Olhares sobre a Cidadania no contexto das Bibliotecas Escolares
Definida como uma das prioridades para as Bibliotecas Escolares em 2023/2024, a formação dos alunos para o exercício de uma “cidadania democrática, crítica, empreendedora e sustentável” exige o contributo dos vários parceiros educativos e esses serviços educativos são um pilar fundamental neste caminho.
A necessária capacidade de refletir sobre as questões, expressar-se em conformidade com as reflexões realizadas e participar ativamente na construção da diferença deve ser trabalhada desde as mais tenras idades.
...diálogo intercultural, tolerância, valorização da diversidade, respeito e reconhecimento do outro...
Exemplo desse trabalho é o que a Biblioteca Escolar da Escola Básica Fernando Pessoa realiza com alunos do 5.º ano, em colaboração com o docente de Cidadania e Desenvolvimento e em convergência com o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. Com este projeto “pretende-se incentivar os alunos a conhecer os conceitos de identidade, de pertença e de diversidade cultural. Procura-se compreender o fenómeno de globalização e a sua relação com migrações, as causas e formas de discriminação, racismo e xenofobia.” Partindo da premissa de que a leitura se pode “constituir como um instrumento de promoção das competências de diálogo intercultural, tolerância, valorização da diversidade, respeito e reconhecimento do outro”, a partir desta é promovido o contacto com outros mundos e realidades, valorizando-se o descentramento e o reconhecimento do direito à diferença e à inclusão. No fundo, trabalhando a relação dos alunos com o mundo que os rodeia, levando-os a reconhecer a crescente diversidade social e cultural que tem vindo a caracterizar Portugal, por via da literatura é promovida a tolerância, a não discriminação, contribuindo para o não florescimento do radicalismo.
E porque as bibliotecas escolares são especialistas em conjugar múltiplas aprendizagens, dando-lhes sentido e coerência, estes alunos aprendem, no processo, a usar as bibliotecas (escolares) em autonomia, a utilizar o catálogo coletivo concelhio para localizar e reservar livros, a explorar termos de pesquisa para obter mais informação, a explorar ferramentas digitais (Book Creator, Genially, PowerPoint) e a preparar e realizar apresentações orais, complementando assim a leitura e as reflexões suscitadas. Todos acabam por tomar contacto com um grande número de livros e, graças à compilação que surge como produto final, todos têm oportunidade de, mais tarde, regressar a tão importantes aprendizagens.
...ativismo sociopolítico, com alunos do 8.º e do 9.º ano...
No ciclo de ensino seguinte, a biblioteca escolar da Escola Básica da Corga de Lobão, por exemplo, partindo das propostas de atividades da RBE Cidadania e biblioteca escolar | Pensar e Intervir, implementou, este ano letivo, duas ações no âmbito do ativismo sociopolítico, com alunos do 8.º e do 9.º ano: Jogo da Discriminação e O que é a inclusão. Além de mobilizados para estas ações em que ativamente participaram com discussões abertas, os alunos tiveram, ainda, a oportunidade de as avaliarem e darem sugestões de como, no seu contexto, poderiam ser ainda melhoradas, tal como os docentes de Cidadania e Desenvolvimento e de EMRC envolvidos, em articulação com a Professora Bibliotecária. As bibliotecas escolares deste agrupamento têm já trabalho recorrente no âmbito da Cidadania, mais uma vez conjugando múltiplas aprendizagens, que podem ainda incluir uma abordagem em articulação com a literacia dos media ou a literacia da informação e conteúdos de diferentes áreas curriculares.
...combate firme e claro ao racismo, à distinção, à exclusão...
Por vezes, uma ação isolada pode ter um importante impacto nas consciências, desde que adequadamente pensada, organizada e planificada. É o caso da exposição interativa que a equipa da biblioteca escolar da EB António Alves Amorim, em Lourosa, criou com o intuito de marcar o Dia Internacional em memória das vítimas do Holocausto e, dessa forma, contribuir para a tomada de consciência da importância do combate firme e claro ao racismo, à distinção, à exclusão ou a «qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência fundada na raça, cor, ascendência ou origem nacional ou étnica que tenha como objetivo ou efeito destruir ou comprometer o reconhecimento, o gozo ou o exercício, em condições de igualdade, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais nos domínios político, económico, social e cultural ou em qualquer outro domínio da vida pública». (artigo 1.º da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial).