Pegada de carbono da biblioteca: estudo de caso
Relativamente ao uso da calculadora da pegada e da impressão digital de carbono da biblioteca, há um projeto piloto que envolveu, entre 2020-2021, 13 bibliotecas públicas da Finlândia, que importa conhecer. Administrado pela Biblioteca Municipal de Helsínquia e financiado pelo Ministério da Educação e Cultura, foi apresentado publicamente por Leila Sonkkanen na Conferência Mundial da IFLA 2022 [2].
Neste artigo sistematizamos o seu processo e conclusões.
1. Importância da participação de todos e de alianças
Trata-se de um projeto de investigação e formação pioneiro, que adota uma abordagem participativa dos profissionais das bibliotecas e é acompanhado por peritos que ajudam a recolher e a estudar os dados.
2. Objetivos
- “Identificar os principais fatores envolvidos no cálculo da pegada de carbono das bibliotecas”;
- “Clarificar o papel das bibliotecas na sensibilização ambiental, na economia de partilha e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU”;
- “Criar uma rede de bibliotecários ambientalmente conscientes e um banco de materiais de utilização gratuita”, que inclui os dados recolhidos.
3. Vantagens do uso da calculadora:
- Obter dados comparáveis que devem servir de base a uma estratégia mais eficiente;
- Identificar as fontes relevantes de emissões;
- Tomar medidas para reduzir o impacto da biblioteca no clima;
- Disponibilizar os dados como referência para futuros cálculos (sustentabilidade)
4. Medição da pegada de carbono
Esta experiência piloto iniciou-se com a aplicação de um inquérito sobre o nível de sensibilização ambiental das bibliotecas.
Simultaneamente, procedeu-se à medição da pegada de carbono de cada biblioteca, limitando-a ao seguinte levantamento de dados:
- Consumo de energia das instalações (aquecimento, eletricidade…);
- Resíduos;
- Transporte de materiais;
- Viagens/Mobilidade;
- Aquisições de materiais;
Considerou-se materiais, estritamente papel e livros eletrónicos.
Não foi considerado o papel do utilizador, mas o estudo reconhece que influencia a pegada de emissões, sobretudo ao nível da distância percorrida e do transporte - uma biblioteca deve estar associada a uma ampla rede de transporte público e fomentar o acesso a pé ou de bicicleta e, sempre que tiver que adquirir novos recursos, deve privilegiar os que envolvem cadeias curtas de transporte.
A pegada de carbono é a medida mais popular do impacto climático, indicando a “quantidade de emissões de gases com efeito de estufa que um produto ou atividade provoca”.
A recolha de dados do ano anterior (2019) “é a etapa de trabalho mais importante do processo, que garante a fiabilidade do cálculo”.
5. Medição da impressão digital de carbono
Procurou fazer-se um retrato completo e abrangente das emissões da biblioteca pública, medindo-se também a impressão digital de carbono da biblioteca que indica “o impacto positivo nas emissões de carbono ao permitir que os utilizadores reduzam o seu impacto climático negativo”.
Corresponde ao fenómeno oposto, simétrico, da pegada de carbono e está associado à economia de partilha e circular. Concretiza-se através da ação do utilizador, quando este acede a livros, dispositivos eletrónicos, cultura e instalações de aprendizagem/trabalho partilhados e disponibilizadas pela biblioteca:
“Por exemplo, um livro emprestado por uma biblioteca tem cerca de um terço do impacto negativo no clima em comparação com um livro comprado por um indivíduo e lido apenas uma vez”. A “pegada de carbono do livro consiste principalmente nas emissões da produção de eletricidade e calor usadas na sua produção e nas emissões de gases com efeito de estufa geradas durante o transporte”. O número de vezes com que se lê um livro faz baixar o total de emissões, o que significa que para calcular a pegada de leitura há que dividir o livro pelo número de leitores.
O estudo considera que o uso regular da biblioteca promove um estilo de vida compatível com o alcance de 1,5% de emissões, como prevê o acordo de Paris. Cada utilizador pode fazer esta verificação usando a Calculadora de CO² para medir as próprias emissões.
6. Conclusões
- As “emissões climáticas das bibliotecas públicas são bastante moderadas”: mais de 60% resultam do consumo de energia, 25% de aquisições de livros e e-books, 6% de transporte, 4% de bibliotecas digitais e 4% de resíduos.
Como a maior parte das emissões resultam do edifício da biblioteca e este é da responsabilidade da autarquia, há que planear com esta decisões mais eficientes. - De acordo com as estimativas do estudo, “Ler [um livro ou e-book emprestado pela biblioteca] é uma atividade recreativa de baixas emissões com uma impressão digital positiva” de 0,7% e 0,07%, respetivamente, conforme imagem infra, uma vez que “é lido mais de 100 vezes antes de ser retirado da coleção e reciclado”. Isto significa que “Usar os serviços da biblioteca é um ato ecológico”, amigo do ambiente.
- O estudo recomenda que as estatísticas nacionais sobre o funcionamento das bibliotecas passem a incluir dados sobre as emissões e os ODS priorizados pelas bibliotecas.
- Sugere que o clima e a sustentabilidade passem a ser um critério de todas as decisões da biblioteca e que esta tenha, na comunidade, a coragem de liderar a agenda ambiental através do exemplo, da sensibilização e educação e dos projetos que desenvolve.
Referências:
- 📷 Sonkkanen, Leila. (2022). The Carbom Footprint of your Library. https://www.libraries.fi/sites/default/files/content/kirjasto-infograafit-1021-EN.pdf
- Sonkkanen, Leila. (2022). Bringing environmental awareness of public libraries to the 2020s - project: Case Libraries Carbon Footprint. https://repository.ifla.org/bitstream/123456789/2097/1/s5-2022-sonkkanen-en.pdf
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Seg | 04.03.24