Relatório de tendências da IFLA 2021
Desde 2012, a IFLA (Federação Internacional de Associações de Bibliotecas e Instituições) tem trabalhado com um amplo leque de especialistas e partes interessadas de diferentes disciplinas (cientistas sociais, economistas, líderes empresariais, especialistas em educação, juristas e tecnólogos) para ajudar a identificar tendências sociais que afetarão o futuro dos ambientes de informação.
O Relatório de Tendências da IFLA (publicado pela primeira vez em 2013 e com atualizações em 2016, 2017, 2018 e 2019) é, pois, o resultado do diálogo entre o campo das bibliotecas e peritos de uma série de disciplinas. Ao cruzar diferentes experiências e perspetivas, estes relatórios proporcionam uma oportunidade para explorar e discutir as tendências emergentes que estão a moldar o mundo em que as bibliotecas trabalham.
O primeiro Relatório, em que não se procura prever o futuro, mas sim explorar as forças que o irão influenciar, identificou cinco tendências no ambiente global da informação, abrangendo o acesso à informação, educação, privacidade, envolvimento cívico e transformação tecnológica.
As atualizações subsequentes, disponíveis no site Trend Report, têm aberto caminhos e questões para reflexão, trazendo novas vozes de dentro e de fora do campo da biblioteca.
Espera-se que estes relatórios sirvam como ponto de partida para a discussão tanto no campo das bibliotecas, como quando se fala com parceiros externos. É um apoio à reflexão sobre como melhor se preparar para o que está para vir, para que as bibliotecas não só sobrevivam, mas prosperem.
A forma como as bibliotecas respondem a estas tendências terá uma influência decisiva sobre a importância do papel que desempenharão no panorama da informação em evolução.
Em janeiro de 2022, a IFLA publicou a sua atualização referente a 2021, com referências inevitáveis à pandemia COVID 19 e à forma como esta tem sido um teste capacidade de adaptação à mudança, e de mostrar resiliência, imaginação e inovação, capacidades cruciais para que o campo da informação possa continuar a desempenhar um papel central em prol do desenvolvimento sustentável para o futuro.
A maior parte do relatório está centrada em 20 tendências derivadas dos contributos recebidos de líderes emergentes anteriormente a 2021, as quais representam possíveis direções em que as sociedades e o campo das bibliotecas poderiam evoluir. Nenhuma delas é certa e por vezes são mesmo conflituantes entre si; algumas são globais, falando de mudanças gerais na política e na sociedade, enquanto outras são mais específicas das próprias bibliotecas. O relatório elenca as seguintes tendências:
1 Tempos difíceis pela frente: Uma lenta recuperação da COVID irá pressionar todas as formas de despesa pública, o que, aliado à crença de que, graças à tecnologia, as bibliotecas são menos necessárias do que antes, exigirá que estas intensifiquem os esforços em sua defesa
2 O virtual está para ficar: As pessoas continuarão a preferir o acesso remoto aos serviços da biblioteca, pondo em causa o valor dos espaços e das ofertas físicas, sendo necessário passar para uma lógica de prestação remota permanente.
3 O regresso dos espaços físicos: As pessoas redescobrirão o valor dos espaços que oferecem oportunidades para interação e discussão significativas.
4 A ascensão das competências brandas (soft skills): Numa época de rápida evolução das tecnologias, torna-se cada vez mais importante que os bibliotecários possam inovar e adaptar-se a situações imprevisíveis.
5 A diversidade levada a sério: Uma consciência crescente da existência e dos impactos da discriminação obriga a uma reforma radical das coleções, serviços e práticas das bibliotecas.
6 O controlo ambiental: As alterações climáticas trazem novas ameaças às bibliotecas e às comunidades que servem, forçando uma adaptação radical para evitar a catástrofe: novas orientações arquitetónicas para os espaços; desenvolvimento de práticas de apoio à mudança de comportamentos e a uma maior capacitação climática.
7 Uma população móvel: Com pessoas cada vez mais nómadas, o conceito de biblioteca 'local' tornar-se menos relevante e a necessidade de fornecer serviços conjuntos através das fronteiras aumenta.
8 O utilizador impaciente: Os utilizadores de bibliotecas, em particular das gerações mais jovens, esperam as mais modernas tecnologias e serviços e existe o risco de se afastarem das bibliotecas se não as encontrarem lá.
9 A reação analógica: Uma nova geração, traumatizada pelo stress da constante conectividade dos media sociais, redescobre os recursos físicos - incluindo os livros - como uma fuga.
10 A importância da dimensão: O custo da prestação de serviços completos e modernos significa que só é possível às instituições maiores fazê-lo, deixando para trás as mais pequenas; corre-se o risco de existirem duas classes de biblioteca - as que são capazes de acompanhar (muitas vezes as maiores, com melhores recursos, com o pessoal a receber o apoio necessário para trabalhar com novas ferramentas) e as que são deixadas para trás.
11 O domínio dos dados: Novos usos e aplicações de dados alteram dramaticamente a vida económica e social, tornando cada vez mais essencial que as pessoas aprendam a lidar com os dados.
12 A pesquisa transformada: A inteligência artificial revoluciona a forma como encontramos a informação, tornando possível fornecer aos utilizadores resultados cada vez mais precisos.
13 Corrida aos extremos: O debate político polariza-se, tornando mais difícil encontrar consenso tanto na política como na sociedade, prejudicando a defesa de instituições partilhadas.
14 Aprendizagem ao longo da vida: Já não existe um emprego para a vida, o que significa que cada vez mais pessoas precisarão de se reciclar ao longo da vida. Como resposta, as bibliotecas intensificarão as atividades de aprendizagem.
15 Uma coleção única, global: Com a digitalização dos recursos e das possibilidades de trabalhar através das instituições, já não é tão relevante falar de coleções locais, mas sim do acesso a recursos universais.
16 A privatização do conhecimento: A utilização de instrumentos tecnológicos, assim como as lentas reformas dos direitos de autor, tornam possível aos atores privados restringir e controlar a informação, mesmo a nível granular, obrigando a autorizações e pagamentos.
17 As qualificações são importantes: À medida que a complexidade do ambiente de informação aumenta, aumenta também a necessidade de os funcionários das bibliotecas beneficiarem de um elevado nível de educação. A qualificações necessárias incluem competências digitais mais elevadas, competências STEAM (ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática), de codificação e programação, de sustentabilidade e literacia ambiental e a capacidade de avaliar as necessidades da comunidade e do utilizador e responder em conformidade.
18 Informação valorizada: Governos e outras instituições reconhecem plenamente a importância da literacia da informação como uma resposta a longo prazo ao aumento da desinformação.
19 Os movimentos abertos desafiam as bibliotecas: Com uma quota crescente de informação científica disponível livremente, as bibliotecas são obrigadas a adaptar o seu papel ou a perder a sua relevância. Nos últimos anos, ao acesso aberto juntaram-se outros movimentos abertos - ciência aberta e bolsas de estudo abertas, recursos educativos abertos, e GLAM (Galerias, Bibliotecas, Arquivos e Museus) - todos com o objetivo de reduzir as barreiras de acesso, utilização e envolvimento na educação, ciência e vida cultural.
20 Agravamento das desigualdades: Com a tecnologia a criar novas possibilidades para aqueles que têm acesso a ela, o fosso entre eles e os que não têm acesso aumenta, havendo o risco de confinar grandes parcelas da população à pobreza, a menos que sejam tomadas medidas.
Referências
- IFLA (2022). IFLA trend report 2021 update. https://repository.ifla.org/bitstream/123456789/1830/1/IFLA%20TREND%20REPORT%202021%20UPDATE.pdf
- Fonte da imagem : 1. IFLA (2022). IFLA trend report 2021 update. https://repository.ifla.org/bitstream/123456789/1830/1/IFLA%20TREND%20REPORT%202021%20UPDATE.pdf