Resultados do PISA 2022 (Volume V): Estratégias de aprendizagem e atitudes para a vida
Presentemente, os sistemas educativos enfrentam o desafio sem precedentes de preparar os seus estudantes para encontrarem o seu lugar e serem bem-sucedidos num mundo marcado por profundas incertezas ambientais, sociais e económicas. Para se adaptarem com êxito a este mundo em constante mutação, os jovens de hoje precisam de ser capazes de se envolver numa dinâmica de aprendizagem ao longo da vida.
Consciente deste imperativo, o inquérito PISA propôs-se avaliar em que medida os estudantes de 15 anos estão preparados para continuar a aprender para além da escolaridade obrigatória, sondando a forma como utilizam diferentes estratégias de aprendizagem fundamentais, a sua motivação para aprender e a sua confiança na sua capacidade de adquirir, sintetizar e mobilizar novos conhecimentos através do estudo e do esforço.
É esse o objeto do V volume do relatório PISA 2022 [1], o volume final, que foi dado a conhecer no dia 13 de novembro de 2024.
Um aspeto extremamente positivo que ressalta neste volume é que está ao alcance de todos os países e economias transmitir os valores, métodos e atitudes necessários para formar alunos resilientes que queiram aprender dentro e fora da escola, hoje e ao longo da vida.
Alguns países destacam-se pela positiva em algumas questões; por exemplo os alunos portugueses são evidenciados pelo estudo graças à sua grande capacidade de pensamento crítico e de colocar as situações em perspetiva, assim como pelo apoio que recebem das suas famílias. Porém um número significativo de alunos continua a ter dificuldades em termos de motivação, ansiedade e aprendizagem autónoma e sem um maior empenho por parte dos países em remediar esta situação, toda uma geração de alunos não estará devidamente preparada para enfrentar os desafios de hoje e de amanhã.
Uma das pedras angulares da aprendizagem ao longo da vida é a capacidade de autorregulação e perseverança. No entanto, os resultados do inquérito PISA 2022 revelam que a utilização de estratégias de aprendizagem neste sentido - fazer perguntas quando não se compreende algo, basear-se no que se aprendeu ou ser capaz de ter em conta outros pontos de vista - está longe de ser universal entre os alunos, havendo ainda muitos progressos a fazer para os dotar das ferramentas necessárias para se envolverem numa dinâmica de aprendizagem autónoma e sustentável.
A motivação é outro pilar da aprendizagem ao longo da vida. De acordo com os dados do PISA, os alunos intrinsecamente motivados têm mais probabilidades de adotar estratégias de aprendizagem eficazes e de pensar de forma crítica. No entanto, o inquérito aponta também para disparidades na motivação dos alunos em função do seu contexto socioeconómico e do seu género. As raparigas, por exemplo, referem frequentemente uma maior motivação intrínseca do que os rapazes, mas também uma maior ansiedade em relação à matemática, mesmo quando os seus resultados na disciplina são iguais. Estas disparidades podem também ser observadas entre alunos de meios socioeconómicos favorecidos e desfavorecidos. Por conseguinte, estes resultados recordam a necessidade de intervenções específicas para aumentar a motivação e a resiliência de todos os alunos, independentemente da sua origem socioeconómica e do seu género.
A autoconfiança de um aluno, ou seja, a medida em que ele acredita nas suas próprias capacidades, desempenha um papel crucial na sua vontade de enfrentar desafios e perseverar apesar das dificuldades. Um aluno que acredite mais nas suas capacidades tem mais probabilidades de adotar estratégias de aprendizagem que favoreçam uma compreensão aprofundada das matérias e a resolução de problemas. No entanto, os resultados do inquérito PISA 2022 mostram que esta autoconfiança varia muito de um país/economia e de um grupo de alunos para outro, mostrando que temos de redobrar os nossos esforços para aumentar a autoconfiança dos alunos com dificuldades.
Este volume sublinha igualmente a importância da aprendizagem autónoma, em particular nesta era de mudanças tecnológicas cada vez mais rápidas. Embora a maioria dos estudantes afirme estar confiante na sua capacidade de encontrar informação em linha, um número muito inferior consegue avaliar facilmente a qualidade e a fiabilidade dessa informação. Esta é uma competência crucial no nosso mundo cada vez mais digital, onde a capacidade de determinar a credibilidade das fontes de informação é um pré-requisito não só para o sucesso académico, mas também para uma cidadania informada.
Os sistemas educativos podem e devem desempenhar um papel ativo na promoção da aprendizagem ao longo da vida, trabalhando não só para garantir que os seus alunos tenham sucesso na escola, mas também para desenvolverem as competências, estratégias e atitudes que são essenciais para que possam participar numa dinâmica de aprendizagem sustentável
Percentagem de alunos que utilizam cada uma das cinco estratégias de aprendizagem, em média, nos países da OCDE
Posicionamento dos alunos em relação às principais estratégias de aprendizagem
- O questionamento é um motor fundamental da aprendizagem. No entanto, em média, nos países da OCDE, menos de metade dos alunos (47%) fazem frequentemente perguntas quando não compreendem o tema da aula de matemática.
- O pensamento crítico (ou a colocação das questões em perspetiva) é outra estratégia de aprendizagem essencial. Implica ter em conta o ponto de vista de todos antes de tomar uma posição e ver as coisas de diferentes ângulos. Em média, menos de 60% dos estudantes utilizam este tipo de estratégia. Em Portugal esse valor é significativamente acima da média: 80%.
- É de importância vital que os alunos adquiram o hábito de estabelecer as suas próprias ligações entre o que estão a aprender e o que já sabem. Atualmente, porém, menos de metade dos alunos dizem que o fazem mais de metade do tempo nas aulas de matemática.
- Os alunos que adotam regularmente estas estratégias de aprendizagem obtêm geralmente melhores resultados do que aqueles que não as adotam, mesmo tendo em conta o perfil socioeconómico dos alunos e das escolas.
- Na maior parte dos sistemas educativos, as raparigas e os estudantes socioeconomicamente mais favorecidos referem utilizar com mais frequência estratégias de aprendizagem do que os rapazes e os estudantes desfavorecidos.
Motivação e predisposição, fatores importantes para a utilização de estratégias de aprendizagem
- A motivação intrínseca, como o gosto por aprender coisas novas na escola, é um indicador sistemático da adoção de estratégias de aprendizagem, mesmo depois de se ter em conta o perfil socioeconómico dos alunos e das escolas. No entanto, nos países da OCDE, apenas cerca de metade ou menos dos alunos, em média, referem motivações intrínsecas para aprender. Em Portugal, esta proporção encontra-se muito acima da média (73%).
- O inquérito PISA revela uma estreita relação entre a confiança dos alunos na sua capacidade de progredir a observação de estratégias, atitudes e resultados de aprendizagem positivos. No entanto, embora 58% dos estudantes afirmem estar geralmente confiantes na sua capacidade de progredir, apenas 35% mencionam especificamente esta mentalidade de desenvolvimento em matemática.
- A cooperação destaca-se como a competência socio-emocional mais estreitamente ligada à adoção de atitudes de pensamento crítico por parte dos alunos.
- A ansiedade que os alunos manifestam em relação à matemática tem aumentado desde 2012, o último ciclo do PISA em que esta disciplina foi o principal domínio avaliado - com todas as consequências que este facto pode ter para o seu bem-estar e para a sua preparação para a aprendizagem ao longo da vida. No entanto, esta tendência não tem nada de inevitável e os sistemas educativos podem contrariá-la.
- Os estereótipos de género sobre a aprendizagem da matemática são persistentes. Os rapazes têm mais probabilidades do que as raparigas (com uma diferença média de 7 pontos percentuais) de afirmarem que estão confiantes na sua capacidade de progredir em matemática. As raparigas também referem níveis mais elevados de ansiedade em relação à matemática do que os rapazes, mesmo entre os alunos com melhor desempenho.
O papel da autonomia na aprendizagem ao longo da vida
- Os jovens de 15 anos sentem-se à vontade para procurarem recursos na Internet.
- No entanto, os alunos têm muito mais dificuldade em avaliar a qualidade da informação encontrada em linha, com apenas 51% a afirmarem ser capazes de o fazer facilmente, em média, nos países da OCDE. Isto é particularmente verdade no caso dos alunos com fraco desempenho, 60% dos quais, em média, não conseguem avaliar facilmente a qualidade da informação em linha, em comparação com 43% dos alunos com elevado desempenho.
- A ligação entre a pesquisa de informação em linha e a verificação da sua fiabilidade não é de modo algum óbvia: em média, menos de 50% dos estudantes afirmam discutir a exatidão desta informação com os seus professores ou nas aulas.
- Os alunos que verificam a qualidade, a credibilidade e a exatidão da informação que encontram em linha têm mais probabilidades de serem conscienciosos, de pensarem criticamente, de estabelecerem as suas próprias ligações entre o que aprendem e os seus conhecimentos prévios e de terem motivações intrínsecas e instrumentais para a aprendizagem.
Aprender para o século XXI e para o mundo de amanhã
- Os alunos proativos que tentam relacionar uma nova aprendizagem com o que aprenderam nas aulas anteriores, que se certificam sempre de que compreenderam o que lhes está a ser ensinado e que são expostos a práticas de ativação cognitiva nas aulas, são os que têm mais probabilidades de estar confiantes nas suas competências matemáticas para o século XXI.
- Apenas cerca de um terço dos alunos recebe frequentemente atividades matemáticas do século XXI nas aulas, como a extração de informação matemática de diagramas, gráficos ou simulações, e apenas um em cada cinco recebe atividades como a interpretação de soluções matemáticas para problemas da vida real.
- As práticas de ativação cognitiva, tais como encorajar os alunos a pensar em formas de resolver problemas matemáticos diferentes das apresentadas na aula, ou a explicar o seu raciocínio, estão fortemente associadas à sua confiança nas suas competências matemáticas para o século XXI.
- Os alunos proativos, que tentam relacionar o que estão a aprender com os seus conhecimentos prévios, são particularmente confiantes na sua capacidade de representar, extrair e interpretar informação matemática, mesmo em situações do quotidiano.
Família e ambiente de aprendizagem: fatores decisivos para o sucesso dos alunos
- Os alunos que têm interações diárias regulares com os pais e que discutem com eles a sua aprendizagem e a escola (76% em Portugal, contra 58% na OCDE), utilizam mais estratégias de aprendizagem e mostram maior motivação para aprender, mesmo tendo em conta o perfil socioeconómico dos alunos e das escolas.
- Os alunos que recebem mais apoio dos seus professores são frequentemente mais proativos na aprendizagem da matemática. São também pensadores mais críticos, mais autorregulados na sua aprendizagem e mais motivados para aprender.
- Os alunos em situação de insegurança alimentar têm menos probabilidades de adotar estratégias de autorregulação para aprender e, em geral, parecem ser mais passivos na sua aprendizagem.
- Os estudantes que têm um emprego a tempo parcial tendem a ter uma atitude mais positiva e um maior sentido de responsabilidade e elevada motivação para aprender.
Notas
- Para uma boa compreensão da forma como os alunos portugueses se posicionam face aos dos restantes 80 países abrangidos pelo estudo, sugerimos a consulta dos gráficos interativos disponibilizados online.
- Este artigo terá continuidade. Divulgar-se-ão algumas pistas, apresentadas pelo estudo, sobre o modo como os professores podem adaptar-se às necessidades dos alunos, em toda a sua diversidade, e como podem os professores e os pais trabalhar em conjunto para garantirem que os alunos prosperam em ambientes de aprendizagem positivos.
Referência
[1] OCDE. (2024). Resultados do PISA 2022: Estratégias e atitudes dos alunos em relação à aprendizagem: Pontos fortes para a vida. PISA. Publicação OCDE. https://doi.org/10.1787/29f9ad1c-fr .
📷 Resultados do PISA 2022