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Blogue RBE

Qua | 30.11.22

IFLA: Liberdade intelectual | temas - problemas

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A edição de outubro do jornal oficial da IFLA [1] é dedicada à Liberdade Intelectual e foi desenvolvida em colaboração com o Comité Consultivo da IFLA sobre Liberdade de Acesso à Informação e Liberdade de Expressão (Freedom of Access to Information and Freedom of Expression - FAIFE) [2] para marcar o 20.º aniversário da Declaração da IFLA sobre Bibliotecas e Liberdade Intelectual [3]. 

O jornal reúne artigos de investigação, estudos caso e ensaios originais sobre o tema e aborda diversos temas-problemas, dos quais apresentamos exemplos.

 

Segredo profissional

Segundo Estrada-Cuzcano e Alfaro-Mendives, no artigo Análise do Sigilo Profissional na Ibero-América, em contexto de biblioteca escolar, quando se fala de Liberdade Intelectual deve ter-se em conta dois documentos de referência:

- A Declaração sobre Bibliotecas e Liberdade Intelectual, adotada pela IFLA em 1999 e que estabelece que “Os utilizadores da biblioteca terão direito à privacidade pessoal e ao anonimato. Os bibliotecários e outro pessoal da biblioteca devem não revelar a terceiros a identidade dos utilizadores ou os materiais que utilizam”;

- A Declaração de Direitos da Biblioteca, adotada pela American Library Association em 1939 e, cuja última revisão é de 2019 [4]. Estabelece que “Todas as pessoas, independentemente da origem, idade, contexto histórico ou pontos de vista, possuem direito à privacidade e confidencialidade no seu uso da biblioteca. As bibliotecas devem defender, educar e proteger a privacidade das pessoas, protegendo todos os dados de utilização da biblioteca, incluindo informações de identificação pessoal”.

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Fonte da imagem: American Library Association. (2019). Library Bill of Rights Poster. USA: ALA. https://ala-production-services.myportfolio.com/library-bill-of-rights-poster

 

O segredo profissional faz parte da liberdade de expressão e é, por um lado, um dever e obrigação deontológica do profissional da biblioteca, comum a outras profissões, como a de jornalista, médico ou padre e, por outro lado, um direito legal do utilizador.  

Historicamente, está prevista na Declaração dos Direitos do Homem de 1789, artigo 11: “A livre comunicação de ideias e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem [sublinhado nosso]. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever e imprimir com liberdade, mas responderá pelos abusos dessa liberdade que vierem a ser definidos em lei.”

Também está prevista no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

“Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.”

A liberdade intelectual compreende os princípios da confidencialidade e da privacidade, bem como o do acesso à informação adaptada às necessidades de cada utilizador.

De acordo com a American Library Association (2007), em contexto de biblioteca, “A privacidade tem a ver com o uso da informação sem intervenção de terceiros. A confidencialidade, por outro lado, está ligada aos dados pessoais dos utilizadores (informação pessoal identificável), que é protegida por profissionais” e que incluem, por exemplo, nome, morada, correio eletrónico, telefone, idade e género do utilizador.  Deve ser uma prioridade para o profissional da biblioteca manter a privacidade e a confidencialidade de dados pessoais e sensíveis.

Relativamente à informação, é fundamental “assegurar que a seleção e disponibilidade de materiais e serviços da biblioteca seja regida por considerações profissionais e não por opiniões políticas, morais e religiosas” (Declaração da IFLA, quinto princípio), isto é, que seja neutra, no sentido de objetiva.

 

Neutralidade

Gabriel Gardner, no artigo do Jornal da IFLA, Liberdade intelectual e prioridades alternativas na pesquisa sobre biblioteca e ciência da informação, apresenta uma análise bibliométrica, da literatura sobre biblioteca e ciências da informação, na qual conclui que o número de obras que mencionam os termos Liberdade Intelectual e Neutralidade aumentou apenas ligeiramente, enquanto entradas na área da Justiça Social -  sobre hierarquias, estereótipos, inclusão, vulnerabilidade, sub-representação, diversidade e feminismo - aumentaram significativamente, sobretudo a partir de 2015. Este deslocamento de conceitos pode conduzir a uma nova compreensão e vivência da liberdade intelectual.

 

Automatizar a liberdade intelectual

De acordo com o primeiro e segundo princípios da Declaração da IFLA, “As bibliotecas fornecem acesso a informação, ideias e obras da imaginação. Servem de portas de acesso ao conhecimento, pensamento e cultura” e “prestam apoio essencial […] à tomada de decisões independentes”.

No seu artigo sobre este tópico, Catherine Smith equaciona a possibilidade de a Inteligência Artificial poder ser utilizada em operações da biblioteca ligadas a serviços técnicos, como a descrição (catalogação e a classificação) e a recuperação de recursos.

Estas são áreas complexas pois, apesar de se pretender garantir a uniformidade e a Interoperabilidade dos termos descritivos de pesquisa, quando humanos catalogam, podem introduzir preconceitos e estereótipos, pessoais e culturais que distorcem a informação do catálogo. Por exemplo, o especialista em catalogação americano, Sanford Berman, no seu livro Prejudices and antipathies, mostra que a Biblioteca do Congresso usava linguagem que reflete e reproduz desigualdades e hierarquias.

Há a perceção generalizada que as máquinas são mais neutras do que os humanos e que a IA poderia ser treinada para analisar textos e atribuir descritores com base num vocabulário controlado que poderia garantir rigor e neutralidade. Referindo Paynter, Catherine Smith distingue entre a avaliação automática, realizada por um programa de computador, na qual a classificação dos assuntos resultaria de um processo matemático, quantitativo e a avaliação realizada por peritos humanos, temática e qualitativa.

No entanto, na prática, “a IA e outros processos algorítmicos amplificariam preconceitos observados em dados que usados para os treinar [sublinhado nosso]”. A utilização de IA para catalogação constituiria um perigo para quem defende a liberdade intelectual e o acesso equitativo aos recursos. Ao nível da catalogação, os bibliotecários são insubstituíveis:

”Catalogadores humanos introduzem inevitavelmente preconceitos pessoais e culturais no seu trabalho, mas a inteligência artificial pode perpetrar preconceitos a uma escala nunca antes vista. A automatização deste processo pode ser entendida como uma ameaça maior do que a manipulação produzida pelos operadores humanos”.

 

Este artigo continua no dia 2 de dezembro.

 

Referências

1. International Federation of Library Associations and Institutions. (2022, Oct.). IFLA Journal. Netherlands: IFLA. https://repository.ifla.org/bitstream/123456789/2143/1/ifla-journal-48-3_2022.pdf

2. International Federation of Library Associations and Institutions. (2022). Advisory Committee on Freedom of Access to Information and Freedom of Expression. Netherlands: IFLA - FAIFE. https://www.ifla.org/units/faife/

3. International Federation of Library Associations and Institutions. (1999). IFLA Statement on Libraries and Intellectual Freedom. Netherlands: IFLA. https://repository.ifla.org/bitstream/123456789/1424/1/ifla-statement-on-libraries-and-intellectual-freedom-en.pdf

4. American Library Association. (2019). Library Bill of Rights. USA: ALA. https://www.ala.org/advocacy/intfreedom/librarybill

5. Fonte da imagem: International Federation of Library Associations and Institutions. (2022, 23 Nov.). Out Now: December 2022 issue of IFLA Journal. Netherlands: IFLA. https://www.ifla.org/news/out-now-december-2022-issue-of-ifla-journal/

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Ter | 29.11.22

Biblioteca – o espaço onde se é feliz a aprender

por Laureano Valente, Diretor do AE Infanta Dona Mafalda, Rio Tinto, Gondomar

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À palavra biblioteca está associada a ideia de espaço, “habitado” por muitos livros versando temas e áreas diversificadas, onde aprendemos, nos divertimos, refletimos, nos interrogamos e temos a forte convicção de que saímos mais preenchidos do que quando aí entramos.

Atualmente, nas nossas escolas, os alunos têm muitos desafios, nomeadamente, o uso abusivo do telemóvel e dos computadores e a falta de uma cultura de leitura, no seio familiar. Cabe, então, aos docentes e aos professores bibliotecários, criar “incentivos” para que os alunos interiorizem hábitos de frequência desse nobre local onde a aprendizagem evolui de uma forma subtil, atrativa e entusiasmante. Torna-se imperioso criar o “bichinho” pelo espaço biblioteca.

As nossas crianças e jovens são uns felizardos pela facilidade com que têm a sua biblioteca “sempre à mão”. A magia desta não se explica, sente-se no cheiro característico do papel, no prazer de folhear um livro, na ansiedade em descobrir a mensagem que cada obra incorpora.

Aos poucos, a preponderância da biblioteca na Escola torna-se mais evidente. Há um crescente trabalho de articulação entre os professores bibliotecários e os restantes docentes, envolvendo alunos em projetos de leitura, atividades e concursos. Os livros saem para as salas de aula, onde são divulgados e trabalhados, angariando leitores e admiradores que, assim, descobrem o gosto pela leitura e pela escrita. Contudo, estas viagens dos livros ultrapassam o seio escolar e seguem para as famílias, à procura de granjear mais adeptos e mais amigos do “livro”.

Redescobrir o valor de uma obra, ter o privilégio de usufruir de uma boa leitura devem ser um desafio permanente para qualquer criança, jovem ou adulto.

Na biblioteca dos nossos tempos, há muito mais do que livros. O acesso à informação é vasto e variado. Frequentar, conscientemente, esse espaço contribui para ampliar o conhecimento, a capacidade crítica e interventiva na sociedade; organiza ideias e pensamentos; favorece a concentração e a capacidade de ouvir o silêncio.

De uma forma simples diria que o segredo para o sucesso educativo passa muito pelo bom uso da biblioteca escolar.

 

Laureano Manuel Cardoso Valente, Diretor do Agrupamento de Infanta Dona Mafalda, Rio Tinto, Gondomar

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Seg | 28.11.22

Tem a palavra... Isabel Alçada

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“Venha ver a nossa biblioteca”

Vou com frequência a escolas de todo o país e mal transponho a porta, é frequente alguém sugerir: “Venha ver a nossa biblioteca”. A Biblioteca Escolar é geralmente o primeiro lugar da escola para onde qualquer visitante é encaminhado, tanto por docentes, como por alunos. A razão é evidente. As bibliotecas das nossas escolas são espaços amplos, alegres, convidativos, onde todos se sentem bem. São espaços dinâmicos, pensados para colocarem a leitura no centro do processo educativo e, graças ao incrível poder da leitura, estimularem a curiosidade, o conhecimento, o acesso à ciência e à cultura.

As bibliotecas oferecem vários tipos de recursos e de experiências. Mas é bom não esquecer que no centro estão os livros, livros ao alcance da mão, que se podem folhear, consultar, requisitar para a aula ou para casa.

Sei que ainda há quem não se aperceba da importância de assegurar que os alunos disponham de livros, ao alcance da mão. Quem nunca tenha pensado que os livros permitem contactar com personagens inspiradoras, descobrir locais exóticos, conhecer histórias antigas ou recentes, histórias que comovem ou fazem rir. E que a leitura em profundidade abre a mente, abre horizontes, estimula a imaginação, transforma as pessoas. É importante não esquecer como os livros continuam a ser essenciais na formação dos seres humanos e no desenvolvimento da humanidade.

É para mim um privilégio ter assistido ao nascimento da Rede de Bibliotecas Escolares.  Ao longo dos anos pude verificar como as bibliotecas se foram gradualmente instalando por todo o país, sempre com exigência e rigor, e mantendo vivos os princípios fundadores.  

Quero felicitar a Coordenadora e as equipas da Rede de Bibliotecas Escolares pelo excelente trabalho que realizam, pelo caráter evolutivo do projeto, pelas múltiplas iniciativas que lançam e, sobretudo, pela dinâmica de leitura que conseguem gerar nas nossas escolas.

As bibliotecas escolares são hoje um dos mais evidentes símbolos de qualidade da escola portuguesa. 

Isabel Alçada

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Sex | 25.11.22

Margarida Fonseca Santos: A escolha é minha!

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Esta coleção quer acompanhar as crianças e os jovens, para que recuperem também a esperança em si mesmos.

A reconhecida autora Margarida Fonseca Santos lançou o nono título da coleção A ESCOLHA É MINHA, que aborda a adolescência e os desafios do crescimento através de histórias contadas na primeira pessoa, com diferentes narradores e perspetivas. A Penguim Educação conversou com a escritora sobre estas histórias de vida, tantas vezes inspiradas em casos reais.

Depois do confinamento imposto pela pandemia, a família da Carolina decide trocar a cidade pelo campo. A jovem tem de se adaptar à nova realidade, e depressa faz amigos na escola. Mas tudo se complica quando um professor se dedica a humilhar os alunos. Confia na Mudança é uma história que aborda temas como o bullying (neste caso de uma perspetiva menos explorada), os distúrbios alimentares, as relações na escola e na comunidade, os laços de amizade e a cooperação.

A história passa-se na Lapa do Lobo, uma aldeia do concelho de Nelas, que acolhe a Fundação Lapa do Lobo, instituição dedicada à promoção da cultura, da educação e da preservação do património, e à qual a autora dedica este livro. Como explica Margarida Fonseca Santos:

«A história situa-se na Lapa do Lobo porque, tendo sido convidada a falar num evento sobre “Encontros da educação e do pensamento”, na Fundação Lapa do Lobo, mergulhei num mundo de esperança. Não foi só o encontro que me deslumbrou, foi a Fundação. Apoios a estudantes, atividades artísticas, que visam não só as crianças como os habitantes da zona, os idosos, e sobretudo a valorização do trabalho de cada um. Conhecer mais de perto o Projeto Educativo Alcateia e as pessoas que ali trabalham mudou-me.

Achei que seria o cenário ideal para falar de uma comunidade capaz de apoiar os alunos e erradicar o desprezo, e na questão da mudança, algo que se iniciou durante a pandemia e que não parece vir a parar: a escolha do interior para uma vida com mais qualidade. No fundo, naquele lugar, tudo isto poderia ter acontecido, com a ajuda de todos, e a cumplicidade a ligar alunos, escola e fundação.»

Margarida Fonseca Santos responde a algumas questões sobre a coleção A ESCOLHA É MINHA, e ajuda-nos a perceber a importância dos temas abordados.

Muitos dos livros desta coleção têm como cenário a escola e mostram a marca que os professores podem deixar aos alunos. Neste caso, apresenta os extremos: dos bons e maus professores. Porque sentiu necessidade disso?

R: Primeiro que tudo, a escola é o sítio onde acontece muito do que se passa com as crianças e os jovens. Ao longo de toda uma vida ligada à pedagogia e ao trabalho com alunos de todas as idades, esbarrei com professores de todo o tipo, como é fácil de imaginar. Trazendo a memória dos meus tempos de aluna, e tentando esquecer aqueles que me humilhavam e desprezavam, valorizei muitíssimo as características dos meus excelentes professores. A pedagogia veio daí, por sentir que é fundamental sabermos que, para cada aluno, temos um papel muito especial e que temos a responsabilidade de o incentivar a crescer.

Sabemos que os professores assumem papéis (por vezes, não intencionalmente) que moldam a realidade porque os sentimos como exemplos. Quando corre bem, é extraordinário; quando corre mal, há alunos a não acreditar em si mesmos, a desenvolver medos e comportamentos pouco saudáveis, a desistir. Nas aulas de pedagogia que dou, peço: no dia em que deixarem de ter esperança nos alunos, parem de dar aulas. Se temos esta responsabilidade de estimular a curiosidade e a aprendizagem, temos de fazê-los sentir que estamos prontos para ajudar e para elogiar quando conseguem. O elogio ainda é pouco usado, nos dias de hoje, nalgumas escolas. Corrige-se em vez de comentar e ajudar a construir conhecimento. Toda esta coleção quer acompanhar as crianças e os jovens, para que recuperem também a esperança em si mesmos.

A violência verbal e psicológica é tão grave como a violência física, mas fica muitas vezes escondida por não se verem marcas visíveis no corpo. Tem algum conselho para os seus leitores mais jovens e adultos?

R: Bom, penso que a violência verbal e psicológica é pior do que a física. Pode ser sob a forma de uma subtil chantagem emocional, na atribuição da culpa, até chegar ao desprezo e à humilhação. Se pensarmos bem, toda a violência física é psicológica.

Gostaria muito de conseguir, através destes livros, que vejam saídas e caminhos, e que escolham o que lhes fizer mais sentido. Não dou nenhum conselho específico, isso seria moralizar os livros: mostro pistas para que saibam que existe esse poder de escolha e que não precisam de aceitar essas afrontas do dia-a-dia.

Gostaria de destacar o papel da Escola (direção de turma, direção da escola, pais e professores) na resolução de conflitos. Temos de confiar nesse apoio, como acontece neste livro (e que se baseia em momentos a que assisti). Se alguém está a atacar os seus alunos, somos todos responsáveis por mudar esse facto.

Conhece alguma história ou pessoas parecidas com as situações e personagens deste livro?

R: Infelizmente, sim, várias. E não são do passado, são contemporâneas. A forma como falam com as pessoas, o desprezo de se acharem superiores aos outros, o gozo de pôr à vista de outros as fraquezas de alguém, o desrespeito ao ponto de chamar burro, inútil, atrasado, incapaz (só para nomear alguns). Sou um pouquinho radical neste campo: acho que há pessoas a quem se devia barrar o acesso à profissão (neste caso, não poderiam voltar a ensinar).

Esta obra conta uma história pós-pandemia. Todos nós mudámos a nossa vida de alguma maneira. Qual é a mensagem que gostava de deixar aos leitores deste livro?

R: A pandemia trouxe muitas coisas, sendo a mais importante a de nos pôr a pensar nos nossos dias, nas nossas escolhas, no sossego, na falta dos amigos, nos lugares onde vivemos, na profissão, no tempo livre. Foi uma enorme oportunidade de repensar tudo. Aproveitem-na e olhem à vossa volta – há sempre algo que podemos mudar para melhor, arrisquem, vale sempre a pena.

Neste livro, como em livros anteriores, como A Caixa da Gratidão, a importância da ligação da escola à comunidade e a promoção da interajuda entre gerações está muito patente. É intencional ou é algo que surge naturalmente no decorrer da escrita da história?

R: Não sei bem se é intencional, será mais uma evidência ao longo da minha vida, pois tive a sorte de conviver sempre com pessoas com muito mais idade, e isso aparece sempre na escrita. Gosto de ouvir histórias e tecer conversas tranquilas. Por outro lado, dando aulas, convivi sempre com idades muito diversificadas, dos cinco aos 90. Como acredito que, quando se ensina, se aprende muito mais, ando sempre à descoberta desses mundos.

O que desejo, para o presente e para o futuro, é que se aprofunde a relação da comunidade transgeracional. Temos todos a ganhar com isso. A família é maior do que a de sangue, e a comunidade pode realmente transformar-nos em melhores pessoas.

Este artigo foi publicado originalmente pela Penguim Educação e republica-se com autorização da editora.

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Qui | 24.11.22

Palavras&Cª distinguido com Prémio Incentivo

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O jornal escolar dinamizado pela biblioteca escolar da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Alter do Chão foi distinguido no Concurso Nacional de Jornais Escolares, Público na Escola.

Este projeto com mais de meia década tem sobrevivido num contexto particularmente difícil. A leitura e a escrita nem sempre se assumem como uma prioridade nos interesses revelados por alunos de uma escola ligada à formação de profissional na área da equitação, agricultura e turismo.

De forma a contrariar esta tendência, a equipa responsável por esta publicação, Sérgio Mendes e Teresa Casquilho, inovou e promoveu uma maior proximidade com alunos e docentes, convidando-os a assumir um papel mais ativo na produção de conteúdos. Para o efeito, desde 2021 disponibiliza um link onde todos os interessados identificam um conjunto de ideias-chave que facilitam a construção dos artigos em momento posterior. Esta segunda etapa é assumida pelos alunos sob orientação do professor bibliotecário.

Paralelamente, a biblioteca escolar começou também a dinamizar formações em articulação com as diferentes disciplinas, as quais deram origem a vários artigos para o Palavras&Cª.

Para além de um pequeno prémio pecuniário, está prevista a realização de um workshop promovido pela equipa do Público. Este prémio vem, assim, reconhecer todo o trabalho desenvolvido até ao momento, assim como conferir um novo dinamismo a esta publicação semestral.

 

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Qua | 23.11.22

As ligações entre a Inteligência Artificial e a Educação (IA&ED)

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Recentemente, o Conselho da Europa divulgou o relatório ARTIFICIAL INTELLIGENCE AND EDUCATION A critical view through the lens of human rights, democracy and the rule of law,[1] um estudo onde são examinadas as ligações entre a inteligência artificial (IA) e a educação (ED). Com o objetivo de fornecer uma visão holística que ajude a assegurar que a IA empodere e não sobrecarregue educadores e alunos, e que os futuros desenvolvimentos e práticas sejam genuinamente para o bem comum, o estudo está organizado em quatro partes:

1. Ligações IA&ED

2. Desafios-chave para a AI&ED

3. IA&ED e os valores fundamentais do Conselho da Europa

4. Desafios, oportunidades e implicações da AI&ED

Neste artigo apresentaremos uma resenha das principais ideias avançadas na primeira parte do documento, onde, após uma breve introdução ao que é e como funciona a IA, são analisadas as ligações entre a IA e a Educação em três vertentes:

- a utilização da IA para aprender (IA de apoio ao aluno, de apoio ao professor e de apoio ao sistema);

- a utilização da IA para obter informações sobre a aprendizagem (por vezes entendido como análise da aprendizagem);

- a aprendizagem sobre a própria IA, ou seja, literacia da IA, considerando tanto a dimensão humana como a tecnológica.

 

Aprendizagem com Inteligência Artificial

A aprendizagem com IA inclui o uso de ferramentas baseadas na IA no ensino-aprendizagem, e inclui o uso de IA para apoiar:

- os alunos, envolvendo ferramentas com sistemas inteligentes de tutoria, baseados no diálogo, ambientes de aprendizagem experimentais, avaliação automática da escrita, organizadores de aprendizagem, chatbots (conversadores) e IA para apoiar os alunos com deficiências;

- os professores (embora, com exceção da curadoria inteligente de materiais de aprendizagem, existam poucos exemplos).

- As instituições e os sistemas administrativos (recrutamento, calendarização, etc.) e gestão da aprendizagem;

Apoio ao aluno

- Eficácia pouco clara: O uso de IA de apoio ao aluno está rapidamente a tornar-se popular, no entanto, continuam a ser poucas as provas robustas e independentes do seu valor, pelo que muitas pretensões (tais como que o uso de IA na educação melhorará drasticamente a forma como os alunos aprendem) continuam a ser uma esperança. De facto, embora existam algumas exceções notáveis, trabalhos recentes salientam os limites técnicos, sociais, científicos e conceptuais da IA nos sistemas educativos e assinalam a falta de provas robustas e independentes quanto à sua eficácia ou sucesso na obtenção dos resultados pretendidos.

- Substituição de professores: Há quem avance o argumento bastante forte da importância de usar a IA para apoiar os alunos em contextos onde há poucos professores experientes ou qualificados, tais como nas zonas rurais dos países em desenvolvimento. No entanto, a utilização da tecnologia para substituir os professores aborda a sintoma deste problema-chave (crianças que não recebem a educação a que têm direito) e não a causa (a escassez global de professores). Embora algumas crianças possam beneficiar desta utilização da IA, os efeitos a longo prazo da utilização desta abordagem tecno-solucionista para resolver o que é essencialmente um problema social permanecem desconhecidos.

- Enviesamentos: Os criadores de IA&ED tendem a estar sedeados em países ocidentais, educados, industrializados, ricos e democráticos e estão, portanto, menos familiarizados com as necessidades dos jovens nos países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, embora não existam provas específicas disponíveis, é provável que a IA&ED sofra da mesma falta de diversidade pela qual a IA em geral é bem conhecida, com resultados potencialmente enviesados em dados e algoritmos.

- Confiança: Para que as ferramentas de IA se tornem ainda mais amplamente utilizadas nas salas de aula, é essencial que professores, alunos, pais e outros intervenientes possam confiar que serão benéficas - que melhorarão a aprendizagem e não causarão quaisquer danos. Contudo, com demasiada frequência, o ónus da confiança recai sobre os intervenientes na sala de aula (para confiarem nas ferramentas de IA de apoio ao aprendente) em vez de nos fornecedores (para fornecerem ferramentas de IA de apoio ao aluno que sejam dignas de confiança).

Apoio ao professor

- Substituição: Muitos já expressaram a sua esperança de que a IA venha a poupar tempo aos professores, outros sugeriram que a IA, a dada altura, tornará redundantes os professores - ou pelo menos o seu papel será reconfigurado como organizadores/ facilitadores de tecnologia de sala de aula, encarregados de gerir o comportamento dos alunos e de assegurar que a tecnologia seja ligada.

- Pouco desenvolvimento: A IA&ED tem-se concentrado na utilização da IA para apoiar diretamente os alunos, com o objetivo de melhorar a aprendizagem, geralmente assumindo (substituindo) as funcionalidades do professor, tais como através de tutoria adaptativa alimentada pela IA. Tem havido muito pouca atenção à IA concebida especificamente para apoiar os professores.

- Pouca disponibilidade: Recentemente tem havido alguma investigação, sobre o uso da IA para pesquisar a Internet a fim de fazer curadoria de recursos e foram disponibilizadas ferramentas concebidas para analisar e apoiar as práticas dos professores, a gestão do tempo e a planificação de aulas. No entanto, muito pouco disto foi aproveitado pelos agentes comerciais ou está amplamente disponível.

- Avaliação: A IA tem-se concentrado nas ferramentas que visam avaliar automaticamente as tarefas dos alunos para poupar tempo ao professor. Contudo, a IA não é capaz da profundidade de interpretação ou precisão de análise que um professor humano pode dar. Mesmo que a IA fosse capaz de uma classificação justa e precisa do texto livre, a implementação de tal sistema também ignoraria o que um professor fica a saber sobre os seus alunos quando lê o que escreveram.

- Eficácia pouco clara: A IA pode poupar tempo aos professores, embora haja poucas provas disso, mas continua a não ser claro qual poderá ser o seu impacto na qualidade do ensino-aprendizagem.

Apoio às instituições de educação

- Tipos de uso: As principais ferramentas de IA para apoio à instituição são as que permitem a automatização de processos relacionados com as admissões dos alunos, a simplificação da comunicação com os alunos e a planificação da afetação de recursos.

- Previsão de abandono: A utilização de IA para prever o abandono escolar é também uma área de investigação popular, sendo o seu objetivo compreender os fatores que podem ter impacto sobre as desistências, prevê-las e reduzi-las. No entanto, há ainda poucas provas da eficácia de tais sistemas, ou mesmo se as ligações estabelecidas são preditivas ou causais.

 

Inteligência Artificial para conhecer a aprendizagem

- Dados: Os sistemas de IA recolhem grandes quantidades de dados incluindo dados sobre as respostas dos alunos às perguntas, o que dizem, o seu estado afetivo (por exemplo, interessados ou distraídos), onde clicam e como movem o seu rato no ecrã, para citar apenas alguns. Uma única sessão, com uma criança a interagir com um sistema educativo eletrónico com IA, gera um número muito significativo de dados que representam traços digitais de aprendizagem.

- Traços digitais: Os traços digitais de aprendizagem permitem aumentar a compreensão das partes interessadas sobre os comportamentos dos alunos, com o objetivo de melhorar a aprendizagem e os ambientes em que ela ocorre. O conhecimento destes dados permite igualmente criar automatismos (por exemplo, uma plataforma de aprendizagem adaptativa).

- Beneficiários: Embora ainda existam poucas provas de que a análise de dados de aprendizagem melhora o ensino-aprendizagem, são, aparentemente, os alunos que beneficiam. No entanto, também os fornecedores de IA&ED tiram proveitos, uma vez que utilizam os dados com objetivos de gestão de negócio. A questão que permanece é compreender como é que os alunos, os professores, a escola, ou o sistema educativo mais alargado beneficiam dessa análise de dados de aprendizagem possibilitada pela IA.

- Objetivos: Existe o risco de os objetivos de melhoria do processo de ensino-aprendizagem serem substituídos pelos objetivos comerciais das empresas fornecedoras de IA&ED, transformando-se, abusiva e inconscientemente, as crianças de todas as salas de aula em fontes de informação para decisões de negócio.

- Transparência: As empresas privadas não partilham rotineiramente os dados de investigação relativa aos seus sistemas. Há uma transparência muito limitada em relação às taxas de erro e muitos produtos de IA&ED estão a ser adotados com provas de eficácia muito limitadas e fraca supervisão. Há também muitos produtos educativos que afirmam utilizar IA, mas não o fazem de facto. Esta assimetria informativa prejudica o Estado e a sociedade civil.

- Resultados: As empresas multinacionais e os seus produtos não só estão a moldar alunos e professores individuais, mas também questões de agenda relacionadas com a governação e as políticas nacionais. Embora exista alguma literatura que aborda o que as empresas de IA&ED estão a aprender com a utilização dos seus sistemas por parte dos alunos, ainda não é claro como é que isso influencia a nossa compreensão do modo como a aprendizagem acontece, como o ensino deve ser alterado e como a aprendizagem deve ser medida.

 

Aprendizagem sobre a IA (Literacia da IA)

- Duas dimensões: As dimensões tecnológica e humana têm sido importantes para o desenvolvimento das TIC, mas a dimensão humana raramente tem sido abordada em profundidade. Uma vez que as técnicas de IA em muitos casos visam imitar e até ultrapassar processos cognitivos humanos, é, agora, crucial dar à dimensão humana da IA a mesma importância que a dimensão tecnológica. A literacia da IA deve incluir tanto a dimensão tecnológica (o modo como funciona) como a dimensão humana e o impacto da IA (no ser humano, na cognição, na privacidade, nos organismos, etc.) assim como explicações sobre as pessoas, o poder e as motivações políticas por detrás da adoção de cada tomada de decisão automatizada.

- Objetivo da educação: Enquanto os decisores políticos não forem claros sobre o objetivo da educação (por exemplo, transferir conhecimentos, aumentar o sucesso nos exames, ajudar os jovens a desenvolver o seu potencial individual e a autorrealizarem-se, ou a promover a compreensão, a tolerância e a amizade entre todos os povos) e enquanto não forem implementadas as políticas apropriadas, o que deve ser ensinado sobre a IA permanece discutível.

- Destinatários: Todos os cidadãos devem ser encorajados e apoiados para atingirem um certo nível de literacia de IA, devendo ter os conhecimentos, aptidões e valores necessários para o desenvolvimento, implementação e utilização de tecnologias de IA.

- Projetos: Em todo o mundo existem vários projetos de programação e ensino de código que estão a promover, de algum modo, um currículo em IA, liderados por empresas comerciais e ONG. Estes currículos comerciais de IA, bem financiados e desenvolvidos por peritos em IA em vez de por educadores, voltam a levantar questões incómodas sobre o envolvimento do setor privado na educação e sobre o impacto nos alunos dos seus imperativos comerciais.

- Dimensão tecnológica: Todos os projetos de currículo de IA tendem a centrar-se na dimensão tecnológica da IA com exclusão da dimensão humana, exceto para uma breve incursão na ética da IA.

- Dimensão Humana: O objetivo de abordar a dimensão humana da literacia da AI é possibilitar que todos compreendam o que significa viver com a IA e como tirar o melhor partido do ela oferece, protegendo-se simultaneamente de qualquer influência indevida sobre a sua ação ou dignidade humana. Para isso os jovens devem ser ajudados a compreender a forma como a IA, a automatização e especialmente a tomada de decisão automatizada, pode afetar a forma como são tratados na sociedade. Por outras palavras, todos os jovens precisam de compreender se a IA com que se envolvem consciente ou inconscientemente os trata de forma justa.

 

Referência

[1] Holmes, W., Persson, J., Chounta, I., Wasson, B. & Dimitrova, V. (2022). ARTIFICIAL INTELLIGENCE AND EDUCATION A critical view through the lens of human rights, democracy and the rule of law. Council of Europe. https://rm.coe.int/artificial-intelligence-and-education-a-critical-view-through-the-lens/1680a886bd

Fonte da imagem: obra referida em [1]

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Ter | 22.11.22

As bibliotecas escolares do AE Dr. Serafim Leite no contexto do PADDE

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Em 2020, o Plano de Ação para a Transição Digital (PADDE) veio abrir caminho para que as escolas refletissem sobre si mesmas e sobre os alunos que atualmente frequentam a escolaridade obrigatória.

Quando todos tivemos que ficar em confinamento, a forma expedita e competente com que se encontraram caminhos, se partilharam os mesmos e, colaborativamente, se articularam soluções digitais, para continuar os processos de ensino e aprendizagem a distância, foi de tal forma enriquecedora que, na visão das Bibliotecas Escolares do Agrupamento de Escolas Dr. Serafim Leite (AESL), todo esse trabalho deveria ser tratado e disponibilizado no seu sítio na internet. A direção do AESL considerou relevante, tendo incorporado no PADDE do AESL o repositório dos recursos educativos digitais criado em articulação estreita com esta Biblioteca Escolar.

As áreas de intervenção da BE no PADDE do AESL são cinco:

- Apoio à Aprendizagem;

- Atividades com recurso ao digital;

- Literacia da Informação;

- Propriedade Intelectual;

- Segurança em ambientes online.

Para tal, delineámos objetivos de intervenção muito claros e mensuráveis:

1. Criação de uma área, no sítio da Biblioteca na internet, onde conste uma seleção de pelo menos um sítio fiável de acesso à informação, por grupo disciplinar;

2. Criação de um banco de recursos digitais, no sítio da Biblioteca na internet, criados pelos docentes do AESL, onde conste 1 conteúdo por cada ano/disciplina;

3. Promoção de 1 sessão, por turma, do 5.º ao 12.º ano, de sensibilização para a problemática da literacia da informação, com enfoque para o respeito da propriedade intelectual e segurança em ambientes online;

4. Promoção de 1 atividade, em parceria com as estruturas internas e ou com entidades externas, que envolvam recurso ao digital, em cada turma do 2.º ao 12.º ano.

Que caminho já fizemos? 

1. No sítio na internet da Biblioteca Escolar foi criado um menu “Apoio à Aprendizagem” com submenus organizados por ciclos de ensino/disciplinas. Desta forma, os utilizadores podem facilmente aceder aos conteúdos de acordo com as suas necessidades.

2. Para alimentar a estrutura criada e dando cumprimento ao PADDE da BE, foi sensibilizado o Conselho Pedagógico para a importância da partilha de documentos e da curadoria, com repercussão nos departamentos. A biblioteca participou no encontro anual de professores com esta temática, foi desenvolvida uma ação de curta duração (ACD) no mesmo âmbito (“Sabias que a biblioteca partilha o sol e a chuva, o protetor solar e o guarda-chuva?”) para apoio aos professores na cedência de conteúdos digitais, construídos pelos próprios, recorrendo, para tal, aos guiões de orientação da informação a registar, criados pela biblioteca escolar.

3. Foi, ainda, trabalhada a importância de respeitar os direitos de autor e as licenças de utilização de conteúdos de autor, junto dos docentes e dos alunos. Para os docentes, foi dinamizada uma Ação de Curta Duração pela coordenadora interconcelhia (“Direitos de Autor: Conhecemos? Respeitamos? Fazemos cumprir?”). Para os alunos, foram realizadas sessões de exploração da informação, com recurso às propostas do projeto “Brain Ideas” da DecoJovem.

4. Por fim, a BE promoveu e continua a promover, com os alunos, a realização de projetos, internos e externos, recorrendo ao digital.

O que (ainda) não conseguimos fazer?

A disponibilização de recursos educativos digitais traz aos professores um sentimento de insegurança quanto à qualidade dos conteúdos que produzem, pelo que, ainda existe alguma timidez em relação a essa disponibilização. Para que os professores se sintam mais seguros, a Biblioteca Escolar tem prestado apoio, motivado e encorajado os docentes a disponibilizar e/ou criar recursos educativos digitais. Por outro lado, a Biblioteca Escolar disponibiliza formação e apoio constante na área dos direitos de autor e de licenciamento de conteúdos.

Acreditamos que os interesses dos nossos alunos passam pela utilização de conteúdos e dispositivos digitais e nós, biblioteca escolar, queremos ir ao encontro deles. Queremos que estejam motivados e que aprendam em ambientes estimulantes nos quais se sintam confortáveis.

Os nossos alunos e os nossos professores sabem que podem contar SEMPRE com a sua Biblioteca Escolar.

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Seg | 21.11.22

A Saramaguear...

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No dia 16 de novembro de 2022, na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, comemorou-se o centésimo aniversário do nascimento de José Saramago com um riquíssimo programa que envolveu toda a escola e parceiros locais, bem como insignes personalidades que revisitaram a obra saramaguiana por meio de outras artes que não somente a literatura.

O conjunto de iniciativas teve início logo pela manhã, no auditório da escola, com o Ciclo de cinema “Das palavras de Saramago à tela de cinema”, que incluiu o visionamento do filme “Embargo”, “A maior flor do mundo” e “O conto da ilha desconhecida”, prosseguindo com “Leituras saramaguianas”, na biblioteca escolar, onde os presentes puderam saborear as palavras do autor, retiradas de obras como Memorial do Convento, Os poemas possíveis, Cadernos de Lanzarote e Viagem a Portugal, através da leitura expressiva realizada por representantes dos mais variados elementos que compõem a comunidade educativa. Assim, alunos de vários níveis de ensino, de Português Língua de Acolhimento, de Português Língua Estrangeira, da Unidade de Apoio ao Alto Rendimento na Escola, uma representante dos encarregados de educação, uma professora, uma assistente operacional, acompanhados musicalmente por alunos do Conservatório das Caldas da Rainha, homenagearam da melhor forma o escritor, reativando as suas palavras e o seu pensamento e deixando ecos perduráveis nos presentes. Afinal, tal como refere Saramago na sua obra Viagem a Portugal, “É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles”. Por isso, os presentes também foram convidados a “Voltar aos passos que foram dados” pelo escritor, percorrendo a exposição da Fundação José Saramago, cedida por empréstimo pela Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha, para uma viagem pela biografia literária do escritor, numa narrativa que possibilitou (re)encontrar as suas obras mais impactantes e o seu legado cultural e cívico. À exposição foi associado um quiz a realizar nos dispositivos móveis, criado para guiar os visitantes da exposição.

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O Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro associou-se ainda ao programa de comemoração do centenário do nascimento de José Saramago, "Saramago na Escola", com as Leituras Centenárias, uma parceria com a Fundação José Saramago, com a Rede de Bibliotecas Escolares e com o Plano Nacional de Leitura 2027. A Beatriz Dottling Carmo, aluna do 12.º LH1, representou a Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, através da leitura de um excerto do último capítulo da obra Memorial do convento, uma atividade resultante da colaboração entre a Biblioteca Escolar, o grupo disciplinar de Português, a artista residente, Amábile Bezinelli, alunos e professores do Curso Profissional de Técnico de audiovisuais.

De seguida, os presentes foram convidados a percorrerem a instalação artística “100 SaramaguiANOS”, em que 100 alunos reconstituíram uma mostra bibliográfica viva das obras do escritor celebrado. Pelo caminho, puderam usufruir da exposição “José Saramago na Caricatura Internacional”, uma mostra com os trabalhos premiados, os finalistas e algumas das melhores caricaturas selecionadas pelo Júri internacional do PortoCartoon-World Festival.

Já no bloco 2, piso 2, nas salas 13, 15 e 17, os participantes puderam assistir à apresentação dos Quadros vivos, uma recriação de alguns quadros da exposição “Vontades”, do artista plástico José Santa-Bárbara, que, sem palavras, muito agradeceu a releitura dos seus quadros. Os quadros vivos animaram os quadros intitulados “A ara de Cheleiros”, “O Espírito Santo” e “A leva da Infanta”, em diálogo direto com passos do romance que os inspirou, e constituíram o ponto mais alto das comemorações, resultando do trabalho conjunto das professoras bibliotecárias do agrupamento, dos professores do grupo de Português, da Coordenadora do Plano Nacional das Artes e da artista residente Amábile Bezinelli.

As iniciativas das comemorações da parte da manhã terminaram no anfiteatro, onde o artista plástico foi agraciado pela sua presença e obra com uma risografia da autoria do ilustrador Bruno Santos. Num discurso assaz emocionado e emocionante, José Santa-Bárbara agradeceu o convite, pretexto para revisitar uma cidade que já foi sua, e a revisitação da sua obra por meio de um trabalho coletivo e criativo que muito o honrou. Sublinhou que estas iniciativas provam a sobrevida de José Saramago, escritor universal empenhado na (re)construção de um mundo menos iníquo e mais humano. Seguiu-se um beberete preparado pelos alunos da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste e servido pelos alunos do Curso Profissional de Técnico de Turismo da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro.

A parte da tarde foi preenchida com a palestra de João Maria André, professor e investigador na Universidade de Coimbra, que tem desenvolvido uma intensa atividade cultural ao nível da dramaturgia e encenação na Cooperativa Bonifrates e no Teatro Académico de Gil Vicente, a propósito da adaptação teatral de As intermitências da morte, de José Saramago. A palestra, que aliciou os presentes para a leitura do romance que inspirou a peça prestes a subir à cena, terminou com a leitura encenada, pelo palestrante e pela artista residente em funções no agrupamento, porque a melhor forma de celebrar um escritor é lê-lo.

Em suma, a comemoração do centenário do nascimento de José Saramago desassossegou toda a escola e criou um movimento coletivo, desencadeado pelas bibliotecas escolares do agrupamento, que envolveu vários parceiros, nomeadamente, o órgão de gestão, a Coordenadora do Plano Nacional das Artes e a artista residente na escola, o grupo de Português, a Coordenadora Interconcelhia das Bibliotecas Escolares, os alunos participantes em todas as atividades, os alunos e professores dos cursos profissionais de Técnico de Audiovisuais e de Técnico de Turismo, assistentes técnicos e operacionais, o CFAE Centro-Oeste, a Escola Superior de Arte e Design, o Conservatório das Caldas da Rainha, a Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, a Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha e as bibliotecas da Escola Secundária Raul Proença e da Escola Básica D. João II.

Todos irmanados para proporcionar um dia preenchido e protagonizado pelos vários públicos da comunidade educativa com vista a celebrar o legado de um dos maiores escritores da literatura universal.

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Sex | 18.11.22

Caricaturas de José Saramago

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Este pequeno relato mostra o processo de trabalho que conduziu a uma exposição de caricaturas de José Saramago, elaboradas pelos alunos do 5.º e 6.º ano da Escola Básica e Secundária de Paredes, Agrupamento de Escolas de Paredes.

Pretendendo dar continuidade às comemorações do Centenário do Nascimento do nosso Prémio Nobel da Literatura, em julho, na preparação do ano letivo 2022, as professoras bibliotecárias, propuseram aos colegas do Departamento de Expressões a elaboração de caricaturas, inspiradas em outras já existentes e /ou em fotos do escritor.

No início do ano letivo, com a ajuda dos professores de português e das professoras bibliotecárias, os alunos fizeram pesquisas para ficarem a conhecer melhor José Saramago, a sua vida e obra e os seus registos fotográficos mais divulgados.

Escolhida a foto e orientados pelos seus professores de Educação Visual, no decorrer das aulas, os alunos, deram asas à sua imaginação. Os trabalhos foram expostos nos placards e vitrines do pavilhão A, para serem apreciadas por todos. A exposição tem vindo a ser muito visitada, sendo alvo de grandes elogios da comunidade escolar.

Para perpetuar esta iniciativa a Equipa da Biblioteca Escolar criou o filme o qual permite, de forma inequívoca, demonstrar a qualidade gráfica e o espírito criativo das caricaturas produzidas pelos nossos alunos.

Tal como o menino herói de A Maior Flor do Mundo, os nossos meninos foram todos maiores do que o seu tamanho e prestaram uma excelente homenagem a José Saramago, que ficará na nossa e nas suas memórias.

Helena Costa e Celeste Fontelas
Professoras bibliotecárias

 

 

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Qui | 17.11.22

Ler a pensar, pensar a ler: mediação da leitura e do diálogo na Biblioteca Escolar

Por Joana Rita Sousa[1]

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A propósito do Dia Mundial da Filosofia (17 de Novembro de 2022) partilho um breve relato de um projeto de mediação da leitura e do diálogo, em parceria com uma Biblioteca Escolar, o Centro de Recursos Poeta José Fanha (AE da Venda do Pinheiro).joana-rita-sousa.png

 

O livro, as oficinas de diálogo e o jazz

O trabalho de mediação do diálogo que desenvolvo com crianças (e também com jovens e adultos) parte muitas vezes do encontro com um livro. Isso não significa que o livro seja sempre a provocação com a qual damos início ao diálogo; por vezes, os livros inspiram-me na fase de preparação das oficinas, no desenhar de perguntários (inventários de perguntas), no imaginar de cenários e temáticas que podem acontecer no diálogo.

Concordo com Marina Santi e defendo que as oficinas de filosofia têm muito de jazz: treinamos muito, preparamos as peças musicais (neste caso, as oficinas) e no momento temos de dar lugar ao improviso e aos contributos das outras pessoas que se juntam a nós para parar, pensar, escutar e dialogar.

Também a leitura de um livro pode ter esse efeito jazzístico, de ser novo de cada vez que o abrimos, lemos ou damos a ler. Podemos ler coisas novas, observar elementos com mais detalhe, rever a nossa interpretação, numa atitude de improviso ou de “logo se vê”. Este “logo se vê” não é uma atitude desinteressada e sem preparação; pelo contrário, é a dedicação à preparação que permite depois abrir para o improviso, escutando quem está ao nosso lado para dialogar.

Um projeto de continuidade na comunidade escolar: Ler a Pensar, Pensar a Ler

Durante o ano letivo 2021/2022 tive a oportunidade de desenvolver o projeto Ler a Pensar, Pensar a Ler, ao abrigo da candidatura (Re)ler com a biblioteca - na companhia da Professora Bibliotecária Jacqueline Duarte, do Centro de Recursos Poeta José Fanha (Biblioteca Escolar), na Escola Básica Venda do Pinheiro.

A Professora Jacqueline entrou em contacto comigo para desenharmos um projeto onde o livro fosse o trampolim do diálogo e onde o diálogo constituísse um momento para voltar ao livro. Depois de desenhar o projeto, fazer a candidatura e ver a candidatura aprovada, partimos para o processo de curadoria de livros e planeamento dos encontros entre as mediadoras e as cinco turmas do 2.º e 3.º ciclos.

Procurámos criar um tempo e um espaço que acolhesse um movimento perpétuo entre a leitura e o pensamento. Para tal, foram pensados momentos de mediação de leitura dinamizados pela Professora Jacqueline e momentos de mediação de diálogo dinamizados por mim.

O primeiro momento de trabalho acontecia entre as turmas e a Professora Jacqueline, pelo que cabia-me seguir o fio do trabalho; fio esse que depois a Professora Jacqueline agarrava e voltava a passar-me. Trabalhámos em parceria, recorrendo a pastas partilhadas da google drive para fazer os nossos registos e documentarmos o processo.

Entre planos de trabalho e muito jazz, lemos, pensámos, voltamos a ler e voltamos a pensar a partir de livros, no espaço da biblioteca escolar.

Os encontros aconteceram em formato presencial, com exceção para o último que teve um formato online. Cada turma era acompanhada pela Professora ou Professor e os encontros aconteceram durante os tempos letivos. Criámos momentos e estratégias para que as Professoras e Professores pudessem continuar o diálogo ou a leitura a partir daquilo que era desenvolvido nos encontros na Biblioteca.

Na rede social instagram é possível encontrar alguns apontamentos consultando o hashtag #lerapensarpensaraler

Perguntas, critérios, juízos e um manual do consenso

O trabalho desenvolvido entre as mediadoras e as turmas, a partir dos livros selecionados, permitiu criar momentos de investigação individual e colaborativa, identificar critérios, relacionar momentos da narrativa com a nossa vida, praticar competências como a síntese (fazendo pontos de situação) ou a analogia (avaliação figuro-analógica), aprender e aplicar ferramentas como o quadrante de perguntas, entre outros.

A turma que trabalhou a partir do livro Discórdia, de Nani Brunini (Pato Lógico) criou ainda um Manual do Consenso para nos ajudar a discordar de forma saudável e respeitosa – sem correr o risco de sermos engolidos pelo “monstro da Discórdia”.

Escutar o que dizem as crianças e os jovens

Em vários momentos convidámos as pessoas participantes a avaliar os encontros e o que neles acontecia:

(...) é uma forma de comunicar e perceber o ponto de vista de outra pessoa.

 acho que fazem muito bem, pois conseguimos expressar a nossa opinião sem sermos “atacados”

 Eu senti que poderia me expressar e dizer a minha opinião.

 Aprendi que o escutar é muito importante; se não escutarmos não conseguimos responder, que sem pensar na resposta não dizemos a coisa certa e que se não dialogarmos não conseguimos entender os outros.

 O que sinto é que são muito divertidos.

 Aprendi, nesta sessão, que existem diversas maneiras de fazer perguntas, como estruturar e construir perguntas, o que foi interessante.

 O que gostei mais foi quando tivemos que fazer as perguntas.

Também houve quem considerasse que os encontros eram “um bocado seca”. Quando desenvolvemos este tipo de trabalho é difícil agradar a cada uma das pessoas e até encontrar estratégias que permitam envolver cada uma das pessoas. É importante estar consciente desse desafio e, simultaneamente, esperançar que sejam momentos para semear algo que talvez dê frutos mais tarde.

O projeto aproximou a filosofia da biblioteca escolar e também aproximou as duas mediadoras envolvidas. Eu e a Professora Jacqueline mantemos o contacto e vou tendo notícias dos alunos com os quais tive a oportunidade de filosofar. Soube recentemente que duas turmas que participaram no Ler a Pensar, Pensar a Ler foram as escolhidas para participarem na iniciativa Transformar a Educação, proposta pela RBE, dinamizada num registo de Assembleia de alunos.

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Projetos como este permitem-me celebrar a Filosofia em vários momentos do ano, para lá do dia que lhe foi consagrado pela UNESCO. Por esse motivo, tenho de agradecer às Professoras e Professores, às Educadoras e Educadores que me convidam para a sua sala ou biblioteca escolar para praticar o #PararPensarEscutarDialogar.

 

[1] Joana Rita Sousa é filósofa, perguntóloga e mestre em filosofia para crianças. É mediadora da leitura e do diálogo. Dedica-se, desde 2008, ao desenvolvimento de oficinas de filosofia destinadas a crianças (a partir dos 3 anos), jovens e adultos.

Dinamiza clubes de leitura e oficinas de diálogo, tendo criado em 2021 criado o Clube de Leitura em Voz Alta #filocri.

 

 

 

 

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