Novo Encontro Juventudes
Com uma agenda bastante rica e preenchida, a Fundação Francisco Manuel dos Santos promoveu no passado fim de semana um encontro sobre jovens de todas as gerações, em que a RBE esteve presente, e sobre o qual se apresentam alguns dados e conclusões.
Nestes dois dias, procurou perceber-se o que existe em comum e o que separa jovens de hoje e do final do século passado, tendo sido convidados alguns dos maiores especialistas nacionais e internacionais para debater os jovens e os seus desafios.
Para isso, partiu-se de um novo retrato da Fundação sobre os «Os jovens em Portugal, hoje»,[1] o primeiro estudo do género neste século, que visou compreender «quem são, o que pensam e o que sentem» os jovens a viver no país.
Este retrato apresentou uma grande diversidade de temáticas (os valores e as formas de ser perante a vida, a família de origem, os amigos e a pessoa parceira, a formação, o trabalho pago, os seus hábitos, o que pensam em relação a questões como o trabalho, a mobilidade, a maternidade ou a paternidade, a política, o meio ambiente, a pressão social que sentem, até que ponto se sentem felizes, se sofreram alguma situação de discriminação, entre outras). Importa às bibliotecas escolares conhecer os seus principais traços, na medida em que a população estudada (entre os 15 e os 34 anos) abrange uma parte significativa dos seu público-alvo: os alunos do ensino secundário. Além disso, alguns dos números mais preocupantes exigem um trabalho de prevenção ao nível das camadas mais jovens.
Os principais resultados apresentados no estudo foram sintetizados numa brochura [2] muito sucinta e de fácil leitura, cuja consulta se sugere, pela relevância dos dados apresentados. Aí, é possível encontrar, entre várias outras a ter em conta, algumas conclusões que se destacam nesta publicação, por, de algum modo, justificarem alguns caminhos no trabalho das bibliotecas escolares:
- No seu dia a dia, os jovens têm cerca de três horas e meia livres quando estão em casa acordados, sendo ver filmes e séries a forma preferida de passar o tempo livre. Sete em cada dez jovens passam mais de uma hora por dia nas redes sociais e apenas 3 % não utilizam.
- No que respeita à educação, um terço dos jovens que já não estudam completaram o ensino superior, na sua maioria atraídos pela possibilidade de obtenção de melhores empregos. Um em cada cinco estudou uma ou mais vezes no exterior.
- Relativamente aos amigos, metade dos jovens tem seis ou mais bons amigos, dois em cada quatro tem mais de 500 amigos nas redes sociais. Um quinto do seu tempo livre com os amigos, sobretudo a passear, tomar um café, jantar, ver filmes, jogos de consola ou outras atividades.
- Na relação com o seu corpo, algumas conclusões são preocupantes e exigem um trabalho sistemático de prevenção, com o qual as bibliotecas escolares podem e devem colaborar: um terço dos jovens tem excesso de peso ou é obeso; metade das mulheres já fez algum tipo de intervenção no corpo; quase um quarto dos jovens já pensou ou tentou suicidar-se; cerca de um quarto já tomaram medicamentos para o sono ou para a ansiedade e depressão… Revelam ainda uma elevada percentagem de hábitos de risco: 71% consomem álcool, 24 % fumam tabaco, 11 % consomem haxixe e marijuana, 3% usam drogas duras.
- Na área da sexualidade, seis em cada sete jovens já tiveram relações sexuais; metade dos quais faz sexo uma ou mais vezes por semana. A ter em conta é o facto de apenas um terço dos jovens utilizarem sempre métodos contracetivos e também, em percentagens expressivas, em alguns casos, aderirem a práticas menos saudáveis como o sexting ou o visionamento de pornografia.
- Quanto à participação cívica, apenas metade dos jovens diz votar sempre que há eleições, sendo assinar petições o tipo mais comum de participação cívica; apenas 16 % fazem voluntariado. A televisão é o meio preferido de acesso à atualidade política e social, embora 18% (perto de um quinto) se informem nas redes sociais. De destacar que o número de jovens que recorrem à imprensa escrita é residual.
- Em relação ao ambiente, a maioria dos jovens sente-se responsável por evitar as alterações climáticas, destacando-se a reciclagem como a ação considerada mais eficaz contra o problema. Apenas 1% não conduzem de todo por razões ambientais.
Se se relacionar os aspetos atrás elencados com o eixo Pessoas do Quadro estratégico Bibliotecas Escolares: presentes para o futuro [2], verifica-se que as bibliotecas têm inevitavelmente que conhecer estas conclusões e a sua ação precisa de contribuir para minimizar alguns dos números mais preocupantes, designadamente, tal como previsto:
- desenvolvendo ações que convoquem para o exercício da cidadania democrática, reflexiva e empreendedora, comprometida com uma visão humanista e sustentável do mundo;
- implementando dinâmicas que conduzam a comportamentos e estilos de vida responsáveis, promotores de bem-estar (individual, coletivo, ambiental) (pag. 47).
Referências
[1] Sagnier, Laura e Morell, Alex, coord. (2021). Os jovens em Portugal, hoje: Quem são, que hábitos têm, o que pensam e o que sentem. https://www.ffms.pt/FileDownload/37b88b8d-4953-4748-901d-0793f898dfb6/os-jovens-em-portugal-hoje
[2] Fundação Francisco Manuel dos Santos (2021). 10 Infografias do retrato «Os Jovens em Portugal, Hoje». https://www.ffms.pt/FileDownload/50447100-67a5-4fcc-8e10-0d68875b1191/10-infografias-do-retrato-os-jovens-em-portugal-hoje
[3] Portugal. Rede de Bibliotecas Escolares (2021). Bibliotecas Escolares: presentes para o futuro. Programa Rede de Bibliotecas Escolares: Quadro estratégico: 2021-2027. https://rbe.mec.pt/np4/file/890/qe__21.27.pdf