Ler para não esquecer: uma biblioteca em defesa da memória
Uma viagem entre a palavra, a memória e a consciência histórica
Na Escola Básica Prof. João Cónim, do Agrupamento de Escolas Rio Arade (Lagoa), a leitura do Diário de Anne Frank foi mais do que uma proposta curricular. Constituiu o ponto de partida para um percurso educativo interdisciplinar, promovido no âmbito de um projeto de leitura e media da biblioteca escolar, que cruzou literatura, história e cidadania.
Sob a orientação do professor bibliotecário Hélder Giroto Paiva e da docente Ana Amendoeira, os alunos do 8.º C criaram o e-book Do Diário à História: Anne Frank e as Memórias do Horror, um trabalho que articula diferentes áreas curriculares e coloca a biblioteca no centro da construção de memória e pensamento crítico.
Logo no prefácio, sobressai a maturidade da abordagem: os alunos reconhecem em Anne Frank não apenas uma figura simbólica do Holocausto, mas uma jovem cuja escrita se tornou um ato de resistência e afirmação da dignidade humana. A palavra escrita é apresentada como instrumento de empatia, memória e responsabilidade.
Investigação com sentido crítico: literacia que transforma
O projeto assentou num processo de pesquisa exigente e orientado, no qual os alunos foram desafiados a avaliar, cruzar e interpretar fontes de forma crítica. Recorreu-se a instituições de referência como a Anne Frank House, o United States Holocaust Memorial Museum (USHMM) e a National Geographic, promovendo competências de literacia da informação, essenciais para compreender o passado e agir de forma consciente no presente, com conhecimento e responsabilidade.
O e-book vai além da análise literária. Contextualiza a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, traça percursos biográficos de figuras relevantes, integra mapas e cronologias e inclui um testemunho pessoal que humaniza e atualiza a mensagem de Anne Frank.
Um recurso educativo que cruza saberes
Com uma estrutura clara, grafismo apelativo e conteúdos diversificados, o e-book pode ser explorado em diferentes contextos pedagógicos — da História à Cidadania, do Português à Educação para os Direitos Humanos. Estimula o pensamento crítico e promove valores como o respeito, a empatia e a justiça.
Às vezes, leio o diário de Anne Frank, e essa leitura tem sido uma grande fonte de inspiração para mim. [...] Os meus pais ensinaram-me a respeitar todas as religiões e as pessoas à minha volta."
Testemunho de aluno do 8.º C
Este projeto exemplifica o papel formativo das bibliotecas escolares como espaços de convergência entre leitura, media, literacia da informação e educação para a cidadania. Ao convocarem a memória de Anne Frank para refletir sobre o mundo contemporâneo, os alunos foram convidados a compreender o passado não apenas como herança, mas como responsabilidade, condição essencial para formar leitores críticos e cidadãos conscientes.