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Blogue RBE

Seg | 08.05.23

“Retalhos” que me dão certezas

Por Edite Félix, professora bibliotecária do AE da Ericeira, Mafra

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“ Sabes com quem eu aprendi a ler?” - perguntou uma criança de sorriso no rosto ao passar por mim na entrada da escola. 

Sugeri várias hipóteses: a professora, os pais,...Com um brilho no olhar disse-me: ”Foste tu; foi contigo!” Fiquei sem palavras e abracei-o. São "retalhos" como este que me dão a certeza de que a biblioteca escolar é o meu lugar. É aqui que eu partilho, que eu dou, que eu recebo e um dos lugares onde sou simplesmente eu.

Desde que assumi o cargo de professora bibliotecária, logo senti que esta função é muito mais do que simplesmente gerir um espaço cheio de livros. É uma profissão que requer um amor pela leitura e uma inteligência emocional refinada, capaz de criar um ambiente acolhedor e que promova uma verdadeira inclusão.

Nos dias em que entro na biblioteca encarnando uma das personagens das histórias que vou partilhar, todo o espaço se transforma e as crianças mergulham no mundo da fantasia, ficando à porta o mundo real. A leitura com amor permite tudo isto. É mágica, é acolhedora, é um refúgio. Não há dois dias iguais vividos na biblioteca; cada dia traz uma nova oportunidade para aprender algo diferente e estimulante. A abertura da biblioteca traz consigo a luz do sol e o brilho nos olhos das crianças, enquanto os dias chuvosos são iluminados pelas vozes e risos dos alunos.

 

Que prazer é guiar os alunos pelos "cantos da casa" e mostrar como cuidar do espaço que é nosso! Só então, estes conseguem movimentar-se na biblioteca e com ela crescerem de forma completa e harmoniosa. A biblioteca de hoje deve ser dinâmica, abrangente e diversificada, proporcionando uma ampla gama de experiências de leitura e usos diferentes para diferentes públicos. 

A promoção de atividades de leitura em voz alta com as crianças, através do projeto “Voluntários da leitura”, tem sido verdadeiramente gratificante. Trata-se de momentos de enorme partilha e sente-se o poder da leitura. O silêncio, a escuta ativa e o olhar sonhador das crianças que assistem, reflete-se no sorriso genuíno do transbordar de satisfação do aluno leitor voluntário. Estes momentos são quase indescritíveis e enchem a biblioteca de paz e harmonia em torno da leitura que todos adoram. Como se de uma poção mágica se tratasse!

“Can I read for the other class?”- perguntou-me uma aluna recém chegada ao nosso país. Espantada respondi: “Of course, you can!” O sorriso expresso naquele rosto mostrou-me, mais uma vez, que a leitura não tem qualquer barreira. Assim, ser professora bibliotecária tem sido bastante desafiador para mim. Encontrar formas criativas de envolver e motivar os alunos a ler e usar a biblioteca requer muita dedicação e esforço. É preciso desenvolver e aprimorar continuamente a inteligência emocional para criar uma ligação/proximidade com o aluno e acompanhá-lo no seu percurso de leitor. Só assim faz sentido!

Cada dia vivido na biblioteca escolar tem trazido experiências reveladoras de amor. A ida  às salas de aula para desafiá-los a participar em concursos, workshops, encontros com escritores, ateliês de escrita, entre outras atividades, é uma oportunidade de desenvolver estratégias de promoção para incentivar o uso da biblioteca e assim torná-la o centro da escola, onde recebo a  todos de “braços abertos”. 

Tudo isto só é possível com o apoio e a colaboração dos professores com quem trabalho. Eles são as minhas asas. Acreditam e permitem-me voar. Enquanto assim for, é aqui que eu vou estar.

Edite Félix, professora bibliotecária
Agrupamento de Escolas da Ericeira

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1. *Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.

2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.

3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0