Planificar um ano letivo sem articularmos com a Biblioteca Escolar? Impossível.
Pela diretora do AE de Penacova, Ana Clara Elvas de Andrade Almeida
Quando me sugeriram escrever sobre Bibliotecas Escolares logo me veio à lembrança o cheiro a papel que sentia, a escuridão e estantes altas e fechadas da biblioteca do então Liceu Nacional Infanta D. Maria, onde estudei, depois nos Institutos Linguísticos da Faculdade de Letras e, claro, na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. O cheiro a papel, a escuridão e o silêncio…..!
Mas hoje em dia a Biblioteca Escolar é muito mais do que isso. Encontramos livros, encontramos silêncio, mas também encontramos recursos digitais, jogos didáticos, diálogos, interações e por vezes barulho, muito barulho, que não é ruído, mas sim vida.
A luz vem das janelas e dos livros, dos computadores dos alunos que por lá circulam, dos professores que ajudam na dinâmica da Biblioteca, das Assistentes Operacionais que entram e saem para apoiar tudo e todos, sempre conhecedoras e imprescindíveis, e da professora Bibliotecária que, de queixo levantado, procura com curiosidade e interesse os olhares que pedem ajuda, orientação.
Hoje é impossível organizar e planear um ano letivo sem articularmos com a Biblioteca Escolar e isso torna o nosso Projeto Educativo, o Plano Anual de Atividades do Agrupamento (PAAA), as planificações e toda a atividade pedagógica, muito mais rica.
Os alunos, com a orientação dos seus professores, fazem da Biblioteca o seu local privilegiado para pesquisa de informação contando com o apoio e orientação dos trabalhos de pesquisa, aprendendo ao longo do seu percurso a diferenciar o que é considerado “fake” e aquilo em que devem acreditar; aprendem que nem tudo o que encontram na Internet é fidedigno, tem um existência comprovada, interessa para o seu [crescimento no] conhecimento; sabem que a Internet tem “caminhos” perigosos e valorizam o que uma navegação segura lhes dá! Este é um programa de biblioteca bem pensado, que muito nos orgulha.
Pode lá haver Escola sem Biblioteca Escolar? Quem disser que pode, que não é significativo o seu peso na estratégia da aprendizagem, não sabe o que é Escola, ensino, aprendizagem, sabedoria, conhecimento, mas também curiosidade e felicidade.
Decerto pensa, quem me lê, que estou a ser romântica! Claro que não estou. Circulemos pelas escolas deste nosso Portugal, entrem nas salas de aula e sintam lá as Bibliotecas (a articulação que propicia, o trabalho articulado e conjunto). Sim, porque embora tenhamos todos (as escolas) um espaço específico dedicado à Biblioteca, ela está nos vários espaços das escolas: nas salas de aula, nos corredores, nas salas de convívio, nos ginásios, nas paredes que nos suportam o olhar, em todo o lado onde são suscetíveis momentos de encontro (s) e dinâmicas inovadoras que vão para além destes momentos de transição digital. Anteriores a todo um processo, mas presentes, para o futuro. E é isso que engrandece e torna a Biblioteca tão especial para todos os que lá trabalham e aprendem.
Por vezes também nos confrontamos com situações menos interessantes que quase nos poderiam fazer desistir. Sim, também há os que não gostam de ler, não gostam de livros, não sentem necessidade de estarem informados, de serem jovens ativos e com pensamento crítico. Não gostam de Bibliotecas (pensam eles!). É exatamente nesse momento que entram as fadas, as nossa professoras bibliotecárias (no nosso Agrupamento são duas). Fadas porque transformam e fazem com que o brilho da leitura e dos livros, dos desafios culturais e os valores da cidadania, na sua variadíssima forma, chegue aos olhos de todos, mesmo aos mais renitentes. A vida delas vai para além dos livros que leem avidamente em jeito de atualização para recomendarem, laboram entre diversos públicos e procuram a todos responder, sugerir, ajudar… E, todos os dias, testemunham na comunidade a importância que se deve atribuir ao trabalho com as Bibliotecas Escolares para o desenvolvimento das várias literacias, em articulação com o currículo lecionado no nosso Agrupamento. Desafio que se cumpre sob o lema de que ler abre caminhos para além de Penacova!
Aproveito esta minha reflexão para agradecer a uma das colegas professora bibliotecária, que nestes largos anos, em que com ela trabalho, me lança desafios constantes para o sucesso dos alunos, me inquieta perante situações que são sempre de melhoria e até consegue ter a minha participação em momentos privados e públicos de leitura de textos, de contos, ou… E eu, nessas alturas, sinto-me mais pequenina que um “ratito de biblioteca”, mas sempre com gosto enorme. Bem hajas L.D.
Escrevo na semana da leitura, sem saber quando será este texto publicado, mas isso deu-me o alento de que precisava, para conseguir escrever, eu que também aprendi a ser fã dos livros, da leitura, das bibliotecas e, hoje confesso, mesmo daquelas escuras, com estantes altas e fechadas e a cheirar a papel de livros lidos, lidos e lidos.
Ana Clara Elvas de Andrade Almeida
Diretora do AE de Penacova