Quem me dera saber ler!
A Biblioteca não é um lugar de passagem, é um destino.
Afonso Cruz
Se a nível nacional a Educação cumpriu o desígnio da igualdade de oportunidades no acesso ao ensino, para todas as crianças, falta cumprir o da igualdade de oportunidades à saída da escolaridade obrigatória, para todas as crianças. Esta questão é particularmente pertinente no que diz respeito aos alunos que apresentam necessidades educativas especiais, ou os que, por razão das suas condições económicas, sociais ou culturais, encontram dificuldades ao longo do seu percurso escolar.
Tornar as Bibliotecas Escolares um espaço de verdadeira inclusão, um espaço onde se mudam os destinos, passou a ser um dos seus maiores desafios, mas também uma das suas prioridades (releiam-se as prioridades da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) para este ano letivo, com destaque para a flexibilidade dos espaços físicos como garante da inclusão). Muitos destes alunos precisam de recursos adequados, em diferentes formatos, para realizar as suas aprendizagens, particularmente no que diz respeito à leitura e à escrita, competências sem as quais estarão votados à exclusão, na escola e na sociedade. Acresce a este contexto, já de si difícil, os dois anos de pandemia, em que a maior parte destes alunos se viu privada do contacto com os seus pares, professores, psicólogos e terapeutas, tendo por esse motivo visto as suas aprendizagens seriamente comprometidas.
A Rede de Bibliotecas Escolares, o Plano Nacional de Leitura2027 (PNL2027) e a Direção de Serviços de Educação Especial e Apoios Socioeducativos da Direção-Geral da Educação (DGE/ DSEEAS) têm vindo a desenvolver, desde o ano letivo de 2011-2012, a iniciativa Todos Juntos Podemos Ler. A finalidade desta ação é “promover o sucesso escolar para TODOS os alunos, incluindo os que apresentam necessidades educativas especiais”.
A Biblioteca Escolar de Sousel candidatou-se ao Projeto Todos Juntos Podemos Ler, no ano letivo 2021-2022, uma altura especialmente difícil, devido à pandemia, após o diagnóstico das aprendizagens não realizadas por um conjunto de alunos que não pode acompanhar o ensino a distância. Foram selecionados 17 alunos do 1º, 2º e 3º Ciclo, para beneficiarem do Projeto, uma vez que revelavam muitas dificuldades na competência leitora.
Assim, esta candidatura foi delineada a partir de três linhas orientadoras que correspondem a três fases de implementação: “Quem me dera saber Ler”; “Quem me dera saber Escrever” e “Inclusão de TODOS os alunos”.
No início do ano letivo de 2022-2023, com a verba atribuída pela RBE, a Biblioteca Escolar de Sousel adquiriu livros, tablets, auscultadores e jogos didáticos. Subscreveu o software criado pela Universidade do Minho “Ensinar e Aprender Português” o qual dispõe de recursos e atividades didáticas, para serem trabalhadas autonomamente, em sala de aula, ou nas diferentes estações com os professores.
Ao longo do ano letivo, no sentido de se desenvolverem as atividades propostas no Projeto, os alunos beneficiaram de apoio prestado na biblioteca, por professores de Português; no Centro de Apoio à Aprendizagem (CAA), pelos professores de Educação Especial ou outros designados para o efeito; na sala de aula pelo professor de Português, professor titular de turma e professor de apoio. Cada uma destas estruturas funcionou como uma estação onde se implementaram as atividades previstas, sempre em estreita articulação, e que tiveram como objetivo permitir aos alunos participar nas aulas mais ativamente e apresentar atividades previamente preparadas.
A título de exemplo, mencionam-se as atividades desenvolvidas por uma professora da equipa da biblioteca, com dois alunos do 6º ano, tendo em conta que o espaço de biblioteca funciona como uma das estações, em articulação com outras estruturas. Desenvolveram-se exercícios de consciência fonológica, perceção auditiva e visual, orientação temporal e espacial; leitura em voz alta; produção de bandas desenhadas a partir de pequenas histórias e elaboração de postais e outros materiais para serem expostos na biblioteca e no átrio da escola. Para além destas, os alunos realizaram atividades na Plataforma Ensinar e Aprender Português da Universidade do Minho. O trabalho desenvolvido pode ser observado no registo disponibilizado em: https://wakelet.com/i/invite?code=d8w6cz5b
No letivo 2023-2024, para além de se dar continuidade às atividades de aprendizagem da leitura, os alunos irão participar em workshops de escrita criativa, encontros com escritores e contadores de histórias, sessões de mindfulness na BE, visitas de estudo, entre outras, numa lógica de reforço e consolidação das aprendizagens.
Pretende-se que estes momentos estimulem os alunos para a produção de materiais, a fim de os motivar para o seu próprio processo de aprendizagem ao verem os seus textos publicados no Jornal Digital da Escola e no blogue da BE, concretizando-se efetivamente o desígnio “Quem me dera saber escrever” e a verdadeira inclusão dos discentes, não só nas atividades da sala de aula, mas também nos projetos da escola e da comunidade.
Teresa Gomes
Pela equipa da BE do AE de Sousel
📷 Franck Barske por Pixabay