Patrícia Aguiar e Laura Morais escreveram, em coautoria, o livro João Colagem, um livro inclusivo e que foi materializado através de uma campanha de crowdfunding.
“Através de uma escrita ritmada e simples a autora conta a história deste menino na sua jornada de bondade, procurando inspirar para a mudança no olhar, no nosso para com os outros. Apoiado numa ilustração com a técnica de collage, reflexiva e expansora da mensagem central do livro, com momentos visuais de grande profundidade interpretativa e imagética da ação do João Colagem para além da sua história.” [1]
A autora e a KicoLab propuseram à Rede de Bibliotecas Escolares a doação de 500 exemplares deste título. Formalizou-se esta oferta no dia 30 de janeiro e este livro, destinado aos alunos mais novos, será distribuído pelas bibliotecas das escolas que integram o Projeto “Todos Juntos Podemos Ler” e “aLer mais e melhor”.
Para conhecer um pouco mais sobre percurso deste Movimento de Literacia pela Coragem consultar a página do Instagram. [2]
Desejamos que a leitura do livro “João Colagem” seja desafiante e prazerosa.
A Rede de Bibliotecas de Tavira dá mais um passo significativo em direção à promoção da leitura e à integração intergeracional com o desenvolvimento do projeto Ler para (Entre)Ter.
Esta iniciativa visa criar um espaço onde jovens e idosos compartilham não apenas leituras, mas experiências, conhecimentos e momentos especiais. O grande objetivo que sustenta este projeto é conectar diferentes gerações através da magia da leitura.
As atividades estão a ser desenvolvidas pelos professores bibliotecários e os alunos que frequentam as bibliotecas escolares do concelho de Tavira, com idades compreendidas entre os 6 e os 18 anos, que mensalmente visitam duas instituições da cidade para a realização de atividades de leitura (Hora do Conto adaptada ao Público Sénior; Leituras Encenadas; Leitura de Poemas e Atividades de Expressão Plástica).
O projeto Ler para (Entre)Ter não é apenas mais um projeto de leitura, é uma iniciativa que visa a construção de pontes entre gerações, a partilha de histórias e a criação de memórias duradouras. Ao unir jovens e idosos em torno do amor pela leitura e pelas histórias, Tavira está a construir uma comunidade mais forte, mais sábia e mais conectada. Que o Ler para (Entre)Ter inspire outras comunidades a abraçar a riqueza que a leitura e o diálogo intergeracional podem oferecer.
O documento de referência para o Relatório Monitoramento Global da Educação de 2023: Tecnologia e educação (Global Education Monitoring – GEM, UNESCO), Literacia dos Media e da Informação/Media and Information Literacy (MIL) [2], da autoria de Divina Frau-Meigs - professora de sociologia de media e tecnologia da informação e comunicação e TIC da Université Sorbonne Nouvelle, França e representante da UNESCO e da União/Comissão Europeia - examina, numa perspetiva crítica, a situação global e dos países, incluindo Portugal, no âmbito da MIL e reflete sobre os seus usos, benefícios e desafios.
1. Desafios da MIL
Divina Frau-Meigs afirma que a MIL enfrenta desafios:
- Ausência de currículo, inclusivo e significativo, que reflita os interesses e as expetativas dos jovens e que permita incluí-la plenamente nas competências dos sistemas educativos.
- Reduzida formação de professores - a aprendizagem autónoma através de cursos/workshops digitais é a forma habitual de desenvolverem competências de MIL - e escassa oferta de recursos/materiais.
Os governos têm vindo a delegar o ensino da MIL a atores não estatais e a empresas privadas (editoras, empresas de media, plataformas digitais, universidades, organizações não governamentais e da sociedade civil), gerando-se falta de coordenação entre setores e intervenientes.
O documento destaca, em Portugal, o papel da Universidade Lusófona que dispõe de curso de mestrado em Literacia dos Media e da Informação e Cidadania Digital, bem como de parceiros da RBE, como a plataforma LEME (Literacia e Educação para os Media Em linha) e o projeto de literacia mediática Público na Escola, na área do jornalismo.
- Falta de estudos sobre “avaliação das competências e impacto efetivo das pedagogias e dos projetos MIL” - “Não há um estudo internacional abrangente sobre como as competências MIL são implementadas nas escolas, embora existam estudos nacionais ou regionais (European Audiovisual Observatory, 2016)”.
Estes desafios resultam da “discrepância entre o plano das formulações (política oficial) e o plano das realizações (implementação efetiva nas escolas)”.
2. Recomendações para o futuro da MIL
Frau-Meigs apresenta recomendações para responder a estes desafios:
- Inscrever a MIL no currículo e sistemas educativos, do ensino primário ao secundário;
- “Preencher a lacuna entre a formulação de políticas e a implementação efetiva, tornando a formação em MIL componente obrigatório da certificação de professores”, para que estes possam estar envolvidos nas MIL desde a sua conceção e para que esta seja integrada nos sistemas de educação formal;
- “Promover mais coordenação entre os atores do setor e uma governança global da MIL”.
Este artigo tem uma segunda parte que será publicada no dia 05 de fevereiro.
por Jaquelina Almeida, professora bibliotecária do AE de Sardoal
A integração das tecnologias da informação e comunicação em Educação tem sido uma necessidade e prioridade já há várias décadas. No Agrupamento de Escolas de Sardoal, o interesse e a preocupação com o desenvolvimento de competências digitais, quer dos alunos, quer dos professores, tem já um longo percurso que se iniciou com o apetrechamento das escolas, ainda nas velhas instalações, com pelo menos um computador por sala, projetor e, na Biblioteca Escolar, equipamentos variados desde computadores fixos, portáteis, tablets, projetores portáteis, disponíveis para uso em sala de aula. A utilização desses equipamentos foi sempre assegurada por uma equipa de docentes, pronta a resolver os problemas e falhas dos aparelhos e a dar apoio à sua utilização em contexto educativo.
A construção da escola nova, em 2019, e a vontade de ter instalações modernas reforçou ainda mais esse interesse. Mas não é só o equipamento que favorece a aquisição de competências. A partir da BE, enquanto centro de informação e inovação, também se têm vindo a realizar várias formações para os docentes, no âmbito da literacia da informação e ferramentas digitais, bem como ações destinadas aos alunos, numa articulação entre a sala de aula e a BE.
Já no Projeto Educativo do Agrupamento, elaborado para o triénio 2021/2024, se fazia referência à utilização de recursos educativos, tendo-se definido como uma das metas a “Realização de 3 atividades com recurso às TIC, por ano e grupo”.
Assim, quando em abril de 2021, surge o Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas (PADDE) a sua elaboração foi encarada com naturalidade, bem como a frequência de ações de formação, quer por parte da direção e equipa responsável pela elaboração do plano de ação da escola, quer da Professora Bibliotecária. Dessa forma, e porque o trabalho colaborativo e a articulação com os docentes é uma aposta no nosso Agrupamento há vários anos e uma prática recorrente, na formação “Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas: Contributos da biblioteca escolar”, a planificação de uma ação estratégica para a dimensão tecnológica e digital e organizacional levou à criação da “Biblioteca Digital@Banco de Recursos”.
Este projeto surge da vontade de fazer curadoria digital com a criação de recursos educativos em diferentes grupos disciplinares com apoio da BE e a partilha entre todos os intervenientes, através da criação de um banco de recursos educativos digitais.
Apresentada a proposta de criar um banco de recursos digitais à direção, esta é integrada no PADDE, promovendo a produção/ utilização/ partilha e disponibilização de conteúdos digitais educativos potenciadores do processo de ensino e de aprendizagem.
Logo no início do ano letivo seguinte (2021/2022), deu-se início a esse trabalho, com a nomeação de uma equipa de docentes, em que estava integrada a Professora Bibliotecária, com a função de definir o modelo de banco, a sua construção e manutenção, alimentando-o com os recursos educativos digitais elaborados pelos docentes do Agrupamento em reuniões de articulação disciplinar e disponibilizando-os de forma pública com uma licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.
Para dar corpo a este banco de recursos, foi criado um sítio web no Google Sites, intitulado REDSardoal, onde é disponibilizada uma página para cada departamento curricular e subpáginas para cada disciplina.
Os recursos enviados por cada coordenador de departamento estão já disponíveis para todos os que os quiserem usarem livremente.
A partir do ano letivo de 2022/2023, a BE ficou responsável pela recolha de recursos junto dos departamentos curriculares e pela atualização do Banco REDSardoal, dando apoio ou formação informal sempre que necessário e solicitado. Consequentemente, e porque algumas das contas gratuitas das diversas ferramentas digitais escolhidas pelos docentes esgotaram rapidamente a capacidade de criação de atividades, a BE elaborou uma candidatura à RBE no âmbito do concurso “Imprevistos da Leitura”, para adquirir assinaturas das ferramentas mais utilizadas na criação de materiais/ recursos digitais.
É de referir que as formações de docentes promovidas pelo centro de formação para os três níveis de competências digitais, nestes últimos anos, contribuíram de forma relevante para a construção de materiais e recursos de forma mais ágil.
Neste ano letivo, 2023/2024, o PADDE sofreu uma adenda, passando o processo de criação de recursos digitais a ser alargado aos alunos, devendo cada turma elaborar pelo menos um recurso em três disciplinas por semestre a disponibilizar no banco REDSardoal. Para tal, o site foi reformulado, tendo sido criada mais uma página dedicada aos trabalhos dos alunos.
Todo este trabalho reforça a colaboração com a BE, mas, sobretudo, entre os docentes, contribuindo de forma significativa para o cumprimento de objetivos do PADDE, tais como potenciar a utilização de ferramentas digitais nas práticas profissionais e pedagógicas dos docentes, nas suas rotinas e procedimentos diários, na vida dos alunos, nas suas práticas de aprendizagem e no exercício de cidadania; contribuir para o desenvolvimento de aprendizagens inovadoras e para a diversificação de estratégias de ensino aprendizagem, que integrem diferentes modalidades de trabalho; fomentar o trabalho colaborativo através da produção, utilização e partilha de materiais/recursos digitais, permitindo capacitar docentes e alunos para esta realidade digital que nos rodeia a cada minuto.
São várias as metáforas que, comummente, se podem associar à biblioteca escolar:
coração da escola; farol do saber; jardim do conhecimento; oficina da imaginação…
No entanto, para que estas metáforas se consubstanciem, é fundamental valorizar e cuidar do espaço físico da biblioteca. Assim, para além das questões associadas à sua localização e acesso; climatização e iluminação, urge repensá-la em termos de organização do espaço e da coleção, mobiliário e equipamento.
Sabemos que a biblioteca é um ecossistema formado por vários elementos, muito centrado nas expectativas e necessidades dos seus utilizadores e que se quer o mais equilibrado possível. Parece, por isso, óbvio que a primeira preocupação a ter se prenda com a sua localização. Esta deve ocupar um espaço central e bem localizado da escola (preferencialmente, no piso térreo e por onde todos os utilizadores passem).
Não sendo possível garantir esta localização privilegiada, há que fazer todos os possíveis para que a biblioteca não passe despercebida:
📍 Vamos utilizar uma sinalética eficaz e atrativa em loca indicando a direção e a localização da biblioteca, por exemplo, com setas, cores vibrantes e mensagens apelativas que convidem os utilizadores a conhecer/frequentar o espaço?
📍 E se transformarmos a entrada da biblioteca (com elementos visualmente cativantes) para que os alunos se sintam motivados a entrar e a conhecer o espaço? Podemos até criar, por exemplo, uma mensagem de boas-vindas personalizada e positiva que os valorize!
📍 Também será interessante publicitar, na entrada e nos corredores da escola (vitrines/placares), as atividades, recursos e novidades da biblioteca. Mas atenção, é necessário criar, desde o início, um protocolo de atualização regular desses espaços…
📍 E que tal levarmos a biblioteca para “fora da biblioteca”:
preparando pequenos eventos ou atividades nos espaços mais concorridos da escola (leituras encenadas, flash mobes…), atraindo a atenção dos alunos para a biblioteca…
distribuindo panfletos, marcadores de livros ou brindes relacionados com a biblioteca…
...
O espaço físico influencia e condiciona o comportamento de quem dele usufrui: um espaço acolhedor, organizado e confortável é muito mais estimulante e potenciador de uma fruição que facilitará a promoção de situações formais e informais de aprendizagem. Assim, para além dos aspetos mais funcionais da biblioteca, terá de existir um foco e um cuidado que permita transformar a biblioteca, em primeiro lugar, num espaço atrativo e proporcionador de bem-estar. Deve ainda ser um espaço flexível e multifuncional, facilmente adaptável a diferentes solicitações e valências.
Para que a biblioteca seja confortável e se constitua como um local aconchegante e esteticamente agradável, não é imprescindível que o seu mobiliário seja da última moda ou tenha sido recentemente adquirido. Para isso, é sobretudo necessário que seja um local vivido, acarinhado e diariamente observado e intervencionado:
📍 A informação disponível nos diferentes expositores continua atualizada e pertinente ou beneficiaria de uma alteração? Aqueles trabalhos produzidos pelos alunos do 4.º B não poderão dar lugar a nova exposição? Ou a um espaço em branco a aguardar o próximo contributo?
📍 Alguém colocou inadvertidamente um cartaz num espaço envidraçado e por lá continua por distração?
📍 A disposição do mobiliário é a mais funcional ou seria de recolocar esta ou aquela estante, reorganizar certa zona informal, adaptar uma mesa para constituir um espaço criativo…?
📍 Não serão excessivas algumas estantes, algumas mesas, algumas cadeiras? A flexibilidade de que necessitamos não exigirá que repensemos o mobiliário efetivamente necessário?
📍 Os títulos de estante e/ou de prateleira ainda estão de acordo com as sucessivas reorganizações da coleção que vai sendo necessário fazer à medida que esta se desenvolve? Continuam esteticamente agradáveis ou já caíram ao chão tantas vezes que estão danificados e com um aspeto deteriorado?
📍 Mantemos um fundo documental desajustado aos tempos de hoje, apenas porque vai ficando? Ainda são úteis aquelas cassetes VHS que ocupam duas estantes ou aquela enciclopédia que ninguém abre há cinco anos…?
📍 Os livros disponíveis estão todos em condições aceitáveis ou, sem nos apercebermos, foram ficando envelhecidos de tão manuseados? Temos um sistema de deteção sistemática de necessidades de intervenção e restauro fácil e simples que permita minimizar os efeitos do uso?
📍 Os expositores de periódicos têm periódicos verdadeiramente periódicos? Ou os exemplares mais recentes que disponibilizamos são contemporâneos da última vez que se abriu a enciclopédia de que falávamos acima?
📍 E os caixotes cheios de material da última Semana da Leitura (que certamente será reutilizado no final do ano letivo) não teremos forma de os colocar noutro espaço? Ou de os tornar discretos com alguma bricolagem associada?
📍 E a luz? Como a tratamos? Temos uma biblioteca luminosa ou deixamos corridos os estores, escurecendo o espaço e tornando a entrada pouco apetecível? Temos ecrãs que recebem diretamente a luz do sol, impedindo uma visualização mais confortável?
Estes são alguns detalhes que, em conjunto, contribuem para uma experiência de biblioteca obsoleta e pouco motivadora. Obviamente, nenhuma das bibliotecas escolares concentra em si todos os senãos que , mas estes são apenas alguns aspetos sobre os quais devemos refletir. Teremos algo a aperfeiçoar? 😉
A missão fundamental das bibliotecas é garantir o acesso a informação de qualidade (integridade da informação) e desenvolver competências que promovam os direitos humanos e A Nossa Agenda Comum.
No começo de um Novo Ano e perante os crescentes e novos ataques ao ecossistema de informação – por via de desenvolvimentos vertiginosos em IA generativa que ameaçam levar o discurso de ódio e a desinformação a patamares nunca experienciados – lembramos que a informação é importante para alcançar todas as liberdades fundamentais e, em especial, a paz, a justiça e a democracia (ODS 16). A Agenda 2030 reconhece-o ao considerar, na meta 16.10 relativa à Paz, a importância de “Assegurar o acesso público à informação e proteger as liberdades fundamentais, em conformidade com a legislação nacional e os acordos internacionais”.
2. Nova definição da paz
Neste contexto, a Rede de Bibliotecas Escolares destaca a Recomendação sobre Educação para a Paz, os Direitos Humanos e o Desenvolvimento Sustentável [2] adotada na Conferência Geral da UNESCO e que estabelece uma nova compreensão da paz que “não requer apenas a ausência de guerra ou de conflitos armados, mas também um processo inclusivo, democrático e participativo”, que contribua ativamente para o cuidado por nós próprios e pelos outros e pelo planeta (UNESCO, 2023, p. 2). Esta abordagem leva cada pessoa/comunidade a compreender e a assumir as suas responsabilidades/deveres na prevenção de conflitos, violência, discurso de ódio.
3. Educação para um futuro pacífico
A educação molda a forma como o ser humano compreende e se relaciona com o mundo e é o caminho mais eficaz para construir uma paz duradoura e o desenvolvimento humano e sustentável.
A Recomendação baseia-se nas conclusões da Cimeira Transformar a Educação que considera que a educação/escola é um direito humano fundamental e um bem público que deve ser acessível a todos e permite construir um futuro pacífico e sustentável e no relatório Futures of Education que a precede e que reconhece que a educação/escola para se tornar relevante deve gerar progressos concretos na relação com o planeta, a sociedade e a paz - "as guerras começam nas mentes dos homens e das mulheres e é nas mentes dos homens e das mulheres que deve ser construída a defesa da paz" [3] (UNESCO, 2021, p. iii).
A educação inclusiva e de qualidade, em todos os seus contextos e formas (sala de aula/escola e informal/comunidade; desportiva, artística e científica…), ao longo da vida/contínua e envolvendo todos os seus atores, inclusive líderes locais e representantes de tradições, pode ser uma ferramenta tão importante para construir a paz como as negociações dos líderes políticos.
4. Educação Transformadora, Educação para o Desenvolvimento Sustentável e Educação para a Cidadania Global
A Recomendação reconhece que o alcance da paz resulta de um trabalho diário que deve envolver todos os setores da sociedade, requerendo uma abordagem interdisciplinar e colaborativa.
Interrelaciona-se com questões centrais como o desenvolvimento sustentável, as mudanças climáticas, o respeito pela diversidade, a igualdade de género e a literacia mediática e informativa.
A Recomendação destaca “o importante papel que os jovens podem desempenhar na prevenção e resolução de conflitos” (p. 2) e a importância de 3 formas de educação:
- Educação Transformadora: envolve contextos de aprendizagem cocriados com os jovens e “capacita para refletir criticamente, tornando-os agentes de mudança e protagonistas do próprio futuro” (UNESCO, 2023, p. 5);
- Educação para o Desenvolvimento Sustentável (ESD): capacita para “decisões informadas e ações responsáveis em prol da integridade ambiental, da viabilidade económica e de uma sociedade justa, para as gerações atuais e futuras, no respeito pela diversidade cultural" (UNESCO, 2023, p. 5);
- Educação para a Cidadania Global (GCED - Global Citizenship Education) – “inclui a educação para a paz e os direitos humanos, bem como a educação intercultural e a educação para a compreensão internacional” (UNESCO et al, 2015, p. 49) [4].
Segundo os representantes do movimento A Carta da Terra, a Recomendação está alinhada com as metas 4.7, 12.8, 13.3 e 16 da Agenda 2030 [5].
5. Competências para construir a paz duradoura
Para além de promover uma “base sólida de literacia e numeracia”, a escola/educação deve contribuir para o desenvolvimento de competências como o “Pensamento analítico e crítico: capacidade de questionar normas, práticas e opiniões” e “compreender sistemas complexos e ambientes multiculturais (…) e dinâmicas de poder” e a “Literacia mediática e da informação, comunicação e competências digitais”:
“capacidade de procurar, aceder, avaliar criticamente, produzir, utilizar e divulgar eticamente informações e conhecimentos através de vários canais e tecnologias. Implica também ser resiliente, ser capaz de detetar e combater a desinformação e a informação incorreta, o discurso de ódio, todas as formas de violência (…), compreender os seus direitos e responsabilidades em linha e fora de linha e participar em ambientes digitais de uma forma segura, eficaz, criteriosa e respeitadora que reforce a segurança digital e proteja a privacidade” (UNESCO, 2023, p. 6).
O documento destaca outras competências como:
- “Antecipação: capacidade de atuar como agente de mudança e de avaliar e compreender as oportunidades e ameaças”;
- “Autoconsciência: capacidade de reconhecer e refletir criticamente sobre os seus valores, perceções e ações pessoais” e de “estar em paz consigo próprio, compreender e gerir as emoções, sentir e mostrar empatia e respeito pelos outros”;
- “Sentido de ligação e de pertença a uma humanidade e a um planeta comuns e diversos”;
- Cidadania e participação ética e responsável e
- “Resolução e transformação pacífica de conflitos”, contribuindo para a sua prevenção e mediação (UNESCO, 2023, p.
6. Princípios para construir a paz
A Recomendação adota 14 princípios para uma educação transformadora, de qualidade, holística e humanista e que promova a paz, dos quais se destacam:
- “Promover uma ética do cuidado e da solidariedade”;
- Reconhecer que “todos os alunos, sem discriminação, criam e cocriam ativamente o conhecimento” (aprendizagem centrada no aluno e participativa);
- Capacitar os indivíduos para a resolução de problemas na comunidade, “nomeadamente através dautilização ética e responsável de tecnologias”.
7. Nota conclusiva
Adotada na 42ª sessão da Conferência Geral, a Recomendação resultou de um intenso processo de consulta e participação, que incluiu um inquérito global e demorou 2 anos a ser redigida.
Trata-se de um documento não vinculativo, que representa uma aspiração da UNESCO, na qual Portugal está representado e que se destina a influenciar práticas e legislação, de forma a reimaginar e moldar um mundo mais sustentável, justo e pacífico.
Substitui a Recomendação de 1974 sobre A Educação para o Entendimento, Cooperação e Paz e Educação Internacionais Relativa aos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais.
Os 194 Estados Membros que adotaram a Recomendação apresentarão, de 4 em 4 anos, relatórios sobre a sua implementação ao Conselho Executivo da UNESCO.
UNESCO. (2023). Draft revised 1974 recommendation concerning education for international understanding, cooperation and peace and education relating to human rights and fundamental freedoms.https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000386924
O ‘Ano Internacional da Juventude: Participação, Desenvolvimento e Paz’, estabelecido em 1985, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, marca um momento decisivo na preocupação para com os direitos e as necessidades específicas dos jovens.
Desde então, para efeitos estatísticos nos diversos estudos que têm sido realizados – nos âmbitos da educação, emprego, saúde, etc., - a ONU entende como ‘jovens’ todos as pessoas entre os 15 e os 24 anos de idade (ONU, s.d.). No entanto, na ‘Convenção sobre os Direitos da Criança’, a mesma ONU define como “criança” todo/a aquele/a que tenha até 18 anos de idade – justificando-se esta extensão dilatada pelo intuito de estender a égide e proteção das Nações Unidas a um grupo etário o mais amplo possível.
Assim, os jovens entre os 15 e os 18 anos são abrangidos por ambos os estatutos. Efetivamente, esta faixa etária corresponde a uma fase de transição, na qual, em muitos países, não obstante não se possuir ainda a maioridade, são já reconhecidos um conjunto de direitos e deveres de cidadania.
Essa faixa etária corresponde ainda à frequência escolar do ensino secundário ou equivalente (com denominações diversas consoante as nações). Fase durante a qual se reconhecem, aos jovens, competências e capacidades decisionais para tomar um conjunto de opções relacionadas com a sua vida profissional, em articulação e sequência da sua vida escolar: concretamente, optar, por um ensino secundário de tipo científico-humanístico ou profissional; e, depois dele, seguir para estudos superiores ou diretamente para o mercado de trabalho, com ou sem passagem por alguma componente de formação.
Tais competências e capacidades decisionais deveriam, portanto, corresponder a escolhas autónomas e livres. Tal acaba, muitas vezes, por não acontecer, tendo em conta os diversos constrangimentos, socioeconómicos, regionais/ locais, familiares e outros, que se interpõem como obstáculos à autonomia dos jovens para decidirem sobre o seu futuro.
O programa Cientificamente Provável pretende constituir-se como um contributo para a diluição de obstáculos e o avigoramento das possibilidades de escolha dos e das jovens a respeito do seu futuro.
Estabelecido na charneira entre o Ministério da Educação e o da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, este programa visa oferecer o enquadramento para que as escolas – através das bibliotecas escolares - e as entidades de ensino superior acordem num conjunto estruturado de atividades que tenham como foco aumentar o esclarecimento dos/as jovens relativamente aos contextos que os/as esperam depois da escolaridade obrigatória, apoiando a sua agência relativamente à definição do seu futuro profissional.
Significativamente, as ‘recomendações’ do Relatório Mundial sobre Juventude (ONU, 2020) sugerem a inclusão de conhecimentos e competências na área do empreendedorismo nos curricula escolares.
A questão é que não se pode esperar dos/as jovens uma autonomia que não estejam em condições de exercer. E no que respeito às decisões sobre o caminho pós-secundário, os obstáculos são, essencialmente, de duas ordens:
Contexto socioeconómico e familiar
A frequência de ensino superior implica despesa; e adia, por alguns anos, a possibilidade de ingressar no mercado de trabalho e auferir o correspondente salário. Nas famílias economicamente mais frágeis, este é um fator de peso, avolumado quando, por motivos geográficos, a distância à instituição de ensino superior implique grandes deslocações, ou mesmo residência temporária, fora da morada familiar.
Apesar de as estatísticas reiteradamente confirmarem que os níveis de rendimento auferidos por trabalhadores com o ensino superior se situam bastante acima dos que não possuem além do secundário, a diversidade de situações concretas e a persistência de informação incorreta a este respeito faz com que, em muitas famílias, se considere que o investimento em estudos superiores não compensa.
Pré-conceitos e receios associados ao ensino superior
O desconhecimento relativamente às instituições de ensino superior faz muitas vezes recear um ambiente hostil, elitista, ou um grau de exigência para o qual se considera não estar preparado/a. A expressão ‘a faculdade não é para mim’ ou ‘não é para o meu filho/ a minha filha’ denota, na sua vaguidade, a ansiedade de muitos/as jovens e das suas famílias relativamente à prossecução de estudos superiores.
Por outro lado, o desconhecimento quanto às saídas profissionais de cada área e curso, não permite aos/as jovens antever as suas possibilidades de construção de carreira; o que vem a acrescentar-se à volatilidade e instabilidade atual dos contextos laborais, relativamente aos quais se vulgarizou dizer que ‘a maior parte dos empregos do futuro ainda não foram inventados’ - o que naturalmente, só o futuro confirmará.
Informar, desmistificar e empoderar são, por todas estas razões, as palavras-chave que devem estar na mente dos/as professores/as bibliotecários/as que desenharem as iniciativas no âmbito do programa Cientificamente Provável: disponibilizar aos/as jovens informação e conhecimento sobre as áreas profissionais ao seu dispor; desmistificar o acesso e a frequência de níveis superiores de ensino, seja em que domínio for; e apoiarem os/as jovens no assumir das suas decisões.
Pela sua criatividade e agência, o papel dos/as jovens na construção de sociedades mais prósperas e desenvolvidas tem sido crescentemente reconhecido. Não é apenas por eles/as que a nossa preocupação comporta sensatez:
A participação e empoderamento da juventude são os principais impulsionadores do desenvolvimento sustentável e da paz em todo o mundo” (ONU, 2020).
Expressivamente, eles/elas têm sido chamados os/as “portadores de tochas” da Agenda 2030 (ONU, s.d.). Tais são as expectativas que devemos depositar na forma como assumem, com crescente seriedade, o papel de transformadores do seu, e nosso, mundo.
Referências
Organização das Nações Unidas. Centro Regional de Informação para a Europa Ocidental. (s.d.). Juventude.https://unric.org/pt/juventude/ Acedido a 18 de janeiro de 2024.
Muitos são os jovens que recorrem aos computadores para pesquisar informações, ampliar conhecimentos ou satisfazer curiosidades. Imaginem que um dia ao pesquisar no Google o resultado obtido é: desconheço ou dirige-te à biblioteca mais próxima e procura num livro.
Acharia estranho? Possivelmente!
Esta seria uma excelente oportunidade para nós, educadores, esclarecermos os mais jovens que existem algoritmos que “são desenhados para nos mostrar aquilo que queremos ver, as opiniões ou conteúdos de quem respeitamos”. Sabemos que o Google não tem dúvidas, apenas certezas. Infelizmente, alguns resignam-se e aceitam toda a informação disponibilizada na web. Afortunados dos que gostam de fazer perguntas, duvidar, pensar e testar, mas também daqueles que acreditam que a leitura desenvolve o “pensamento crítico”.
A informação e a desinformação (fake news) têm impacto nas nossas vidas, porque nos levam a tomar decisões. (…) Somos seguidores, seguimos influenciadores, influenciamo-nos com qual objetivo? Rimo-nos com vídeos virais, mas que vírus é este? Acreditamos em notícias sem pés nem cabeça, damos cabeçadas virtuais, cambalhotas emocionais, saltos mortais à retaguarda das palavras e, no final de tantas acrobacias, observamos a nossa própria solidão. Estamos mais ligados ou desligados do mundo que nos rodeia? Este livro acredita que é importante fazer perguntas e que as respostas não estão todas no Google. Que a vida não é um questionário de escolha múltipla. Que precisamos de tempo para pensar e para sentir. Que o mundo não é a preto e branco. E que um emoji, por muito fofinho que seja, é só um emoji.
Na preparação das atividades a desenvolver no âmbito do Dia da Internet Mais Segura, sugerimos hoje o livro Gosto, Logo Existo - Redes sociais, jornalismo e um estranho vírus chamado fake news, de Isabel Meira. É dirigido a jovens e a todos aqueles que se inquietam com as fake news, com o fenómeno das redes sociais, com os likes, com a “pegada digital” com o uso excessivo dos telemóveis, com os rumores, os boatos… a autora sublinha a importância de voltamos a pensar na famosa frase socrática “só sei que nada sei” para humildemente reconhecermos que ninguém sabe tudo sobre determinado assunto que e o que importa é ter disponibilidade para construir conhecimento, ampliar perspetivas, para nos questionarmos, duvidarmos, refletirmos e, desta forma, desenvolvermos o pensamento crítico que
a nossa ferramenta mais valiosa para alcançar um conhecimento mais profundo sobre a realidade em que vivemos e assim compreender a verdade (ou as várias verdades) que nos acompanham ao longo da vida.
Os nativos digitais estiveram, estão e estarão sempre em contacto com as tecnologias. Vivem ligados. Apreciam o número de likes e partilhas. Acreditam no número de amigos e abraçam uma felicidade ilusória. Os nativos digitais creem no imediatismo e na gratuitidade. Mais uma ilusão. O acesso gratuito é pago com os nossos dados: as nossas preferências literárias, futebolísticas, gastronómicas ou outras mais íntimas. É importante dar tempo ao tempo, pois este é precioso e mestre na arte de fazer, de pensar e de sentir. A nossa relação com o mundo deve ser “ponderada, atenta e crítica.” A informação fidedigna implica
recolher informações, fazer perguntas, comparar dados, fazer contas, verificar factos, reunir opiniões. Voltar a verificar factos… há investigações que demoram meses ou mesmo anos!
Gosto, Logo Existo - Redes sociais, jornalismo e um estranho vírus chamado fake news é um livro híbrido onde a informação, os factos históricos, a estatística e o questionamento se cruzam com uma narrativa apelativa e estimulante. Sem falsos moralismos, alerta o leitor para a valor do pensamento crítico, da liberdade e da privacidade. Uma verdadeira lição de literacia mediática.
Este é um livro para ler, refletir e dialogar. [1]
Este é um livro para divulgar!
[1] Nota: Recordamos as propostas metodolõgicas associadas a Leituras para refletir e dialogar:
por Ana Rio, Diretora do AE de Loureiro, Oliveira de Azeméis
A organização da Escola e dos tempos escolares está muito focada num currículo formal rígido, extenso e compartimentado, o que causa constrangimentos a todos os atores educativos. Alunos e professores vivem numa constante luta contra o tempo para fazer todas as aprendizagens, realizar todos os momentos de avaliação, obter bons resultados nas provas de avaliação externa.
O Agrupamento de Escolas de Loureiro identificou a Biblioteca como um vetor importante no desenvolvimento de políticas de autonomia e flexibilidade curricular que visam um currículo mais articulado e integrado. O nosso Projeto Educativo reconhece as bibliotecas escolares como polos de aglutinação, articulação e dinamização de diferentes tipos de iniciativas e identifica-as como oportunidades de integração de projetos desenvolvidos na escola nas atividades letivas. Neste documento de política educativa do agrupamento, considera-se que
A biblioteca favorece a educação inclusiva e enriquece os contextos e as estratégias de ensino e de aprendizagem, promovendo o desenvolvimento das literacias essenciais ao exercício de uma cidadania plena.
Esse desígnio pressupõe a existência de uma liderança da Biblioteca que se caracteriza pelo dinamismo, que aposta na proximidade e que está articulada com a direção, com os líderes das estruturas de orientação educativa e com os coordenadores das escolas. O coordenador da Biblioteca é reconhecido por todas as crianças e alunos do agrupamento e os docentes das várias áreas disciplinares assumem-no como um parceiro no desenvolvimento dos seus projetos.
O contexto de trabalho que criámos para o coordenador da Biblioteca é de grande autonomia para desenvolver atividades que se articulam com as disciplinas e com os projetos e clubes do agrupamento. Da parte da direção há uma total abertura e espírito de apoio e colaboração.
A título de exemplo, apresentam-se algumas atividades que têm sido desenvolvidas:
Currículo, literacias e aprendizagens - trabalho desenvolvido com as turmas do 3.º ao 7.º ano de escolaridade, através de sessões de formação, especialmente em articulação com a Cidadania e Desenvolvimento nos seus vários domínios.
Leitura e escrita - trabalho desenvolvido com todos os níveis de ensino através dos projetos Hora do Conto, 10 Minutos a Ler, Clube de Leitura e sessões de escrita.
Projetos e parcerias - são lançados desafios oriundos de entidades externas para todos os níveis de ensino, sendo de destacar a colaboração regular dos docentes dos Departamentos de Primeiro Ciclo, Línguas, Expressões, Ciências Sociais e Humanas e Matemática e Ciências Este ano, destacam-se as iniciativas Concurso Interconcelhio de Leitura, Campeonato de Ciência e Escrita Criativa, Campeonato PesquisOAz, Intercâmbio Internacional de Marcadores de Livros, Abril depois de Abril, Histórias da Ajudaris, Miúdos a Votos, 7 Dias com os Media e Media@ção.
Ana Rio Diretora do AE de Loureiro, Oliveira de Azeméis
Tenho falado frequentemente sobre o impacto da IA nos profissionais da informação e, até há pouco tempo, centrava-me sobretudo nas ferramentas de IA generativa de uso geral, como o ChatGPT e o Claude.ai, e nos chatbots de pesquisa, como o Google Bard e o Perplexity.ai. Sim, os chatbots de uso geral são ótimos para resumir texto e redigir correspondência comercial (veja, por exemplo, o que obtém quando lhe pede para escrever uma carta de um diretor de biblioteca a pedir um aumento de financiamento). E os chatbots de pesquisa fazem um bom trabalho ao agregar os principais resultados de pesquisa num resumo coeso.
No entanto, a minha perspetiva mudou quando me deparei com um novo conjunto de ferramentas de IA, incluindo o PDF.ai e o ChatDOC, que permitem carregar um documento e utilizar uma interface do tipo ChatGPT para fazer perguntas ao documento e obter respostas precisas, perspicazes e sensíveis ao contexto.
Por exemplo, pode carregar o registo anual 10-K de uma empresa junto da Comissão de Títulos e Câmbio dos EUA e fazer-lhe perguntas como: "Em que é que esta empresa gastou mais dinheiro?" ou "Quanto dinheiro é que esta empresa ganhou com o seu produto mais vendido?". Se tiver um manual do utilizador de um produto ou um manual do trabalhador extenso, pode fazer-lhe uma pergunta sobre a sua situação ou problema específico e ser encaminhado para o local específico do documento que aborda o problema. Pode até pegar num trabalho de investigação e perguntar-lhe qual o aspeto mais interessante das conclusões.
A maior parte destas ferramentas que permitem uma interação dinâmica com os documentos estão disponíveis para um período de teste gratuito e depois custam menos de 30 dólares por mês. Naturalmente, a primeira pergunta que qualquer profissional da informação fará é o que acontece aos ficheiros que são carregados para qualquer uma destas ferramentas de IA: Se carregar um documento confidencial ou interno, este é guardado na plataforma ou utilizado para treinar o chatbot? Muitos dos serviços que investiguei afirmam que não retêm o documento no seu armazenamento na nuvem, embora possa querer consultar as políticas de privacidade específicas do seu serviço preferido.
Embora a possibilidade de ter uma interação dinâmica com um documento possa ser uma verdadeira poupança de tempo, uma bibliotecária catalogadora indicou recentemente uma utilização específica para estas ferramentas. Descreveu uma coleção especial de relatórios na sua biblioteca que não tinha sido adequadamente catalogada e questionou se poderia utilizar uma ferramenta de IA generativa para criar registos de catalogação para o material. À medida que falávamos, apercebi-me de que estas ferramentas para criar documentos interativos podiam ser utilizadas de uma forma ainda mais poderosa, saltando a etapa de identificação de um documento específico e levando o utilizador diretamente para uma conversa com toda a coleção especial de uma só vez. Os metadados e a catalogação só levam o utilizador até certo ponto, e mesmo a pesquisa em texto integral nem sempre oferece um acesso significativo à informação certa que responde às necessidades do utilizador. A possibilidade de conversar com o conteúdo, fazendo-lhe perguntas que só podem ser respondidas através da análise e síntese de todo o conteúdo consultado, pode revolucionar a forma como fornecemos acesso à informação aos utilizadores.
Lembrei-me de quando fui apresentado ao HyperCard no final da década de 1980. Já nessa altura, esse programa de base de dados baseado em Mac permitia hiperligações dentro de um documento, bem como com outros documentos no mesmo computador. Nessa altura - quando a única forma de navegar no conteúdo da Internet era através de ferramentas simples como o Gopher, o FTP e o Telnet - tive dificuldade em compreender a ideia de como estas hiperligações iriam transformar a descoberta de informação, como os primeiros utilizadores prometiam. Parece que nos encontramos num ponto de inflexão semelhante com os documentos interativos. Temos acesso a novas ferramentas que nos permitem descobrir ideias e explorar dados de formas inovadoras e muito mais eficientes. Estamos apenas a começar a ver os casos de utilização desta tecnologia.
Uma das melhores formas de explorar as possibilidades dos documentos interactivos no seu contexto pode ser desenvolver uma plataforma de IA generativa para os seus utilizadores e ver o que eles conseguem fazer (e obter apoio para financiar uma ferramenta empresarial robusta na sua organização). Identifique alguns exemplos de relatórios ou outros documentos que seriam relevantes para os seus utilizadores e subscreva algumas das ferramentas para conversar com esses documentos. Pergunte aos seus utilizadores quais são os seus maiores obstáculos na procura e organização de informação e incentive-os a pensar de forma abrangente sobre onde estas novas ferramentas podem ser utilizadas para resolver os seus desafios de informação. Seja paciente; tal como eu demorei muito tempo a perceber o valor das hiperligações quando as vi pela primeira vez, os pesquisadores, investigadores e analistas vão demorar algum tempo a descobrir a melhor forma de incorporar documentos inteligentes no seu fluxo de trabalho de informação. Como profissionais da informação, podemos liderar esta conversa e defender ferramentas que possam transformar o panorama da informação.
O texto deste artigo foi traduzido e publicado com a autorização de InformationToday: