A morte é um mistério. Ninguém parece pensar na morte com naturalidade, o que distingue do nascimento, fenómeno natural tão igualmente misterioso mas que nos levanta menos inquietações. Na cultura ocidental, os adultos tendem a afastar os mais novos da vivência destas experiências e da partilha de emoções com ela relacionadas, numa tentativa de preservação de sentimentos de dor e sofrimento, esquecendo-se que morrer faz parte da existência.
De repente, vimos a nossa vida comum ser regulada por um boletim epidemiológico que apresenta, entre outras notícias preocupantes, recordes de número de mortes a cada dia. Esta realidade traduziu-se sempre em pessoas de carne e osso que eram avós, pais, filhos de alguém mas que, durante os primeiros tempos da pandemia, nos pareciam longínquos e pontuais. Já não. Neste momento todos fazemos parte de, ou conhecemos, famílias assoladas por esta tragédia sanitária. E isso também é válido para as crianças e jovens com quem estamos no outro lado do écran.
Perceber que todos morreremos um dia, entender que a morte, assim como a vida, não é percecionada por todos da mesma maneira e compreender melhor (através da consciência da nossa finitude) o valor da vida, aceitando os limites por ela impostos, faz parte do crescimento.
Ao abordar este assunto com crianças e jovens, abrindo caminhos de diálogo, de desmistificação e de partilha, permite-se experienciar situações de tristeza e confrontar-se com sentimentos menos positivos, já vividas na pele ou, para quem teve a sorte de ser poupado a uma perda significativa, a possibilidade de desenvolver empatia e solidariedade com os colegas que estão a viver situações mais dolorosas.
Apesar de estar na ordem do dia, este não é um tema obrigatório. No entanto, não deve ser proibido. O docente atento encontrará formas de perceber se é ou não relevante falar sobre o assunto no momento.
A leitura mediada de livros álbum é uma ótima oportunidade para criar condições para que, num ambiente tranquilo e confortável, adultos e crianças possam falar sobre a morte e a perda. As seguintes sugestões têm como intenção criar um espaço de diálogo sobre o tema. São álbuns que, pelas suas características textuais e gráficas, podem ser utilizados com alunos de diferentes faixas etárias. Apresentamo-los como auxiliares para criar um espaço/ tempo seguro para pensar em conjunto e partilhar ideias e emoções.
A cadeira que queria ser sofá, de Clovis Levi e Ana Biscaia, Clube de Memórias
«Este livro contém 3 histórias, com uma delicada abordagem sobre a morte. Um excelente apoio para adultos que se defrontam com dificuldades para explicar às crianças o desaparecimento definitivo de um ente querido.» (resenha da editora)
Jack e a Morte, de Tim Bowley e Natalie Pudalov, OQO
«Jack encontra-se com a Morte e, ao intuir que ela lhe vai levar a sua mãe, que está doente, engendra um plano para se livrar dela. Com incrível astúcia, Jack é capaz de encurralar a sinistra personagem num frasco; mas as consequências do ato são imprevisíveis – já nada pode morrer – e o que parecia, inicialmente, um motivo de alegria – a mãe recupera de súbito da sua grave doença – acaba por se transformar num caos.» (resenha da editora)
Para onde vamos quando desaparecemos?, de Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso, Planeta Tangerina
«À parte algumas exceções, ninguém consegue responder com certeza absoluta à pergunta que dá título a este livro.
“Para onde vamos quando desaparecemos?” aproveita a ausência de respostas “preto no branco” para lançar novas hipóteses – mais coloridas e poéticas, mais sérias ou disparatadas, conforme o caso… – e assim iluminar um tema inevitavelmente sombrio.» (resenha da editora)
O coração e a garrafa, de Oliver Jeffers, Orfeu Negro
«O Coração e a Garrafa fala-nos de uma menina fascinada com o mundo à sua volta. Até que um dia algo aconteceu que a fez pegar no seu coração e guardá-lo num sítio seguro. Pelo menos durante algum tempo… Só que, a partir daí, nada parecia fazer sentido. Saberia ela quando e como recuperar o seu coração?
Com esta história comovente, Oliver Jeffers explora os temas difíceis do amor e da perda, devolvendo-nos, de maneira notável, um sopro de alento e de vida.» (resenha da editora)