Na Escola Básica de Piscinas, em Lisboa, Literacias da Informação é uma disciplina de oferta de escola. Tirando partido da possibilidade que a flexibilização do currículo permite, esta foi a forma encontrada para responder a duas questões prementes: encontrar um espaço formal para desenvolver as competências dos alunos neste âmbito e complementar os vinte e cinco minutos semanais da disciplina curricular Cidadania e Desenvolvimento.
A disciplina Literacias da informação foi criada no ano letivo 2018-2019, para ser lecionada a todas as turmas dos 2.º e 3.º ciclos, à medida que entrasse em vigor o novo currículo. Foi desenhado um programa e foram implementadas diversas experiências de aprendizagem asseguradas pela professora bibliotecária e pelo professor da disciplina, num trabalho articulado e sistemático. A pandemia trouxe vários constrangimentos à vida na escola pelo que, atualmente, a oferta desta disciplina está restringida às turmas do 6.º ano.
Como funciona na prática? Alunos e professores têm à sua disposição diversos instrumentos, como guiões de pesquisa e de avaliação de diversas fontes de informação, em especial de páginas de internet. Em cada aula, preparada colaborativamente com os docentes que lecionam Cidadania e Desenvolvimento, a turma é dividida em dois grupos, ficando um deles na sala, com o professor, e o outro, na biblioteca. Qualquer que seja o espaço das aulas, estas têm um desenho misto, iniciando-se com uma curta explicação das aprendizagens previstas e dos instrumentos a utilizar pelos alunos que, de forma autónoma e em pares, cumprem as tarefas propostas com o apoio e a orientação da professora bibliotecária.
Através da realização de trabalhos práticos, tendo como enquadramento os domínios tratados em Cidadania e Desenvolvimento, os alunos aprendem a aceder, selecionar, avaliar, produzir e utilizar, de forma crítica e ética, a informação que têm ao seu dispor. Considera-se fundamental que os alunos aprendam diversas formas de atribuição de autoria e de citação, reflitam sobre o poder da desinformação e consigam identificar a informação credível e verdadeira.
A avaliação da disciplina é positiva. Destaca-se, por um lado, o facto de os alunos serem parte ativa na construção do seu próprio conhecimento e, por outro, o valor do trabalho colaborativo entre professores. Os alunos, organizados em pequenos grupos, usufruem de um acompanhamento de maior proximidade por parte dos docentes, com impacto significativo na resposta às suas dificuldades específicas e no desenvolvimento de competências.
Consideramos que seria importante voltar ao modelo inicial, abrangendo todos os alunos dos 2.º e 3.º ciclos, garantindo uma maior interiorização das aprendizagens.
O Oceano tem importância decisiva na regulação do clima, economia, saúde e bem-estar do ser humano e planeta e cobre 71% da Terra. Por isso, o escritor Arthur C. Clarke diz, “Que impróprio chamar Terra a este planeta de Oceanos!” [1].
Não obstante esta interdependência vital, o ser humano é responsável por uma crescente degradação física e poluição dos Oceanos, gerada por legislação, gestão e comportamentos irrefletidos, que visam obtenção de lucro particular e momentâneo. Trata-se de uma visão economicista que pensa o Oceano como recurso ou instrumento e não fonte de vida global, da qual o ser humano é parte.
Microplásticos encontrados na placenta [2].
Porque a aprendizagem oceânica raramente fez parte dos currículos e aprendizagem formal, cientistas e educadores trabalharam em conjunto e criaram, em 2000, o conceito de literacia oceânica (LO) que começou por ser definido como compreensão da influência recíproca ser humano – Oceano, mas que, sobretudo a partir de 2017, tem âmbito alargado.
Da primeira Conferência do Oceano, organizada pelas Nações Unidas em 2017, resultou a Call for Action para o ODS 14 - Conservar e usar de forma sustentável os Oceanos, mares e recursos marinhos e a Ocean Literacy for All, da qual deveria resultar a aplicação de planos de apoio para fomentar a LO, que passaria a fazer parte dos currículos e a promoção de uma cultura de conservação, restauração e uso sustentável deste corpo de água global (modelo regenerativo).
Neste mesmo ano a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO lança o manual, Ocean Literacy for All: A toolkit [3], com recursos para escolas e instituições e que estabelece um quadro de referência para a LO constituído por 7 princípios, suportados por 45 conceitos, que serão trabalhados nas escolas, sobretudo por ONG e redes de educação marinha. Mais tarde lança o portal Ocean Literacy [4].
Estes princípios essenciais [5] são:
1. A Terra tem um Oceano global e muito diverso.
2. O Oceano e a vida marinha têm uma forte ação na dinâmica da Terra.
3. O Oceano exerce uma influência importante no clima.
4. O Oceano permite que a Terra seja habitável.
5. O Oceano suporta uma imensa diversidade de vida e de ecossistemas.
6. O Oceano e a humanidade estão fortemente interligados.
7. Há muito por descobrir e explorar no Oceano.
Diagrama da estrutura comum de aprendizagem: formada por 7 princípios [6] clicáveis que reenviam para centenas de planos de aula/ outros recursos educativos.
O manual da COI é decisivo porque promove uma visão sistémica e interdisciplinar, aplicável a todos os contextos culturais e que envolve todos os atores. Reconhece que a mudança de competências e de comportamento não depende apenas de informação científica (compreensão dos 7 princípios e respetivos conceitos), mas exige sensibilização, através do discurso e intervenção direta e prática na comunidade.
Neste contexto, segundo a Escola Azul - programa educativo do Ministério da Economia e Mar que promove a LO na comunidade escolar - a LO reúne 3 dimensões interdependentes:
- “Compreender a importância do Oceano para o Homem;
- Comunicar sobre o Oceano de forma consciente e informada;
- Agir, intervir e decidir para promover uma sociedade mais azul” [7].
Em 2017, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou 2021 - 2030 a Década das Ciências Oceânicas para o Desenvolvimento Sustentável. A COI que lidera a Década dos Oceanos pretende uma mudança radical na relação da humanidade com os Oceanos para os próximos 100 anos, com base na ciência e que convoque cientistas e educadores, governos, empresas e indústria, organizações não governamentais, cidadãos para influência e ação em rede. Portugal é um dos 10 parceiros que constitui a Aliança da Década do Oceano [8]
Em 2022 a UNESCO lançou Generation Ocean para, junto do público, “aumentar a conscientização, construir conhecimento e impulsionar ações para restaurar e proteger o Oceano” [9].
Porque a educação é um dos principais pilares desta campanha, crianças e jovens, professores e educadores constituem agentes fundamentais para a criação de uma geração azul. A Fundação Oceano Azul, coanfitriã (com o Quénia) da segunda conferência mundial dos Oceanos, em conjunto com o Oceanário, apoia esta mudança, para a qual as bibliotecas escolares contribuem.
Em passo acelerado chegamos ao fim de mais um ano letivo e o trabalho altera-se. Respiramos um pouco, mas não paramos, pois antes de descansarmos há todo um conjunto de ações que não podemos dispensar.
Agora já não corremos a preparar atividades, a encaixar todas as turmas no horário da biblioteca, a coensinar. Agora é tempo de parar e olhar para trás. Chegou o momento de analisar o nosso plano de atividades, verificar o que foi executado e refletir sobre o que ficou por fazer: fomos demasiado ambiciosos? Constrangimentos externos impediram-nos de concretizar o que nos tínhamos proposto? Está em processo, mas ainda não totalmente realizado? Que ações nos propusemos implementar para elevarmos a qualidade do serviço? Melhorámos?
Este é, ainda, o momento de prestar contas.
Em primeiro lugar à nossa escola e às nossas comunidades, demonstrando os contributos para a concretização dos objetivos do projeto educativo da escola.
Mas também à Rede de Bibliotecas Escolares, entidade que nos orienta e garante a nossa existência na escola. Como implementamos as prioridades definidas? Como colaboramos com o trabalho global desta nossa Rede, em que cada qual é uma peça chave para o sucesso de todos?
Quantas turmas? Quantos alunos? Quantos docentes? Quantas publicações? Quantos projetos? Quantas atividades? Quantas aulas? Quantos recursos? Que coleção? Que curadoria? Que presença? Que gestão?
Conforto, respeito, estímulo, oportunidade, comunidade, sucesso e apoio podem ser construídos no dia-a-dia para todos. Gerar e criar, e depois celebrar!
Ross Todd
Neste ano em que Ross Todd, o grande amigo das bibliotecas escolares portuguesas, nos deixou, vamos seguir o seu conselho e celebrar o sucesso!
Ao longo deste mês de julho, voltamos a desafiar as bibliotecas escolares a partilharem os seus dados com toda a comunidade: de forma gráfica, visual e apelativa.
Para essa partilha, basta seguir esta hiperligação ou incluir #bibliotecaemnumeros e #rbe_pt na sua publicação do Instagram. Ficamos a aguardar! Vamos celebrar juntos!
O Agrupamento de Escolas do Búzio, em Vale de Cambra, tem como oferta de escola, nas turmas de 9.º ano (num total de 173 alunos), na Escola Secundária do Búzio e na Escola Básica das Dairas, a disciplina “Aprender com a Biblioteca Escolar” (AcBE), lecionada por duas das três professoras bibliotecárias do agrupamento. A esta disciplina; em implementação desde 2019, em que o referencial AcBE se assume como base de trabalho, foram atribuídos 45 minutos semanais.
As professoras bibliotecárias integram os conselhos de turma envolvidos e, em função das reuniões destes conselhos para preparação do ano letivo, foram adotados dois modelos de implementação da disciplina:
1. organização em turnos com a disciplina de Português, com divisão da turma a meio e trabalho articulado de AcBE com essa área disciplinar e com todas as outras áreas disciplinares, incluindo Cidadania, em que, em função dos conteúdos curriculares, seja contextualmente relevante desenvolver trabalho;
2. colecionação com a presença constante e simultânea da professora bibliotecária e docente de Português ou de Cidadania e Desenvolvimento na mesma sala de aula, formando par pedagógico. Neste último caso, o foco do trabalho é desenvolvido essencialmente com essas disciplinas, sem prejuízo de serem abordados conteúdos de outras áreas curriculares contextualmente relevantes.
Planificação, lecionação e avaliação são realizadas pelo par pedagógico, no segundo caso, enquanto, no primeiro modelo de implementação acima apresentado, a planificação, embora articulada, decorre das necessidades das diferentes áreas curriculares, a lecionação é da responsabilidade da professora bibliotecária e a avaliação ocorre em articulação com o professor curricular das áreas disciplinares em causa.
Todo o trabalho desenvolvido, independentemente do modelo de implementação, segue a metodologia de projeto e visa um trabalho equilibrado das três literacias (leitura, informação, media), sendo que há uma temática transversal que é o uso ético da informação.