Planificar para fazer acontecer

Planificar é fundamental. No início do ano letivo, a biblioteca escolar tem diante de si muitas ideias, vontades e projetos. É neste momento entusiasmante que parar um pouco para organizar o pensamento faz toda a diferença: perceber o que faz mais sentido, o que é prioritário, onde queremos chegar. Esse momento de planificação dá-nos clareza, ajuda a definir caminhos e garante que, ao longo do ano, sabemos para onde estamos a ir.
Por outro lado, é importante ter presente que este ponto de partida não é igual para todos nós: não será a mesma coisa ser um professor bibliotecário que dá continuidade ao trabalho de ano(s) anterior(es) ou alguém que chega agora a uma nova escola. As ações e decisões a tomar vão, naturalmente, variar consoante a experiência e o contexto de cada um.
Além disso, sobretudo se falarmos de um agrupamento de escolas com mais do que um professor bibliotecário, é necessário lembrar que este processo só é eficaz se for feito em equipa. É preciso sentar todos à mesma mesa, ouvir todas as vozes e pensar em conjunto. Cada biblioteca tem a sua identidade, os seus desafios e o seu contexto e é importante que isso seja valorizado e assumido no trabalho, mas, ao mesmo tempo, há pontos em comum que podem e devem ser reforçados e trabalhados de forma articulada.
É neste equilíbrio entre o que une e o que distingue as diferentes bibliotecas que o plano anual de atividades das bibliotecas do agrupamento ganha consistência e deixa de ser um mero documento para se tornar a bússola que nos acompanhará ao longo do ano e que vai evitar que nos percamos, dar-nos foco e até abrir espaço para experimentarmos coisas novas.
Tudo começa antes
Antes de elaborar o plano anual, há todo um trabalho silencioso, mas essencial. É preciso olhar para trás, avaliar o que resultou e ouvir a comunidade escolar. Recolher ideias e necessidades, alinhar intenções com o projeto educativo e não esquecer que é missão da biblioteca contribuir para o seu sucesso.
Muitas vezes, repetimos atividades que já fazem parte da rotina da escola e da biblioteca, porque estão enraizadas e são esperadas por todos. Mas convém perguntar: continuam a fazer sentido? Estão mesmo a contribuir para os objetivos que queremos alcançar? É nesse tempo de observação e de diálogo que encontramos pistas valiosas para decidirmos o que manter, o que ajustar e o que pode ser inovado.
Convém também recordar o Modelo de Avaliação da Biblioteca Escolar, da Rede de Bibliotecas Escolares. Conhecê-lo bem é meio caminho andado para tomar decisões mais certeiras. Os fatores críticos de sucesso funcionam como lista de verificação: que ações já temos em marcha? O que ainda precisa de ser reforçado? E que aspetos continuam por explorar?
Outro ponto essencial: o plano anual de atividades deve integrar as ações de melhoria que foram definidas na sequência da avaliação da biblioteca escolar realizada em 2024/2025. Só assim garantimos que não andamos em círculos e que o plano avança de forma sólida, alinhado com as prioridades da escola e com as orientações da Rede.
Ainda nesta fase preparatória, também é importante trazer para a conversa as prioridades definidas pela Rede de Bibliotecas Escolares para o ano letivo. Estas prioridades funcionam como linhas orientadoras que ajudam a enquadrar as escolhas e a dar sentido ao que planeamos. Ao tê-las presentes desde o início, garantimos que o trabalho da biblioteca não se faz isolado, mas em sintonia com uma visão mais ampla, partilhada a nível nacional.
Outro ponto a considerar são os resultados da avaliação externa do agrupamento ou da escola não agrupada. Compensa olhar para eles com atenção e perguntar: de que forma podemos contribuir para melhorar esses indicadores? Também no último ano tivemos a avaliação nacional da fluência leitora no final do 2.º ano de escolaridade. Conhecendo os resultados obtidos pelos alunos da escola, temos a oportunidade de nos envolvermos ativamente na implementação de um plano que ajude a corrigir fragilidades e apoiar o progresso dos alunos.
Ainda antes de passar à seleção de atividades, é útil revisitar os recursos de apoio da Rede de Bibliotecas Escolares: Aprender com a Biblioteca Escolar, o Manual Instruções para a Literacia Digital, as práticas já partilhadas por outras escolas… tudo isto pode ser fonte de inspiração e dar novas ideias para enriquecer o plano anual.
Antes de avançar, convém também rever as diferentes dinâmicas sugeridas pela Rede e pensar até que ponto fazem sentido para o nosso contexto. A oferta é vasta, por isso importa escolher com critério o que realmente acrescenta valor e vai ao encontro dos objetivos a que nos propomos atingir.
Um plano com corpo
Depois deste percurso de reflexão e preparação, chega a altura de transformar as nossas reflexões em decisões concretas. É o momento de selecionarmos e desenharmos as atividades que vão dar corpo ao plano anual, garantindo que cada proposta tem um propósito claro e está alinhada com os objetivos que respondem às prioridades da escola, da comunidade e da Rede de Bibliotecas Escolares.
O primeiro passo é definirmos objetivos bem definidos, mensuráveis e adequados ao público-alvo e ao contexto, de acordo com o que priorizámos na fase anterior. Esses objetivos devem orientar a seleção e o desenho do que vamos concretizar.
As atividades não devem surgir como uma mera listagem desarticulada. Devem ser pensadas de forma integrada, em ligação clara com os objetivos definidos e com os fatores críticos de sucesso. Isso significa que cada atividade precisa de ter uma razão de ser: contribuir para o que queremos alcançar, responder a necessidades identificadas e mostrar de forma evidente o seu impacto. Devem ser específicas, bem delimitadas e, sempre que possível, acompanhadas de uma breve descrição que explique o seu propósito, evitando generalidades como “Comemoração de efemérides” ou “Encontro com escritores”.
Devemos também pensar num programa de leitura que promova competências, gosto e hábitos, bem como um programa consistente de literacias da informação e dos media. Estas linhas estruturantes dão consistência ao plano e permitem que as atividades não se dispersem.
Sempre que possível, convém indicarmos o público concreto (anos, turmas), os responsáveis e a calendarização. Estes elementos tornam o plano mais operacional, concreto e fácil de acompanhar.
Antes de fechar
Até aqui falámos de refletir, preparar e concretizar. Mas, antes de darmos o plano por concluído, há três aspetos que não podemos deixar de acautelar.
Avaliação e acompanhamento: precisamos de pensar, desde o início, como vamos monitorizar o que está planeado. Quem acompanha? Como recolhemos evidências? Que indicadores vamos usar para perceber se estamos a avançar na direção certa?
Articulação: nenhuma biblioteca é feliz sozinha. Devemos estar ligados a todas as outras estruturas e projetos da escola, como direção, departamentos, clubes, associações de pais e parceiros locais. Só assim o nosso trabalho ganha força e relevância para toda a comunidade.
Flexibilidade: por mais que planeemos, o ano letivo traz sempre novidades, imprevistos e oportunidades. O plano anual deve ser sólido, mas também suficientemente aberto para podermos ajustar o rumo sempre que for necessário.
Ter estes três pontos presentes ajuda-nos a encarar o plano não como um documento fechado, mas como uma ferramenta dinâmica, que cresce connosco ao longo do ano.
Vitória, Vitória, acabou-se a história?
Terminado o exercício de planificação, não podemos arrumar o plano numa gaveta (submetê-lo na área de trabalho das bibliotecas escolares do portal RBE) e esquecermo-nos dele!
Ao longo do ano, é importante revisitá-lo, verificar se estamos a cumprir o que definimos e perceber se é preciso ajustar alguma coisa. O plano é um guia para o nosso trabalho diário e só faz sentido se for usado como tal. Devemos trazê-lo para as reuniões, cruzá-lo com as necessidades que vão surgindo e fazer dele uma referência constante. Só assim garantimos que a biblioteca escolar caminha de forma coerente e estratégica, sem perder de vista os objetivos a que nos propusemos.
E há ainda um último ponto: a comunicação e a partilha. Um bom plano só cumpre totalmente a sua missão se for conhecido e sentido por toda a comunidade. Devemos encontrar formas de o divulgar dentro da escola, envolver professores, alunos e pais, e dar visibilidade ao que vamos concretizando. Partilhar práticas e resultados com a Rede alargada é também uma forma de inspirar e de aprender com os outros.
E não esqueçamos: ao longo de todo este processo podemos e devemos contar com as sugestões do coordenador interconcelhio da Rede de Bibliotecas Escolares. Pedir a sua colaboração é sempre uma mais-valia, já que está disponível para acompanhar, orientar e apoiar as nossas decisões.