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Blogue RBE

Seg | 03.06.24

Refletir e melhorar dinâmicas de leitura

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A biblioteca escolar é o coração da Escola. Muitas são as razões para esta centralidade. Hoje, falamos só de uma das razões: a promoção da leitura. As atividades de leitura promovidas pela biblioteca escolar devem articular-se com a prática docente e com as aprendizagens, contribuindo para a compreensão, por parte do aluno, de que ler é importante e transformador. Ler permite-nos ser cidadãos competentes, atentos, reflexivos e críticos e desempenhar um papel ativo na criação de sociedades que se querem livres e democráticas. As bibliotecas querem formar cidadãos leitores que sejam capazes de ler o mundo. 

Neste sentido, a biblioteca escolar deverá sensibilizar, pais e encarregados de educação, alunos e professores, para a importância do livro e da leitura, cabendo ao professor bibliotecário ler e dar a ler.

A promoção da leitura não é tarefa pontual, de um dia só ou de um momento esporádico, mas exige um longo processo de ações continuadas, de atitudes concertadas, de boas práticas que aproximem cada vez mais e melhor as crianças e jovens aos livros. A formação de leitores está no centro das dinâmicas da biblioteca escolar, por isso, hoje, deixamos sugestões para que os professores bibliotecários possam refletir e melhorar dinâmicas de leitura nas bibliotecas e, deste modo, contribuir significativamente para a formação de leitores.

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Ler o mundo: Experiências de transmissão cultural nos dias de hoje[i]  é um manifesto lúcido e necessário, “uma apologia. Para que a literatura, oral e escrita, e a arte sob todas as suas formas tenham um lugar na vida de todos os dias, em particular na das crianças e dos adolescentes.” A autora partilha com o leitor exemplos de práticas bem-sucedidas que associam a leitura, a palavra, à memória e à imaginação, mas também à história, à geografia, ao corpo, ao teatro, à dança - em resumo, a toda a experiência de ordem sensível e/ou intelectual que nos coloca em contacto direto com o outro e com o mundo. Tenta responder às questões “para que serve ler? Porquê ler hoje? Porquê incitar as crianças a fazê-lo? E ainda: quais são os fundamentos da importância da literatura, mas também, de forma mais genérica, da transmissão cultural?”

Michèle Petit[ii] dialogou com mediadores e “educadores pela arte” sobre o engenho de enfeitiçar aqueles que se encontram afastados da literatura e da arte. Ouviu múltiplas vozes sobre experiências leitoras. Hoje, neste seu livro, partilha o saber resultante dessas conversas, encontros, estudos e de muitas leituras sobre importância do livro e da leitura no crescimento dos jovens e sua construção enquanto pessoas. Este é um livro sobre formação de leitores e neste sentido trata-se de um livro que interessa a professores, pais, bibliotecários, agentes culturais e a todos aqueles que amam os livros e acreditam no poder da leitura.   A formação de leitores é um processo, sabemos onde começa, mas não onde termina.  Criar a necessidade, o hábito de leitura é o objetivo. Michèle Petit recorda-nos como a mediação leitora é crucial e como no(s) livro(s) habitam perguntas, muitas perguntas, e algumas respostas. Afinal, quando o adulto mostra à criança um álbum infantil quer, simplesmente, dizer-lhe que “apresento-te os livros porque uma imensa parte do que os seres humanos descobriram está aqui escondido. Poderás ir lá procurar respostas que te ajudam a dar sentido à vida, saber o que os outros pensaram das perguntas que te fazes - não estás sozinha para as enfrentar.

A pergunta “Para que serve ler?”  dá título ao segundo capítulo do livro e induz o leitor a uma reflexão profunda e, simultaneamente, disponibiliza possíveis respostas. Ler serve para estimular a fantasia e a criatividade, respondem muitos.  É uma companhia, responderão outros.  Michèle Petit lembra que as respostas encontram abrigo em diferentes espaços e tempos, assim como na riqueza da intertextualidade, pois todos nós nos apropriamos dos “textos lidos sem sequer pensar nisso”.  Ler é multifuncional: “serve para descobrir – não pelo raciocínio, mas pela descodificação inconsciente – que nos assombra, o que nos assusta”; ler serve para “elucidar a nossa experiência singular” ou simplesmente para “encontrar uma força, uma intensidade que acalma, qualquer coisa inesperada que reactiva a actividade psíquica, o pensamento, a narração interior.”

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Incentivar o prazer de ler: actividades de leitura para jovens [iii] é um livro publicado em 2006, pela Edições Asa, conhecido de muitos professores, bibliotecários e professores bibliotecários, que apresenta um conjunto de trinta atividades que incentivam o gosto de ler, para alunos do pré-escolar ao secundário. O autor adverte que as atividades exibidas foram todas testadas e que muitas continuam a ser experimentadas em diferentes contextos. Afinal, como incentivamos os nossos jovens a ler? “(…) o primeiro passo é agir de modo que elas descubram as suas próprias motivações para ler, quer sejam conscientes quer permaneçam sobretudo inconscientes.” Acrescenta, “a maior parte das crianças ignora que existem livros que se dirigem a elas de forma tão íntima.” É por esta razão que o professor bibliotecário deverá ser conhecedor das estantes da sua biblioteca, das novidades editoriais, dos gostos dos alunos, deverá ser leitor para melhor dar a ler.

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Guia Experimental para a Leitura em Voz Alta [iv] é simultaneamente um guia e um convite. Um guia, pois ajuda a melhorar a técnica de ler em voz alta, através de muitas sugestões e propostas de exercícios, e orienta na descoberta de novas rotas que nos conduzem aos benefícios da leitura em voz alta. Neste guia, o leitor é conduzido pela voz de alguns dos mais reconhecidos poetas, atores, mediadores de leitura, contadores de histórias e mestres da palavra dita. Pode-se ouvir a forma brilhante como leem, uma vez que o livro é acompanhado por CD convidando o leitor a “entrar criativamente no jogo da leitura partilhada”.  Ler também é ouvir e o gosto pela leitura ensina que um bom leitor sabe escutar. Quem ouve lê noutro formato. O ouvinte é simultaneamente leitor. A escuta amplia a descoberta de autores, palavras, textos e livros. Um convite a experimentar a ler em voz alta, a descobrir textos para serem lidos em voz alta.

Já experimentou?

Já recomendou um livro para ler em voz alta?

Já organizou atividades de leitura em voz alta, na biblioteca?

Este belíssimo livro pode ser muito inspirador!

Notas:

[i] Em Portugal é editado pela Faktoria K de Livros, em 2020 (originalmente o livro é publico em 2014, em França, pelas Editions Belin/ Humensis.

[ii] Michèle Petit é antropóloga de formação e investigadora do Laboratório de Dinâmicas Sociais e Recomposição dos Espaços, do Centre National de la Recherche Scientifique, na França, e desde 2004 coordena um programa internacional sobre "a leitura em espaços de crise”. Quem acompanha as dinâmicas e problemáticas da leitura, quem reflete sobre a importância da palavra e dos livros nas crianças e jovens conhece bem o seu trabalho e a sua obra publicada.

[iii] Christian Poslaniec é um escritor francês especializado em literatura infantil e juvenil, criador de ferramentas para a aprendizagem e gosto pela leitura. Nessa qualidade, foi investigador do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INRP) de 1984 a 2003, onde criou um grupo de interesse científico que organizou formações e refletiu sobre a promoção da leitura junto dos jovens.

[iv] Guia Experimental para a Leitura em Voz Alta resulta de uma feliz parceria entre a Câmara Municipal da Sertã, organizadora da Maratona de Leitura, com a editora BOCA, em prol da leitura em voz alta e numa delicada e sentida homenagem à língua portuguesa.

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