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Blogue RBE

Qui | 22.04.21

Metodologias ativas | O trabalho de projeto

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Photo by Vijay Kumar Gaba on Unsplash

O mundo inconstante e plural em que vivemos exige-nos, frequentemente, a criação, gestão e avaliação de projetos, pessoais ou profissionais. Também em educação a utilização do trabalho de projeto é cada vez mais frequente, pois coloca o aluno no centro da sua própria aprendizagem. O projeto permite desenvolver competências consideradas essenciais para a vida em sociedade, nomeadamente o de enfrentar problemas complexos, para além das vantagens que traz ao nível da motivação, cooperação com os outros ou resolução de problemas.

A abordagem por projeto leva o aluno a conceber, organizar e avaliar projetos, favorecendo situações de aprendizagem com significado (Perrenoud, 1999). Para além disso, o projeto mobiliza os alunos, pois apoia-se em situações concretas, isto é, em práticas sociais que favorecem a autonomia e a capacidade de fazer escolhas e de negociar. Desta forma, fomenta a diferenciação pedagógica, porque se adapta à heterogeneidade do grupo turma e ajuda os alunos a terem confiança nas suas capacidades e a desenvolverem o espírito de cooperação e de equipa, pois, em conjunto, têm de resolver problemas, gerando processos de socialização e de transformação da relação com o saber.

 

O que é o trabalho de projeto?

O trabalho de projeto é uma abordagem pedagógica, realizada num contexto que se caracteriza pela interação entre pares e pela autorregulação, através da qual os alunos, ao realizarem de forma ativa e autónoma, sob a supervisão do professor, um conjunto de atividades que planearam, com vista à consecução de um determinado projeto que responde a um problema de partida, desenvolvem competências, não só específicas de determinadas áreas do saber, mas sobretudo transversais, num processo de aprendizagem contínuo que lhes permite atribuir sentido às suas aprendizagens (Ferreira Rodrigues, 2005).

Esta definição realça:

- a importância do contexto e da interação entre os alunos e o próprio professor, que assume um papel de supervisor, de mediador;

- o papel da autorregulação, essencial para avaliar o processo de realização do projeto, tendo em conta a consecução dos objetivos definidos, e para orientar a tomada de decisões dos alunos;

- o desenvolvimento de competências, não só específicas de determinadas áreas curriculares, mas sobretudo transversais, isto é, metodológicas, sociais, intelectuais;

- a passagem da intenção, isto é, da planificação, ao resultado, à consecução do projeto, que se traduz num produto final.

 

Como se implementa?

As etapas propostas por Ferreira Rodrigues (2005) para a realização de um trabalho de projeto são apresentadas na figura abaixo.

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Figura 1 – Etapas do trabalho de projeto

 

Apresenta-se de seguida cada uma destas fases.

 

Fase 1 - Escolha do Problema

Esta fase inicial é essencial para o sucesso de qualquer projeto. Nesse sentido, é importante que o problema definido seja:

  • significativo, pertinente e desafiante, para que os alunos invistam na sua realização;
  • exequível, isto é, os alunos devem ser confrontados com situações resolúveis, pelo que se deve ter em conta, entre outros, o grau de complexidade, as características dos alunos, os recursos e o tempo disponíveis;
  • real, pois só assim os alunos se envolverão na descoberta de pistas, explorando ideias, discutindo e pondo em questão a sua própria maneira de pensar e a dos outros, validando resultados.

A resolução de problemas é aqui vista na aceção de Polya (1994), para quem resolver um problema é descobrir um modo desconhecido, encontrar uma forma de contornar um obstáculo, atingir um fim desejado.

 

Fase 2 - Formulação de problemas parcelares

Após a escolha do problema a trabalhar, os grupos, previamente formados, deverão reunir, para definir problemas parcelares, que devem levar à resolução do problema central, com base em:

  • análise do problema apresentado,
  • discussão de propostas individuais,
  • negociação de propostas,
  • formulação de objetivos.

A formulação de problemas parcelares é importante, pois, para além de facilitar a distribuição de tarefas no seio do grupo, permite delimitar claramente o campo de investigação. Estes problemas parcelares devem ser apresentados e discutidos em plenário, procedendo-se à sua validação.

 

Fase 3 - Preparação e planificação do trabalho

Nesta fase, o grupo deve estabelecer a estratégia a seguir e para isso é preciso que haja:

  • definição de regras claras de funcionamento;
  • distribuição de papéis e de tarefas;
  • organização de subgrupos de trabalho, se necessário;
  • gestão dos recursos existentes;
  • definição de mecanismos de controlo.

A planificação é essencial para o sucesso do projeto, pelo que os alunos deverão planificar cuidadosamente o trabalho a realizar, em cada etapa, tendo em conta as características individuais de cada elemento do grupo, os recursos existentes, o tempo disponível, bem como o próprio contexto e os objetivos a atingir. É também nesta fase que os alunos distribuem tarefas, escolhem modos de regulação do funcionamento do grupo, definem o calendário de trabalho e os métodos a utilizar para a recolha de dados.

 

Fase 4 - Pesquisa e tratamento da informação recolhida

O período de pesquisa e tratamento da informação recolhida implica o acesso a fontes diversificadas, que permitam a recolha de todos os elementos necessários. Para isso, os alunos devem fazer um inventário de todos os recursos existentes, tendo em conta a sua adequação aos objetivos do projeto. O professor assume nesta fase um papel importante, pois, para além de sugerir recursos complementares, deve levar os alunos a refletir sobre a pertinência dos recursos que escolheram. Para o tratamento da informação recolhida, os alunos devem traduzir fielmente as informações pertinentes, indicando as suas fontes; distinguir o essencial do acessório; estruturar a informação recolhida com base nos problemas parcelares definidos e com vista à sua resolução.

Este é o tempo propício para a aquisição de saberes. É, por excelência, o período de experimentação, em que os alunos desenvolvem competências metodológicas, como a observação, a tomada de notas e a análise dos dados. É também nesta fase que se efetua a análise, comparação e seleção dos dados recolhidos.

 

Fase 5 – Preparação da apresentação

Após a fase de pesquisa e tratamento da informação, o grupo está preparado para apresentar e discutir os resultados alcançados, isto é para propor a resolução para os problemas definidos. Para isso, tem de preparar a apresentação do seu projeto, planificando-a, com base nos objetivos, os meios disponíveis, o público-alvo e o tempo disponível. O professor deve facultar aos alunos a informação sobre os vários tipos e modalidades de apresentação existentes, para que estes possam escolher a que melhor se adequa ao seu projeto.

 

Fase 6 - Apresentação

Esta é uma etapa muito importante, pois o grupo transmite aos outros o resultado do seu projeto, isto é a concretização de uma intenção do grupo e assume, por isso, uma dupla função, social e formadora. Desta forma, valoriza-se não só o trabalho do grupo, evidenciando-se as capacidades de comunicação, individuais ou coletivas, mas também a obra realizada e a sua utilidade.

 

Fase 7 - Avaliação Global

A avaliação decorre ao longo de todo o projeto, sempre com carácter formativo e regulador. Deve privilegiar-se, sobretudo, a autoavaliação e a coavaliação, isto é a avaliação pelos outros. Esta avaliação pode ser efetuada de variadíssimas formas, dependendo dos objetivos que se pretendem alcançar, de que são exemplo os relatórios, os diários, os portfolios ou as grelhas de verificação.

A avaliação final, que deve ser promovida nesta etapa do projeto, com base nos critérios de avaliação previamente definidos e discutidos com os alunos, é um tempo de reflexão e reajustamento, tendo em conta os objetivos definidos e os resultados alcançados, quer pelo aluno e pelo grupo, quer pela turma e pelo próprio professor.

Deve avaliar-se não só o produto final e a sua adequação aos objetivos inicialmente definidos, mas também todo o processo de realização do projeto, quer do ponto de vista dos alunos, quer do professor, ou seja, as aprendizagens efetuadas, e as competências desenvolvidas, ao nível cognitivo, afetivo, interpessoal, comunicacional e metodológico (Proulx, 2004).

Esta proposta, bem como as etapas que a constituem, é apenas indicativa, visto que cada projeto tem características próprias e condicionantes que estão dependentes não só do contexto em que se inserem e dos atores que o realizam, mas também dos objetivos delineados para esse projeto.

 

Qual o papel da biblioteca escolar?           

A biblioteca escolar pode contribuir de forma significativa para a implementação desta metodologia, nas suas várias fases:

- favorece o contacto dos alunos com fontes de informação diversificadas, apoiando o tratamento da informação;

- fomenta a utilização de ferramentas digitais adequadas a cada momento do trabalho e às características dos alunos e do projeto;

- apoia os alunos na criação de artefactos digitais, sobretudo para a apresentação do projeto;

- apoia os professores ao longo do projeto, nomeadamente na (co)avaliação formativa, que é transversal a todo o projeto.

- …

 

Referências 

Ferreira Rodrigues, A. P. (2005). Desenvolver competências através de projetos: Os contributos da área de projeto. Um estudo de caso (Tese de Mestrado). Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.

Perrenoud, P. (1999). Apprendre à l’école à travers des projets: Pourquoi? Comment ?. Acedido em 15/04/2021 em https://bit.ly/3tErKgr

Polya, G. (1994). Comment poser et résoudre un problème. Sceaux : Éditions Jacques Gabay.

Proulx, J. (2004). Apprentissage par projet. Québec : Presses de l’Université du Québec.

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0