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Blogue RBE

Qui | 16.03.23

ONU: DigitALL - Inovação e tecnologia para a igualdade de género

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- A tecnologia e a inovação beneficiam igualmente homens e mulheres?

- A tecnologia melhora a qualidade de vida e cria oportunidades para todos?

- Damos oportunidades, às meninas e mulheres, de criarem tecnologia adequada às suas necessidades?

- A internet perpetua, na vida de mulheres e raparigas, preconceitos, desigualdades e violência?

- Contribuímos para criar um mundo digital livre e igualitário?

Estas são algumas questões que o vídeo #PowerOn to create an equal digital future, criado pela ONU Mulheres para celebração do Dia Internacional da Mulher 2023, levanta e que o professor bibliotecário pode discutir com as crianças e jovens em março. Ouvir e registar histórias de vida de e sobre meninas e mulheres que experienciaram formas de exclusão e violência digital ou se levantaram contra o assédio, a discriminação na educação e no trabalho, na legislação e em todos os setores da vida diária, bem como recolher e refletir sobre estudos, dados e evidências sobre (des)igualdade de género em ambiente digital, podem ser outras formas de consciencializar e capacitar para a transformação digital.

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#PowerOn to create an equal digital future – Vídeo [2]

A 8 de março celebra-se o Dia Internacional da Mulher, adotado oficialmente pela Organização das Nações Unidas em 1975. Foi criado para evocar as conquistas sociais, económicas, culturais e políticas das mulheres e apelar à igualdade de género e direitos das mulheres e meninas em todo o mundo.

Todos os anos as Nações Unidas adotam um tema diferente para esta comemoração. Em 2023 e, considerando que no mundo cada vez mais digitalizado em que vivemos, “as mulheres representam cerca de metade da população mundial e que 259 milhões de mulheres têm menos acesso à Internet do que os homens”, o tema é DigitALL: Inovação e tecnologia para a igualdade de género.

Com base no relatório da União Internacional de Telecomunicações (UIT), agência das Nações Unidas para as tecnologias de informação e comunicação, Measuring digital development: Facts and Figures 2022/ Medindo o desenvolvimento digital: Fatos e Números 2022 [3], “Em 2022 apenas 63% das mulheres estão a usar a Internet, em comparação com 69% dos homens”, não obstante o custo médio global dos serviços de banda larga móvel ter descido em todo o mundo. A diferença de género no acesso à internet é mais acentuada nos países de mais baixo rendimento, aqueles onde esta poderia justamente fazer maior diferença. Nestes países “21% das mulheres estão on-line, em comparação com 32% dos homens, número que não melhorou desde 2019” e, em geral, são estes países com mais baixo uso de internet os que registam menores progressos na paridade de género.

O relatório Gender Snapshot 2022/ Retrato de Género 2022 [4] das Nações Unidas apresenta evidências sobre igualdade de género no contexto dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), mas sublinha que apenas estão disponíveis “47% dos dados necessários para acompanhar o progresso do ODS 5”, Igualdade de Género, tornando “as mulheres e raparigas efetivamente invisíveis”.

Sobre esta invisibilidade , a ONU Mulheres refere que “apenas metade das políticas ou planos diretores nacionais de tecnologia da informação e comunicação (TIC) fazem qualquer referência ao género”.

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“Uma das coisas mais importantes a dizer sobre o défice informacional de género é que geralmente não é mal‑intencionado ou sequer deliberado. Pelo contrário. É simplesmente o resultado de uma forma de pensar que prevalece há milénios e que, em consequência, é uma espécie de não pensar. Um não pensar redobrado, até: dos homens nem é preciso falar — enquanto das mulheres nunca se fala. Porque ao falarmos de seres humanos, na verdade, estamos a referir‑nos aos homens” [5].

 

De acordo com os dados apresentados no Gender Snapshot 2022, “Continua a existir uma grande diferença de género na área da tecnologia e inovação, apesar das recentes melhorias. As mulheres e as raparigas estão sub-representadas nas indústrias, universidades e setor tecnológico em geral. A nível mundial, as mulheres são apenas 2 em cada 10 trabalhadoras de ciência, engenharia e tecnologias de informação e comunicação. Nas 20 maiores empresas de tecnologia global, as mulheres representavam 33% da força de trabalho em 2022, mas ocupavam apenas 1 em cada 4 cargos de liderança. Mulheres inventoras constituem apenas 16,5% dos inventores listados nos pedidos de patentes internacionais a nível mundial”.

No contexto da Quarta Revolução Industrial (4IR) em que vivemos, ciência, tecnologia, engenharia e matemática (Science, technology, engineering and mathematics, STEM) - e inovação são áreas dominantes de aprendizagem e empregabilidade, nas quais mulheres e raparigas continuam sub-representadas. Desta situação decorre uma diminuição dos rendimentos e bem-estar individuais e das economias dos países, para além de uma perda de criatividade e de igualdade de género nas tecnologias e indústria, da qual poderíamos todos beneficiar.

Gender Snapshot 2022 identifica outro fator que leva à (auto-)exclusão das raparigas e mulheres da vida e aprendizagem na internet, a violência e assédio digital. Refere que “Um estudo de 51 países revelou que 38% das mulheres a tinha experimentado pessoalmente” e que “Apenas 1 em cada 4 mulheres o denunciou às autoridades competentes e quase 9 em cada 10 mulheres optaram por limitar a sua atividade online, aumentando assim a clivagem digital de género”. Durante a pandemia Covid-19 esta situação agravou-se devido ao aumento de atividade na internet, refere um estudo de 2020, da ONU Mulheres [6].

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Em 2020, no México, a organização Luchadoras abriu um serviço de apoio às vítimas de violência digital em que os pedidos de ajuda são feitos através das redes sociais, emails, linha telefónica, apps e outros canais. No primeiro ano de funcionamento recebeu 470 pedidos de ajuda de mulheres. A principal tática dos que praticam violência de género na internet é a “a extorsão online – ameaçar publicar conteúdo íntimo da vítima sem consentimento”. Luchadoras disponibiliza sugestões e recursos de atendimento digital que incluem kits de ferramentas [7].

 

A comemoração do Dia Internacional da Mulher iniciou-se com o discurso, Tecnologia e inovação para acelerar a igualdade de género e os direitos de todas as mulheres e meninas de Sima Bahous, Subsecretária-Geral da ONU e Diretora Executiva da ONU Mulheres [8]. Centrado na defesa dos direitos digitais das mulheres, destacou a exclusão digital como o “novo rosto da desigualdade de género” e exortou à inclusão e capacitação digital e à responsabilização, para que a violência de género termine.

Colmatar todas as lacunas em matéria de acesso e competências digitais, apoiar mulheres e meninas em STEM, criar tecnologia que atenda às necessidades de mulheres e meninas e abordar a violência de género facilitada pela tecnologia são, segundo a ONU Mulheres, as quatro prioridades para um futuro digital transformador e igual para todos [9].

A Rede de Bibliotecas Escolares colabora com o governo e a sociedade civil neste desígnio, desenvolvendo programas, projetos e ações de literacia digital, da informação e média e promovendo a aprendizagem da cidadania digital que ajuda a prevenir situações de violência na internet e a fazer um uso ético dos meios digitais, defensor da igualdade entre homens e mulheres.

 

Referências

1. United Nations (2023, 8 Mar.). International Women's Day. USA: UN. https://www.un.org/en/observances/womens-day

2. ONU Women. (March, 8). #PowerOn to create an equal digital future [Vídeo]. USA: ONU Women. https://www.youtube.com/watch?v=1pahb_VQdwQ

3. International Telecommunication Union. (2022). Measuring digital development: Facts and Figures 2022. USA: ITU. https://www.itu.int/en/mediacentre/Pages/PR-2022-11-30-Facts-Figures-2022.aspx

4. United Nations Women. (2022). Progress on the Sustainable Development Goals: the Gender Snapshot 2022. USA: UN Women. https://www.unwomen.org/sites/default/files/2022-09/Progress-on-the-sustainable-development-goals-the-gender-snapshot-2022-en_0.pdf

5. Perez, Caroline. (2020). Mulheres Invisíveis. Lisboa: Relógio d’Água. https://relogiodagua.pt/produto/mulheres-invisiveis/

6. United Nations Women. (2020). Online and ICT-facilitated violence against women and girls during COVID-19. USA: UN. https://www.unwomen.org/en/digital-library/publications/2020/04/brief-online-and-ict-facilitated-violence-against-women-and-girls-during-covid-19

7. International Telecommunication Union. (2022, 25 Nov.). Making the Internet safer for women and girls. New York: ITU. https://www.itu.int/hub/2022/11/safer-internet-women-girls/

8. United Nations Women. (2023, 8 Mar.). Speech: Technology and innovation to accelerate gender equality and the rights of all women and girls. USA: UN Women. https://www.unwomen.org/en/news-stories/speech/2023/03/speech-technology-and-innovation-to-accelerate-gender-equality-and-the-rights-of-all-women-and-girls

9. UN Women. (2023, 24 Feb.). Power on: How we can supercharge an equitable digital future. USA: UN Women. https://www.unwomen.org/en/news-stories/explainer/2023/02/power-on-how-we-can-supercharge-an-equitable-digital-future

Fonte da imagem: [1]

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