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Falar da (sua) biblioteca escolar nem sempre é fácil. Sobretudo se ela é vivida todos os dias com intensidade e dedicação. Como condensar em meia dúzia de frases o muito que ela exige a quem dela se ocupa, e o muito mais que ela devolve, em pequenos e grandes episódios que alimentam a alma?
Pois foi esse o desafio que lançámos, há algumas semanas, pela mão da Margarida Fonseca Santos, no âmbito do seu projeto ‘Histórias em 77 palavras’. Chamou-se-lhe ‘Desafio RBE’; e ela própria, como costuma fazer com todos desafios, publicou o primeiro texto, em jeito de quebra gelo.
Nele, a Margarida desenha o percurso de uma menina que, de solitária e receosa, passa à descoberta do mundo e dos outros, com a cumplicidade da professora bibliotecária. E nesse processo “deixa de ser uma sombra”. Que ideia tão fértil, se pensarmos no que ela significa: ganhar corpo… ganhar voz… ser objeto de luz… tanta coisa que ‘deixar de ser sombra’ nos sugere!
Vários professores e professoras responderam a este desafio e deram voz às suas experiências. Falaram do seu ofício “como um privilégio”, da biblioteca como um local “de onde sai de alma leve”, onde se “descobrem tesouros”, onde “se desassossegam almas”... Contaram histórias, do menino que se comove com uma leitura sugerida, do grupo que debate um Felizmente há luar… Surgiram ideias muito bonitas, como a de “acreditar numa escola sem horário, dando a todos os alunos o que lhes é devido: entrega, a surpresa, a emoção e a paixão”.
Mas algumas professoras, em vez de ficar com o desafio só para si, soltaram-no nas suas escolas. E enviaram textos que dão voz aos meninos e às meninas.
As suas palavras, quando pensam em biblioteca escolar, apontam em muitas direções:
Apontam para uma ideia de diversidade, do muito que é possível encontrar na biblioteca e da abertura de horizontes que daí resulta:
“[…] a folhear os livros, descubro sempre pequenas maravilhas! Uns são novos, brilhantes, outros velhos, amarelecidos. Uns são pequeninos e divertidos, outros enormes, gigantes”.
“[…] livros das receitas das avós, das histórias do nosso passado, da ciência e da matemática […] divertir-me naqueles de desenhos e pinturas, ou geografia para viajar por todos os lugares do mundo!”
Apontam, também, a possibilidade de levar livros para casa, que é vista, curiosamente, com especial encanto:
“[…] escolher e levar um livro da biblioteca para o ler em casa é um momento mágico!”
Encanto também no silêncio! Que bom que os nossos alunos já não vejam a quietude das bibliotecas como um constrangimento, mas antes com um certo fascínio:
“[…] Nela existe silêncio para se lerem as histórias com concentração. O silêncio é tanto, que começamos a ler a história e parece que viajamos dentro dela.”
Evidentemente, estar em conjunto é fundamental:
“[…] Gosto de ir à biblioteca, principalmente quando vou com os meus colegas e partilhamos anedotas ou adivinhas.”
Mas também houve palavras para manifestar preocupação por quem tem menos acesso aos livros:
“[…] Muitas destas crianças, os pais não lhe conseguem comprar livros e a biblioteca Escolar é uma boa opção.”
“[…] Com a minha varinha, vou ajudar a que todos os meninos tenham acesso a livros e à biblioteca escolar.”
Porém, a maior parte dos nossos meninos, ao pensar em biblioteca escolar, solta-se-lhe a imaginação:
“[…] Numa noite de tempestade estava eu na biblioteca da minha escola a acampar. A biblioteca estava iluminada com as luzes e foi nesse preciso momento que falhou a luz.”
“[…] Ia eu no comboio para Hogwarts e na chegada fui para a biblioteca escolar.”
“[…] Um dia sonhei que estava na Biblioteca a ler um livro Uma aventura na terra e no mar, até que entro no livro, acordo e o sonho torna-se realidade.”
“[…] Ele pegou num [livro] e quando o abriu saíram criaturas mágicas, como elfos, anões, dragões e elefantes, que são como elefantes, mas muito maiores.”
“[…] Estava eu na escola a ler um livro na biblioteca quando vi o Covid, sim o Covid, a ler um livro sobre o corpo humano!”
É sem dúvida às professoras bibliotecárias que se ficam a dever estas palavras dos meninos e das meninas, sobre a biblioteca e sobre si mesmo/as. Para elas, esta ginja em cima do bolo:
“[…] Adoro a biblioteca, é um dos meus cantos favoritos da escola.”
Uma nota final: estes desafios não encerram! Estão sempre em aberto, disponíveis para receber mais histórias em 77 palavras.