Leitura partilhada
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No contexto de mudança e incerteza quanto ao futuro e de aumento significativo dos problemas de saúde mental, Atlanta Meyer, Presidenta da Secção de Leitura e Literacia da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) afirma que a “Seção de Leitura e Literacia está atualmente a concentrar-se na Leitura para o Bem-Estar. Este assunto tem sido o nosso foco principal nos últimos dois anos e atualmente estamos a planear iniciativas e programas em torno de Biblioterapia, Leitura Partilhada, Leitura Consciente e Contar Histórias”.
Neste contexto, propomos-lhe sugestões sobre como orientar a discussão em grupo de um livro lido por todos os participantes, bem como iniciar cada sessão ou resolver questões práticas.
Discussão sobre o livro: diretrizes & questões
Segundo Diretrizes para Discussão do Livro da Cooperative Children’s Book Center (CCBC) [1], é importante que “Olhe para cada livro pelo que é, ao invés do que não é” e, por isso, o diálogo deve iniciar-se com comentários positivos sobre o que gostou no livro e porquê. Exemplo: A fábula de Esopo, O menino, o velho e o burro mostra que devemos pensar e decidir por nós próprios, sem ter em conta as opiniões dos outros.
Só depois de todos, sem exceção, dizerem o que gostaram no livro se deve falar de dificuldades que os leitores tiveram com aspetos específicos do livro. A CCBC sugere que apresentemos as dificuldades sob a forma de pergunta, em vez de juízo crítico. Exemplo: Porque é que o autor colombiano, Gabriel García Márquez, no romance O Amor nos Tempos de Cólera usa palavras semelhantes para descrever os efeitos do amor e da cólera?
Recomenda ainda que não se faça o resumo do livro e que se tente comparar o livro com outros livros da lista de discussão para incentivar leituras e encontros futuros.
Relativamente à dinâmica de intervenções, é importante advertir que na discussão não há respostas certas, que todos os cometários são importantes para dar vida e aprofundar o significado do texto e desenvolver uma perspetiva crítica. É fundamental que todos partilhem o seu ponto de vista com todos respondendo, sempre que oportuno, aos comentários, de modo a que conversem uns com os outros sobre o livro, criando laços de pertença e sentido de comunidade.
Library Booklists [2] disponibiliza recursos para grupos de leitura - por exemplo: conselhos sobre como começar um grupo, listas temáticas de livros em inglês para diferentes públicos e calendário de aniversário de autores – e, com base neles, propomos-lhe que crie um guião específico para o livro ou, em alternativa, que dê início a tópicos gerais que possam constituir ponto de partida para a livre expressão dos pontos de vista de cada um a propósito do livro:
- O que gostaram e porquê;
- Capa e títulos dos capítulos: que pistas lançam, há algo que não faça sentido;
- Excertos marcantes: seu significado e experiência pessoal semelhante;
- Protagonista: identifica-se com os seus valores e atuação;
- Personagem menor: que papel desempenha na narrativa;
- Final: é o esperado, que sugestão para final alternativo.
Quebra-gelo
Cada sessão de leitura pode iniciar-se - ou terminar - com momento descontraído que suscite aproximação entre os participantes e melhor conhecimento do livro. Exemplo de jogos:
- Colocar num cesto perguntas genéricas, cada leitor tira uma e responde de imediato: Qual é o livro da sua vida? Que personagem literário é mais parecido consigo? Com que escritor gostaria de ir jantar?
- Se a história do livro decorre no passado, cada leitor descreve um personagem como se a história ocorresse na atualidade (características físicas e psicológicas, local onde habita, familiares e amigos, música e comida preferidas, ocupação…);
- Sugerir elenco da transposição do livro para filme;
- Cada leitor escreve uma pergunta sobre o livro numa tira de papel, dobra-a e coloca-a num frasco, cada um responde a uma pergunta e ganha o que tiver mais respostas corretas – também pode ser jogado entre 2 equipas e em suporte digital com questões de escolha múltipla (Kahoot).
Como iniciar um grupo de discussão
A America Library Association [3] dispõe de questionário e sugestões que lhe permitem planear e estruturar a atividade e resolver situações difíceis, como por exemplo: Quem não leu o livro pode participar? Todos devem ter o mesmo tempo para falar?
Grupos de leitura
O Plano Nacional de Leitura tem uma página sobre Grupos de Leitura, na qual dá exemplos de clubes nas escolas e em organizações que se reúnem presencialmente e à distância - clubes virtuais de leitura - bem como exemplos de boas práticas e propostas de leitura para todas as idades.
O importante agora é começar, na escola ou comunidade, pois uma experiência de leitura partilhada é importante, pois pode constituir uma oportunidade de:
- Através do convívio social, conhecer, escutar e aprender a lidar com outras pessoas que têm ideias e experiências de vida diferentes;
- A partir de um livro, descobrir e partilhar sentimentos, inquietações e reflexões;
- (Re)descobrir o gosto por ler, atividade que faz bem à saúde, para além de ter inegáveis benefícios cognitivos, económicos e sociais.
Referências
1. Kruse, G. & Horning, K. (1989). CCBC Book Discussion Guidelines. USA: Cooperative Children’s Book Center. https://ccbc.education.wisc.edu/literature-resources/ccbc-book-discussions/ccbc-book-discussion-guidelines/
2. Library Booklists. (1996). Resources for Reading Groups. S.l.: LB. https://librarybooklists.org/readinggroups/index.htm
3. America Library Association. Book Discussion Groups. USA: ALA. https://libguides.ala.org/bookdiscussiongroups/startguide
4. Fonte da imagem: Chiagano, F. (2019, 1 Sep.). Unsplash. Kyoto, Japan. https://unsplash.com/photos/rDwIXsgb2LY