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Blogue RBE

Seg | 04.12.23

Uma de mim… a mais

Por Cristina Rocha, professora bibliotecária do AE da Boa Água, Sesimbra

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Viajar pelo paralelo e conseguir estar em dois lugares ao mesmo tempo é coisa que só um professor bibliotecário consegue. Dias vêm e vão em que colegas se cruzam com a frasezinha engraçada do “ Já não te via há uns dias” e a resposta salta sem travão “Tenho estado sempre na… loja”.

Ser professor bibliotecário é chegar mais cedo, criar coisas malucas como as sessões de “Leitura Criminal a que chamamos “Criminal Me”, é estar ao segundo em prontidão como os bombeiros. Mas, acima de tudo, é poder contactar com jovens de diferentes idades, que de uma forma geral querem bem à biblioteca e estão curiosos. Ensinam muito também.

O mago professor bibliotecário explora essa curiosidade, espalhando pó de estrela em forma de títulos de livros, ideias para projetos, momentos de risota e de leitura de jogo e até de crochet e de tricot. Porque a biblioteca é o espaço para tudo. Até para descansar. Por vezes, basta sentar em frente ao aquário e relaxar. Reequilibrar energias.

São muitas as vezes, porém, em que a sensação de que se faz pouco vem, por sermos muito críticos de nós mesmos e, ao mesmo tempo, egoicos ao ponto de pensar que podemos mudar o mundo se multiplicarmos eventos. Precisava de me clonar. É essa a sensação. Para poder assegurar as oito horitas de sono, algumas para comer e outras para me divertir. A biblioteca é uma nave gigante que poucos veem. Leva tudo a todo o lado, assim o queiram.

O melhor que levamos são mesmo os momentos com os alunos e colegas que, ávidos de ver, de ler, de escrever, de apresentar em voz alta, de jogar xadrez, damas, party and company, mikado, superT ou UNO e muito, muito mais.

Este ano, a escola começou tão bem… recebemos 1400 pimpolhos, à vez, no mês de outubro todinho, como nos anos anteriores, de resto. Mas a energia que havia no ar era mais leve. Misturámos horas de conto fantásticas, e houve até quem viesse com os olhitos brilhantes e um sorriso doce dizer, “E quando aprendemos francês?”. Tinha esquecido que, no final do ano letivo passado, em junho, quando todos partem, ficam eles, os do 1º ciclo. Num tempo quente que convida a praia… e foi então que a BE virou palco de músicas e comptines em francês para os do 2ºH. E como eles aprendiam bem… cantando e dançando.

Tenho mesmo que ir para o paralelo e cocriar o meu clone… muitos clones de muitos de nós. Não por ego, mas para chegarmos a todos os jovens e crianças do país.

A biblioteca é o colo da escola onde os abraços se dão, os sorrisos se espalham.

Cristina Rocha,
professora bibliotecária do AE da Boa Água, Sesimbra
Novembro 2023

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  1. *Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.
  2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.
  3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.

 

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0