Livro "O Verde do Azul – À Descoberta das Algas"
Enquadramento
A IFLA (International Federation of Library Associations and Institutions), voz global das bibliotecas e parceira das Nações Unidas, estabelece como princípio fundamental que o “direito e o acesso à informação é transformador” (Declaração de Lyon, 2014), pois capacita as pessoas e impulsiona o desenvolvimento sustentável.
Na Agenda 2030 a importância do acesso à informação está expressa em 19 metas e as bibliotecas desempenham um papel fundamental porque fazem a entrega da informação a todas as pessoas, através de um trabalho de proximidade e regular.
No mesmo sentido, o Quadro Estratégico da Rede de Bibliotecas Escolares 2021 – 2027 (Bibliotecas Escolares: Presentes par ao futuro considera a sustentabilidade um dos valores centrais das bibliotecas escolares.
1. Sobre o livro
O Verde do Azul – À Descoberta das Algas, da autoria de Maria de Fátima João (texto) e de Maria Eduarda Mendes e Paulo Evandro Júnior (ilustração), é um livro de literatura infantojuvenil ilustrado, com versões em português e em inglês.
Felicita-se esta publicação pelo rigor científico - conta com a revisão de uma equipa vasta de cientistas da GreenCoLab - e qualidade estética e pedagógica e porque é um livro necessário:
- Preenche um vazio na coleção das bibliotecas escolares – são raros os livros sobre o tema;
- Aborda um tema sobre o qual domina, no contexto educativo e na opinião pública, um certo silêncio/invisibilidade, desinteresse (— Algas? A sério? —, pergunta a Luísa ainda surpreendida), desconhecimento e desinformação;
- A transformação do futuro passa pela incorporação da sua mensagem no dia a dia de todas as pessoas e na Agenda comum.
É importante que seja lido com a biblioteca escolar no quotidiano e em projetos como LER fora da escola ou Escola a Ler… E se gerem conversas e troca de ideias espontâneas que podem incluir personalidades significativas da comunidade: surfista, cientista, jogador de futebol, pescador, pintor…
Ajuda explorá-lo de forma alargada, sob formas práticas muito diversas, nas quais todos podem encontrar algo do seu agrado, por exemplo:
- Clube de leitura dos ODS (1 ODS/mês) concretizado em muitas bibliotecas escolares (ONU, 2019).
- Inquérito escolar “Algas? A sério? Para quê?” com plano de intervenção comunitário;
- Reportagem fotográfica legendada com haikus, poemas, microcontos… escritos com tintas naturais e de baixo custo extraídas de pigmentos de algas secas;
- Ciência cidadã, usando aplicações digitais (eg. iNaturalist) para fotografar, identificar, georreferenciar e contabilizar espécies de algas observadas, principalmente as que não fazem parte das espécies endógenas;
- Introdução de algas num dos pratos da ementa semanal com avaliação do valor nutritivo, da pegada ambiental e do desperdício alimentar da inovação.
A. O contexto da história
O livro parte de um cenário de experiência direta, sensorial, das crianças e jovens com as algas, a natureza: Tocam nas algas e sentem a textura. Umas são macias, outras mais ásperas, e até encontram algas que parecem esparguete, longas e fininhas. As cores também chamam a atenção…
A turma de alunos, orientada pela professora Paula, de Ciências, faz uma visita de estudo a uma praia. Esta experiência, que se desenrola como uma aventura em que todos são cientistas investigadores , envolve brincadeira, descoberta e observação de macroalgas, através de um passeio a pé na praia e de um mergulho no mar.
Partir da ligação à natureza é importante porque, nos países industrializados, as crianças passam cada vez menos tempo ao ar livre. Este desapego e indiferença tem consequência para a saúde e bem-estar e gera desinteresse em compreender os desafios ambientais e inação/ passividade: como sentir falta e cuidar de algo com que não temos relação/ que não conhecemos?
Partir de uma experiência familiar e prazerosa, ativa memórias e saberes prévios e suscita a participação, tornando a aprendizagem significativa e profunda: — O ano passado fui à praia com os meus avós e a praia estava cheia de algas verdes e castanhas. Imensas! — exclama o Algas, levantando muito os braços. — Porque é que aparecem tantas algas na praia?
Esta abordagem dá sentido ao conhecimento científico e estimula o interesse e o gosto por aprender.
B. Apresenta uma compreensão holística das algas
O livro aproxima o conhecimento científico/académico (universidades) da educação e das artes (escola), dos consumidores (empresas), dos cidadãos/opinião pública (sociedade) e dos saberes ancestrais (património da humanidade), conjugando análise/fundamentação científica, observação/vivência prática, consumo sustentável e sabedoria popular.
As algas merecem a nossa compreensão, reconhecimento, preservação e desenvolvimento pelo seu valor:
- Cultural e identitário: pelas memórias que evocam e que fazem parte da nossa identidade pessoal e coletiva: É a [alga] Erva-patinha. Os meus avós são dos Açores e fazem umas tortas tradicionais com ela. São uma delícia! — responde o Algas [valor nutritivo e gastronómico].
- Estético: pela beleza, mistério e fascínio com que nos tocam e emocionam – seres incríveis, de todos os tamanhos e feitios – e expandem a imaginação/criatividade - no livro os alunos criam um nickname/persona/avatar inspirado na alga favorita: Pedro - o Algas, Luísa - Selmis (alga Tetraselmis), Margarida - Lorela (alga Chlorella), Manuel – Kelpo (alga Kelp).
- Ambiental: as algas são as principais responsáveis pela produção de oxigénio, garantindo o equilíbrio dos oceanos e do Planeta e servem de alimento e abrigo a muitas espécies, contribuindo para preservação da biodiversidade: — Super-heroínas? Elas têm poderes mágicos? — pergunta a Selmis. — Podemos dizer que sim. As algas trabalham muito para cuidar do ecossistema. Produzem oxigénio na água, servem de alimento para muitos animais, como caranguejos, peixes e tartarugas, e são a base da cadeia alimentar nos oceanos, o que significa que muitos animais dependem delas para viver.
- Económico: são ricas em proteínas, vitaminas e sais minerais, contribuindo para a produção eficiente de alimentos, medicamentos e cosméticos, fertilizantes e adubos e tintas naturais e de baixo custo: Quem é que já comeu gelatina vegetal? — pergunta a professora. Alguns alunos levantam a mão. — Então já comeram algas!
C. Ética da proteção/cuidado e participação ativa
A aventura na praia e no mar capacita os visitantes a não recolherem amostras e a não destruírem o meio ambiente, a casa (lit. Casa ou Eco: ambiente, lugar onde se habita), a serem responsáveis e guardiões da natureza, deixando-a conforme emprestada, protegendo-a e melhorando-a e às espécies/populações que a ela pertencem: os alunos observam a professora a retirar da água, com todo o cuidado, um punhado de algas verdes.
Capacita-os para desenvolverem uma cidadania crítica e empática perante todos os seres que habitam o Planeta: — Parem de destruir as algas! Estão a destruir o alimento dos peixes! [diz o Algas].
E para serem embaixadores, multiplicando e divulgando experiências como esta: os alunos rumam à escola, entusiasmados e ansiosos para partilharem com a família e os amigos o que aprenderam nesta aventura. E a liderarem processos de criação e implementação de soluções de reparação da natureza e de sustentabilidade.
2. Sobre a importância das histórias e da leitura
É importante que o grupo de alunos, com cadernos nas mãos, protagonistas desta história, sejam desafiados a contar/ler/escrever as próprias histórias ou textos, apropriando-se, de forma aprofundada e crítica, da mensagem/conhecimento do livro e assumindo uma voz ativa na transformação.
Factos/ informação científica ou números/ estatísticas (abstratos e descontextualizados) não melhoram a compreensão nem o sentido de agência/ participação, segundo a Psicologia Cognitiva e a Neurociência. É importante virem associados a histórias humanas/ significativas, que os traduzam em experiências reais, com mensagens acessíveis e que criem identificação e envolvimento emocional com os cidadãos.
As histórias têm poder de fascínio e espanto, tendo potencial para serem infinitamente recontadas, constituindo importante ferramenta de marketing/ advocacy. Expandem o pensamento e a imaginação individual e coletiva, são fator de ligação entre pessoas, ajudando a construir/ fortalecer comunidades e a desenvolver o espírito de colaboração que tem o poder de alcançar os maiores desígnios da humanidade.
Foi uma aventura repleta de aprendizagem, respeito pela natureza e, sobretudo, de amor pelo nosso Planeta. Afinal, cuidar das algas e dos oceanos é um presente que damos a nós próprios e ao Planeta. Cada um pode fazer a diferença.
Nota de agradecimento
Este artigo serviu de base à apresentação do livro O Verde do Azul – À Descoberta das Algas feita pela Rede de Bibliotecas Escolares, a 11 de abril, no 1st International Congress on Algae Biotechnology, organizado pela GreenCoLab e PROALGA, em Lisboa.
A Rede de Bibliotecas Escolares agradece à GreenCoLab - Associação Oceano Verde (Universidade do Algarve) e à PROALGA - Associação Portuguesa dos Produtores de Algas o convite e hospitalidade.
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📷 PROALGA & GreenCoLab. (2025, 9-11 April). 1st International Congress on Algae Biotechnology. https://algaebiotechnology.pt/