Literacia mediática nas bibliotecas escolares portuguesas
No final de maio, a Rede de bibliotecas Escolares foi convidada a escrever um texto de apresentação do Referencial Aprender com a Biblioteca Escolar e do sítio Aprender com a Biblioteca Escolar: Atividades e Recursos, para ser publicado na Newsletter da Media & Learning Association, uma associação internacional sem fins lucrativos criada em 2012 sob a lei belga para promover e estimular o uso dos media como uma forma aumentar a inovação e a criatividade no ensino e na aprendizagem em todos os níveis de ensino na Europa. Os membros incluem agências nacionais e regionais encarregadas da promoção da inovação no ensino e aprendizagem, bem como universidades, ministérios da educação e redes de escolas.
O texto que abaixo reproduzimos corresponde à versão portuguesa do que foi publicado na referida Newsletter.
A Rede de Bibliotecas Escolares é um Programa do Ministério da Educação de Portugal que tem como missão instalar bibliotecas nas escolas do ensino público e orientar a sua ação
A era digital revolucionou a nossa relação com o conhecimento, aprendizagem e interação social, apresentando tanto oportunidades quanto desafios. Para navegar por esse cenário dinâmico, é crucial capacitar os jovens com novas competências que lhes permitam envolver-se criticamente e de forma criativa com a realidade.
Nesse contexto, a Rede de Bibliotecas Escolares publicou o referencial Aprender com a Biblioteca Escolar, um documento orientador da ação das bibliotecas, prevendo a sua estreita articulação com as áreas curriculares disciplinares e áreas transversais, de modo a que, tendencialmente, todas as bibliotecas desenvolvam um trabalho que garanta a todos os alunos as mesmas oportunidades de desenvolver essas competências.
Este referencial, publicado em 2012 e atualizado e alargado em 2017, estabelece três áreas fundamentais no âmbito da formação para as literacias: leitura, media e informação. A literacia tecnológica e digital é também abordada, embora de forma transversal, permeando todas as áreas e refletindo a presença das tecnologias digitais nos contextos formais e informais de aprendizagem.
O documento é dividido em duas partes: a primeira parte contém tabelas que descrevem, para cada área de literacia, os desempenhos que os alunos devem alcançar no final da educação pré-escolar e dos diferentes ciclos do ensino básico e secundário, estruturados com base em conhecimentos/ capacidades e atitudes/ valores. Estes descritores são organizados de forma sequencial e coerente, considerando a progressão gradual dos conhecimentos e capacidades. A primeira parte apresenta, ainda, estratégias de operacionalização para a biblioteca escolar trabalhar as aprendizagens relacionadas com as diferentes literacias, estabelecendo conexões com o currículo. A segunda parte disponibiliza exemplos de atividades aplicáveis em diferentes disciplinas.
Nos anos letivos que se seguiram às duas edições do documento (2012-2015 e 2017-2019), foram realizadas experiências-piloto da sua aplicação num número restrito de bibliotecas, para monitorização do processo e análise dos dados obtidos, tendo em vista a melhoria deste instrumento de trabalho e o alargamento da sua utilização às 2538 bibliotecas escolares de Portugal. Em cada ano foi elaborado um relatório da testagem realizada.
Findos esses períodos, a Rede de Bibliotecas Escolares incentivou tem incentivado a aplicação cada vez mais alargada do Referencial. Atualmente, a monitorização é feita através da observação e acompanhamento realizados pelos coordenadores interconcelhios e pela resposta a algumas questões constantes da Base de Dados RBE que as bibliotecas preenchem anualmente e demonstra um aumento progressivo do número de bibliotecas que trabalham as competências de informação e media.
Para capacitar os professores bibliotecários e outros docentes para o uso deste instrumento de trabalho, a Rede de Bibliotecas Escolares tem promovido, ao longo do tempo, formação formal para docentes, num total de 3200 horas e 2777 formandos, entre 2013 e 2019. Paralelamente, continua a desenvolver formação informal em múltiplos encontros, colóquios e reuniões de trabalho.
Na sequência da publicação do Referencial também têm sido criadas, numerosas propostas de atividade de articulação entre a biblioteca e os docentes que promovem o cumprimento das várias áreas curriculares em concomitância com o desenvolvimento das competências de literacia. Estas propostas de atividade referem explicitamente os conhecimentos e capacidades, atitudes e valores na área de literacia que pretendem mobilizar, apresentam os vários momentos da ação pedagógica e sugerem recursos de apoio, produzidos pela Rede de Bibliotecas Escolares ou por outras entidades.
Em 2021 todas as propostas de atividade foram agregadas no sítio (Aprender com a Biblioteca Escolar) que se subdivide em três áreas (Crescer com a leitura, Saber usar os media e Dominar a informação).
Atualmente este sítio constitui-se como um grande repositório de propostas de trabalho no âmbito das literacias de leitura, informação e media e continua a ser regularmente ampliado com mais exemplos, quer criados pela equipa da Rede de Bibliotecas Escolares, quer partilhados por professores bibliotecários.
Tal como os descritores desenhados no Referencial, as propostas de trabalho estão organizadas por ciclos de ensino (de acordo com a estrutura educativa em Portugal), a saber: Pré-Escolar (4-6 anos), 1.º Ciclo (6-10 anos), 2.º Ciclo (10-12 anos), 3.º Ciclo (12-15 anos) e Ensino Secundário (15-18 anos).
Em 2022, com o objetivo de promover uma avaliação rigorosa dos desempenhos dos alunos no que concerne às literacias, a Rede de Bibliotecas Escolares disponibilizou propostas de rubricas de avaliação relacionadas com os diferentes descritores, organizadas por área de literacia e níveis de ensino.
Na sequência do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido na área da informação e dos media, algumas escolas têm criado programas de literacias a integrar no currículo dos alunos de forma estruturada e sistemática. No entanto, enfrentamos ainda o desafio da implementação desses programas, bem definidos e com tempo dedicado para o desenvolvimento das competências de informação e media.
Assim, com o objetivo de ajudar os agrupamentos/ escolas a desenharem uma abordagem estruturada, metodológica, articulada e abrangente para o desenvolvimento de competências de informação e media, a Rede de Bibliotecas Escolares disponibilizou o Guia Orientador. Aprender com a biblioteca escolar: programa para o desenvolvimento de literacias, que oferece sugestões de conteúdos a serem incorporados num Programa de Literacias.
Para o sucesso destes Programas de Literacias que se pretende que os agrupamentos/ escolas implementem, é essencial prosseguir o investimento na formação contínua de professores e estabelecer parcerias sólidas com instituições relevantes, que enriquecem os programas, fornecendo recursos adicionais e oportunidades de aprendizagem. A avaliação regular destes programas, recolhendo dados sobre o progresso dos alunos em literacias de informação e media, é igualmente crucial.
A formação contínua dos professores é essencial para orientar os alunos nesse desenvolvimento, enquanto parcerias sólidas com instituições relevantes enriquecem os programas, fornecendo recursos adicionais e oportunidades de aprendizagem.
A avaliação regular dos programas, recolhendo dados sobre o progresso dos alunos e a integração das competências de literacia, é crucial.
Superar esses desafios requer um compromisso contínuo e colaborativo de diretores, docentes e toda a comunidade escolar, preparando os alunos para enfrentarem as demandas do mundo contemporâneo e prosperarem na era da informação. Em Portugal, as bibliotecas escolares tomam a tarefa nas suas mãos e trabalham nessas áreas com todos os atores das suas escolas.