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Blogue RBE

Qui | 18.09.25

Bibliotecas Escolares fazem a diferença

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O início do ano letivo faz-nos repensar a biblioteca escolar e os aspetos que fazem com que ela seja diferenciadora, significativa e transformadora para os alunos e suas comunidades. 

Este artigo tem em conta elementos-chave - e mitos - sobre a biblioteca escolar: o lugar, os livros e conteúdos, os serviços e atividades, o posicionamento ético e a advocacia. Apresenta ainda sugestões para a tornar mais visível e relevante. 

A imagem que o ilustra corresponde à Biblioteca da Escola Secundária Scotts Ridge de Connecticut (EUA), nomeada Biblioteca Escolar Nacional do Ano de 2025 pela AASL (American Association of School Librarians). Nas palavras da sua representante:

“Acreditamos que as bibliotecas escolares são um santuário para a leitura, a descoberta, a assunção de riscos e, mais importante ainda, a conexão. A cultura de “Fail Forward” (Falhar para Avançar) da aScotts Ridge estimula a criatividade e a curiosidade colaborativa, beneficiando os nossos alunos e  funcionalidade citação. Seacelerando a aprendizagem” [2].

1. O lugar 

“A biblioteca é um espaço público, aberto a todos e onde as pessoas não precisem de justificar a sua presença” [3]. 

Isto significa que há um número significativo de pessoas que a procuram para estar, (con-)viver e habitar, desenvolvendo em relação a ela um sentido de propriedade, de pertença. 

Isto só é possível quando este lugar se constrói com as pessoas, a comunidade, a partir de experiências que os livros, o conhecimento e a cultura - que ele dispõe - proporcionam. 

Este lugar permite que as pessoas tomem consciência e afirmem a sua identidade, se desenvolvam, convivam e interajam com informações e conteúdos, experiências e outras pessoas e vidas diferentes, tendo uma experiência física de democracia e ação conjunta e construindo um sentido de comunidade.  

2. Os livros e conteúdos 

A biblioteca proporciona o acesso a recursos e experiências, físicas e digitais, “que informam, entretêm, consolam, desafiam e inspiram as pessoas, fazendo com que se sintam representadas. Isto significa disponibilizar tudo, desde arte, música e eventos até, claro, livros. A biblioteca também deve criar oportunidades de maravilhamento e admiração. Atender a toda a gama de emoções e necessidades através de conteúdos envolventes, diversificados e acessíveis [e através da forma como estes são apresentados] é central numa biblioteca moderna” [3].

2.1 Ambiente de informação saudável

A biblioteca proporciona um ambiente de informação saudável, disponibilizando uma rica oferta de informações para todos e uma equipa de profissionais com competências e curiosos, prontos para valorizar e procurar conhecimento diversificado, confiável e rigoroso. Por isso, a regulação dos media criados pelas grandes empresas de tecnologias, que amplificam conteúdos irrelevantes ou prejudiciais, não é suficiente, são necessárias políticas de apoio às bibliotecas.

2.2 Agência

Para além de ser lugar para reflexão silenciosa a partir de livros e outras fontes, a biblioteca ativa o conteúdo dos livros, trabalhando diligentemente com a sua informação e dados para impulsionar o conhecimento científico, que se transforma em resultados do mundo real. A biblioteca é lugar de ação, dinamismo e participação. 

3. Os serviços e atividades 

A biblioteca deve disponibilizar um conjunto de serviços que respondam às necessidades e expectativas das comunidades que serve e criar um ambiente de diversidade e inclusão que reúna, num mesmo lugar, pessoas com diferentes necessidades e expectativas. Para o efeito, deve escutar atentamente as comunidades e trabalhar em parceria no desenvolvimento dos seus serviços. 

3.1 Parcerias

A biblioteca não é um espaço sagrado, nem os seus profissionais são salvadores que podem sozinhos fazer tudo o que ela exige. A autossuficiência da biblioteca é um mito. A biblioteca é, a priori, uma rede em expansão

Formar parcerias é uma forma de aumentar o nosso impacto. Podemos orgulharmo-nos das contribuições que trazemos para as parcerias – as nossas competências, os nossos espaços, as nossas coleções, os nossos valores – enquanto celebramos o quanto elas podem ir mais longe quando combinadas com o que os outros podem trazer” [4]. Quando a biblioteca se limita a confiar em si própria diminui o seu alcance e estagna

4. Os valores que fundamentam o acesso equitativo à informação e à cultura

A biblioteca toma decisões a partir das necessidades da sua comunidade e de um conjunto de valores e princípios éticos universais, como inclusão, equidade e diversidade, acesso aberto à informação, agência, responsabilidade social e veracidade. 

A biblioteca adota um compromisso com a diversidade de pontos de vista (dando voz a opiniões e atores marginalizados), a inclusão, o acesso equitativo e a integridade da informação, não permitindo conteúdos discriminatórios e não apoiando todas as opiniões indiscriminadamente

No passado “Muitos grupos não sentiam – e talvez ainda não sintam – que a biblioteca é um lugar para eles”, pelo que é necessário “refletir de forma muito mais crítica sobre se as nossas atividades são realmente acessíveis e acolhedoras para todos. Isso pode significar muitas coisas, desde pensar na forma como os nossos edifícios e serviços são projetados” [4], até às práticas de curadoria, aos livros e a outras fontes de informação. Este aspeto é tanto mais sensível quanto “em algumas partes do mundo, há crescentes esforços para politizar as bibliotecas e seus acervos, atacando-as por armazenarem livros que não se encaixam na visão individual” [4].

Por estes motivos, “Quando as bibliotecas afirmam ser neutras, ignoram a realidade de que cada decisão sobre a coleção e que cada interação de referência ou cada programa oferecido é uma escolha. A verdadeira neutralidade é um mito [“não é neutra” [4], corresponde a uma decisão não expressa de dar visibilidade às vozes mais poderosas] que corre o risco de minar os princípios de inclusão, equidade e verdade que as bibliotecas aspiram defender. (…) embora tradicionalmente se defenda que a biblioteca deve ser ‘neutra’ e aberta a todas as ideias e opiniões, na prática essa neutralidade absoluta é impossível e até arriscada” [4].

5. Advocacia 

O responsável pela biblioteca deve dar visibilidade e marcar presença, física e digital, em todos os setores e atividades da vida pública e não apenas na educação e cultura, por muito que se canse de ouvir, “Não esperava encontrar alguém das bibliotecas aqui” [5]…

“Como o trabalho em torno das bibliotecas e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável sublinhou, as bibliotecas têm um papel a desempenhar em muitas áreas diferentes onde os governos e outros dirigentes estão a tentar fazer a diferença na vida e nas sociedades” [5].

As bibliotecas são fundamentais para a concretização de políticas públicas e a construção do futuro. “O desafio, então, é fazer com que stakeholders de outras áreas sintam o mesmo” [5] e, espontaneamente, pensem nelas como parceiros.

Exemplos de ações que os profissionais das bibliotecas podem pôr em prática:

  1. “Ser aventureiro, ir a conferências e reuniões organizadas por terceiros nas quais acredita que as bibliotecas devem ser reconhecidas. Não basta apenas participar dos nossos próprios eventos profissionais! Leve folhetos, vista T-shirts ou sweatshirts [da biblioteca], faça perguntas, certifique-se de que o maior número possível de pessoas ouve a palavra ‘bibliotecas’” [5].

  2. “Ser envolvente. Não se limite a dizer coisas às pessoas; peça-lhes que pensem por si mesmas sobre como se imaginam trabalhando com bibliotecas ou como as bibliotecas podem apoiá-las a atingir seus objetivos. Se estiverem com dificuldades, amplie a pergunta – pergunte-lhes a importância da informação e do conhecimento” [5].

  3. “Encontrar defensores. Pode ser poderoso trazer pessoas de fora da biblioteca para (bons) eventos sobre bibliotecas, ou simplesmente pedir que escrevam um artigo ou blog” [5]. 

A regularidade com que o faz determina a eficácia destas ações e o reconhecimento da biblioteca. 

Por fim, abra a porta da biblioteca, durante o maior tempo possível e deixe entrar e estar os leitores. 

 

Referências

  1. Fonte da imagem. The News-Times. (2025, jun . 19). https://www.facebook.com/photo/?fbid=1115570590592233&set=a.644479237701373
  2. AASL. (2025). National School Library of the Year Award. https://www.ala.org/aasl/awards/nsly
  3. Laitio, T. (2024, Oct. 8). The Library Stool. https://tommilaitio.substack.com/p/the-library-stool
  4. IFLA. (2024, Oct. 31). Return of the zombie library myths. Library Policy and Advocacy Blog. https://blogs.ifla.org/lpa/2024/10/31/return-of-the-zombie-library-myths/
  5. IFLA. (2024, Oct. 30). You belong: libraries, advocacy and imposter syndrome. https://blogs.ifla.org/lpa/2024/10/30/you-belong-libraries-advocacy-and-imposter-syndrome/

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0