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Blogue RBE

Qui | 02.10.25

Setembro, mês de valorização da vida e da saúde mental

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Fonte da imagem [1]. 

 

A 10 de setembro celebra-se, anualmente, desde 2003, o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio que, no Brasil, é assinalado com a campanha Setembro Amarelo

Trata-se de uma data dedicada à consciencialização e valorização da vida e do cuidado com a saúde mental, cujo símbolo (e emoji) é uma fita amarela e laranja.

Organizado pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP) e apoiado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), tem por tema até 2026, Mudar a Narrativa sobre o Suicídio, visando quebrar uma cultura de silêncio e de falta de compreensão e transformá-la em conversas abertas e honestas de entendimento e apoio. 

Segundo a OMS, 80% dos casos de suicídio podem ser evitados e um dos principais meios de prevenção é o diálogo

Este é um problema global, cuja prevenção cabe a todos: família, amigos, vizinhos, comunidade, profissionais de saúde, governos e educadores.

No âmbito da Rede de Bibliotecas Escolares, Conhecer & conviver: biblioteca, espaço de bem-estar é o tema para este ano letivo e 10 de setembro marca o início de uma chamada de atenção para que todas as pessoas adotem comportamentos e hábitos de cuidado com a saúde mental.

 

➡️Porque é preciso falar de suicídio? 

Apesar de este ser um tema complexo e difícil, é preciso iniciar esta conversa porque a dimensão do problema é enorme e a melhoria global das condições de vida, a que temos vindo a assistir em todas as geografias, não se tem traduzido no decréscimo do problema. 

Segundo a Ordem dos Psicólogos [2]: 

O suicídio é a segunda causa de morte entre os jovens em todo o mundo (15-34 anos). 

🟥Quase 800.000 pessoas morrem por suicídio anualmente, 1 morte por cada 40 segundos, a nível mundial. 

🟥Em Portugal, suicidam-se pelo menos 3 pessoas por dia.

🟥Este é um problema transversal, “Qualquer pessoa, de qualquer cultura, nível educacional ou estatuto socioeconómico pode morrer por suicídio”.  

Segundo a OMS: 

🟥O preconceito e o tabu (e o desconhecimento) impedem as pessoas de procurarem (e de receberem) ajuda, levando-as a sofrer sozinhas e em silêncio.

🟥Este é “um grande problema de saúde pública”, com efeitos devastadores nas pessoas, suas famílias e sociedade, para o qual é importante consciencializar e discutir abertamente, prevenindo-o. A comunicação adequada salva-vidas [3]. 

“Falar ou fazer perguntas a alguém sobre intenções ou pensamentos relacionados com o suicídio não incentiva nem ‘dá ideias’ à pessoa. Pelo contrário, pode reduzir a ansiedade e ajudar a pessoa a sentir-se compreendida” [2]. 

A comunidade internacional pretende reduzir a taxa de suicídios para um terço até 2030, conforme estabelece a Meta 3.4 da Agenda 2030. E esta é uma missão da responsabilidade de todos os agentes e setores de atividade. 

 

➡️Como cuidar? 

Segundo a Ordem dos Psicólogos e a OMS, há fatores que reduzem a probabilidade de suicídio e que podem promover a resiliência em situações de vulnerabilidade, como: 

🟥Acesso a cuidados de Saúde Psicológica;

🟥Rede de apoio social e conexões fortes com familiares, amigos e comunidade; 

🟥Competências socio-emocionais de resolução de problemas e conflitos;

🟥Autocuidado, fazendo escolhas saudáveis e atividades que façam as pessoas sentirem-se bem, relaxadas e felizes.

Cada um de nós pode contribuir para reforçar estes fatores:

estando atento e cuidando do bem-estar das pessoas que nos rodeiam – familiares, amigos e colegas. Estar disponível para escutar os outros, iniciar uma conversa com um simples ‘como estás’, pode ser o suficiente para ajudar alguém que está numa situação de risco ou sofrimento a partilhar o que sente e a procurar ajuda” [2].

 

➡️Como é que a biblioteca escolar pode ajudar? 

A escola e a biblioteca escolar não se focam exclusivamente no desempenho académico, mas também no desenvolvimento sócio emocional e humano, na formação integral, dos seus alunos, apoiando a sua saúde mental. 

Para o efeito, podem: 

🟥Estar atentas a sinais de sofrimento, prevenindo situações de crise; 

🟥Desenvolver a escuta ativa, o diálogo e o apoio a alunos e suas famílias, para que se sintam acolhidos e seguros; 

🟥Criar contextos de sensibilização e ação coletiva para o questionamento de preconceitos e o fortalecimento de relações de entreajuda e coesão social. 

 

Exemplos de iniciativas que geram o autocuidado e a saúde mental promovidas pela biblioteca escolar: 

📖Círculos de conversa (discussão em grupo) a partir de livros sobre saúde mental, emoções, autoestima, respeito pela diferença, valorização da vida. Sobre a diferença, lembramos que a esperança média de vida de pessoas LGBTQIA+ no Brasil é de cerca de 35 anos, menos 41 anos que as outras pessoas. Há vídeos, podcasts e outros recursos que podem apoiar e orientar estas conversas [4]. 

📖Momentos de expressão escrita e oral, plástica, teatral, musical (oficinas, desafios, exposições…).

Para a OMS a arte melhora a saúde e o bem-estar porque favorece:

🟥A introspeção e autoconhecimento;

🟥A expressão de tensões e conflitos;

🟥O discernimento de novas perspetivas ou soluções;

🟥A criação de um sentimento de pertença, pois é uma atividade partilhada em comunidade

🟥Momentos de brincadeira, humor e prazer [5].

🟥Palestras, conferências ou aulas, abertas à família e à comunidade, com profissionais de saúde e representantes de comunidades vulneráveis.

🟥Lugares de escuta em que alunos possam conversar sem julgamentos, com colegas, professores e outros educadores ou profissionais de saúde. 

 

Lembramos exemplos de sugestões de alunos reunidas no âmbito da iniciativa RBE, Transformar a Educação: Dá voz às tuas ideias! (pp. 30, 31):

📖“Por vezes, os alunos sentem-se sozinhos e perdidos. Deveria haver uma equipa de alunos para os acolher e orientar (…)”;

📖“Criar o Banco do Amigo ou a Caixa da Amizade (…)”;

📖“Receção aos alunos, para estimular o contato e a formação de amizades (…)”;

📖“Criar um sistema de apadrinhamento de alunos (…)”;

📖“Ligação e partilha de ideias e experiências entre idades (…)”

📖“Proporcionar um intervalo grande para comer, conviver e dialogar mais com outras pessoas” (…). 

📖Campanhas internas para, por exemplo, num mural aberto à participação de todos, expressar sentimentos ou expressões de gentileza, ou apresentar desafios de autocuidado (eg. desligar o telemóvel antes de dormir) e de respeito pela diversidade. 

📖Formação para professores e outros educadores, alunos mentores ou padrinhos para que saibam identificar sinais de sofrimento e encaminhar de forma adequada. 

 

Concluindo,

De acordo com o inquérito dirigido pela UNICEF, num universo de 11834 jovens inquiridos, a saúde mental é o principal problema que preocupa os jovens e quase metade (48%) não fala sobre estes assuntos na escola [6].

10 de setembro marca o início de uma chamada de atenção para que as escolas e suas bibliotecas adotem, no seu dia a dia, comportamentos e práticas de cuidado com as pessoas e a sua saúde mental.

Este ano no Dia Mundial da Prevenção do Suicídio passou a operar de forma totalmente autónoma, embora integrada na linha SNS 24, “a nova linha de prevenção 1411, um serviço telefónico dedicado ao apoio em situações de risco, assegurado por psicólogos e enfermeiros especialistas em saúde mental e psiquiatria” [7]. Esta linha junta-se a uma série de outros contactos de apoio: 

  • SOS VOZ AMIGA – 800 209 899; 213 544 545; 91 802 669 Diariamente das 15:30 às 00:30
  • LINHA JOVEM – 800 208 020 (todos os dias, das 9h às 18h)
  • LINHA SOS BULLYING – 808 962 006 (2ª a 6ª feira, das 11h–12h30 e das 18h30–20h)
  • LINHA SOS ESTUDANTE – 969 554 545 ou 808 200 204 (das 20h às 1h)
  • LINHA SOS ADOLESCENTE – 800 202 484
  • CONVERSA AMIGA – 808 237 327 (todos os dias, das 15h às 22h)
  • APAV, ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE APOIO À VÍTIMA – 707 200 077
  • APOIO PSICOLÓGICO SNS24 - 808 24 24 24 (24h por dia)
  • TELEFONE DA AMIZADE - 228 323 535

 

Referências

1. Fonte da imagem: International Association for Suicide Prevention. (2025). Change the Narrative. https://www.iasp.info/

2. Ordem dos Psicólogos. (2025). Vamos falar sobre Suicídiohttps://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/opp_diamundialprevencaosuicidio_documento.pdf

3. WHO. (2025, March 25). Suicide. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/suicide

4. Exemplos de recursos: 

5. WHO. (2019). Arts and health. https://www.who.int/initiatives/arts-and-health

6. UNICEF. (2023). Tenho voto na matéria. https://www.unicef.pt/media/4126/tenhovotonamateria2023-resultados-unicef.pdf

7. Governo da República Portuguesa (2025, 10 set.). Nova linha de prevenção do suicídio entra em funcionamento. https://www.portugal.gov.pt/pt/gc25/comunicacao/noticia?i=nova-linha-de-prevencao-do-suicidio-entra-em-funcionamento

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0