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Blogue RBE

Seg | 23.06.25

Teaching Compass da OCDE: uma nova bússola para a profissão docente

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Consolidar o papel estratégico das bibliotecas escolares

O Teaching Compass: Reimagining Teachers as Agents of Curriculum Change [1] é um documento publicado pela OCDE, em maio de 2025, que visa apoiar os sistemas educativos na redefinição do papel do professor nos tempos atuais. Surge como complemento ao Learning Compass 2030 [2], o qual se centra nos alunos, oferecendo agora um enquadramento para o desenvolvimento da profissão docente.

Trata-se de uma proposta conceptual que reconhece os professores como agentes ativos de transformação curricular e social, com responsabilidade partilhada na construção de futuros desejáveis. O Teaching Compass afirma-se como uma bússola ética e estratégica, convocando valores, competências e condições necessárias para que os professores possam liderar mudanças significativas, colaborativas e sustentáveis.

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O documento organiza-se em torno de seis áreas fundamentais de desenvolvimento profissional, profundamente interligadas, que dão forma a uma visão integrada da docência. A seguir, desenvolvem-se estes eixos, relacionando-os com o Quadro Estratégico da RBE [3], com o trabalho das bibliotecas escolares e com o modo como estas podem apoiar a transformação educativa nas escolas.

1. Fazer do futuro que queremos uma realidade

A educação contemporânea deve orientar-se para objetivos mais amplos do que a mera transmissão de conteúdos. O Teaching Compass propõe que o ensino e a aprendizagem sejam guiados por uma visão partilhada de futuro, centrada em três dimensões indissociáveis: o bem-estar individual, o bem-estar coletivo e o bem-estar do planeta.

Para concretizar este futuro desejado, é essencial que os professores desenvolvam a capacidade de agir com intenção, refletir sobre o presente e antecipar desafios. Esta abordagem está em sintonia com o trabalho das bibliotecas escolares, que promovem o pensamento crítico, a participação cidadã e a consciencialização ambiental.

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O Quadro Estratégico da RBE sublinha que as bibliotecas escolares devem ser espaços promotores de uma educação para os direitos humanos, da cidadania democrática e da sustentabilidade.

Nas escolas, as bibliotecas podem desempenhar um papel estruturante ao dinamizarem projetos que combinem leitura, investigação e ação com propósito — contribuindo, assim, para uma cultura educativa orientada por valores e por objetivos globais.

2. Ancorar a prática numa identidade profissional sólida

O Teaching Compass coloca a identidade profissional dos professores no centro da transformação educativa. Ser professor não se resume a executar tarefas técnicas ou cumprir metas externas. Envolve um sentido de missão, uma consciência ética e a pertença a uma comunidade de prática.

O documento destaca três dimensões:

  • Ser (Being): ser autêntico, íntegro e coerente com valores pessoais;
  • Pertencer (Belonging): sentir-se parte de uma cultura escolar colaborativa;
  • Tornar-se (Becoming): estar comprometido com a aprendizagem ao longo da vida.

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O Quadro Estratégico da RBE aposta no reforço da identidade e da formação contínua dos professores bibliotecários, enquanto profissionais especializados que planeiam, implementam e avaliam serviços de apoio à aprendizagem.

As bibliotecas escolares são espaços privilegiados de pertença e desenvolvimento profissional. Ao articularem-se com todas as estruturas e docentes da escola, contribuem para o reforço da identidade docente e para a consolidação de comunidades de prática reflexiva.

3. Agência docente para liderar a mudança curricular

A agência docente é a capacidade de agir intencionalmente, de influenciar contextos e de liderar processos de inovação pedagógica. Mais do que autonomia (que pode ser concedida ou retirada), a agência é um traço interno, sustentado por convicções, competências e sentido de responsabilidade.

O Teaching Compass defende que os professores devem ser reconhecidos como cocriadores do currículo, em parceria com os alunos, colegas, famílias e também com tecnologias emergentes, como a inteligência artificial. Isto implica um afastamento dos modelos hierárquicos e uma aposta na liderança distribuída.

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O Quadro Estratégico da RBE propõe que as bibliotecas integruem a reflexão pedagógica da escola, contribuindo para o desenvolvimento do currículo e para a inovação educativa.

As bibliotecas escolares podem potenciar a agência dos professores, funcionando como laboratórios de inovação pedagógica, espaços de experimentação curricular e pontos de articulação entre os diferentes atores educativos. Ao promoverem projetos interdisciplinares e centrados nos alunos, contribuem para que os docentes exerçam a sua agência de forma significativa.

4. Competências para navegar na complexidade

Ser professor hoje é lidar com uma realidade em constante mudança. Os desafios não são simples nem isolados: exigem pensamento sistémico, articulação entre áreas do saber, sensibilidade intercultural e literacia digital.

O Teaching Compass propõe uma visão integrada da competência profissional, que combina:

  • conhecimentos (disciplinares, pedagógicos, epistemológicos),
  • capacidades (cognitivas, metacognitivas, socioemocionais),
  • atitudes e valores (ética, empatia, responsabilidade).

Esta mobilização integrada é fundamental para enfrentar questões como as alterações climáticas, a desinformação, a inteligência artificial ou a inclusão.

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O Quadro Estratégico da RBE identifica como missão das bibliotecas escolares formar leitores críticos, autónomos e criativos e garantir o acesso, avaliação crítica e uso da informação e dos média, enfatizando assim a necessidade de mobilizar saberes integrados para responder a desafios complexos.

As bibliotecas escolares são espaços ideais para desenvolver estas competências. Promovem práticas baseadas na interdisciplinaridade, no acesso à informação qualificada e na construção crítica do conhecimento. Com recursos diversificados e projetos centrados na realidade dos alunos, ajudam a transformar a complexidade em oportunidades de aprendizagem.

5. Bem-estar para uma profissão sustentável

O bem-estar dos professores é condição para o sucesso educativo. O documento da OCDE afirma que não é possível pedir inovação, compromisso e liderança se os docentes estiverem exaustos, desmotivados ou isolados.

O bem-estar docente é apresentado como um equilíbrio entre:

  • condições organizacionais (ambiente de trabalho, carga horária, apoio institucional),
  • fatores relacionais (colaboração, confiança, cultura de apoio),
  • práticas individuais (autocuidado, sentido de propósito, gestão emocional).

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O Quadro Estratégico da RBE reforça a importância da biblioteca como um espaço de acolhimento, segurança e colaboração, com impactos no ambiente escolar e na qualidade das relações profissionais.

As bibliotecas escolares podem contribuir ativamente para a construção de ambientes de trabalho mais saudáveis e significativos. Através de uma cultura de acolhimento, de partilha e de valorização do saber, ajudam a reforçar os laços profissionais e a reduzir o isolamento. Quando integradas nas dinâmicas da escola, funcionam como espaços seguros e inspiradores para o exercício da profissão.

6. Professores como parte de ecossistemas de aprendizagem

A educação do futuro é um esforço coletivo. O Teaching Compass defende uma lógica de ecossistema: escolas que trabalham em articulação com famílias, comunidades, municípios, universidades, redes e… naturalmente, bibliotecas.

Os professores não são ilhas. São nós numa rede de saberes, práticas e relações. Para isso, é necessário investir na criação de estruturas colaborativas sustentadas, na valorização do trabalho em equipa e na abertura ao exterior.

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O Quadro Estratégico da RBE valoriza as redes de colaboração local e nacional, o trabalho interprofissional e a relação com as autarquias e outros parceiros culturais e educativos.

A Rede de Bibliotecas Escolares constitui, por definição, um ecossistema colaborativo. Ao trabalhar em articulação com diferentes agentes e ao promover projetos de impacto local e nacional, a biblioteca escolar afirma-se como uma peça-chave na construção de escolas abertas, colaborativas e orientadas para o bem comum.

Uma bússola ética, profissional e estratégica

Sendo um documento de apoio, O Teaching Compass não dita o caminho, mas ajuda a orientá-lo. Oferece uma linguagem comum, um conjunto de princípios e uma ambição: que os professores sejam reconhecidos, capacitados e acompanhados como protagonistas de uma educação transformadora.

O Teaching Compass e o Quadro Estratégico da RBE convergem na perspetiva transformadora e humanista da educação, ocupando as bibliotecas escolares um lugar central no desenvolvimento de ambientes de aprendizagem colaborativos, éticos e orientados para o futuro.

Para as bibliotecas escolares, este documento representa uma oportunidade para reforçar o seu papel como espaços estratégicos de desenvolvimento profissional, inovação pedagógica e promoção de uma cultura de bem-estar, responsabilidade e cidadania.

Referências

  1. OECD. (2025). Teaching Compass: Reimagining teachers as agents of curriculum change. OECD Publishing.
    https://www.oecd.org/en/publications/oecd-teaching-compass_8297a24a-en.html
  2. OECD. (2020). OECD Learning Compass 2030: A series of concept notes. OECD Publishing.
    https://www.oecd.org/education/2030-project/teaching-and-learning/learning/learning-compass-2030/
  3. Rede de Bibliotecas Escolares. (2021). Bibliotecas Escolares: presentes para o futuro. Programa Rede de Bibliotecas. Escolares: Quadro estratégico: 2021-2027. https://rbe.mec.pt/np4/file/890/qe__21.27.pdf

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