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Blogue RBE

Ter | 11.10.22

Teorias de conspiração: o que os professores precisam de saber

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Leitura 4 min |

A crença de que os acontecimentos são secretamente manipulados por forças poderosas com intenções negativas."

Eis a definição de ‘teoria da conspiração’ avançada neste documento [1] que a UNESCO disponibilizou, recentemente, em livre acesso.

O título do documento, Addressing conspiracy theories: what teachers need to know, desenha com muita clareza o seu duplo objetivo: abordar as teorias da conspiração, desmontando as suas razões, impacto, alcance, etc.; e identificar o que podem, os professores, fazer a seu respeito - assunto da maior relevância para todos os docentes e particularmente para os professores bibliotecários, que têm um papel tão importante a desempenhar no que respeita à promoção da literacia da informação e dos media.

Características das teorias de conspiração

As razões pelas quais se acredita em teorias de conspiração são múltiplas e complexas. Sentimentos de vulnerabilidade, de isolamento, ou de impotência criam essa predisposição. Encontrar outras pessoas partilhando os mesmos receios contribui para a disseminação de teorias e crenças conspirativas.

Mas a responsabilidade não está apenas do lado de quem acredita, e das suas fragilidades. As teorias da conspiração têm características muito sedutoras. Tirando partido das potencialidades comunicacionais da imagem e do vídeo, utilizam discursos de fácil apreensão e constroem visões globais dos fenómenos, oferecendo sentimentos de conforto e de inteligibilidade, face a mundo em constante mutação.

São narrativas simples, no sentido em que concentram a responsabilidade pelos acontecimentos num determinado grupo-alvo, ao contrário da complexidade inerente à compreensão científica dos fenómenos. Grupos percecionados como exteriores, ou constituídos por pessoas de origem diferente, são os alvos mais frequentes, e a crença na sua suposta ‘intencionalidade malévola’ faz ativar planos de resposta, que podem incluir discriminação, discursos de ódio, ou mobilização para a ação violenta.

Perante o crescimento deste tipo de teorias e a concomitante redução da confiança na ciência, nos cientistas e nas instituições científicas, que podem os educadores fazer?

Este grupo de trabalho da UNESCO propõe dois grandes movimentos: um esforço de compreensão sobre estes fenómenos, sobre as razões que lhes subjazem e as inquietações daqueles que o alimentam; e a criação de estratégias que contrariem a sua disseminação, designadamente apetrechando os mais novos com competências para a agência, empoderando-os no combate a este fenómeno.

Como é que isto se pode fazer, em contexto educativo?

A resposta passa, antes de mais, pelo encorajamento do interesse das crianças e jovens pelo pensamento racional e pela atitude científica face aos fenómenos (sejam eles do campo das ciências naturais e da vida, ou das ciências sociais e humanas), o que inclui o questionamento das causas, a verificação de dados e a abertura à discussão crítica e ao contraditório.

Mas passa, acima de tudo pela desconstrução das teorias da conspiração. E a este respeito, vale a pena atentar nas diversas tipologias de ação elencadas neste documento:

- Desconstrução factual:
  Mostrando situações em que informação de base é incorreta;

- Desconstrução baseada em lógica:
  Desmontando racionalmente as técnicas manipuladoras;

- Desconstrução empática:
  Oferecendo, aos crentes nestas teorias, um ambiente de compreensão, e não de hostilidade, na abordagem às suas crenças;

- Desconstrução baseada em fontes de informação:
  Oferecendo competências de literacia que permitam contrariar as estratégias de disseminação.

No combate a este fenómeno, é essencial não esquecer que as crenças das crianças e jovens nascem, frequentemente, nos ambientes familiares e, nesse sentido, pode ser determinante dialogar com os pais sobre as ideias defendidas pelo(s) seu(s) educando(s) em contexto escolar.

Para trabalhar estas questões com o/as aluno/as, aqui ficam algumas das propostas e concelhos muito práticos, que uma leitura do documento oferecerá com maior detalhe:

- Não ridicularizar:
A exposição ao ridículo da criança ou adolescente que acredita em teorias da conspiração só terá como consequência o seu fechamento e recusa a conversar sobre o assunto;

- Insistir no pensamento crítico:
Encorajar atitudes de verificação e revisão crítica das ideias subjacentes às teorias da conspiração;

- Mostrar empatia:
Demonstrar genuíno interesse em compreender das razões do/a aluno/a para acreditar nestas teorias;

- Mensagens de confiança:
Os testemunhos de ex-membros de grupos extremistas são preciosos para a dissuasão das crenças nas teorias conspiracionistas;

- Não forçar:
Evitar demasiada pressão sobre os jovens, construindo diálogos focados na explicação simples de factos objetivos, dando-lhes espaço para absorverem a informação.

O documento termina, naturalmente, com sugestões de outras leituras e fontes de informação, tão importantes para apoiar o labor de todos os docentes no combate a este fenómeno.

 

Referência

1. UNESCO (2022). Addressing conspiracy theories: what teachers need to know. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000381958

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