OCDE: Education at a Glance 2022
Education at a Glance [1] é um relatório anual da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que reúne um conjunto de indicadores para informar, comparar e compreender a evolução e o retorno no investimento na educação ao nível dos países membros e de países parceiros. Estes indicadores são complementares aos do Objetivo para o Desenvolvimento Sustentável 4, “Educação de Qualidade”, abrangem todos os níveis de educação e ensino e podem ajudar todos os níveis de governação, da academia e do público a “construir sistemas educativos eficazes e equitativos” (Prefácio). A edição 2022 é dedicada ao ensino superior.
Apresentam-se abaixo dados sobre o panorama mundial da educação com recomendações para o futuro.
Educação na pandemia
Devido à pandemia Covid-19, até à primeira metade de 2022 as ausências de professores e alunos, devido ao contágio e à quarentena, continuaram a perturbar o processo de aprendizagem e 8 dos 11 países que apresentaram dados comparáveis sobre ausências dos professores, registaram um aumento de faltas dos professores.
Quase todos os países da OCDE quantificaram as perdas de aprendizagem resultantes do confinamento obrigatório e cerca de 80% dos países implementaram programas de recuperação das aprendizagens - no pré-escolar estes programas foram menos comuns, mas foram implementados em 19 dos 28 países com dados disponíveis.
Apoio psicológico e socio-emocional para estudantes até ao ensino secundário foi disponibilizado em 19 dos 29 países.
Pré-escolar
Ao nível da OCDE, 83% das crianças dos 3 aos 5 anos de idade está matriculada no pré-escolar – em média entre 2005 e 2020 registou-se um aumento de 8 pontos neste indicador. Até aos 3 anos só 27% estão matriculadas em creches.
Ensino superior e retorno económico e social com recomendações para o futuro
A média de jovens entre 25 e 34 anos de idade com qualificação superior registou um aumento sem precedentes - de 27% em 2000 para 48% em 2021 em toda a OCDE - e sobretudo ao nível das mulheres - 57% das mulheres têm mestrado ou doutoramento.
As qualificações têm forte impacto no mercado de trabalho - em 2021 4% dos licenciados estavam desempregados e 6% das pessoas com ensino secundário estavam desempregadas e 11% dos desempregados tinham e4nsino básico – e nos salários - trabalhadores licenciados ganham em média cerca de 50% mais do que aqueles com o secundário e quase duas vezes mais do que aqueles que não têm o secundário. Durante a pandemia o desemprego aumentou muito mais para aqueles com um nível de instrução inferior ao secundário do que para os licenciados. As qualificações têm também impacto na vida social e bem-estar: por exemplo, adultos com mais qualificações usam mais facilmente novas tecnologias - 71% dos licenciados de 55-74 anos de idade na pandemia usou chamadas através da internet ou videochamadas, ao invés de 34% dos adultos da mesma idade e com menos qualificações.
Segundo Andreas Schleicher, Diretor do Departamento de Educação e Competências da OCDE, “O aumento dos trabalhadores do conhecimento não levou a um declínio em seus salários. […] Em média nos países da OCDE, adultos com mestrado ganham agora 88% mais do que os que têm ensino básico e no Chile quase cinco vezes mais [sublinhados nossos]”. Apesar do número de licenciados ter aumento no mundo para quase metade das pessoas com 25 a 34 anos de idade, “Os dados mostram que a vantagem salarial entre os adultos mais jovens permaneceu estável nos últimos anos” [2].
No artigo Is the sky the limit to the rise in education?, que comenta Education at Glance 2022, Schleicher refere que no âmbito do estudo sobre Pesquisa de Riscos da OCDE, face à pergunta “A vantagem salarial é reflexo justo do investimento das pessoas em educação ou os governos deveriam fazer algo para reduzi-la […], através de pagamento de impostos e de benefícios sociais?”, a maioria dos entrevistados - inclusive com qualificação superior – responde que os governos deveriam fazer mais ou muito mais para diminuir as desigualdades entre ricos e pobres.
O nível de recompensa através dos salários depende do tipo de cursos frequentados ao nível do ensino superior: áreas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) tendem a gerar maiores rendimentos e “artes e humanidades (exceto línguas), ciências sociais, jornalismo e informação geram rendimentos relativamente baixos”.
Schleicher também refere que há desigualdades de género a nível salarial, pois “as trabalhadoras ganharam apenas 77% do que seus colegas do sexo masculino [sublinhado nosso]. As diferenças na escolha da área de estudo entre homens e mulheres contribuem para as disparidades salariais entre homens e mulheres [estas optam menos pela área das STEM]. No entanto, mesmo comparando trabalhadores com nível superior na mesma área de estudo, o trabalho das mulheres ainda é menos bem remunerado do que o dos homens”.
Outra questão de Education at Glance 2022 e deste artigo é a do custo do ensino superior que tem grandes variações entre os países e universidades. Segundo Scleicher, “a partilha dos custos entre indivíduos e contribuintes parece ser a abordagem mais sustentável para financiar uma maior expansão do ensino superior”, mas era importante que os governos divulgassem melhor informação “sobre a qualidade dos estudos universitários e as oportunidades do mercado de trabalho que lhe estão associadas [sublinhado nosso]” para que os estudantes do ensino superior possam fazer as suas escolhas de forma mais consciente.
Outro desafio levantado por Education at a Glance 2022 é que perante a elevada procura do ensino superior, é preciso torná-lo mais diversificado para que possa satisfazer necessidades de todos os estudantes, de todas as idades e que procuram novas competências em várias fases da sua carreira e sempre que o mercado de trabalho muda.
Segundo este relatório, o aumento generalizado de qualificações pode levar os empregadores a pensar que o diploma do ensino superior é o novo normal, levando alunos que beneficiariam mais do profissional a escolher uma via de ensino superior académica. Contudo, “programas de ensino secundário profissional que possam competir com o ensino superior em termos de qualidade e de resultados do mercado de trabalho são importantes, mas continuam a ser raros”. Para que o Ensino e Formação Profissional (EFP) seja uma primeira escolha é preciso ligá-lo ao ensino superior que deve garantir a oportunidade destes estudantes prosseguirem os seus estudos numa fase posterior.
Education at a Glance 2022 recomenda que na pós-pandemia é preciso “manter a dinâmica da digitalização” e, para isso, é preciso “reforçar a cultura de inovação na educação [sublinhado nosso]” através da contratação de pessoas recetivas às oportunidades digitais e de incentivos (Editorial).
Recomenda ainda a realização de estudos com estatísticas para políticas educativas inovadoras que utilizem soluções digitais para verificar se respondem às necessidades atuais e futuras do mercado de trabalho, que verifiquem o impacto da aprendizagem ao longo da vida e da formação no local de trabalho.
Education at a Glance 2022 resulta da colaboração entre os governos, especialistas e instituições e foi dirigido por Marie Hélène Doumet e Abel Schumann.
Porque a educação tem efeitos na economia e sociedade, a OCDE continuará a “avaliar políticas de recuperação da aprendizagem, a aproveitar as iniciativas e inovações digitais adotadas durante a pandemia e a desenvolver sistemas de educação que podem alimentar melhores empregos e melhores vidas para o futuro” (Editorial).
Referências
1. Organisation for Economic Co-operation and Development. (2022). Education at a Glance 2022: Portugal. OECD Publishing: Paris. https://www.oecd-ilibrary.org/education/education-at-a-glance-2022_75a5b3e9-en;jsessionid=Ed8lz3xLQ0bhgw8wJahFdIExQ9McEMyZM9NuzyYV.ip-10-240-5-95
2. Schleicher, Andreas. (2022, Oct. 3). Is the sky the limit to the rise in education? OECD: Paris, France. https://oecdedutoday.com/high-rate-tertiary-education/
Artigos sobre edições anteriores do relatório no blogue RBE:
Education at a Glance 2021 | O nível socioeconómico pode determinar quem queres ser?
Redesenhar o papel do professor na escola e na comunidade