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Blogue RBE

Seg | 13.11.23

Relatório global de confiança 2023

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2023 – Navegamos num mundo polarizado

Segundo o relatório global Edelman Trust Barometer 2023 (23.ª ed.), que resulta da resposta de mais de 32.000 pessoas de 28 países a questionários digitais, regista-se uma falta de confiança nas 4 principais instituições: empresas, governo, ONG e meios de comunicação social.

Portugal não participa no estudo, mas no contexto global, as suas conclusões podem ajudar a compreender e prevenir fenómenos nacionais.

Segundo o Relatório Global 2023, a falta de confiança nas instituições resulta de 4 fatores

1. Desempenho Económico e Expectativas de Renda Futura

24 dos 28 países “registam mínimos históricos” de confiança de que “as suas famílias estarão melhor em cinco anos”: 36% é o nível máximo de confiança dos países desenvolvidos.

Este medo/ansiedade ou pessimismo económico, nas palavras do Relatório, é menor nas economias em crescimento que lideram o índice de confiança económica: Índia, Indonésia, Arábia Saudita, Singapura.

2. Desequilíbrio institucional

 O governo é percecionado como incompetente e antiético, ao contrário das empresas que estão à frente do governo: 53 pontos na perceção de competência e 29 pontos na ética.

Esta tendência que se tem vindo a registar resulta provavelmente do desempenho das empresas durante a pandemia Covid-19, em relação à Agenda 2030 e ao abandono do mercado russo no contexto da invasão da Ucrânia: “As empresas estão sob pressão para ocupar o vazio deixado pelo governo”.

3. Divisão entre classes sociais

O nível de confiança anda a par dos rendimentos: “Aqueles que se encontram no quartil superior de rendimento têm uma visão profundamente mais positiva das instituições do que aqueles que se encontram no quartil inferior”. A crescente desigualdade de rendimentos faz com que as pessoas vivam vidas separadas, demonstrem “falta de identidade partilhada” e vontade em contribuir para os desígnios nacionais.

O Relatório mostra que, para cada país, ao longo do tempo, têm aumentado as divisões. Os países que lideram este aumento são, por ordem decrescente: Países Baixos/Holanda, Brasil, Suécia, França, Nigéria, EUA, Alemanha e Reino Unido.

4. A batalha pela verdade

A pandemia Covid-19 gerou – até hoje – uma contínua perda de confiança nos meios de comunicação social, sendo percecionados como fonte de desinformação: “Um ambiente mediático partilhado deu lugar a câmaras de eco, tornando mais difícil resolver problemas colaborativamente. Os media não são fiáveis, têm uma confiança especialmente baixa os media sociais”, pois há a perceção global de que a Internet não é segura nem confiável.

Também os governos são considerados fontes de informação falsa e enganosa. ONG e empresas são as únicas consideradas com informação confiável, conforme gráficos infra.

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 5. Injustiça sistémica e polarização

A “injustiça sistémica” (Systemic unfairness) resulta da maioria das pessoas considerar a ocorrência simultânea destes 4 fatores. Ela gera a perceção de que “navegamos num mundo polarizado”, conclusão do Relatório.

Quanto maior é a desigualdade, maior é a falta de confiança e de polarização e vice-versa, pois a polarização é causa e consequência da desconfiança.

Há 6 países que estão em risco de “polarização severa”: Brasil, França, Reino Unido, Japão, Alemanha e Itália.

A polarização agrava os medos de, por ordem decrescente: preconceito e de discriminação, decréscimo de desenvolvimento económico e violência nas ruas. 65% dos inquiridos considera que “o civismo e o respeito mútuo é hoje o pior que alguma vez viu”.

Professores, ONG e líderes de empresa são, por ordem decrescente, percecionados como fontes congregadoras e unificadoras das pessoas. Em contrapartida, são percecionados como forças que dividem e separam, por ordem decrescente, as pessoas ricas e poderosas, os governos – sobretudo estrangeiros e hostis – e os jornalistas.

“Só as empresas são competentes e éticas” - pelo terceiro ano consecutivo mantêm o aumento ético – e são confiáveis. Os inquiridos pretendem das empresas maior envolvimento social em áreas como, por ordem decrescente: mudança climática e desigualdade económica; informação confiável e requalificação de mão de obra. Este envolvimento social faz com que as empresas corram o risco de serem politizadas. O Relatório também evidencia que quando os governos e as empresas trabalham em conjunto, há melhores resultados sociais.

Para os inquiridos as empresas devem continuar a:

  • Liderar, os cidadãos depositam nelas grandes expetativas e responsabilidades em apresentar soluções sobre “o clima, a diversidade, a inclusão e desenvolvimento de competências”;

  • Colaborar com o governo, a restaurar o otimismo económico e a advogar pela verdade e a ter papel central no ecossistema de informação e a promover o discurso dos cidadãos.

 

2017 – Confiança em crise ou implosão da verdade

No contexto da campanha presidencial dos EUA, que levou à eleição de Donald Trump nos EUA e do ​​referendo do Brexit no Reino Unido, 2017 revelou “a maior queda de sempre na confiança nas instituições”, segundo o Comunicado de Imprensa do Relatório 2017 [2].  

Em 2017 apenas 15% dos inquiridos acredita que o sistema está a funcionar. Inclusive, as elites com elevado rendimento, com formação universitária e bem informadas, entre 48 a 51% diz que o sistema falhou para eles.

Neste período, a comunicação social – inclusive medias tradicionais – é percecionada como menos confiável que o governo e as instituições, ONG e empresas. Esta “falta de confiança nos meios de comunicação social também deu origem ao fenómeno das notícias falsas e aos políticos que falam diretamente às massas”, sem intermediários de imprensa ou sem ser na Assembleia/ Parlamento [3].

Um dos 10 insights/perceções do Barómetro 2017 [4] é que os media são percecionados como camaras de eco (the media echo chamber): 53% das pessoas não escutam regularmente pessoas ou organizações das quais discordam e ignoram informação contrária à que acreditam.

Esta quebra de confiança nos media e nos governos – a segunda instituição menos confiável – associada aos efeitos da globalização e ao ritmo crescente de desenvolvimento de tecnologias digitais e de inovação, “transforma-se em medos, estimulando o aumento de ações populistas que agora ocorrem em várias democracias”. “Populistas” e nacionalistas: em Portugal, temos o exemplo da rápida ascenção do Chega. Esta tendência política surge associada ao crescimento de movimentos inorgânicos de fragmentação do poder e de fragilização dos governos e das democracias.

Para reconstruir a confiança nas instituições, o Barómetro 2017 propõe que estas reformulem o seu modus operandi tradicional e criem um novo modelo “mais integrado que coloque as pessoas — e a abordagem dos seus medos — no centro de tudo o que fazem” [5].

Para todos serem parceiros e co-construtores das instituições e criarem relações de confiança, a literacia da informação e media e a educação para a cidadania é componente essencial de todas as ações e projetos com a biblioteca escolar, co-criados e postos em prática com as crianças e jovens. 

Referências

  1. (2023). Edelman Trust Barometer: Global Report. https://www.edelman.com/sites/g/files/aatuss191/files/2023-03/2023%20Edelman%20Trust%20Barometer%20Global%20Report%20FINAL.pdf
  2. (2017). Trust Barometer. https://www.edelman.com/trust/2017-trust-barometer
  3. (2017). 2017 Edelman TRUST BAROMETER Reveals Global Implosion of Trust. https://www.edelman.com/news-awards/2017-edelman-trust-barometer-reveals-global-implosion
  4. (2017). 10 Trust Barometer Insights. https://www.scribd.com/document/336642756/10-Trust-Barometer-Insights
  5. (2017). Edelman Trust Barometer Reveals Global Implosion. https://www.edelman.com/news-awards/2017-edelman-trust-barometer-reveals-global-implosion
  6. 📷 [1]

 

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