Ler em português... festa e cor!
A data de 5 de maio foi oficialmente estabelecida em 2009 pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) - organização intergovernamental, parceira oficial da UNESCO desde 2000, que reúne os povos que têm a língua portuguesa como um dos fundamentos da sua identidade específica - para celebrar a língua portuguesa e as culturas lusófonas.
Em 2019, a 40.ª sessão da Conferência Geral da UNESCO decidiu proclamar o dia 5 de maio de cada ano como Dia Mundial da Língua Portuguesa.
A língua portuguesa, é a língua oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. São mais de 260 milhões de falantes, espalhados por todos os continentes. A língua mais falada no hemisfério sul.
Mensagem do Secretário-Geral da Nações Unidas, António Guterres, a propósito do Dia Mundial da Língua Portuguesa.
Esta celebração é inspiradora para todos nós, falantes da língua portuguesa, contribuindo para promover o diálogo intercultural, defender e preservar a nossa língua e divulgar todos os que escrevem e leem em português.
A propósito desta efeméride divulgamos a coleção Pererê, publicada pela editora Tinta da China e o Jornal Público. Esta publicação disponibiliza, em Portugal, os maiores clássicos da literatura infantojuvenil brasileira, numa edição graficamente cuidada e belíssima. Os livros são publicados no texto original, em português do Brasil, sem adaptações, com o objetivo de apresentar às crianças e jovens portugueses a riqueza da língua comum e o modo como ela pode ser festa e cor.
Na impossibilidade de falar de todos, mencionamos mais pormenorizadamente três títulos: Flicts, A Bolsa Amarela e Bisa Bia Bisa Bel
Flicts, escrito por Ziraldo, a lenda da literatura brasileira, do grafismo e do poder da cor como linguagem, que perdemos há um mês, apresenta-se em Portugal 50 anos depois de ter nascido, inaugurando a coleção Pererê.
“Era uma vez uma cor muito rara e muito triste que se chamava Flicts.
Não tinha a Força do Vermelho, não tinha a imensa luz do Amarelo, nem a paz que o Azul tem.
Era apenas o frágil e feio e aflito Flicts.
Tudo no mundo tem uma cor, tudo no mundo é Azul, Cor- de- Rosa ou Furta-Cor, é Vermelho, Amarelo, Roxo, Violeta ou Lilás. Mas não existe nada no mundo que seja Flicts. - Nem a sua solidão – (…) “
Muitas são as cores que habitam no mundo: quentes, frias, primárias e secundárias, claras e escuras, opacas ou neutras. Cores que nos irritam ou nos fazem sonhar, que provocam emoções e reações, mas nenhum é Flicts. Parece que “não tem lugar para Flicts”, a cor que não é igual a nenhuma outra e que só quer encontrar um amigo que a aceite tal como ela é, por isso decide correr mundo em busca do seu lugar. Por mar, por terra, a procura não termina. A viagem é longa. Será que Flicts encontra o seu lugar, o seu espaço no mundo?
Flicts é uma revolução no grafismo, mas não só. Um poema visual ímpar. Raro, incomparável, inimitável. As ilustrações falam por si. As simbologias das cores dão ritmo e sentido às palavras. À cor é dada vida como nunca tinha acontecido na literatura. Grafismo e texto pintam o mundo, o arco-íris, bandeiras e a(s) lua(s).
Este é um livro para nos acompanhar, para dar cor à nossa vida, ao nosso lugar no mundo. O livro inclui ainda um texto de Fernando de Castro Ferro da primeira edição e uma recensão de Carlos Drummond de Andrade.
A Bolsa Amarela, escrito por Lygia Bojunga, conta a história de uma menina que entra em conflito consigo mesma e com a família ao reprimir três grandes vontades.
“Eu tenho que achar um lugar pra esconder as minhas vontades. Não digo vontade magra, pequenina, que nem tomar sorvete a toda hora, dar sumiço da aula de matemática, comprar um sapato novo que eu não aguento mais o meu. Vontade assim todo mundo pode ver, não tô ligando a mínima. Mas as outras – as três que de repente vão crescendo e engordando toda a vida -, ah, essas eu não quero mostrar. De jeito nenhum.
Nem sei qual das três me enrola mais. Às vezes acho que é a vontade de crescer de uma vez e deixar de ser criança. Outra hora acho que é a vontade de ter nascido garoto em vez de menina. Mas hoje tô achando que é a vontade de escrever. “
Página após página vamos conhecendo uma menina sensível, insatisfeita e imaginativa que partilha connosco o seu dia‑a‑dia. Contesta ordens e recomendações, afirmando-se como pessoa que pensava, questiona, argumenta e opina. Uma menina que quer saber qual o seu lugar no mundo e na família.
Um dia ganhou uma bolsa. Era amarela, a cor mais bonita que existe. Na bolsa escondia segredos, fantasias e amigos incríveis, como por exemplo o galo Rei que depois passa a chamar-se Afonso e que queria que todos tivessem voz, que desejava a igualdade e liberdade ou o galo Terrível, treinado para ganhar todas as lutas, até que um dia apareceu um galo mais novo que foi mais forte e passou a vencer todas as lutas.
Esta é uma história onde o mundo real e a ficção são um só.
Este é um livro maravilhoso, deslumbrante.
Bisa Bia Bisa Bel (Tinta da China, 2023), é mais um dos títulos da coleção. Trata-se de uma narrativa cheia de imaginação, onde o tempo é um elemento essencial e perguntas não podem faltar.
“A primeira vez, bem que Bisa Bia estava escondida. Só apareceu por causa das arrumações da minha mãe. (…) Dá uma geral, como ela diz. Arruma, arruma, arruma, dois, três dias seguidos… (…) Pois foi numa dessas arrumações, quando minha mãe estava dando uma geral, que eu fiquei conhecendo Bisa Bia. (…)
- Ué, essa avó eu não conheço. Só conheço a vó Diná e a vó Ester. Tem outras, é?
- Tem, mas é minha. Vovó Beatriz. Sua bisavó.”
A fotografia da avó Beatriz é o ponto de partida. Entre o passado e o presente, entre a realidade e o imaginário, a bisavó entra na vida de Bel, acompanhando-a para todos os lugares e revelando-nos um mundo que já não existe. Entre o espanto e as perguntas sobre a vida, a roupa, os objetos e os costumes, vamos, pouco a pouco, compreendendo o papel da mulher e as mudanças sociais.
Fica a sugestão. Descubra os outros títulos da coleção.
Celebre também a língua portuguesa com outros autores lusófonos (entre muitos):