UNESCO: Semana Global MIL 2022
Propósito
A Semana Mundial da Literacia Mediática e da Informação (Global Media and Information Literacy [MIL] Week) [1], promovida anualmente pela UNESCO, é uma ocasião importante para reafirmar e aumentar o compromisso MIL para todos e aprofundar a compreensão e dar visibilidade ao seu papel no restabelecimento da confiança, da proteção social e da solidariedade, designadamente na governação e media.
Permite ainda destacar progressos alcançados, obter resultados mensuráveis e expandir este setor da educação a partir de novas iniciativas.
Tema(s)
Em 2022 as comemorações têm por tema "Alimentando a Confiança: Um Imperativo da Literacia Mediática e da Informação" e são organizadas por Abuja, capital da Nigéria.
De acordo com a sua Nota Concetual [2], a Semana Global MIL reúne atividades no âmbito de 7 subtemas:
1. MIL alimenta a confiança, a proteção social e a solidariedade coletiva;
2. Acelerar o acesso à MIL em paralelo com o acelerar da conectividade digital universal;
3. MIL é componente-chave para exercício dos direitos humanos fundamentais;
4. Popularizar os padrões globais MIL popularizados pela UNESCO, designadamente a partir dos seguintes recursos:
Media and Information Literate Citizens: Think Critically, Click Wisely/ Cidadãos Literatos de Media e Informação: Pense Criticamente, Clique com Sabedoria [3];
Addressing conspiracy theories: what should educators know/ Abordando teorias da conspiração: o que devem saber os educadores [4];
5. Desenvolver formas inovadoras de diminuir desigualdades no acesso aos meios de comunicação e informação;
6. Parcerias e financiamento para promover a literacia em todos os níveis da sociedade;
7. Desenvolver a política MIL, a nível nacional e regional, “para assegurar a equidade e o acesso ético a informação de qualidade”.
Contexto
A Nota Concetual do evento parte da ideia de que "Há uma crescente desconexão entre as pessoas e as instituições que as servem... uma cada vez mais profunda crise de confiança fomentada por uma perda de verdade e compreensão partilhada".
Sublinha a importância da literacia da informação e media para alimentar a confiança ao nível dos governos, plataformas de comunicação digitais, meios de comunicação social, empresas e instituições, ONG e pessoas de diversas geografias, culturas e condições.
É no relatório Our Common Agenda/ Nossa Agenda Comum que o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, destaca os valores da confiança e da solidariedade como a cola para a coesão social, num contexto dominado pela “crescente desinformação, discurso do ódio, desigualdades, falta de equidade e transparência, inclusive nos espaços digitais”.
Evidências
De acordo com o 2022 Edelman Trust Barometer que estuda a variável da confiança há 22 anos e cujo relatório anual se baseia num universo de mais de 36.000 entrevistados em 28 países e, mais precisamente, nas suas “10 principais descobertas” [5] verificamos que:
- A desconfiança é o padrão, impedindo as pessoas de discutir e colaborar;
- As pessoas confiam mais nos negócios (61%) do que nas ONG (59%), governos (52%) ou meios de comunicação social (50%);
- Governo e media vivem um ciclo de desconfiança – respetivamente, 48% e 46% dos inquiridos encaram governo e meios de comunicação social como “forças que dividem a sociedade”, i.e., governantes e jornalistas são os líderes sociais menos confiáveis;
- As preocupações com as notícias falsas, usadas como arma para manipulação, atingem o ponto mais alto de todos os tempos (76%);
- Há um colapso da confiança nas democracias que beneficia o crescimento da extrema-direita e do populismo – na Alemanha, Espanha, Reino Unido e EUA e maioria dos países menos de metade das pessoas confia nas instituições;
- O medo social, por exemplo, em relação ao desemprego ou crise climática, cresce;
- Há necessidade de as empresas privadas, cujas competências e ética são preferidas face aos governos, responderem a problemas sociais. Os inquiridos têm a perceção de que elas não estão a fazer o suficiente nesta área, incluindo crise climática (52%), desigualdade económica (49%), requalificação da mão-de-obra (46%) e informação fidedigna (42%);
- “A liderança social é agora um papel das empresas”;
- “As empresas devem liderar a quebra do ciclo de confiança”.
Quando empresas privadas não eleitas democraticamente para exercer o seu poder no domínio público colhem mais respeito por parte dos cidadãos do que instituições democráticas, será que vivemos numa democracia?
Esta é uma oportunidade para a biblioteca escolar servir de contraponto e, através das literacias, gerar a consciencialização e a mudança.
Atividades e livros
A UNESCO apresenta sugestões de atividades para realizar nas escolas, em organizações de jovens, bibliotecas, redes ou meios de comunicação social [6].
Dois exemplos de atividades para dinamizar com as bibliotecas escolares:
- Selecionar álbuns gráficos, livros ou revistas sobre o tema e dinamizar um encontro para discutir o fator da confiança a partir de um dos títulos, por exemplo: Gosto, logo existo: Redes sociais, jornalismo e um estranho vírus chamado fake news de Bernardo P. Carvalho e Isabel Meira, Login de Cláudia Pascoal e Betweien e Aprender a rezar na era da técnica de Gonçalo M. Tavares [7].
- Promover a iniciativa nas redes sociais convidando a comunidade a partilhar conteúdos multimédia que ajudem a restabelecer a confiança.
Através do hashtag #GlobalMILWeek faça parte desta conversa global.
Referências
1. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2022, Oct.). Global Media and Information Literacy Week (24-31 October). UNESCO: Paris. https://www.unesco.org/en/weeks/media-information-literacy
2. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2022, Oct.). Concept Note. UNESCO: Paris. https://euimg.vfairs.com/uploads/vjfnew/10000103/uploads/vjf/content/misc/1665491149Global%20Media%20and%20Information%20Literacy%202022%20Concept%20Note%20(2).pdf
3. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2021). Media and information literate citizens: think critically, click wisely! UNESCO: Paris. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000377068
4. Rede de Bibliotecas Escolares. (2022, 11 out.). Teorias de conspiração: o que os professores precisam de saber. Lisboa: RBE. https://blogue.rbe.mec.pt/teorias-de-conspiracao-o-que-os-2649043
5. (2022, January). 2022 Edelman Trust Barometer: The Cycle of Distrust. EUA: Edelman. https://www.edelman.com/trust/2022-trust-barometer
6. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2022, Oct.). How libraries can celebrate. UNESCO: Paris. https://euimg.vfairs.com/uploads/vjfnew/10000103/content/files/1665501067gmw-flyer-literacy-v4-pdf1665501067.pdf
United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2022, Oct.). How youth organisations can celebrate. UNESCO: Paris. https://euimg.vfairs.com/uploads/vjfnew/10000103/content/files/1665501106gmw-flyer-youth-v2-pdf1665501106.pdf
United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2022, Oct.). How schools can celebrate. UNESCO: Paris. https://euimg.vfairs.com/uploads/vjfnew/10000103/content/files/1665501098gmw-flyer-schools-v3-pdf1665501098.pdf
7. Carvalho, Bernardo & Meira, Isabel. (2022, 6 mai.). Gosto, logo existo: Redes sociais, jornalismo e um estranho vírus chamado fake news. Lisboa: Planeta Tangerina. https://www.planetatangerina.com/pt-pt/loja/gosto-logo-existo/
Pascoal, Cláudia & Betweien Login. Lisboa: Universal Music Group. https://universalmusic.pt/claudia-pascoal-lanca-login-livro-pedagogico-sobre-a-utilizacao-das-redes-sociais/
Tavares, Gonçalo. (2022). Aprender a rezar na era da técnica. Lisboa: Relógio d’Água. https://relogiodagua.pt/produto/aprender-a-rezar-na-era-da-tecnica-pre-venda/
Fonte da imagem: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. (2022, Oct.). Global Media and Information Literacy Week (24-31 October). UNESCO: Paris. https://www.unesco.org/en/weeks/media-information-literacy