Resiliência: uma força individual, institucional e sistémica, indispensável em educação
Se alguma coisa nos ensinou a pandemia da COVID-19, é que o futuro nos surpreenderá sempre e que a resiliência é imprescindível para se enfrentar este mundo em permanente desequilíbrio.
Assim, a educação afigura-se como fundamental para fortalecer a resiliência cognitiva, social e emocional entre os alunos, ajudando-os a compreender que viver significa tentar, falhar, adaptar-se, aprender e evoluir. Mas as nossas instituições educativas e os nossos sistemas educativos também precisam de se tornar mais resilientes para terem sucesso face a perturbações imprevisíveis.
A resiliência pode ajudar-nos a orientarmo-nos na mudança
A resiliência proporciona aos indivíduos, às instituições e às comunidades a flexibilidade, a inteligência e a capacidade de resposta de que necessitam para prosperar na mudança social e económica.
A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) alerta para o facto de isso exigir que as políticas públicas se tornem muito mais criativas, considerando que não é possível preparar educadores, instituições de ensino e sistemas educativos para um futuro único. Os ecossistemas políticos têm que se tornar melhores a imaginar futuros diversos para a educação e a antecipar as consequências dessa diversidade para os objetivos e funções das organizações e estruturas educativas, para a força de trabalho em educação, e, em última análise, têm que pensar melhor sobre o futuro que desejam para a educação.
A resiliência constrói a capacidade de se orientar por entre a modernização e a rutura, de conciliar novos objetivos com estruturas antigas, de fomentar a inovação, reconhecendo ao mesmo tempo a natureza intrinsecamente conservadora dos sistemas educativos, de aproveitar o potencial da capacidade existente e de reconfigurar os espaços, as pessoas, o tempo e as tecnologias para educar os alunos para o seu futuro e não para o nosso passado.
Um quadro de referência para a capacidade de resposta e resiliência
Tudo isto é fácil de dizer, mas difícil de fazer. Para facilitar, o Quadro de capacidade de resposta e resiliência apresentado na edição deste ano do Education Policy Outlook da OCDE torna o conceito de resiliência individual, institucional e sistémica acionável em termos políticos, reunindo exemplos de mais de 40 sistemas educativos.
Tendo uma visão a curto e médio prazo, este quadro proporciona quer uma janela para os sistemas de educação, quer um espelho das políticas educativas. Analisa as práticas que promovem a capacidade de resposta e a resiliência nos sistemas de educação, funcionando como um estímulo para refletir sobre o modo como as políticas educativas podem trazer mudanças profundas, consequentes e positivas aos sistemas de educação.
E se os alunos fossem capazes de aprender no seu próprio tempo e pelas suas regras, e não no tempo e pelas regras dos adultos?
E se os governos pudessem induzir uma maior consciência dos professores como profissionais valorizados, em estruturas e processos ousadamente reimaginados que os capacitassem como profissionais de confiança, transformando regras em diretrizes e boas práticas e, em última análise, boas práticas em cultura?
E se os sistemas educativos pudessem passar de uma cultura de conformidade e normalização para uma cultura construída sobre a inovação e a avaliação rigorosa e reflexiva com vista a apoiar o sistema a estabelecer e alcançar novos objetivos?
O enquadramento apresentado pela OCDE leva os decisores políticos a explorar estas questões e muito mais. Ao fazê-lo, podemos reforçar a resiliência dos alunos, dos sistemas educativos e das sociedades como um todo, para que estejam mais bem equipados para lidar com o futuro desconhecido que necessariamente enfrentam.
Pensemos agora nas bibliotecas escolares, enquanto estruturas plenamente integradas no sistema educativo e, por isso, igualmente atingidas por esta necessidade de conscientemente promover a resiliência: individual, institucional e sistémica.
De que forma podemos contribuir para trabalhar esta competência socioemocional com os nossos alunos? Essa terá de ser uma matéria em foco na nossa agenda, já que está perfeitamente integrada no que está previsto no quadro estratégico da RBE [1], designadamente no seu eixo Pessoas: “Induzir dinâmicas que conduzam a comportamentos e estilos de vida responsáveis, promotores de bem-estar (individual, coletivo, ambiental)”.(p.47).
Enquanto organização plenamente inserida na escola, a biblioteca tem de estar preparada para a única certeza que o futuro nos reserva: a mudança e tudo o que ela acarreta. Exige-se abertura e disponibilidade para uma contínua adaptação de objetivos, procedimentos, modos de estar e de atuar.
Só assim será possível à biblioteca integrar-se na vanguarda da escola, contribuindo para a sua resiliência, cultura de flexibilidade e permanente resposta e adaptação à mudança. Cumprirá deste modo mais uma diretriz do Quadro Estratégico da RBE: “Responder a questões emergentes e a mudanças contextuais, projetando o futuro”(p.41)
Eis algumas reflexões suscitadas pelo texto de Andreas Schleicher [2] que nos leva a pensar a mesma questão da resiliência em diferentes níveis, desde o individual ao global.
Este artigo foi adaptado a partir de Balancing the urgent and the important is key to resilience in education [2].
Referências
[1] Portugal. Rede de Bibliotecas Escolares (2021). Bibliotecas Escolares: presentes para o futuro. Programa Rede de Bibliotecas Escolares: Quadro estratégico: 2021-2027. https://rbe.mec.pt/np4/file/890/qe__21.27.pdf
[2] Scleider, Andreas (2021). Balancing the urgent and the important is key to resilience in education https://oecdedutoday.com/balancing-urgent-important-key-resilience-education/