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Blogue RBE

Seg | 22.11.21

Pegadas de uma viagem

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Profundidade, extensão e rigor metodológico caracterizam este trabalho de grande fôlego, realizado no âmbito do Programa Bibliotecas Escolares da Galiza.

As autoras, Inés Miret, Mónica Baró, Inés Dussel, Teresa Mañá, coordenaram a equipa responsável por esta investigação que cobre todo o leque de temas e de problemas que envolvem as bibliotecas escolares, dando realce à voz dos atores que as utilizam, constroem e vivenciam.

Nas suas mais de 300 páginas, este relatório onde se partilham as conclusões, organiza-se em três grandes partes:

- A primeira parte reflete sobre as políticas públicas, passando pelas questões da implantação das bibliotecas nas escolas, da atribuição de recursos, do seu funcionamento, do contexto territorial, etc.

- Uma estimulante segunda parte é dedicada aos imaginários em torno da biblioteca: desde as diversas conceções sobre a leitura às narrativas dos professores sobre o uso do digital pelos jovens.

- Finalmente, e na boa lógica do geral para o particular, na terceira parte encontramos a análise de casos concretos, convidado a um olhar mais próximo sobre a vivência quotidiana: os modos de interação no interior da biblioteca ou o seu papel como lugar de afetos, de trabalho, de encontro.

Este corpo central de 3 partes é precedido e fechado, respetivamente, por uma introdução em que se definem as linhas metodológicas e uma conclusão apontando as chaves do futuro.

Muitas pistas de reflexão nos são oferecidas neste estudo sobre as bibliotecas escolares de um território vizinho - a Galiza - um contexto com semelhanças, mas também diferenças, em relação à rede de bibliotecas escolares portuguesa, estimulando um olhar crítico sobre a nossa própria realidade.

Das muitas possíveis, queremos aqui destacar três ideias fundamentais, que nos parecem muito presentes quer nas opções tomadas ao longo da investigação, bem como na forma de expor os seus resultados:

 

1. Uma ideia de caminhada como estratégia de pesquisa e como condição indispensável para se compreender a realidade das bibliotecas e apontar caminhos de futuro.

O próprio título dado ao relatório - ‘Pegadas de uma viagem’ - remete para a trajetória da investigação, mas também para o arco da relação entre passado, presente e futuro, em que este último se constrói na senda do caminho percorrido: “Pensar sobre el futuro tiene que ver, en parte, con dar un sentido al presente, disponer de una mirada crítica acerca de las trayectorias, los logros, las dificultades y los temas pendientes” (p. 286).

 

2. A importância dada, ao longo de todo o texto, ao enfoque metodológico, desde a definição de objetivos às diversas escolhas de percurso e sua fundamentação.

O material recolhido no contexto da investigação dá conta da multiplicidade de abordagens e metodologias empregues: questionários, narrativas, representações visuais, análises semânticas de termos, grupos de foco, entrevistas em profundidade, observação participante e análise de documentos. Esta diversidade é essencial para a construção de uma visão ampla e consistente sobre os desafios que as bibliotecas escolares enfrentam e os modos de os abraçar.

 

3. A preocupação em dar voz aos atores, tidos como a principal fonte de conhecimento e de transformação das bibliotecas escolares.

Também aqui sobressai a diversidade: procura-se ouvir, desde logo, os professores, mas também os dirigentes escolares, as equipas das bibliotecas, os estudantes, as famílias, a rede de assessorias e instituições parceiras, etc.

Neste ponto é de realçar o capítulo onde se expõe uma recolha e análise de representações visuais de crianças e adolescentes sobre a (sua) biblioteca, convidados a desenhar espaços, objetos, protagonistas, ações a decorrer… A análise que é feita desses desenhos é extremamente interessante até porque vai para além do óbvio ou da interpretação literal.

E sobretudo encontramos aqui um cuidado em usar estratégias menos convencionais, de modo a verdadeiramente captar o que pensam e o que sentem os alunos sobre a biblioteca e as experiências nela vividas.

 

As chaves e as recomendações para o futuro têm um denominador comum: saber lidar com a mudança, como elemento omnipresente, que obriga a ‘assumir objetivos de transformación en un contexto en transformación.’ (p.287).

Mudança que continuamente se intensifica, não apenas ‘en los soportes y las formas de lectura, en la noción misma de lector, en las colecciones y los espacios de lectura, y en la estabilidad/ perdurabilidad de las bibliotecas. (p.287).

Mudança que acompanha os desafios da educação e da escola como lugar de encontro e de socialização, de descoberta e de criatividade, de saber e de fazer, em que aos alunos deve ser dado um papel cada vez mais proactivo, autónomo, responsável pelo seu próprio percurso formativo, cabendo à biblioteca escolar saber fazer a transição ‘de un centro de recursos para el aprendizaje hacia un laboratorio creativo de aprendizajes’.

 

Referência

Dirección Xeral de Centros e Recursos Humanos. (2021). Huellas de un viaje. Trayectorias y futuros de las bibliotecas escolares en Galicia. https://libraria.xunta.gal/es/huellas-de-un-viaje-trayectorias-y-futuros-de-las-bibliotecas-escolares-en-galicia

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