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Blogue RBE

Sex | 14.10.22

Livros infantis: porque é a diversidade tão importante?

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João Costa: 

Porque gostar de ler não é um gosto qualquer. Ler é ferramenta para a liberdade e não podemos ser cúmplices de contextos que não propiciam a liberdade. (…)

Na biblioteca, todos têm lugar. Os livros são diferentes, sorriem para perfis diferenciados, respeitam o ritmo e motivação. (Tem a palavra… João Costa)

Dos Estados Unidos, chegam notícias recorrentes de obras proibidas em bibliotecas escolares, chegando mesmo a falar-se de ondas de proibições massivas de leitura. Impotentes, os autores, deparam-se com as suas obras em listas negras das escolas, sob pretextos inacreditáveis. Em setembro de 2022, um novo relatório da Pen America apontava para 2.500 proibições de livros diferentes promulgadas em escolas em 32 estados dos EUA durante o ano letivo de 2021-2022. Em todo o país, pais, alunos, professores, bibliotecários e grupos comunitários têm lutado contra os ensaios de proibição, derrotando tentativas bem financiadas (por certos grupos políticos) de censurar livros que abordam questões de raça, sexualidade e género. [1]

Este é um assunto em que vale a pena pensar e relacionar com as bibliotecas escolares em Portugal e com o trabalho que aí fazemos diariamente, seja o mais técnico de seleção documental, seja o mais pedagógico de abordagem da literacia da leitura.

Para que serve a literatura infantil?

Esta é claramente uma questão provocatória. A literatura serve para alguma coisa, hoje? Tem de servir? Mas esse será tema de outra conversa e não cumpre o propósito deste artigo.

Genericamente pode dizer-se que a literatura permite partilhar as experiências de outras pessoas, usar a imaginação, exercitar o pensamento crítico, aprimorar competências linguísticas e entender melhor culturas e comunidades. O mesmo se aplica à literatura infantil.

Os livros e as histórias com que uma criança contacta levam-na para além das vivências próprias, tornam-lhe acessíveis as vidas de outras pessoas, imersas em realidades com que nunca contactaram diretamente.

E isso leva à questão no título deste artigo: porque é fundamental a diversidade nos livros infantis? [2]

'Diversidade' deveria ser chamada apenas 'realidade'. Os seus livros, programas de televisão, filmes, artigos e currículos devem refletir a realidade.

— Tananarive Due, autora e vencedora do American Book Award

 

O que se entende por literatura diversificada?

Pode entender-se por literatura diversificada livros que representam e contam histórias a partir da perspetiva de muitas culturas, crenças e cores de pele, em resumo, livros que não representam apenas a população em número dominante.

Quando a literatura disponível (por exemplo, na biblioteca escolar) apenas apresenta as ideias, os valores, a cultura de um grupo, aqueles que não se identificam com esses pontos de vista, personagens ou cenário podem sentir-se pouco valorizados. Por outro lado, os que se sentem representados nessas obras, podem entender-se como detentores da verdade absoluta e menosprezar pontos de vista diferentes dos seus.

Pelo contrário, quando os livros expostos nas estantes das bibliotecas escolares representam diferentes habilidades, culturas, crenças e cores de pele, isso…

  • Ajuda os alunos a entenderem melhor os problemas atuais do mundo;

  • Aumenta a consciência de práticas sociais, valores e sistemas de crenças de outras culturas;

  • Promove a unidade e a empatia: os alunos aprendem a aceitar, compreender, banalizar as diferenças;

  • Promove a interação de alunos de diferentes origens étnicas;

  • Promove o pensamento crítico, a reflexão e a construção de conhecimento próprio;

  • Promove a capacidade de escolha e a liberdade.

 

Poderemos falar de bibliotecas inclusivas sem existirem, nas estantes, livros com perspetivas diversificadas?

Poderemos falar de bibliotecas inclusivas sem promovermos atividades em que os alunos contactem com realidades diversas?

É possível garantir INCLUSÃO sem respeito pela individualidade e pela pluralidade?

Esta é uma questão a considerar… quando elaboramos listas de aquisições, triamos e incorporamos doações ou selecionamos a leitura para a próxima atividade.

 

Referências

1. Gabbat, A. The Guardian. Como vencer a proibição de livros: alunos, pais e bibliotecários reagem. https://www.theguardian.com/books/2022/sep/20/us-book-bans-fight-school-library
2. EveryLibrary (2022, 7/10). Are We Facing a Future Without Diverse Stories?. https://medium.com/everylibrary/are-we-facing-a-future-without-diverse-stories-72cbeb02899a
3. Imagem de Theo_Q por Pixabay . https://pixabay.com/pt/photos/arte-cores-saskatoon-mural-711273/

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