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Qui | 09.12.21

Makerspaces em bibliotecas: bem-estar e muitas outras vantagens

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Recentemente, a propósito do Novo Encontro Juventudes, [1] que apresentou dados que retratam os jovens de hoje, ficou clara a necessidade de trabalhar de forma sustentada o bem-estar dos alunos. Este surge atualmente como um fator importante para o desenvolvimento das suas competências socio-emocionais e académicas sendo significativo na prevenção da depressão, do suicídio, da automutilação, do abuso de substâncias nocivas, de comportamentos antissociais (incluindo o bullying, a violência e o ódio)… Todos estes, problemas evidenciados no estudo acima referido.

No artigo Bem-estar & biblioteca escolar, tinha-se já colocado em evidência o importante papel que as bibliotecas escolares são chamadas as desempenhar na promoção do bem-estar dos alunos. Ao trabalhar regularmente áreas como mentes e corpos saudáveis, proteção contra o bullying, segurança online, respeito pela diversidade, escolhas responsáveis, construção de relacionamentos positivos, entre tantas outras, a biblioteca está a responder ao que dela se espera quando se preconizam, no quadro estratégico Bibliotecas Escolares: presentes para o futuro [2], “dinâmicas que conduzam a comportamentos e estilos de vida responsáveis, promotores de bem-estar (individual, coletivo, ambiental)”.

Além de serem espaços seguros, acolhedores e relaxantes, as bibliotecas escolares proporcionam simultaneamente ambientes de aprendizagem estimulantes e flexíveis. Com a vasta quantidade de informação e tecnologia disponível, as bibliotecas tornam-se lugares onde a criatividade, a inovação e a colaboração estão omnipresentes. Todas estas características são potenciadoras de bem-estar.

Nesse sentido, a criação de makerpaces tem-se revelado bastante vantajosa, no apoio ao bem-estar dos alunos desenvolvendo o que Jackie Child [3] propõe como os 3Rs: resiliência, relacionamentos e rebelião, sendo que rebelião, apesar da conotação negativa que pode adquirir, representa aqui a possibilidade de quebrar regras, usar a criatividade, “sair da caixa”, inovar – habilidades tão relevantes quando se trata de preparar o futuro.

O makerspace congrega também os “4Cs” das competências do futuro [4] - Criação, Comunicação, Colaboração e Crítica (pensamento crítico): os alunos são convidados a utilizar uma multiplicidade de ferramentas para criarem algo novo, o que requer criatividade, pensamento crítico, e resolução de problemas. Para terem sucesso, é indispensável trabalharem em colaboração e terem a capacidade de comunicar uns com os outros, transmitindo e defendendo as suas propostas enquanto trabalham em conjunto, procurando tornar palpável o que imaginaram.

Quando se envolvem nas múltiplas atividades e oportunidades oferecidas por um makerspace, os alunos descontraem-se e divertem-se, aproximando-se de estados de felicidade. É um ambiente que não é ameaçador e onde podem concretizar/ experimentar/ testar as suas ideias. Têm oportunidade de ir até onde quiserem e de se perdoarem por não serem perfeitos: falhar torna-se parte da diversão. Podem explorar, mexer e enfrentar novos desafios, sem a pressão de terem que ter um bom desempenho (como acontece frequentemente quando respondem a testes de avaliação), sem medo de correrem riscos.

Aliás, uma das aprendizagens importantes a promover é que do fracasso pode advir uma grande aprendizagem. Não podemos esquecer que aprender por tentativa e erro era já valorizado pelos nossos avós quando ensinavam que “fazer e desfazer, tudo é aprender” e punham nas mãos do aprendiz as ferramentas para a experimentação.

Resolverem problemas e desafios, ao criarem e tentarem fazer as coisas funcionarem,  também lhes dá confiança no sucesso e realização pessoal.

Dar objetivos aos alunos e permitir que as suas  paixões sejam exploradas responde a uma necessidade humana inata. As bibliotecas contribuem, deste modo, para que estes recuperem a sua curiosidade e criatividade, qualidades que Sir Ken Robinson (2007) considera indispensáveis à sobrevivência da humanidade. [5]

Nos makerspaces, ao mesmo tempo que se promove o bem-estar e competências socio-emocionais, o desenvolvimento cognitivo é estimulado, uma vez que se fornecem desafios e oportunidades para resolver problemas e para isso será necessário, em cada momento, recorrer a todo o conhecimento anterior de que o aluno dispõe, atingindo-se assim aprendizagens profundas.

 

Referências

[1] Sagnier, Laura e Morell, Alex, coord. (2021). Os jovens em Portugal, hoje: Quem são, que hábitos têm, o que pensam e o que sentemhttps://www.ffms.pt/FileDownload/37b88b8d-4953-4748-901d-0793f898dfb6/os-jovens-em-portugal-hoje

[2] Portugal. Rede de Bibliotecas Escolares (2021). Bibliotecas Escolares: presentes para o futuro. Programa Rede de Bibliotecas Escolares: Quadro estratégico: 2021-2027. https://rbe.mec.pt/np4/file/890/qe__21.27.pdf

[3] Child, Jackie (2018) School libraries enhancing student wellbeing. https://www.scisdata.com/connections/issue-105/school-libraries-enhancing-student-wellbeing

[4] Novak, Staci (2019) The effects of a makerspace curriculum on the 4C's in education. https://scholarworks.uni.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1908&context=grp

[5] Robinson, K (2007) TED talk: Do schools kill creativity?, https://www.youtube.com/watch?v=iG9CE55wbtY&t=3s

[6] Foto por Amélie Mourichon em Unsplash

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0