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Blogue RBE

Ter | 30.09.25

Biblioteca Escolar, espaço de bem-estar integral

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Vivemos tempos em que a escola é chamada a ser também um espaço de cuidado, de escuta, de construção de sentido. A saúde mental dos jovens, a inclusão plena e a motivação para aprender tornaram-se dimensões críticas da experiência escolar.

No seu quadro estratégico, a Rede de Bibliotecas Escolares apresenta como um dos eixos de ação o eixo Pessoas que visa:

Garantir que as bibliotecas são organizações que promovem a defesa da dignidade humana e da justiça, o compromisso com a equidade e o valor da diversidade, da democracia e da liberdade. 

Para isso são definidas várias linhas de ação e uma delas consiste precisamente em 

Induzir dinâmicas que conduzam a comportamentos e estilos de vida responsáveis, promotores de bem-estar (individual, coletivo, ambiental).

Contudo, promover o bem-estar é uma responsabilidade transversal, que atravessa também os restantes eixos de intervenção definidos para as bibliotecas escolares: o eixo Sítios, relativo à infraestrutura; o eixo Saberes, associado à mediação e à aprendizagem; e o eixo Ligações, que valoriza o trabalho em rede, a participação e a construção de comunidade. Todos estes domínios contribuem para o mesmo desígnio: colocar o bem-estar nas preocupações da ação educativa.

Porque o bem-estar importa

O bem-estar é condição para aprender, crescer e florescer e por isso tem de estar sempre presente no que decidimos e desenhamos para os nossos alunos.

A OCDE, no relatório "Nurturing Social and Emotional Learning across the Globe" (2024) [1 e 2], salienta que as competências socioemocionais são cada vez mais reconhecidas como essenciais para o bem-estar e o sucesso global dos alunos, reforçando a necessidade de abordagens educativas integradas e humanizadas.

Entre estas competências incluem-se a autoconsciência, a autogestão emocional, a resiliência, a empatia, a cooperação, o pensamento crítico e ético, a tomada de decisões responsáveis e o sentido de pertença e cidadania. São capacidades que sustentam não apenas a saúde emocional dos alunos, mas também o seu envolvimento com a aprendizagem, com os outros e com o mundo.

De acordo com o EU Youth Report 2024 [3], os jovens identificam o bem-estar mental como uma das suas principais preocupações. O relatório dá conta de um aumento significativo dos desafios de saúde mental entre os jovens, com quase metade a reportar problemas emocionais ou psicossociais no último ano. O documento sublinha a necessidade de políticas públicas mais integradas e eficazes, com especial enfoque na promoção da saúde mental, na criação de ambientes de aprendizagem seguros, na proteção online, na inclusão social e na valorização de estilos de vida saudáveis.

Também o mais recente Eurobarómetro sobre a Juventude Europeia [4] confirma esta tendência. Os alunos não esperam das escolas apenas a transmissão de conhecimento: procuram espaços onde se sintam seguros, respeitados, emocionalmente apoiados e integrados. Cerca de 23% dos inquiridos referem ter preocupações nesta área, exigindo às comunidades educativas respostas que promovam o bem-estar, a escuta e a pertença.

Pela sua ação diária, as bibliotecas escolares afirmam-se como espaços educativos privilegiados para o desenvolvimento das competências socioemocionais. No cruzamento entre saberes, emoções, relações e experiências significativas, promovem ambientes seguros, inclusivos e estimulantes, onde cada aluno pode encontrar o seu ritmo, a sua voz e o seu lugar. Ao aliarem o acesso à informação à mediação humana, ao cuidado e à construção de relações positivas, respondem de forma integrada às necessidades dos alunos, reforçando a saúde emocional, a inclusão e a participação ativa. Contribuem, assim, para uma cultura escolar mais empática, respeitadora e participativa.

Dimensões do bem-estar: uma abordagem integrada

Falar de bem-estar na escola implica reconhecer a sua natureza multidimensional. O bem-estar não se limita à ausência de mal-estar. Pressupõe a existência de condições que favorecem o equilíbrio, a motivação e a realização pessoal e coletiva, abrangendo domínios interligados como o bem-estar físico, emocional, social, cognitivo, digital e ambiental.

Pela diversidade de funções que desempenham, as bibliotecas escolares têm um potencial ímpar para promover uma abordagem integrada ao bem-estar:

🟥Bem-estar físico, ao garantirem espaços agradáveis, acessíveis, confortáveis e adaptados às necessidades de todos os alunos, promovendo hábitos saudáveis;

🟥Bem-estar emocional, ao proporcionarem ambientes seguros, de escuta ativa, de confiança e de valorização da individualidade, onde os alunos podem expressar-se, encontrar apoio, experimentar a calma e o prazer da leitura;

🟥Bem-estar social, ao fomentarem o respeito mútuo, a empatia, a convivência positiva, o diálogo intercultural e o trabalho colaborativo em projetos que valorizam a diversidade e a inclusão;

🟥Bem-estar cognitivo, ao estimularem a curiosidade, o pensamento crítico e criativo, a autonomia na aprendizagem, o acesso à informação de qualidade e o gosto por aprender ao longo da vida;

🟥Bem-estar digital, ao desenvolverem competências de literacia digital e mediática e promoverem um uso crítico, ético e responsável das tecnologias e dos ambientes digitais;

🟥Bem-estar ambiental, ao dinamizarem práticas sustentáveis, incentivando o cuidado com o meio envolvente e a reflexão sobre os impactos das ações individuais e coletivas no planeta.

 

Uma responsabilidade coletiva

Em 2025-2026, definimos como lema transversal Conhecer & conviver: biblioteca, espaço de bem-estar e vamos trazer a preocupação com o bem-estar para cada projeto, cada mediação, cada prioridade, orientando práticas, relações e decisões ao serviço de uma escola humana, onde todos se sintam bem.

Mas compromisso com o bem-estar não é responsabilidade exclusiva da biblioteca. As questões que acabámos de abordar atravessam toda a vida escolar e envolvem toda a comunidade educativa. A biblioteca, como espaço transversal e integrador, está ao serviço da escola como um todo e só cumpre plenamente a sua missão quando atua em colaboração com professores, direções, técnicos especializados e famílias. O acolhimento e a transformação só acontecem verdadeiramente quando são partilhados.

Neste processo, é igualmente essencial garantir que os alunos sejam protagonistas do seu próprio percurso de aprendizagem e bem-estar. A biblioteca deve envolvê-los de forma ativa, promovendo a participação, a experimentação e a autonomia. Em vez de se limitarem a ser espectadores passivos diante de palestras ou atividades impostas, os alunos devem ser convidados a coconstruir, a escolher e a intervir, sendo reconhecidos como agentes com voz, criatividade e pensamento próprio. O bem-estar só se concretiza plenamente quando cada aluno se sente parte, com poder de ação e pertença no espaço da biblioteca e da escola.

As bibliotecas escolares são, assim, espaços de vida. Mas é necessário ter presente que essa vitalidade acontece através de ações regulares, continuadas e integradas no quotidiano escolar. Não basta uma grande iniciativa ocasional ou uma celebração pontual: o bem-estar constrói-se diariamente, em gestos simples, em práticas consistentes e numa presença constante e significativa.

Ao promoverem o bem-estar nas suas várias dimensões, as bibliotecas contribuem para formar alunos mais inteiros, mais conscientes, mais resilientes e, talvez, mais felizes.

 

Referências

  1. OECD (2024). Nurturing Social and Emotional Learning Across the Globe: Findings from the OECD Survey on Social and Emotional Skills 2023. OECD Publishing. https://doi.org/10.1787/32b647d0-en 
  2. Rede de Bibliotecas Escolares. (2024, 2 de dezembro). Promover a aprendizagem social e emocional em todo o mundo. Blogue RBE. https://blogue.rbe.mec.pt/promover-a-aprendizagem-social-e-2904284 
  3. European Commission. (2025, 16 de maio). EU Youth Report 2024: Looking at how youth are shaping the future. European Youth Portal. https://youth.europa.eu/news/eu-youth-report-2024-looking-how-youth-are-shaping-future_en
  4. European Commission. (s.d.). Eurobarometer Survey 3373. European Commission. https://europa.eu/eurobarometer/surveys/detail/3373

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0