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Blogue RBE

Ter | 11.03.25

Querida biblioteca: para que te quero?

por Adelaide Peres e Marta Brandão, professoras bibliotecárias do AE de Arouca

2025-03-11.pngEm Arouca, as montanhas sabem guardar histórias. Talvez por isso sejamos duas, eu e ela, a carregar este mapa de seis bibliotecas e dez escolas, com o peso leve das palavras e o fôlego necessário para responder a cada desafio. Eu, a mais velha, com rugas que o tempo desenhou entre livros e adolescentes. Ela, a mais nova, com um entusiasmo que me lembra um tempo em que eu também era assim. Há uma ironia bonita nisto: já foi minha aluna. Hoje, somos cúmplices.

É uma cumplicidade que cresce na admiração mútua, no amor pelos livros e na partilha de um propósito maior: criar leitores. Somos movidas pela vontade de transformar cada visita à biblioteca numa experiência, cada livro num companheiro fiel e cada aluno num explorador do saber.

Juntas, temos enfrentado os desafios impostos pelas exigências da Rede de Bibliotecas Escolares, pelas diretrizes da IFLA e pelas mutações de um mundo onde o digital avança sem pedir licença. Complementamo-nos no trabalho e no saber, na formação que nunca termina, nos projetos que criamos, recriamos e adaptamos para que as bibliotecas não sejam apenas espaços, mas sim territórios vivos de aprendizagem. Dividimos o trabalho e a responsabilidade, mas também as dúvidas.

Aqui, entre serras e aldeias, fazemos o possível para transformar teorias em realidades. Quando uma hesita, a outra avança. Quando uma para, a outra insiste. Há um equilíbrio invisível que nos segura: o que falta a uma, a outra oferece.

Gostamos de pensar que estamos a construir algo maior do que nós. As bibliotecas, estas seis pequenas ilhas no meio do território, grande e disperso, não são apenas prateleiras com livros. São portas abertas para crianças e adolescentes que, por vezes, chegam sem saber o que procurar e saem com histórias inteiras na cabeça.

Formamo-nos continuamente, não só em cursos ou formações, mas também na prática diária de aprender juntas. Há algo de permanente nesse movimento: eu ensino-lhe o que sei, ela desafia-me a ser melhor. E no fim, percebemos que ambas somos alunas e professoras, não só uma da outra, mas também de cada livro, de cada pessoa que entra por essas portas.

Somos bibliotecárias, mas também contadoras de histórias, orientadoras de olhares curiosos, defensoras de livros que às vezes parecem querer ser esquecidos.

Querida biblioteca, para que te quero?

Quero, queremos-te para continuar a encontrar respostas. E, talvez, para inventar novas perguntas e continuar a tecer, contigo, retalhos que ficam.

Porque, no fundo, a biblioteca não é apenas um lugar. É um encontro, um caminho e uma promessa.


Adelaide Peres e Marta Brandão
Professoras bibliotecárias
do Agrupamento de Escolas de Arouca

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  1. Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.
  2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.
  3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0