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Blogue RBE

Ter | 18.02.25

Porque precisamos de bibliotecas mais do que nunca

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O título desta reflexão tem como base um texto de opinião do website “MuseumNext®” intitulado Why We Need Museums Now More Than Ever — The Importance of Museums, por Rebecca Carlsson. (1)

Os argumentos apresentados aplicam-se ao nosso universo: as bibliotecas escolares. De facto, museus e bibliotecas têm um tronco comum, desde logo serem instituições consideradas credíveis pelo público, albergando acervos que preservam e catalogam e selecionando e disponibilizando património cultural que engloba inúmeras áreas do conhecimento.

A responsabilidade de quem toma a seu cargo uma biblioteca escolar acresce, considerando o seu público-alvo – crianças e jovens em processo de formação pessoal, uma fase decisiva para a aquisição de valores como liberdade e responsabilidade, equidade, diversidade e inclusão, aprendendo a colaborar e a participar, a caminho de uma cidadania plena. (2)

Carlsson remete para o papel fundamental das instituições culturais nos tempos conturbados em que vivemos, considerando-as verdadeiras “âncoras na tempestade”.

A defesa desta asserção está nos vários os domínios da nossa sociedade (IFLA -  Estratégia para 2024-2029): trabalhar em conjunto para assegurar futuros sustentáveis para todos, através do conhecimento e da informação. (3)

Urge informar, refletir, agir e transformar, recuperando a paz social, reforçando a solidariedade e a tolerância, criando pontes e assegurando o direito inalienável à verdade dos factos e ao livre-arbítrio.

Aprender com o passado

O conhecimento da História contribui para a compreensão dos acontecimentos que conduziram à atualidade e dá-nos uma perspetiva do caminho percorrido pela humanidade, nas suas conquistas, no seu esplendor, nos seus momentos admiráveis, mas também nas suas misérias, nas suas tragédias, nos seus momentos sombrios. A nossa espécie, capaz do melhor e do pior, não cessa de nos surpreender, pela positiva ou pela negativa.

Apesar da impossibilidade de atingir um nível de objetividade e fidelidade absolutos quanto ao estudo do passado, não será, de todo, avisado, encobrir, desacreditar ou desvirtuar acontecimentos devidamente documentados.

Seria como tentar construir ‘a casa comum’ a partir do telhado. Facilmente se adivinha o que acontecerá a uma sociedade que acredite nesta solução como uma possibilidade viável…

Sem a preservação e o respeito pela memória, ficaremos vulneráveis a toda e qualquer versão dos acontecimentos e a ‘verdade’ torna-se algo tão instável e imprevisível como uma folha esvoaçando, à mercê do vento.

Compreender o presente

Ser professor hoje acarreta, talvez, um dos maiores desafios de sempre, desde a massificação e a democratização do ensino.

Com as dificuldades e os obstáculos conhecidos, a docência é uma carreira pouco atrativa para os jovens candidatos ao mercado de trabalho. Sucessivas políticas de redução de custos em educação têm causado graves problemas a todo o sistema, que engloba os recursos humanos e materiais necessários ao funcionamento das bibliotecas escolares, o ‘coração’ da construção do conhecimento na escola.

Contudo, um bom desafio pode constituir um catalisador para a ação. Há que assumir um papel transformador e de liderança, pois os nossos alunos encontram-se hoje sem mecanismos de defesa perante a manipulação da informação (desinformação/ notícias falsas) por parte dos gigantes da world wide web, apoiados pelo poder em roda livre e pelo desejo desenfreado de obtenção de lucros astronómicos.

As redes sociais, tão amplamente utilizadas por crianças e jovens, carecem de regulação adequada, que, cada vez mais, será difícil implementar com a devida segurança, devido aos inesgotáveis algoritmos da Inteligência Artificial, que comprometem valores que defendemos enquanto sociedade.

As bibliotecas escolares têm agora um papel decisivo no acompanhamento dos alunos, ajudando-os a distinguir o trigo do joio e a criar bases sólidas para uma cidadania responsável, formados e informados e capazes de ler nas entrelinhas e desmontar as promessas vãs de quem não tem qualquer intenção de lhes proporcionar uma vida digna e promissora, lutando contra a tendência para o fenómeno de ‘desligamento’ a que alguns chamam “condição sonâmbula”. (4)

Perspetivar o futuro

Marina Hyde, colunista do jornal britânico The Guardian, no seu artigo No, the kids are really not all right. Honestly, can you blame them? (5), alerta para fenómenos como as altas percentagens de jovens e adultos, sobretudo a geração Z, que tende a defender regimes políticos baseados em figuras ‘fortes’ que liderem o país sem passarem por escrutínios ou responderem a um parlamento eleito democraticamente. Mostram-se favoráveis ao incremento das forças armadas, esquecendo o facto de serem eles próprios a engrossar as fileiras… Ao mesmo tempo, cada vez mais jovens participam em distúrbios racistas ou extremistas, sem terem, realmente, convicções de qualquer natureza.

O que tem corrido mal? Onde falhámos? Que hipóteses existem ainda para obviar a males maiores?

Hyde atribui grande quota-parte de responsabilidade às gerações anteriores, os que têm comandado os destinos do mundo geopolítico. Cegos a tudo o que não seja poder e riqueza, governos alegadamente bem intencionados sucedem-se, ‘gerindo’ o bem comum com displicência e pouca seriedade, sem pudor ou ética.

Os resultados estão à vista de todos. A cor do dinheiro impera, os valores definham e empurram-se os problemas globais para a geração seguinte. Até quando será esta situação sustentável?

Referências

  1. Carlson, R. (2024). Why We Need Museums Now More Than Ever — The Importance of Museums. https://www.museumnext.com/article/why-we-need-museums-now-more-than-ever/
  2. Rede de Bibliotecas Escolares. (2021). Bibliotecas Escolares: presentes para o futuro. Programa Rede de Bibliotecas Escolares: Quadro estratégico: 2021-2027. https://www.rbe.mec.pt/np4/qe.html 
  3. IFLA. (2024). IFLA Strategy 2024-2029.  IFLA Publications. https://repository.ifla.org/server/api/core/bitstreams/c4471267-0bbe-4499-9ee1-293be9420bbd/content 
  4. Guerreiro, A. (2025, 7 de fevereiro). A condição sonâmbula. Público. https://www.publico.pt/2025/02/07/culturaipsilon/opiniao/condicao-sonambula-2121208 
  5. Hyde, M. (2025). No, the kids are really not all right. Honestly, can you blame them? The Guardian. https://www.theguardian.com/commentisfree/2025/jan/28/generation-z-dictators-better-than-democracy-uk

📷 Imagem de pencil parker por Pixabay (adaptada).

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0