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Qui | 28.04.22

UNESCO: O currículo deve trabalhar o ser humano completo

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O que devemos continuar a fazer? O que devemos abandonar? Que necessidades podem ser criativamente inventadas de novo? são questões orientadoras do relatório global da UNESCO, Reimaginar os nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação [1].

No seu resumo, a IFLA levanta uma quarta questão: Qual é o papel das bibliotecas, bibliotecários e profissionais da informação a imaginar e cocriar este novo contrato social [2]?

Estas questões orientam a abordagem de todos os tópicos do relatório, inclusive do currículo, sobre o qual incidiremos esta reflexão [3], que reúne três artigos: um já publicado e outro que será publicado proximamente neste blogue da Rede de Bibliotecas Escolares.

 

3. Currículos que trabalham emoções

Os sentimentos estão na base da “criatividade humana, moralidade, julgamento e ação para enfrentar os futuros desafios”, bem como do discurso de ódio e prática de violência e conflitos. Por sua vez, “As neurociências mostram que conhecimento e sentimento fazem parte dos mesmos processos cognitivos e se desenvolvem, não em isolamento individual, mas através de relações diretas e alargadas com os outros”. Por conseguinte, escolas e bibliotecas são primeiramente lugares de diálogo e troca de aprendizagens entre pessoas, de criação e aprofundamento de relações sociais que têm por base o conhecimento (comunidades de aprendizagem).

“Os currículos precisam de tratar os estudantes como seres humanos completos”, dotados de pensamento e emoções (medo, paixão, confiança, insegurança) e de valorizar e integrar nas matérias a aprendizagem socio-emocional que, na sua melhor abordagem, tem uma componente cognitiva, de investigação crítica e ética, refletindo sobre as implicações dos comportamentos para a formação da identidade pessoal e coesão social – “Aprender a gerar empatia, cooperar, lidar com os preconceitos e gerir conflitos são valiosos em todas as sociedades, particularmente aquelas que lidam com divisões de longa data.”

A aprendizagem socio-emocional requer contextualização, partilha de experiências positivas intergeracionais e entre pares, envolvimento da comunidade e que o educador seja apoiado na sua intervenção.

Respondendo a todas as necessidades e capacidades do ser humano, o currículo deve também incentivar uma “educação física de qualidade que promova aptidões fundamentais de movimento” que “podem aumentar a autoconfiança, coordenação e controlo, trabalho de equipa […] e comunicação verbal e não verbal.”

Uma educação que não seja focada unicamente na cabeça e no cognitivo e que promova uma abordagem holística, deve ainda ter em conta a sexualidade humana, discutindo questões de respeito, consentimento e igualdade de oportunidades, bem como saúde materna e infantil e bem-estar.

 

4. Currículos plurilingues e que trabalham múltiplas literacias

Devem fazer parte do currículo “de forma muito mais decisiva” literacias que “reforcem capacidades de compreensão e expressão em todas as suas formas – oralmente, textualmente e através de uma diversidade crescente de meios de comunicação, incluindo narração de histórias e artes”.

Também é importante trabalhar “textos complexos em todas as disciplinas”, bem como “leitura aprofundada, ampla e crítica, para comunicar clara e eficazmente através da fala e escrita, para escutar com cuidado, desenvolver relações empáticas e compreender”. A UNESCO acalenta o ideal d’“A educação literária poder ir além das salas de aula e escolas, tornando-se um compromisso de toda a sociedade.”

Outra tendência dos currículos é “a mudança do monolinguismo nacional para o plurilinguismo, através do ensino de línguas estrangeiras, indígenas e gestuais, entre outras. Esta é uma mudança que precisa de ser sustentada e expandida”, pois as línguas trazem perspetivas únicas sobre o mundo, reforçam a identidade e permitem a comunicação. “A educação plurilingue cria mais oportunidades de participação em conversas globais, no trabalho e na cultura. Num mundo cada vez mais interdependente, há um valor óbvio para a aprendizagem em diferentes línguas” e para sermos tradutores ativos ao longo da vida.

Paralelamente, é importante que os estudantes tenham “opções educacionais da mais alta qualidade nas suas línguas de origem e ancestrais”, para que possam conhecer e envolver-se socialmente e com o seu património. Os sistemas educativos em todo o mundo devem “apoiar as identidades culturais dos aprendentes” e “respeitar e sustentar a diversidade”.

As línguas minoritárias exigem apoio de todos os falantes e comunidade internacional. Neste contexto, celebra-se 2022-2032 - Década Internacional das Línguas Indígenas.

 

Referências

1. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization [Comissão Internacional sobre os Futuros da Educação]. (2021, 10 nov.). Reimagining our futures together: a new social contract for education. France: UNESCO. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000379381

2. International Federation of Library Associations and Institutions. (2022, 24 Jan.). International Day of Education – Libraries Contributing to a New Social Contract for Education [Resumo da IFLA do Relatório Futuros da Educação]. Netherlands: IFLA. https://www.ifla.org/news/international-day-of-education-libraries-contributing-to-a-new-social-contract-for-education/

3. UNESCO, 2021: Part II, Chapter 4, pp. 63-78.

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0