Literacia emocional: atividades práticas
Fonte da imagem: Earl, A. Unsplash. https://unsplash.com/photos/Odhlx3-X0pI
Fomentar a autoconsciência e regulação emocional, empatia e competências sociais exige compromisso dos participantes e formação especializada de quem facilita as sessões.
Há, contudo, exercícios que, aplicados em contexto de biblioteca escolar, podem iniciar o hábito e transformação.
Nestes, o professor bibliotecário deve ter em conta que leitura e expressão de emoções depende do contexto e personalidade (educação, história de vida de cada um, estado de espírito, temperamento, doenças…), havendo que respeitar os limites de cada um.
É também importante ter em consideração que as emoções se aprendem na vida diária por imitação e que são contagiosas: a sua transmissão gera reciprocidade, sincronismo de expressões e movimentos entre os interlocutores.
Estas são atividades práticas em que se pode inspirar.
- Emocionário coletivo digital
Em grupo, cada vez que a criança ou jovem acrescenta uma emoção, com o respetivo significado, pergunta a todos:
- Quando foi a última vez que se sentiram … [emoção]?
- Como é que nos sentimos quando estamos… [emoção]?
- Como sabem que a pessoa X está a ter esse sentimento?
- O que fazer?
C. Darwin: A importância da inteligência emocional para a adaptação e sobrevivência; a universalidade das expressões emocionais.
Fonte das imagens: Darwin, C. (1872). The expression of the emotions in man and animals. John Murray. http://darwin-online.org.uk/content/frameset?pageseq=1&itemID=F1142&viewtype=text
- Como te sentes?
Goleman propõe um novo conceito de chamada: o professor chama, um a um, os nomes das crianças ou jovens e, em vez de ‘Presente!’, indicam como se sentem numa escala de 1 (em baixo) a 10 (alta energia):
“Hoje, o moral é elevado:
Jéssica. Dez: estou eufórica, é sexta-feira.
Patrick. Nove: excitado, um pouco nervoso.
Nicole. Dez: tranquila, feliz…” 1.
- Tocar o coração através da leitura e da arte
Literatura, poesia, fábulas e, em geral, arte (cinema, música, teatro…) tocam o coração humano através de metáforas, imagens, símbolos que lemos por associação livre, quase sem pensar.
Uma criança ou jovem lê - ou escreve - um poema ou história, a partir do qual todos identificam, expressam e confrontam emoções.
Exemplo de texto:
“Tu estavas, avó, sentada na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, olhando para o céu de que nada sabias e por onde nunca viajarias, para o silêncio dos campo e árvores assombradas, e disseste, com a serenidade dos teus noventa anos e o fogo de uma adolescência nunca perdida: ‘O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer.’
(…) Todas as noites meu avô e minha avó iam buscar às pocilgas três ou quatro bácoros mais fracos, limpavam-lhes as patas e deitavam-nos na sua própria cama. Aí dormiriam juntos, as mesmas mantas e os mesmos lençóis que cobririam os humanos cobririam também os animais, minha avó num lado da cama, meu avô no outro, e, entre eles, três ou quatro bacorinhos que certamente julgariam estar no reino dos céus.”
Saramago, J. (2019). As pequenas memórias. (4.ª ed.). Porto Editora, p. 115.
Ler promove a empatia, mas, em idioma inglês, Empathy Lab propõe livros e guias literários específicos para promover a empatia, paz e transformação do mundo 2.
Fonte da imagem: Meanwhile in Hong Kong by Tommy Fung In Sayej, N. (2020, 18 Feb.). Here’s How Artists Are Responding To The Coronavirus. Forbes. https://url.gratis/1ItZ3
Fonte da imagem: Wei, Guan. (2013). The Journey to Australia. https://cutt.ly/NvTE49e
Fonte da imagem: Fotografia Hoje não Julgarei Nada Que Ocorrer: Arquivo ektachrome, T-shirt Malcom X, Roma, de Lyle Aston Harris LYLE ASHTON HARRIS STUDIO. In Salema, I. (2016). A arte feita por mulheres é diferente? https://www.publico.pt/2016/09/30/culturaipsilon/noticia/a-arte-feita-por-mulheres-e-diferente-1745201
A partir de obras de arte crianças e jovens também podem tomar consciência, expressar e confrontar:
- Valores: Em que valores é que estas obras nos convidam a pensar? São os seus valores? Valores de outros? De quem?
- Identidades: De quem fala esta obra? E com quem é que esta obra está a tentar falar?
- Ações: Que ações poderia este trabalho encorajar? As ações de quem - as suas, as de outros, que outros? 3.
- Cubo de emoções
Fazer cubos de emoções com diferentes rostos de imagens de revistas, de fotografias selecionadas ou tiradas pelas próprias crianças. Cada uma lança o cubo uma vez e conta uma história pessoal, autêntica, baseada na emoção expressa no rosto daquela face do cubo 4.
- Caixa de correio de conflitos
Deixar uma caixa aberta onde crianças e jovens expõem anonimamente conflitos e problemas de ordem emocional para discutirem e encontrarem solução pois todos viveram situações semelhantes e pode aprender-se a lidar com elas. A literacia emocional, tal como a educação moral e ética, é mais eficaz no contexto de situações autênticas 5.
- Ler emoções na vida diária
“Alguém me conta um desentendimento que tivesse tido recentemente e que tivesse acabado bem?” 6.
Ou, alguém me conta uma história de transformação positiva de emoções que nos inspire e dê energia?
- Ler emoções através dos media
Nos jornais ou noticiários desta semana, identificaram histórias de (des)controlo emocional e (falta de) civismo?
Se fossem os seus protagonistas e estivessem empenhados no controlo emocional e respeito pelo outro e pela comunidade, como teriam pensado e agido?
Quer deixar-nos outras sugestões?
Referências
1. Goleman, D. (2020). Inteligência emocional. (26.ª ed.). Temas e Debates, pp. 275.
2. Knights Of HQ. (2019). Empathy is a beacon of hope in a divided world. Books Made Better. https://booksmadebetter.com/empathy-is-a-beacon-of-hope-in-a-divided-world-35d2b45f68a2
3. Project Zero, Independent Schools Victoria. (2021). Arts as Civic Commons – A handbook for educators. https://cutt.ly/bvR69zX [p. 33]. In Gardner, H. Project Spectrum/ Project Zero. http://www.pz.harvard.edu/projects/project-spectrum
4. Goleman, 2020, p. 289.
5. Ibid., p. 287.
6. Ibid., p. 296.