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Blogue RBE

Qui | 04.07.24

O dia em que chover para sempre

por Otelinda Rodrigues Vieira, Pseudónimo

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Falar da importância da leitura é como falar da importância da chuva, todos sabem quão importante ela é. Todos a desejam, sobretudo quando escasseia e ninguém sabe como obtê-la na justa medida e de modo a satisfazer todos.

A falta de chuva deixa os terrenos improdutivos, um mundo sem leitura é terreno seco estéril onde não há lugar para a reflexão nem para a cidadania participada. Onde não há lugar para o sucesso escolar, o desenvolvimento pessoal nem para o conhecimento. Assim todos pedimos chuva. Mas como se faz para chover? Todos queremos leitores. Mas como se faz um leitor?

Surgem as bibliotecas. Oásis na desértica aridez da falta de leitura?

As primeiras bibliotecas surgem naquela avidez e avareza humana de guardar bens preciosos longe dos olhares e da cobiça alheia e, transformam-se em armazéns de tesouros que não se deixa ninguém tocar, como água pura em reservatório, guardado por exército forte e bem guarnecido de regras inescrutáveis ao comum dos mortais.

As grandes bibliotecas mantiveram-se largos anos baús de tesouros que todos sabiam importantes, mas ninguém ousava tocar. Água estancada, apodrecia de não ser remexida e acabava não servindo ninguém.

Um dia, surgiram as escolas e com elas um mínimo de necessidade de haver livros para alguém estudar, para se decorarem lições de pátria e família para mostrar o que papaguear, erudição postiça de não saber nada da vida, erudição de clichés e ordens cegas dadas a cumprir.

Quando as bibliotecas escolares nascem, seguem os preceitos das ancestrais e fazem-se de armários altos, portas de rede ou de vidro, com fechaduras e cadeados.

E, num novo “25 de abril”, alguém disse – a água estagnada apodrece, vamos abrir as portas aos livros!

Este ‘Gutenberg’ que atirou a pedra no charco tirou o exército das portas da biblioteca e pôs flores e cadeiras confortáveis e sorrisos a receber todos os que quisessem ler tudo o que já tinha sido escrito e escrever o que ainda há de vir. Guardamos a água no cântaro, na garrafa, mas regamos as plantas ou bebemo-la dentro do prazo.

Juntámos os livros nas bibliotecas, mas damo-los a ler rapidamente, irrigamos as mentes e ajudamos a brotar conhecimento. Fazemos com que os livros cheguem a muitos e esses muitos venham cada vez mais às bibliotecas, a todas as bibliotecas e se sintam bem e queiram voltar.

Como fazer chover? Respeitar a natureza e os ciclos da vida ajuda. Deixar a água aberta para o Sol a fazer subir aos céus também.

Como fazer leitores? Deixar os livros em campo aberto, à mão de semear, e respeitar os gostos e ritmos de cada um ajuda.

Mais do que isto, também não sei.

Posso procurar num livro.

Otelinda Rodrigues Vieira
Pseudónimo

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