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Blogue RBE

Sab | 02.07.22

Oceanos: Mudar competências para agir

2022-07-02 Literacia oceanica para todos (1).png

O Oceano tem importância decisiva na regulação do clima, economia, saúde e bem-estar do ser humano e planeta e cobre 71% da Terra. Por isso, o escritor Arthur C. Clarke diz, “Que impróprio chamar Terra a este planeta de Oceanos!” [1].

Não obstante esta interdependência vital, o ser humano é responsável por uma crescente degradação física e poluição dos Oceanos, gerada por legislação, gestão e comportamentos irrefletidos, que visam obtenção de lucro particular e momentâneo. Trata-se de uma visão economicista que pensa o Oceano como recurso ou instrumento e não fonte de vida global, da qual o ser humano é parte.

2022-07-02 micropasticos na placenta.pngMicroplásticos encontrados na placenta [2].

Porque a aprendizagem oceânica raramente fez parte dos currículos e aprendizagem formal, cientistas e educadores trabalharam em conjunto e criaram, em 2000, o conceito de literacia oceânica (LO) que começou por ser definido como compreensão da influência recíproca ser humano – Oceano, mas que, sobretudo a partir de 2017, tem âmbito alargado.

Da primeira Conferência do Oceano, organizada pelas Nações Unidas em 2017, resultou a Call for Action para o ODS 14 - Conservar e usar de forma sustentável os Oceanos, mares e recursos marinhos e a Ocean Literacy for All, da qual deveria resultar a aplicação de planos de apoio para fomentar a LO, que passaria a fazer parte dos currículos e a promoção de uma cultura de conservação, restauração e uso sustentável deste corpo de água global (modelo regenerativo).

Neste mesmo ano a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO lança o manual, Ocean Literacy for All: A toolkit [3], com recursos para escolas e instituições e que estabelece um quadro de referência para a LO constituído por 7 princípios, suportados por 45 conceitos, que serão trabalhados nas escolas, sobretudo por ONG e redes de educação marinha. Mais tarde lança o portal Ocean Literacy [4].

Estes princípios essenciais [5] são:

1. A Terra tem um Oceano global e muito diverso.

2. O Oceano e a vida marinha têm uma forte ação na dinâmica da Terra.

3. O Oceano exerce uma influência importante no clima.

4. O Oceano permite que a Terra seja habitável.

5. O Oceano suporta uma imensa diversidade de vida e de ecossistemas.

6. O Oceano e a humanidade estão fortemente interligados.

7. Há muito por descobrir e explorar no Oceano.

 

2022-07-02 ocean_literacy_framework_grades3.1_600p

Diagrama da estrutura comum de aprendizagem: formada por 7 princípios [6] clicáveis que reenviam para centenas de planos de aula/ outros recursos educativos.

O manual da COI é decisivo porque promove uma visão sistémica e interdisciplinar, aplicável a todos os contextos culturais e que envolve todos os atores. Reconhece que a mudança de competências e de comportamento não depende apenas de informação científica (compreensão dos 7 princípios e respetivos conceitos), mas exige sensibilização, através do discurso e intervenção direta e prática na comunidade.

Neste contexto, segundo a Escola Azul - programa educativo do Ministério da Economia e Mar que promove a LO na comunidade escolar - a LO reúne 3 dimensões interdependentes:

- “Compreender a importância do Oceano para o Homem;

- Comunicar sobre o Oceano de forma consciente e informada;

- Agir, intervir e decidir para promover uma sociedade mais azul” [7].

Em 2017, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou 2021 - 2030 a Década das Ciências Oceânicas para o Desenvolvimento Sustentável. A COI que lidera a Década dos Oceanos pretende uma mudança radical na relação da humanidade com os Oceanos para os próximos 100 anos, com base na ciência e que convoque cientistas e educadores, governos, empresas e indústria, organizações não governamentais, cidadãos para influência e ação em rede. Portugal é um dos 10 parceiros que constitui a Aliança da Década do Oceano [8]

Em 2022 a UNESCO lançou Generation Ocean para, junto do público, “aumentar a conscientização, construir conhecimento e impulsionar ações para restaurar e proteger o Oceano” [9].

Porque a educação é um dos principais pilares desta campanha, crianças e jovens, professores e educadores constituem agentes fundamentais para a criação de uma geração azul. A Fundação Oceano Azul, coanfitriã (com o Quénia) da segunda conferência mundial dos Oceanos, em conjunto com o Oceanário, apoia esta mudança, para a qual as bibliotecas escolares contribuem.

 

Referências

1. União Europeia. (2016). Livro Verde - Rumo a uma futura Política Marítima para a União. Bruxelas: EU. https://eur-lex.europa.eu/legal-content/SV/TXT/?uri=CELEX:52006DC0275(02)

2. The Guardian. (2020, 22 Dec.). Microplastics revealed in the placentas of unborn babies. UK: TG. https://www.theguardian.com/environment/2020/dec/22/microplastics-revealed-in-placentas-unborn-babies

3. Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. (2020). Cultura oceânica para todos: Kit pedagógico [Manual e guias]. Paris: UNESCO. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000260721.locale=en

4. Comissão Oceanográfica Intergovernamental. Portal da Literacia Oceânica. Paris: COI. https://oceanliteracy.unesco.org/?post-types=all&sort=popular

5. Ciência Viva. (s.d.). Conhecer o Oceano: princípios essenciais e conceitos fundamentais. Portugal: CV. https://webstorage.cienciaviva.pt/public/pt.cienciaviva.io/recursos/files/principiosematriz_postera2_6935785215dd3c.pdf

6. Ocean Literacy. (2015). Diagrama de Estrutura. USA: College of Exploration & Lawrence Hall of Science. http://oceanliteracy.wp2.coexploration.org/?page_id=756

7. Direção-Geral de Política do Mar. (2022). Escola Azul. Portugal: DGPM. https://escolaazul.pt/escola-azul/literacia-do-Oceano

8. Nações Unidas. (2021). Aliança da Década dos Oceanos. NY: NU. https://www.oceandecade.org/br/ocean-decade-alliance/

9. GenOcean. (2022). Somos nós que fazemos isso [campanha da Ocean Decade 2021-2030]. Japão: UN. https://genocean.org/

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0