o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social em IA;
📍 Os impactos ambientais, podendo o treino de algoritmos de IA gerar maior consumo de energia e emissão de CO2 do que aquele que se verifica na atualidade. Segundo Maanvi Singh, o modelo de IA Bloom, de 2019, “gerou cerca de 50 toneladas métricas de emissões de dióxido de carbono, o equivalente a um indivíduo fazer cerca de 60 voos entre Londres e Nova York”. Em 2023, “cerca de 500 toneladas métricas de CO2 foram produzidos apenas no treino do modelo GPT3 da ChatGPT - o equivalente ao funcionamento de mais de um milhão de quilómetros de carros médios movidos a gasolina”. E não se trata apenas de gasto de energia, mas também de água doce para arrefecimento do calor gerado pelos servidores dos data centers. Neste sentido, para esta jornalista do The Guardian a IA representa um risco ambiental e “existencial” (3). Sobre os efeitos da IA no sistema de vida terrestre, domina o silêncio e a falta de informação dos principais responsáveis.
📍 Os impactos sociais/equidade da IA, pois os dados que alimentam os seus resultados são essencialmente produzidos por pessoas e culturas no poder ao longo da História, predominantemente anglófonas e ocidentais, podendo ser tendenciosos e criar divisões, falando-se atualmente de um colonialismo digital.
📍 A falta de transparência sobre os métodos e os dados usados para treinar modelos de IA, sendo credível que procedam a violação de direitos de autor, designadamente na área da cultura, resultando de formas pouco éticas e justas de trabalho. As bibliotecas escolares cultivam a transparência e fogem à opacidade, não querem ficar sem saber.
📍 A prova de que a dependência de automatização pode diminuir a atenção, competências manuais e outras - por exemplo, o caso Boeing 737Max e o de várias outras aeronaves.
📍 Inúmeras evidências de erros de programação que levaram a imensos acidentes, mortes e feridos provocados por veículos com direção autónoma (piloto automático) alimentada por IA.
📍 Qual pode ser o impacto da IA na liberdade intelectual e de expressão em matéria de produção e consumo, eleições, vacinação…? O determinismo, não apenas do passado, mas da IA em que o ser humano se desenvolve, permite-lhe opiniões livres de interferência? A autodeterminação individual tornou-se uma impossibilidade?
De destacar que a IA permite selecionar feeds de notícias e de publicidade, de acordo com o que os utilizadores acederam no passado e é nesta base que introduz recomendações sobre notícias, locais, compras e amigos [conhecidos]... e ajuda a criar e a moderar conteúdos.
📍 Quem governa os dados? Empresas económicas particulares? A elite de 1% de milionários? Um ou outro destes milionários? Quais as implicações do uso crescente de IA para a democracia?
De acordo com o relatório das Nações Unidas [4], referido pela IFLA na sua Declaração sobre Bibliotecas e IA (§ 55) [5]:
“as auditorias independentes e contínuas devem complementar as avaliações de impacto sobre os direitos humanos efetuadas antes da adjudicação dos contratos, enquanto mecanismo importante de transparência e responsabilização dos sistemas de IA (…) especialmente quando uma aplicação de IA está a ser utilizada por um organismo do setor público [sublinhado nosso]”.
Como até à presente data esta avaliação/auditoria e regulamentação pelas entidades a quem cumpre esse papel não foi feita, há que manter prudência sobre o uso de IA em educação de crianças e jovens. Será na Cimeira do Futuro/ Summit of the Future de setembro de 2024 que deverá ser acordado um Pacto Digital Global seguro, inclusivo, sustentável, ancorado em direitos humanos e no Estado de Direito.
Our Word in Data é uma plataforma de “dados para progredir em relação aos maiores problemas do mundo”, tem acesso e código aberto e é usada em media e universidades internacionais credíveis [6]. Na área da IA, visa apoiar o envolvimento social, abordando questões sobre como esta tecnologia pode ser desenvolvida e usada e fazer parte do trabalho e da vida das pessoas, para que não fique restrita a um pequeno grupo de empreendedores e engenheiros.
Referências
Giattino, C., Mathieu, E., Samborska, V. & Roser, M. (2023). As capacidades de reconhecimento de linguagem e imagem dos sistemas de IA melhoraram rapidamente. Our World in Data. https://ourworldindata.org/artificial-intelligence
No dia 17 de outubro 2023, pelas 10h30, no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, foi apresentado o Plano Anual de Atividades da Rede de Bibliotecas de Braga 2023/2024, que baseia a sua ação em quatro grandes eixos: promoção da leitura e das literacias; cidadania, diversidade e inclusão; preservação do património imaterial e da memória; formação e capacitação.
A cerimónia, integrada nas comemorações do Mês Internacional da Biblioteca Escolar serviu também para a apresentação publica do novo Website da Rede de Bibliotecas de Braga, resultado de uma candidatura ao Programa da Rede de Bibliotecas Escolares no âmbito das “Redes Concelhias”, em 2022:
A Rede de Bibliotecas de Braga é composta por diversos parceiros que trabalham em conjunto para alcançar um objetivo comum: estreitar a ligação entre as Bibliotecas Escolares do concelho, a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, o Município de Braga e a Universidade do Minho, bem como outras instituições de ensino profissional e universitário e as bibliotecas de juntas de freguesia que integram a rede e a Casa do professor. Atua como uma rede colaborativa que visa criar, organizar e gerir projetos de intervenção e colaboração na área das Bibliotecas, proporcionando troca de experiências, formação e dinamização das bibliotecas do concelho, no acesso ao livro e à promoção da leitura e das literacias.
Entende a UNESCO que enfrentar o desafio do discurso de ódio é um problema urgente para as sociedades de todo o mundo.
Avanços recentes nas tecnologias da informação, nas comunicações e nos meios de comunicação de massa online alteraram de forma significativa o ritmo e o alcance de sua disseminação, o que levou a um aumento alarmante na proliferação e nos impactos do discurso de ódio dirigido a indivíduos e grupos.
O discurso de ódio representa uma ameaça direta à realização da Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, pois compromete os direitos humanos e a coesão social, desafia a segurança dos membros de grupos-alvo e das sociedades democráticas, e reduz o potencial para as pessoas terem experiências de vida equitativas em comunidades multiétnicas e multiculturais.
Assim, é imperativo que os governos locais, regionais e nacionais, assim como as organizações internacionais, abordem a proliferação desse tipo de discurso.
Considera a UNESCO que lutar contra o discurso de ódio depois de ele acontecer não é suficiente, devendo ser evitado, combatendo-se as suas causas profundas através da educação. As estratégias para moderar e reduzir a sua propagação exigem apoio e investimento em abordagens educativas que sensibilizem e fortaleçam a resiliência dos estudantes que possam vir a ter contacto com esse tipo de discurso.
Diante disso, a UNESCO publicou recentemente Enfrentar o discurso de ódio por meio da educação: Um guia para formuladores de políticas[i] que tem como objetivo deslocar a questão do discurso de ódio, que enfoca quase exclusivamente a correção através da vigilância e da monitorização, para o combate ao problema através da educação, uma abordagem consistente com a Estratégia e Plano de Ação das Nações Unidas contra o Discurso de Ódio, lançada em 2019, que enfatiza a necessidade de se enfrentar as causas e os aspetos motivadores, ao mesmo tempo que os seus impactos são mitigados.
Também é consistente com os esforços da UNESCO para aperfeiçoar capacidade de os sistemas educativos enfrentarem os desafios mundiais à paz, à justiça, aos direitos humanos, à igualdade de género, ao pluralismo, ao respeito à diversidade e à democracia.
Principais recomendações
1. Priorizar a questão do discurso de ódio e tomar medidas para combatê-lo com planos de implementação concretos, incluindo marcos de ação e alocações orçamentárias.
2. Integrar os esforços para combater o discurso de ódio nas iniciativas existentes do setor de educação para fornecer uma abordagem integral da questão.
3. Garantir que as estratégias aplicadas para enfrentar o discurso de ódio defendam o direito à liberdade de expressão.
4. Estabelecer e implementar orientações e mecanismos claros para apoiar indivíduos e grupos que são alvo do discurso de ódio em ambientes educativos, incluindo mecanismos claros de denúncia e normas de conformidade.
5. Incorporar nos currículos formais atividades educativas que abordem as causas profundas do discurso de ódio, prestando especial atenção às desigualdades históricas e contemporâneas.
6. Criar e atualizar continuamente os currículos relativos a Alfabetização Mediática e Informacional e cidadania digital.
7. Incluir nos currículos atividades educativas para fortalecer habilidades de pensamento crítico, aprendizagem social e emocional, diálogo intercultural e cidadania global, a fim de promover a mudança de comportamento pró-social necessária para enfrentar o discurso de ódio e promover a inclusão e a diversidade.
8. Incentivar atividades extracurriculares que conduzam ao pensamento crítico e ao diálogointercultural e que sejam capazes de contribuir para um ambiente inclusivo.
9. Desenvolver e implementar mecanismos para incentivar e capacitar as escolas a garantir que o clima de aprendizagem nas salas de aula seja seguro, respeitoso e inclusivo, para que se tornem modelos de diversidade e inclusão, e para que cultivem uma abordagem de toda a escola nos esforços destinados a enfrentar o discurso de ódio.
10. Fornecer aos educadores e aos líderes escolares formação em serviço para dotá-los de novas abordagens educacionais, para que sejam capazes de responder e enfrentar o discurso de ódio nas suas atividades diárias e nas interações com os estudantes.
11.Construir a resiliência dos sistemas educacionais por meio de um esforço integrado, incluindo o apoio familiar e comunitário e parcerias com várias partes interessadas.
12. Estabelecer critérios para avaliar e analisar a eficácia das intervenções que visam a enfrentar o discurso de ódio.
E as bibliotecas?
Se algumas das recomendações elencadas implicam decisões políticas e planos de ação detalhados, outras podem ser assumidas desde já, estando perfeitamente alinhadas com aquela que é ação das bibliotecas, tal como se encontra modelada pelo Quadro Estratégico da Rede de Bibliotecas Escolares.
Assinalamos a negrito pontos de contacto com o nosso trabalho, encontrando-se à cabeça, naturalmente, a sexta recomendação, que põe a tónica na a Alfabetização Mediática e Informacional e cidadania digital, uma preocupação que a RBE tem colocado na agenda das bibliotecas já há muito tempo, especialmente desde 2012, quando publicou o referencial Aprender com a Biblioteca Escolar. A mesma preocupação tem sido espelhada em propostas de trabalho como o concurso Medi@ação, o Projeto Debaqi, a iniciativa Da tua biblioteca ao Público ou mesmo os Miúdos a votos. O imperativo deste trabalho tem sido também evidenciado pelo facto de a literacia dos media e da informação ser prioridade para as bibliotecas escolares desde 2020.
Também as recomendações que remetem para a interculturalidade e questões de cidadania estão perfeitamente alinhadas com a ação que tem vindo a ser desenvolvida pelas bibliotecas, indo ao encontro do propósito do eixo Pessoas: “Garantir que as bibliotecas são organizações que promovem a defesa da dignidade humana e da justiça, o compromisso com a equidade e o valor da diversidade, da democracia e da liberdade”.
Continuemos pois, a nossa labuta diária, fortalecendo o pensamento crítico e a inclusão, na certeza de que estamos a fazer a nossa parte na defesa da paz, da justiça e dos direitos humanos.